Mesmo antes de Xavi Hernández pendurar as chuteiras no Barcelona, todos já sabiam que um dia ele estaria de volta.
O catalão passou 25 anos no Camp Nou e deixou o clube com 35 anos, após vencer a tríplice coroa, em 2015. Foi um "até logo", porém, e não um "adeus".
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Luis Enrique, treinador do clube na época, lamentou a saída de Xavi para o Al-Sadd, do Qatar, onde o meio-campista encerraria seus dias como jogador. "Não existe outro Xavi. Como um jogador, é praticamente único," elogiou o então técnico.
Como treinador, porém? Esse não é o caso. Xavi vem da mesma escola de Pep Guardiola e Johan Cruyff - um ex-jogador que retorna ao Camp Nou como um ídolo e que vem para "redescobrir" o estilo Barcelona de jogar futebol.
Um dos maiores jogadores da história do clube, com 767 jogos, Xavi sabe pelo menos alguma coisa sobre o "estilo Barça". E por mais que não tenha inovado essa forma de jogar, nunca escondeu que considera essa forma a ideal.
A cumpriu com perfeição dentro de campo, vencendo oito títulos da La Liga, quatro Liga dos Campeões, além da Copa do Mundo de 2010 e duas Euros com a Espanha.
Sob o comando de Pep Guardiola, hoje no Manchester City, Xavi se tornou um dos melhores meio-campistas da história do futebol. Agora, ele mantém esse mesmo estilo de jogo como treinador, no Al-Sadd, tendo conquistado duas Copas do Qatar e um título da liga em 2021.
Seu time deseja, necessita ter a bola nos pés para funcionar. "Está claro para mim que meu time precisar controlar a posse de bola. Eu sofro quando não a tenho," relatou ao The Coach's Voice.
"Quando eu era jogador, e mesmo agora que sou técnico, faça todo o possível para dominar a posse de bola. Sou obcecado com controle de bola. Não só a tê-la, mas atacar e criar chances.
Getty ImagesOs números concordam com Xavi. O Al-Sadd marcou 24 gols em seus últimos cinco jogos em campeonatos nacionais. Já o Barcelona de Koeman, por exemplo, marcou apenas seis. O Al-Sadd está invicto a 34 jogos na liga nacional, com Xavi perdendo apenas 16 e 93 partidas no total.
O treinador vem utilizando um sistema com três defensores nesta temporada, normalmente 3-4-3 ou 3-5-2, algo curioso, já que rumores apontaram que o presidente Joan Laporta teria requisitado para que Koeman abandonasse essa mesma ideia - que chegou a funcionar na temporada passada.
De qualquer jeito, Xavi não acredita que a formação tática de um time é crucial. Ele está mais preocupado com como um time costuma construir.
"O mais importante é ter amplitude, abrir o campo, o mais largo e profundo possível," continou. "Nós trabalhamos esse posicionamento o tempo todo nos treinos, para gerar superioridade numérica. Jogar o máximo do tempo possível no campo do adversário."
O Barcelona de Xavi seria um time que pressiona os adversários, não os deixa respirar. O catalão iria passar horas e horas ajustando apenas o posicionamento ofensivo, uma diferença para os últimos técnicos, já que jogadores já até chegaram a reclamar de uma falta de treinos e instruções táticas.
"A bola não é uma bomba; é um tesouro. Todos temos que gostar de ter a bola," completou Xavi. "No final, ter a bola é um vício. A coisa mais importante e bela no futebol é ter a bola e atacar com ela."
Tendo passado tanto tempo no Barcelona, entende que não precisa só vencer, mas brilhar. Koeman foi demitido em parte pois seu time não conseguia entreter dentro de campo - ou conquistar resultados.
O time de Koeman já se mostrou as vezes ser pouco eficiente com a posse de bola, incapaz de romper linhas defensivas sem depender de jogadas individuais, enquanto o time de Xavi parece criar chances a cada minuto.
E o objetivo é justamente sufocar os oponentes, forçá-los a apenas se preocupar com a defesa, mesmo que precise dar espaços. O próprio Xavi admite que um risco grande em seu jogo são os contra-ataques dos rivais, com chances de sair na cara do goleiro. É por isso que alguns jogos do Al-Sadd tem placares como 4 a 3, 3 a 2 ou 3 a 1.
Como o Barcelona jogará com Xavi?
Se manter o mesmo esquema 4-3-3, preferência de Laporta, precisará utilizar Eric García e Ronald Araújo juntos no miolo de zaga. García pode subir e sair jogando com qualidade, enquanto Araújo tem a velocidade e a inteligência para interromper contra-ataques.
O treinador vai querer amplitude, com Ousmane Dembelé e Ansu Fati jogando muito abertos.
Playing SurfaceSe optar por um 3-4-3, deve dar ao Barcelona a chance de utilizar dois volantes construtores, com Busquets e Frenkie de Jong, bem como dar liberdade aos jovens criativos Pedri e Gavi.
Até agora, tudo parece perfeito. Mas existem riscos.
Xavi nunca conseguiu vencer a Liga dos Campeões da Ásia, um problema simliar ao que o Barcelona vem passando, tendo sido derrotado na última temporada por 4 a 1 pelo Al-Hilal nas semifinais - mesmo a vitória no jogo de volta por 4 a 2 não foi suficiente para levar a equipe à final.
Playing Surface"A expectativa do Al-Sadd sempre foi dominar a liga," conta o especialista no futebol qatari, Sudesh Baniya, ao podcast Siempre Positivo.
"Sob o comando de Xavi, venceram a liga pela primeira vez na última temporada e estão na liderança agora. Mas não consideram isso um desafio forte o suficiente: querem chegar ao nível de conquistar a Liga dos Campeões Asiáticas.
Laporta segue cético quanto à falta de experiência de Xavi no nível mais alto do futebol europeu, mas o desespero e a falta de outras boas opções levaram o Barcelona a entregar o cargo ao ex-jogador.
Ainda não sabemos como Xavi vai lidar com seus ex-companheiros - Jordi Alba, Sergio Busquets, Gerard Piqué e Sergi Roberto -, e será terá coragem de os dispensá-los, caso seja necessário.
Existem armadilhas em potencial tanto para o treinador, quanto para o clube, mas no papel, Xavi é o homem para recolocar o Barcelona no caminho dos títulos.




