
Há 15 anos, Ronaldo deixava o gramado de Old Trafford sob aplausos da torcida do Manchester United após uma exibição histórica pelo Real Madrid. O Fenômeno fez três gols, que levaram os Blancos para a semifinal da Champions League 2002-03 mesmo com a derrota por 4 a 3 no embate de volta.
Aquele foi o auge de R9 na Champions League, um atacante que em seus melhores momentos demonstrava explosão física e uma refinada técnica para finalizar as jogadas.
Na última segunda-feira (27), o estádio de Old Trafford também testemunhou aplausos após um resultado adverso dos Red Devils. Mas ao invés da reverência, a bizarrice. Pois as palmas foram direcionadas ao treinador do próprio United, José Mourinho, após derrota por 3 a 0 para o Tottenham. O português faz um péssimo início de temporada (duas derrotas em três jogos na Premier League) com uma equipe marcada pelo futebol chato.
A maior derrota de José Mourinho no comando de um time mandante teve como grande destaque um brasileiro. Lucas Moura foi escalado ao lado do inglês Harry Kane em um sistema que marcou o nosso futebol especialmente nos anos 90: um 4-4-2 com meio-campo em losango. Acostumado a atuar pelos lados de ataque, o ex-São Paulo e PSG viveu uma noite de clássico ponta de lança. E o destino quis que fosse a sua noite mais marcante desde que chegou ao futebol europeu, em 2013.
O triunfo dos londrinos começou com gol de Harry Kane dentro de seu território preferido: dentro da área, o goleador inglês cabeceou com estilo após cruzamento de Kevin Trippier. Mas o centroavante também impressionou por deixar a intermediária. Recuou, até mais do que Lucas, puxando a marcação e ajudando na construção de jogadas. Quando deu o passe para o brasileiro sair em disparada e fazer o terceiro gol do Tottenham, Kane vestiu literalmente o número 10 que carrega às costas. Comportou-se como meia, e Lucas teve lampejo digno de um Ronaldo.

Ele já havia feito o segundo gol, aproveitando passe de Eriksen no minuto 52. Mas pareceu o Fenômeno quando recebeu a bola e disparou em direção ao goleiro De Gea, deixando o zagueiro Smalling caído no chão antes de bater forte para o fundo das redes. Um golaço! Em duas finalizações, o camisa 27 (2+7=9) fez dois gols. Também deixou o gramado como atleta que mais deu sprints (26, segundo a Opta Sports) e com a maior velocidade máxima dentre os 28 que estiveram em campo: 33,94 km/h.
Getty ImagesDupla de ataque com grande movimentação, como a 'escolha brasileira' nos anos 90 (Foto: Getty Images)
Quando foi ovacionado pela torcida adversária no estádio do Manchester United, Ronaldo já era um atleta consagrado. Campeão do mundo, protagonista e herói. Lucas não é nada disso, por essa razão seria até mesmo absurdo ver os torcedores do United lhe aplaudirem após a sua melhor atuação no futebol europeu. Lucas, no entanto, quer ser apenas o melhor que pode ser. E, aliando velocidade à qualidade de finalizar jogadas, demonstrou que pode fazer isso. Nos 3 a 0 do Tottenham em Old Trafford, ele se mostrou um exemplo de jogador moderno... no melhor estilo do passado que tanto consagrou nosso país.




