O sorteio das quartas de final da Champions League não ofereceu os confrontos fantásticos sonhados pelos torcedores. Nada de clássico local de Manchester, nada de briga entre os líderes da Premiere League entre Liverpool e City e nem mesmo um duelo entre Cristiano Ronaldo e Messi para matar a saudade. Mas será que isso é ruim?
Mesmo que todos queiram ver as grandes rivalidades o mais rápido possível, nem sempre isso é o melhor para o torneio. Sabe aquelas pessoas que começam uma refeição pela parte menos saborosa do prato e deixam o melhor para a última mordida? Um campeonato de futebol pode ser assim também.
UEFACom os confrontos definidos nesta sexta-feira (15) pela UEFA, podemos ter os quatro times considerados por muitos como os mais fortes da competição se degladiando na semifinal. Alguém iria reclamar de ver Barcelona, Manchester City, Juventus e Liverpool disputando o título europeu? Seria legal vê-los um contra os outros agora, mas pode ser ainda melhor depois, quando há mais em jogo.
Lembremos, por exemplo, da temporada 2010-11: as quartas de final nos deram um clássico inglês esperadíssimo entre Chelsea e Manchester United. Foi ótimo, mas ao passar de fase o United acabou enfrentando a surpresa Schalke 04 na semi. Muito mais fraco, o time alemão foi superado sem grandes problemas pelos ingleses em um duelo menos emocionante que o da fase anterior. Pensando pela lógica das narrativas, foi uma bela esfriada de ânimos na história que estava sendo contada.
No mesmo ano, a outra semifinal foi entre Barcelona e Real Madrid. Os dois rivais estavam em fases excelentes, com Ronaldo e Messi voando baixo e os dois melhores ataques da competição. Poderia ser a maior final da história, mas as bolinhas do sorteio anteciparam o clímax.
Os exemplos existem em quase todas as temporadas. Em 2016-17 tivemos os favoritos Bayern de Munique e Real Madrid se enfrentando precocemente nas quartas enquanto o jovem time do Monaco se classificava para a semifinal. Em 2009-10, Barcelona e Arsenal fizeram um esperado duelo de times ofensivos nas quartas enquanto poucas pessoas assistiam ao encontro francês entre Bordeaux e Lyon na mesma fase.
Há um argumento a favor dos clássicos precoces, porém: eles são à prova de zebra. Imagine que em 2011 o Barcelona estivesse de um lado da chave e o Real Madrid na outra, mas imagine também que um deles, por motivos de "futebol é futebol", acabasse perdendo a semifinal. Mesmo que fossem os dois melhores times do mundo na época, os espanhóis poderiam perder para o bom Manchester United. Nesse caso não só não teríamos a final dos sonhos de quase todos como ainda seríamos privados daquela histórica semi.
Também não podemos ignorar que às vezes os melhores jogos não são os mais aguardados. Ficamos presos nos times de renome, mas o Ajax está aí para provar que nem sempre os jogos mais aguardados são os mais marcantes de uma fase de mata-mata.
Os cruéis sorteios acabam sendo, no fim das contas, mais importantes para o futebol fora do futebol. Eles mexem com a conversa das pessoas nas ruas e nas redes, com as nossas expectativas de fã nas semanas que antecedem os duelos. Especulamos quem venceria duelos imaginários e torcemos, é claro, para que os sorteios os coloquem em prática. Agora é combinar com o futebol para que tudo aconteça.
