+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Jean-Marc BosmanGetty Images

Como o Ajax deixou de ser uma potência na Champions League

“Criamos muitas oportunidades contra um time tão grande como o Real Madrid. Faltou precisão, porque o Madrid tem uma chance e não perdoa. Dou os parabéns ao Ajax pelo espirito demonstrado, que nos dá confiança para o futuro”. Esta foi uma das análises feitas pelo treinador Erik Ten Hag após a derrota por 2 a 1 dentro de casa, na última quarta-feira (13), no jogo de ida das oitavas de final da Champions League.

Não chega a ser absurdo, considerando que a diferença no valor de mercado entre os clubes ultrapassa os € 600 milhões. Mas quando olhamos para o histórico de troféus e craques que já vestiram a camisa do Ajax é impossível não questionar como a equipe de Amsterdã, que popularizou da forma mais vitoriosa o conceito do Futebol Total, viu a sua relevância cair tanto no cenário do futebol europeu.

Depois do esquadrão madridista que levantou cinco vezes seguidas a antiga Copa dos Campeões da Europa (atual Champions League) na década de 50, foi o clube holandês quem primeiro sucedeu com uma grande sequência de títulos no principal torneio do Velho Continente. Entre 1970 e 1973 foram tricampeões contando com um conceito revolucionário de futebol e com um dos craques mais influentes da história: Johan Cruyff. Após uma longa caminhada pelo deserto, foi justamente sob o comando do agora técnico Cruyff que os alvirrubros de Amsterdã se reencontraram com as glórias continentais: em 1987, quando os Godenzonen levantaram a hoje extinta Recopa Europeia.

Entretanto, a nova revolução que tomou conta do Ajax e indicou a formação de um novo período de hegemonia deu-se no início da década de 90. Louis van Gaal, na época um treinador pouco conhecido, assumiu o comando e pôs em prática um trabalho que honrou o legado do passado ao apostar em jovens ambiciosos e aplicados dentro de um obsessivo estilo de ver o jogo. A primeira taça europeia deste novo período não demorou a chegar. Em 1992 os holandeses bateram o Torino - que tinha Walter Casagrande no ataque - e levantaram, pela primeira vez, a Copa da UEFA (hoje rebatizada como Europa League). No entanto, era possível ir além.

Ajax Johan Cruyff 1973O 'Futebol Total' do Ajax emplacou um tricampeonato europeu (Foto: Getty Images)
Ajax Champions League 1995Getty ImagesDe um ano para o outro, o Ajax viu metade de um timaço ir embora (Foto: Getty Images)

Hoje os nomes são conhecidos e consagrados, mas décadas atrás a história era diferente: Van der Sar no gol,  Danny Blind (pai do Blind atual do time) e Frank De Boer na defesa; Davids, Frank Rijkaard, Overmars, Kanu, Jari Litmanen, Patrick Kluivert e Clarence Seedorf eram alguns dos nomes naquela equipe que jogava em um 4-3-3 que se alternava para um 3-4-3 dependendo das circunstâncias. A vitória magra por 1 a 0 na decisão contra um Milan também espetacular, na final da temporada 1994-95, dava a impressão de que o Ajax voltaria a reinar como potência do continente.

“Foi tudo uma questão de combinação correta de fatores: os jogadores certos, o técnico certo, todo mundo certo", relembrou Seedorf em entrevista para a Goal Brasil.

Em novembro daquele ano de 1995, os holandeses bateram o Grêmio e conquistaram o mundo. Só que menos de um mês depois uma surpresa inimaginável viria a colocar um ponto final no audacioso sonho e, muito além do próprio clube, revolucionaria todo o futebol. Uma espécie de materialização da Teoria do Caos aplicado no cerne do esporte: aLei Bosman.

Jean-Marc BosmanGetty ImagesBosman, o homem que mudou toda uma estrutura (Foto: Getty Images)

Entre 1990 e 1994, Jean-Marc Bosman lutou com afinco contra as sanções aplicadas pelo seu clube, o RFC de Liége, depois que o belga manifestou o desejo de sair. Na época os direitos do atleta eram presos à instituição e o imbróglio foi longo até que o Tribunal Superior de Justiça da Europa, fora do campo esportivo, deu, em 15 de dezembro de 1995, o parecer favorável a Bosman. A partir de então, as regras na gestão esportiva mudaram completamente e o futebol virou um mercado sem limites dentro do continente.  O jogador foi, com toda a justiça, equiparado a qualquer trabalhador do mercado comum europeu e poderia transitar pelos países que faziam parte da comunidade da forma que quisesse. Os salários dispararam e o efeito colateral foi um tiro fatal para equipes de países menores.

Uma temporada depois de conquistar a Champions League, o Ajax viu metade daquela equipe sair para ligas mais ricas ao não ter a mínima chance de igualar as ofertas que chegavam para seus atletas. Equipes agora poderiam nascer e serem desfeitas de um ano para o outro e aquele Ajax ainda conseguiria chegar à final em 1996 para ser derrotada pela Juventus apenas nos pênaltis. Em 1996-97, voltaram a cair contra os italianos, desta vez na semifinal. Jamais conseguiram avançar em um mata-mata do principal torneio europeu desde então.

Desde que a Lei Bosman entrou em vigência, apenas três clubes de países menores no mercado do futebol conseguiram chegar à final da Champions League: o próprio Ajax em 1996, além de Porto e Monaco na surpreendente decisão de 2004.

Gigante, o Ajax sempre será pelo que fez na história do futebol. Mas é praticamente impossível imaginar os Godenzonen voltando a aparecer entre as maiores potências do continente.

Publicidade

ENJOYED THIS STORY?

Add GOAL.com as a preferred source on Google to see more of our reporting

0