Por João Henrique Castro
Em março de 2017 publiquei no Espaço Cinco Estrelas no goal.com uma coluna intitulada: "Cada vez mais ESPORTE CLUBE". Na ocasião, a Raposa apresentava a sua equipe de futebol americano e dava mais um passo na ampliação das modalidades em que desfila sua força no esporte brasileiro, honrando o nome que carrega no escudo.
A expectativa com o desempenho do Cruzeiro no esporte especializado era justificada. Na ocasião ainda ocorriam conversas para uma parceria com o Contagem Towers, então campeão mineiro de Basquete, para participar da Liga Ouro e buscar uma vaga no NBB. A situação avançava e a equipe da região metropolitana até disputaria a fase final da Liga Ouro no Ginásio do Riacho, casa do Sada Cruzeiro e a convite do presidente do grupo que patrocina o voleibol da Raposa. Mas sem o acesso ao NBB as conversas acabaram abandonadas mesmo com o bicampeonato estadual conquistado pelo Towers no fim de 2017.
Fato é que o sucesso e o bom desempenho celeste nos esportes especializados pautou de forma significativa a disputa eleitoral em 2017. As duas chapas no pleito comprometeram-se até com a ampliação das modalidades. Mas no início de 2019 e completado o primeiro ano da chapa comandada por Wagner Pires, o que se vê é um profundo descaso com o que escapa ao futebol no clube.
A inauguração do Instituto Cinco Estrelas, um projeto que atende crianças e adolescentes, de ambos os sexos, e com espaço para diferentes modalidades é, sem dúvida, um passo importante. Mas pouco adianta atender garotos e garotas na base, em troca dos benefícios fiscais que tais ações permitem, se não há compromisso com a profissionalização dos mesmos? Lembrando que também equipes profissionais dispõe de mecanismos de captação de recursos e vários rivais tem atuado em sentido inverso expandindo suas equipes no último biênio.
Como em 2017, a coluna fará ainda uma avaliação de como anda cada modalidade no clube, comparando com o que havia até aquela época e que é possível relembrar acessando o link no primeiro parágrafo. Veremos com isso o descaso e a negligência. E o triste diagnóstico de que o Esporte Clube no escudo está ficando cada vez menor.
Atletismo
A equipe celeste seguiu sua rotina de títulos e conquistas, nacionais e internacionais, em 2017 e 2018.
Entre as centenas de títulos e pódios deste período, destacam-se, por exemplo, a conquista de José Márcio Leão na Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro e o vice de Edmilson dos Reis Santana na Maratona Internacional do Rio de Janeiro de 2017. Já em 2018 Wellington Bezerra da Silva ficou com o vice na Meia Maratona carioca e Gilmar Silvestre Lopes foi o terceiro na Maratona do Rio de Janeiro. E até a São Silvestre de 2018 a Raposa seguia com a melhor equipe de atletismo do país.
Em um episódio tumultuado, em que o treinador Alexandre Minardi fez acusações ao diretor Sérgio Nonato de ter fechado a equipe, a diretoria celeste chegou a negar que o atletismo seria finalizado. O antigo comandante, no entanto, foi demitido e, desde a primeira semana de 2019, não há mais atletas com a camisa cinco estrelas nas provas de corrida.
Bocha
Modalidade no clube desde 1965, a Bocha é exceção no processo de diminuição dos esportes ativos na Raposa.
As conquistas também seguem constantes. A mais recente foi a conquista do Campeonato Brasileiro de Duplas de 2019. O atleta Gugu, inclusive, foi convocado e defenderá o Brasil no Mundial da modalidade na Argentina.
Futebol
Cruzeiro ECCarro chefe do clube, o futebol também teve uma era de conquistas. Duas Copas do Brasil e um Campeonato Mineiro no período provam que o Cruzeiro segue com sua vocação de potência da modalidade.
Nesta semana a diretoria também comunicou que a equipe feminina disputará a série A-2 do Brasileiro a partir de março e que o clube terá um departamento próprio da modalidade. A medida, porém, parece apenas interessada em atender as demandas legais que exigem a partir deste ano a existência de equipes femininas para disputar a Libertadores. O que gera um receio sobre o real suporte e interesse na formação da equipe.
Futebol Americano
Aqui tem uma tragédia a parte. O Sada Cruzeiro anunciado em 2017 faturou a Copa Minas e o Brasil Futebol Americano, mas desde o início de 2018 uma sucessão de fiascos e mudanças sem a menor transparência encaminharam para o fim da modalidade.
A ruptura com o BH Eagles, equipe que abrigava o CPF e o patrocínio do grupo Sada no esporte, abriu espaço para que o Atlético-MG (!) herdasse a equipe e o potencial vitorioso dos atletas que em 2018 voltaram a vencer o torneio estadual e a competição nacional, desta vez com a camisa alvinegra.
O Cruzeiro, por sua vez, colecionou trapalhadas. Em uma parceria com o nebuloso Instituto Educação, Saúde e Cidadania a Raposa anunciou um acordo com o Juiz de Fora Imperadores e anunciou o Cruzeiro Imperadores, com sede na Zona da Mata mineira.
Atletas inscritos fora do prazo, confusão documental e a equipe acabou desclassificada no TJD-MG do Campeonato Mineiro. A situação gerou uma crise no projeto e a parceria com a equipe de Juiz de Fora foi rompida.
A Raposa, porém, anunciou um novo projeto: o Cruzeiro Foxes. E a criação de um departamento autônomo! A nota oficial no site do clube chegou a falar em uma coletiva de apresentação do projeto, mas esta nunca aconteceu. Hoje, no site do TRT, é possível encontrar um processo trabalhista movido pelo offensive line Lênin Albuquerque, um dos destaques anunciados pelo Cruzeiro Imperadores e que deixou o projeto para defender o João Pessoa Espectros, vice-campeão do último Brasil Futebol Americano.
Futsal
Única novidade desde 2017, o futsal celeste foi reativado. Mas apenas nas categorias de base com jogadores que também atuam no campo e sem nenhum sinal de esforço de profissionalização, ainda que com um departamento próprio no clube desde 2018.
Parte do projeto da Escola de Esportes criada pelo clube também em 2018, as equipes sub-11 e sub-12 da Raposa faturam a Copa Minas e disputarão a Taça Brasil em 2019. No campeonato metropolitano, o sub-11 ficou com o título e o sub-13 com o vice-campeonato.
Tênis
A única parceria oficial do clube, com o atleta Pedro Bernardi, se foi encerrada não foi precedida de nenhum comunicado oficial. Mas a própria carreira instável do atleta, cujo último registro encontrado foi na disputa do torneio amador de Roland Garros em Belo Horizonte em outubro do último ano, dificulta acesso a maiores informações. Sua última postagem na página oficial no Facebook, que ainda carrega as cinco estrelas entre os patrocinadores, é de março último.
Enquanto isso, a dupla de cruzeirenses Bruno Soares e Marcelo Melo segue com resultados de alto nível. Com parceiros distintos, Bruno e Marcelo disputaram mais um ATP Finals em 2018, mas seguem sendo acionados pelo clube apenas em eventos publicitários como a divulgação do programa de sócio torcedor.
Voleibol
Com o suporte do grupo Sada a equipe segue entre as melhores do mundo. Mesmo perdendo os cubanos Leal e Simon, e só em função do desejo dos mesmos de seguir para a Europa, a equipe segue forte e com investimentos elevados como as contratações do ponteiro estadunidense Taylor Sander e o central francês Le Roux, ambos entre os melhores do mundo em suas funções, para suprir as perdas. Além disso, uma parceria com o Lavras Vôlei dá espaço para os jovens das categorias de base na Superliga B e, até aqui, segue firme na briga pelo acesso à primeira divisão.
Tricampeão da Copa do Brasil, bicampeão mineiro, do Sul-americano, da Superliga e campeão da Recopa no período, além de terceiro colocado no Mundial de 2017, o time seguiu vencedor e viu o projeto Sada ganhar força também em outras categorias.
Hoje o projeto NEEV Sada Argos é uma das principais forças de base do voleibol feminino e em 2019 passa a ter a categoria sub-17. A empresa também patrocina uma equipe paralímpica de voleibol sentado. Mas nestas iniciativas o Cruzeiro, infelizmente e talvez por falta de interesse, não se faz presente.
Extra: O basquete
Tem quem não sabe, mas o Cruzeiro já teve equipe de basquete nas primeiras décadas de sua história. E neste período recente foi também por falta de interesse que a modalidade não ressurgiu no clube.
Sensação no campeonato estadual em 2016, a equipe do Contagem Towers se destacou também na Liga Ouro, a Liga de acesso ao NBB, em 2017 e chegou a negociar uma parceria com o grupo Sada e também com o Cruzeiro. A aproximação foi tão grande que a equipe chegou a disputar a fase final da Liga Ouro no Ginásio do Riacho, casa do vôlei do Sada Cruzeiro.
A derrota para o Joinville impediu o acesso e as conversas esfriaram. A equipe até voltou a vencer o estadual em 2017, mas não conseguiu recursos para disputar a Liga Ouro de forma competitiva em 2018, ainda que tenha apresentado o projeto ao clube (e a outras instituições de Belo Horizonte).
Em 2018, aliás, o Contagem Towers sequer participou do Estadual, mas o NBB segue crescendo e atraindo outras forças do esporte nacional. Vasco (2016), Botafogo (2017) e Corinthians (2018) foram os últimos campeões da Liga Ouro e o São Paulo tenta o acesso em 2019 para um NBB cada vez mais marcado pela presença de forças tradicionais do futebol e com transmissões diárias em diferentes canais de TV e serviços de streaming na Internet.
E o Cruzeiro? Nada!
![]() | João Henrique Castro é professor, historiador e, obviamente, cruzeirense. Daqueles que sabe que nada brilha mais no céu do que as cinco estrelas que traz no peito. |

