A AFA, Associação do Futebol Argentino, anunciou neste fim de semana que irá profissionalizar o futebol feminino no país. A medida passa a valer em junho, quando terá início o primeiro Campeonato Argentino profissional de futebol feminino da história. Antes os torneios eram amadores.
Segundo as regras determinadas pela associação, os 16 clubes que participarão do campeonato devem ter ao menos oito atletas com contratos profissionais e dentro do acordo coletivo de trabalho da categoria, exatamente como acontece com os jogadores do futebol masculino.
Cada clube receberá da entidade cerca de R$12 mil reais para arcar com as despesas. "Vamos seguir trabalhando para desenvolver o futebol feminino em todas as cidades", disse o presidente da AFA Claudio Tapia no evento que anunciou o novo torneio.
A decisão, excelente notícia para o futebol feminino da região, não veio sem luta. A batalha nos bastidores e a pressão sobre a AFA teve início em fevereiro, quando a jogadora Macarena Sánchez processou o seu ex-clube, o UAI Urquiza, e a AFA pela falta de profissionalização da atividade no país e pela situação precária de trabalho.
"Vivemos em um ambiente que nos exclui diariamente e que nos despreza. Boa parte da sociedade acredita que mulheres não são capazes de jogar futebol e que não deveriam ter o direito de praticá-lo", disse Macarena em uma entrevista ao jornal inglês The Guardian.
Sua revolta contra a situação do futebol feminino sempre existiu, mas piorou depois que ela se transferiu para o UAI Urquiza. Enquanto o time masculino joga a terceira divisão, o feminino tem quatro títulos nacionais e está classificado para a próxima Copa Libertadores. Apesar da diferença nos resultados, os homens ganhavam muito mais, tinham melhores condições de treinos e conseguiam viver só do esporte.
Macarena recebia só 400 pesos argentinos (cerca de R$40) por mês do clube
Em outras equipes menores a situação era ainda pior, com atletas pagando do próprio bolso pela chance de jogar.
A ação judicial deu resultado. Embora o processo ainda não tenha caminhado, a AFA se antecipou com a criação do torneio e ao menos 128 mulheres poderão dizer, a partir de junho, que são jogadoras de futebol profissionais na Argentina.
Em sua conta no Twitter, Macarena Sánchez celebrou a decisão da AFA e destacou que "o primeiro passo foi TODO NOSSO". Ela também agradeceu ao apoio do público, de outras jogadoras e da imprensa que ajudou a espalhar sua história. "Este é o começo e devemos continuar reivindicando o que ainda está faltando. Continuaremos a jogar e lutar", disse.
