+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Champions League Trophäe 2019Getty Images

Como a Champions deixou de ser a Liga dos Campeões para ser exclusiva das elites

A final da Champions League 2018-19 será disputada neste sábado (1º de junho), mas enquanto não acontece o pontapé inicial entre Tottenham e Liverpool o grande tema de debates no futebol europeu é o que há para o futuro em meio à sombra crescente de uma Superliga Europeia.

A ideia é antiga, e ditou muitas das mudanças de formato da Champions League nas últimas décadas. Ela ressurgiu com grande força recentemente, depois que o Football Leaks revelou encontros secretos entre alguns dos dirigentes de clubes mais influentes do mundo para colocar no papel o projeto. A intenção é simples: reunir os emblemas mais tradicionais, influentes e, principalmente, ricos do continente em uma disputa fechada pelo trono continental. A briga por uma vaga através dos campeonatos nacionais iria para o ralo.

Dono da Juventus, Andrea Agnelli é também o presidente da Associação de Clubes Europeus (ECA) e uma das principais vozes em defesa da instauração desta liga fechada. Tamanha foi a pressão colocada sobre a UEFA, inclusive com a já citada ameaça de união dos maiores clubes em um outro torneio que não seja a Champions League, que recentemente a entidade futebolística do Velho Continente apresentou um projeto para repaginar o seu principal produto. Uma atualização que deixaria a Champions com a cara mais semelhante à da tão sonhada Superliga.

A proposta, que seria válida a partir de 2024-25, mudaria por completo a fase de grupos: saem as oito chaves com quatro times em cada, entram quatro grupos com oito participantes. A consequência óbvia é um maior número de encontros entre grandes emblemas, uma vontade de longa data das principais equipes. Como se a mudança não fosse o bastante, esta nova Champions garantiria as vagas de sua próxima edição de forma interna. Manutenção dos participantes, rebaixamento à Europa League para os que tiverem as piores campanhas e acesso pela mesma aos melhores. Restariam apenas quatro vagas, dentre as 32, para serem definidas através dos campeonatos nacionais. Ou seja: o interesse em competições como La Liga, Bundesliga, Premier League ou Ligue 1 seria reduzida quase a pó.

Exatamente por isso, as ligas nacionais são o setor mais descontente com esta “nova Champions League” que seria mais um passo dado rumo à elitização quase que completa das provas europeias. Um processo que teve um de seus momentos históricos celebrados justamente durante o final de semana, quando craques do Manchester United de 1998-99 se reuniram para relembrar a campanha histórica que terminou com a conquista da Tríplice Coroa (títulos de Premier League, FA Cup e Champions). Uma temporada também que marcou um antes e depois na história do futebol europeu, uma vez que o título da Liga dos Campeões da Europa foi decidido por duas equipes que não eram campeãs nacionais vigentes. Ou seja, é como tivesse deixado, no significado de seu nome, de ser a Liga dos Campeões.

Tanto o Manchester United quanto o Bayern de Munique, finalistas naquela decisão realizada dentro do Camp Nou, haviam sido vice-campeões na Inglaterra e Alemanha, respectivamente. Anos antes, para agradar as maiores potências, a UEFA mudou o formato e abriu as portas para que outras equipes de um mesmo país entrassem na disputa. Assim, títulos históricos como o do Estrela Vermelha em 1991 ou Steaua em 1986, passaram a ser um sonho distante: o terceiro e quarto colocado da Inglaterra, por exemplo, chegariam com equipes bem melhores para dificultar a ascensão dos campeões de países menores.

Um emblema histórico que sofreu com isso foi o próprio Ajax, que décadas depois conseguiu se reinventar e, mesmo com quatro títulos em sua prateleira, comemorou a sua atual campanha como se fosse a de um time campeão. Chegou às semifinais em 2019 - um feito e tanto levando em consideração o sistema atual, não o peso da camisa. Desde então, o único time fora do grupo das chamadas “cinco maiores ligas da Europa” (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França) a ter levantado a taça foi o Porto comandado por José Mourinho em 2004.

ASSINE O DAZN E VEJA SERIE A, LIGUE 1 E MUITO MAIS!

Olhando para o histórico do futebol europeu, difícil imaginar outro caminho a não ser esta elitização. Ela já está em curso há tempos e ganhou mais força nos últimos anos. De acordo com o mais novo estudo divulgado pelo Observatório do Futebol, os principais campeonatos nacionais da Europa estão cada vez mais desequilibrados. Se entre as temporadas 1999-00/2003-04 os campeões nacionais somavam cerca de 69.9% dos pontos em disputa, nas últimas cinco temporadas a média chegou a 80.5%. O maior desequilíbrio pertence à Juventus de 2014 (89.5% dos pontos), justamente um dos clubes mais interessados em elitizar ainda mais a Champions League.

Liverpool Manchester City GFX Premier League 27022019Getty Images Champions mais 'elitizada' diminui cada vez mais a relevância dos campeonatos nacionais... e disputas como entre Liverpool e City poderão ser cada vez mais raras nacionalmente (Foto: Getty Images)

O cenário aponta uma “estadualização” das ligas nacionais, um processo que o Brasil – com as devidas proporções – viveu entre a passagem de bastão na relevância de seus principais torneios. E o título do Manchester United em 1999 é um marco deste processo na Europa, ainda que poucos tenham notado: foi a primeira vez que o campeão da Liga dos Campeões não havia sido... campeão! A final contra o Bayern também foi histórica pela carga emotiva, com gols marcados nos acréscimos. Isso também mostra que, independentemente de qualquer coisa, o futebol sempre reservará emoção. Emoção restrita a um torneio, desde que seja o principal da Europa. Disputas históricas, como as protagonizadas por City e Liverpool nesta última Premier League, poderão ser cada vez mais raras em um futuro próximo. Vale à pena?

Publicidade

ENJOYED THIS STORY?

Add GOAL.com as a preferred source on Google to see more of our reporting

0