Philippe Coutinho tenta, isso é inegável. Nenhum outro jogador nesta Copa América arriscou tantas finalizações no total [16] ou a gol [4]. Mas como ele próprio sabe, não é o bastante quando não se resolve jogos. Apesar da vitória dramática nos pênaltis sobre o Paraguai, que levou a seleção brasileira para a semifinal da Copa América, a exibição do jogador rotulado como referência de criatividade mais uma vez deixou a desejar por um simples motivo: ele não decidiu durante os 90 minutos. E pode acreditar: tem sido algo mais comum do que parece.
Coutinho soma dois gols na competição, graças às duas bolas nas redes que abriram a vitória por 3 a 0 na estreia contra a Bolívia. Se analisarmos isoladamente os seus números, podemos constatar o óbvio: o camisa 11 é um nome importante na equipe de Tite. Mas suas exibições não validam o rótulo de craque do time. Tanto nesta Copa América quanto nos compromissos pós-Mundial, Philippe na verdade tem sido exatamente o que é no Barcelona: demonstra habilidade e categoria, faz seus gols e dá as assistências... mas fica abaixo da expectativa que só foi criada por causa do grande talento que possui.
Diante do Paraguai, por exemplo: bateu o recorde de finalizações gerais [7] e inclusive obrigou Gatito Fernández, goleiro adversário, a fazer uma de suas tantas belas intervenções. Mas não apareceu tanto até o momento em que Balbuena foi expulso, no início do segundo tempo, deixando os alvirrubros com menos um em campo. Com mais espaço, ficou mais ousado e partiu um pouco mais para cima, pisou mais na área. A crítica aqui é de que foi preciso o oponente ficar em desvantagem numérica para que o principal articulador voltasse a aparecer. E mesmo assim não decidiu.
Philippe Coutinho não tem sido, tanto no clube quanto na seleção, aquele jogador que resolve no momento de tensão. Se o cenário do jogo não é dos melhores, a impressão é de que ele aceita esta realidade e só acorda nos últimos minutos. Quando está no limite do “tarde demais”. Nesta Copa América foi assim contra Venezuela e Paraguai, nas duas partidas que terminaram sem gols no tempo regulamentar. Mas até mesmo os tentos e assistências contabilizados pelo camisa 11 neste novo ciclo de Tite podem ser diminuídos após rápida contextualização.
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Desde a eliminação para a Bélgica, nas quartas de final de um Mundial onde Coutinho caiu de rendimento a partir do mata-mata, Philippe fez quatro gols: o terceiro nos 5 a 0 sobre El Salvador, o terceiro [de pênalti] nos 7 a 0 sobre Honduras e os dois na estreia de Copa América contra a Bolívia. No caso dos amistosos, evidente que a péssima qualidade técnica dos adversários embaça algum tipo de análise mais aprofundada. Ainda assim, Philippe não foi o primeiro a ter aberto o placar: isso aconteceu contra os bolivianos, seleção desta Copa América pior colocada no ranking da FIFA. E de pênalti! Com o frágil adversário dentro de um contexto em que precisava buscar o resultado, e, portanto, se abriu, o trabalho para o segundo tento ficou mais fácil.
Em relação aos dois passes que deu para gols: um dele nos 7 a 0 sobre os hondurenhos e o outro no terceiro tento dos 5 a 0 contra os peruanos – lance em que Everton Cebolinha ainda deu seus ajustes individuais antes de arrematar de fora da área. Mais uma vez: foi importante, mas em um momento mais confortável.
Getty ImagesTentou, mas de novo não rendeu ao máximo nem decidiu (Foto: Getty Images)
Coutinho converteu a sua batida na disputa de pênaltis contra o Paraguai. Não atrapalhou, mas a impressão é de que o encaixe nesta função, solto como meia centralizado no 4-2-3-1, não acontece. Especialmente com Firmino tendo características também de meia. Perguntado sobre a situação na entrevista coletiva após o jogo, Tite aparentemente descartou utilizar Philippe como ele melhor rendeu ao longo de sua carreira: aberto como ponta-esquerda.
“Ela [a opção de Coutinho como ponta-esquerda] mudou muito a mecânica da equipe. Hoje tem jogadores de lado de campo, Willian, David Neres também tem essa virtude. Everton. E jogadores centrais de articulação? Quando a bola não chega nos homens da frente... No segundo tempo chegou mais... E é uma bola que entra para eles, e eles decidem. Estava com dificuldade de essa bola chegar, para que os pontas recebessem em melhores condições de enfrentamento. Mas daqui a pouco, uma ele decide”.
Em um passado recente Coutinho não atuava na ponta-esquerda da seleção porque ali era o lugar cativo de Neymar, cortado desta Copa América por causa de lesão. Depois, a escolha de apostar em Everton Cebolinha por ali mostrou-se acertada. Talvez, sem querer, ao explicar o posicionamento de seu camisa 11, Tite pode ter indicado que Philippe Coutinho pode não render o seu melhor com a camisa canarinho, embora continue sendo uma opção boa.
Boa, mas ainda não decisiva.
A vitória dramática sobre o Paraguai dá a Coutinho a oportunidade de mostrar o contrário, mas até lá só podemos esperar.
