Você se lembra onde foi o último jogo de Luiz Felipe Scolari em sua segunda passagem, de fim melancólico pelo Palmeiras? A campanha que culminaria com o rebaixamento do Verdão à Série B, em novembro de 2012, teve em 12 de setembro daquele ano um triste fim para o ídolo na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente em São Januário.
A chance era enorme de aquele jogo, vencido pelo Vasco por 3 a 1, ter entrado para a história como o último de um dos treinadores mais importantes da história do clube - o segundo com mais partidas. Nos últimos seis anos, qualquer busca na internet com as palavras "Felipão demitido do Palmeiras" aponta para a 24ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2012.
Scolari caiu após a 14ª derrota no torneio, deixando o Verdão com apenas 20 pontos, em penúltimo lugar. A equipe, campeã da Copa do Brasil dois meses antes, somaria mais 12 pontos nas 14 rodadas restantes e terminaria, com 32, rebaixada pela segunda vez em sua história.
Vasco da GamaVasco 3x1 Palmeiras não foi o último jogo de Felipão pelo clube. Vasco x Palmeiras de 2018, no mesmo São Januário, pode selar uma conquista histórica para o treinador que acumula 21 partidas sem perder no Nacional, um recorde da era dos pontos corridos. Foi também contra o Vasco o primeiro jogo no Allianz Parque de Scolari, no primeiro turno, em sua volta ao clube: vitória por 1 a 0, gol de Deyverson, o atacante que voltou a ter chances e foi decisivo em vários jogos da campanha por influência direta do treinador.
De São Januário-2012 a São Januário-2018, Felipão carregou o peso de ter participado de uma campanha de rebaixamento do Palmeiras, flertou com a glória ao conquistar a Copa das Confederações de 2013 com o Brasil e ter a chance de dirigir a seleção no Mundial e caiu em desgraça por ter sido o comandante da maior derrota da história do futebol em 2014. Não é preciso entrar em detalhes sobre Brasil 1x7 Alemanha, naquele 8 de julho, no Mineirão.
O treinador, sempre apegado às raízes, aceitou logo em seguida um retorno ao Grêmio, onde também é idolatrado. Não deu certo, partiu para a China. Foi multicampeão na Ásia e, nem o mais "scolarista" palmeirense imaginava vê-lo, aos 70 anos, dirigindo o Palmeiras pela terceira vez.
Pois o "scolarismo" voltou. Felipão reencontrou um clube modernizado, milionário, com o departamento de futebol organizado, blindado das eternas brigas políticas do Palestra Itália. O aposto do que viveu em 2012, ano em que a dupla Arnaldo Tirone e Roberto Frizzo comandava um Palmeiras em crise financeira e de autoestima baixa, apesar da conquista da Copa do Brasil.

O último gol daquela passagem de Scolari pela Academia foi de um autor simbólico: Luan fez 1 a 0 em São Januário, contra o hoje goleiro palmeirense Fernando Prass, antes da virada. Felipão fez o Palmeiras gastar para contar com o atacante, limitado tecnicamente, mas exaltado pela vontade. Foi o símbolo de um período a ser esquecido pelo torcedor. Foi esse mesmo Luan, atacante do América-MG, que abraçou o treinador na última quarta antes de um forte Palmeiras finalizar 22 vezes (contra zero do adversário) e vencer por 4 a 0, encaminhando mais um título. Uma noite de Dudu, o oposto de Luan e símbolo de uma nova era vitoriosa. O queridinho de Scolari, hoje, pode ser chamado de craque, sem exageros.
Felipão encerrou em São Januário há seis anos sua segunda passagem pelo clube com 154 jogos: 65 vitórias, 47 empates, 42 derrotas. Escalou Bruno, Wellington, Maurício Ramos e Henrique; Artur, Corrêa, Valdivia, Tiago Real e Juninho; Luan e Barcos. Neste domingo, às 17h, pode ter em campo Weverton, Mayke, Gustavo Gómez, Luan e Victor Luis; Thiago Santos, Bruno Henrique e Lucas Lima; Dudu, Willian e Deyverson. Pode ser campeão após 18 vitórias, oito empates e três derrotas desta passagem. Quanta diferença, não?
Scolari, mais do que ninguém, sabe o quanto mudou a Academia de Futebol. Não entrou em atritos como no passado, nem mesmo nas eliminações recentes em duas Copas. O relato de quem convive com ele é de que Felipão está leve, satisfeito por ter tido a chance de voltar a vencer numa casa que gosta. Montou dois times, ganhou a confiança dos jogadores. Tem a melhor defesa e o melhor ataque do Brasileirão.
É o técnico que mais vezes dirigiu o Palmeiras no torneio (185) e, com mais um triunfo, igualará Vanderlei Luxemburgo como o que mais venceu partidas (76). E esta a dois pontos de ser campeão brasileiro pela segunda vez em sua carreira, um título que ele tem pelo Grêmio (1996) e lhe falta no Verdão. Em São Januário.


