É justo dizer que Alisson Becker teve um ano incrível. O goleiro brasileiro foi o melhor de sua posição no Goal 50 de 2018, especialmente por suas façanhas com a camisa do Roma, semifinalista daquela Liga dos Campeões da UEFA.
No entanto, Alisson conseguiu ir além desde que chegou ao Liverpool, com quem, enfim, levantou o maior título da europa na última temporada.
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O atleta de 27 anos também venceu a Luva de Ouro da Premier League, como o melhor arqueiro do torneio, graças a seus 21 jogos sem sofrer gols - o que só voltaria a acontecer na Copa América, vencida pelo Brasil, quando permitiu apenas um tento adversário.
Não é de surpreender que, agora, o gaúcho terminaria em uma posição ainda mais alta na lista do Goal 50 2019, terminando na 7ª colocação no nosso ranking.
Mas o que é que faz do goleirão da seleção brasileira um talento tão especial sob as traves? O que mais podemos esperar de Alisson?
Setorista do Liverpool para a Goal, Neil Jones se sentou com o preparador de goleiros dos Reds, John Achterberg, para descobrir...
John, em primeiro lugar, estamos no segundo ano consecutivo no qual Alisson aparece como o melhor goleiro na lista do Goal 50. Ainda há dúvidas de que ele é o melhor da posição na atualidade?
JA: Bem, ninguém gosta de falar disso abertamente, mas se você parar para olhar, e acompanha os demais goleiros, ele merece.
No último ano, ele venceu tudo o que havia por vencer e foi o goleiro mais consistente do mundo. Não acho que há muito o que se contestar nesse aspecto.
Agora, a chance se apresenta novamente para que ele repita isso de novo e de novo. É algo que discutimos com ele.

Você precisa encontrar seu foco e encontrar uma maneira de manter uma boa fase ao longo do tempo. É uma questão de desejo, de querer ser o melhor goleiro nos treinos, querer ser melhor que o goleiro adversário. Ser o melhor que você conseguir ser.
É preciso criar uma mentalidade, ficar alguns jogos sem sofrer gols, depois mais alguns, impor metas para você, como pessoa, ser o melhor em todo aspecto que conseguir. Se você perder esse foco, é quando você começa a decair.
Você é conhecido aqui em Melwood [CT do Liverpool] como um obcecado por tudo que envolve goleiros, que assista jogos e estuda jogadores de todo o mundo. Consegue lembrar da primeira vez em que Alisson chamou sua atenção?
JA: Foi numa partida pelo Internacional, em 2013. Lembro de assistir no laptop em casa, no meu escritório.
Estou sempre buscando goleiros, em todo lugar. Se alguém é comentado na imprensa, eu quero saber. Se há um torneio sub-17 ou um campeonato sub-19, eu quero assistir.
Foi Doni, nosso ex-goleiro no Liverpool, que veio me falar sobre Alisson. Disse que tinha um potencial enorme, que poderia se tornar muito bom. Disse que esse cara poderia ser especial.
Ele se destacou imediatamente?
JA: Sim, ele tinha o tamanho certo, sabia sair jogando com qualidade. Era calmo, saía para interceptar os cruzamentos, tomava as decisões certas, sabia ler bem o perigo e defendia de tudo quanto era jeito. Nada mal pra um começo!
Para jogar no Liverpool, estamos sempre buscando os melhores em todo aspecto possível. Jogar aqui é diferente de jogar no West Ham, por exemplo. Precisamos de um goleiro capaz de fazer tudo; de jogar com os pes, de cobrir o espaço atrás da defesa, sair para os cruzamentos, fechar o gol no um contra um, velocidade, reações...
E então pensar que, quando se joga na Premier League, tudo acontece com o dobro da velocidade. É preciso pensar rápido, se mover rápido, reagir rápido e tomar decisões rapidamente. É outro desafio e, se você olhar para o futebol mundial, não há muitos capazes de entregar o pacote completo.
É verdade que você tentou contratá-lo em 2015?
JA: Sim, estávamos buscando por um goleiro que pudesse chegar e brigar pela titularidade. Observamos Neto, da Fiorentina [e hoje no Barcelona] mas ele preferiu ir para a Juventus naquele verão, então precisávamos de uma alternativa.
Eu acompanhava Alisson no Brasil, então o nome dele acabou surgindo. O problema é que ele não tinha o passaporte europeu, e nós precisávamos que ele tivesse, e ainda não havia jogado pela seleção brasileira. Então não havia como fazer negócio naquela época.

No ano seguinte ele foi para a Roma, então passamos a poder observá-lo mais de perto. Ele jogou contra nós em um amistoso em St. Louis [Estados Unidos] e impressionou. Foi quando eu contei ao técnico [Jürgen Klopp] sobre ele.
Ele acabou assinando pelo Liverpool em 2018. Como foi sua adaptação?
JA: Foi bastante rápida. Ele chegou com o grupo que estava fazendo a pré-temporada em Evian, e acho que aquela foi uma semana bem importante para ele e o resto do time.
Ele logo mostrou a todos do que era capaz. Todos gostaram do que viram logo de cara, dentro e fora de campo. Eu lembro que ele cantou em português para os rapazes com seu violão, e ele era muito bom!
Ele se encaixou bem. Todos gostam dele, se dá bem com todo mundo e isso é importante. Você espera que seus jogadores se sintam parte do todo, e Alisson é assim. É um cara importante dentro do vestiário, com certeza.
Como é treinar com ele?
JA: Ele quer sempre trabalhar forte, antes de mais nada. Conversamos bastante, como preparador, você está ali para ajudar e passar suas ideias, mas é parte de uma equipe e precisa também escutar o que o jogador tem a dizer.
É ele quem joga, então eu pergunto a ele 'O que você quer?'. Ele precisa se sentir bem, confortável.
É um apaixonado por futebol. Seu irmão [Muriel, do Fluminense] também é goleiro, então é algo que corre nas veias. Mas ele sabe quando se desligar um pouco também, o que é tão importante quanto.
Klopp disse que a melhor qualidade de Alisson é que ele faz coisas difíceis parecerem fáceis...
JA: Isso é algo do seu temperamento. Você precisa ter calma sob pressão, saber pensar com clareza e rapidez, e tomar as decisões certas. E ele tem tudo isso.

Ele faz tudo parecer simples porque é calmo, não entra em pânico. Sua leitura de jogo é muito boa, então ele sabe onde precisa estar. Para mim, seu temperamento é uma de suas principais forças.
Mas ele já cometeu erros, é claro...
JA: Acontece. Contra o Leicester, contra o Manchester United, na temporada passada, ele cometeu erros mas conseguimos vencer os jogos. Foram erros que não custaram tão caro.
É preciso manter a calma nessas situações. Eu não preciso falar a ele sobre os erros; ele sabe. Mas ele também sabe que todos os goleiros do mundo cometem erros em algum momento.
[Manuel] Neuer erra, [Jan] Oblak erra, todos erram. É sobre como você reage quando isso acontece. Como eu digo, Ali tem um temperamento muito bom, e sabe lidar muito bem com essas coisas.
Confira a entrevista de Alisson ao Goal 50 2018
Ele teve algumas grandes atuações na última temporada, é como se os grandes jogos fizessem aparecer o melhor dele, você concorda?
JA: Bem, você diz isso mas, na verdade, o que acontece é que os grandes jogos chamam mais atenção. A coisa é que Alisson faz essas coisas não importa o contexto, seja contra um Barcelona ou um Huddersfield.
Ele se prepara da mesma forma, mantém o mesmo foco, a cabeça sempre no mesmo lugar. Ele é consistente, e é isso que faz dele um goleiro de ponta.
Como clube, fizemos nosso dever de casa com ele. Falamos com as pessoas, assistimos os jogos, tínhamos toda a informação. Sabíamos do tipo de personalidade que ele tinha e estávamos confiantes que ele se encaixaria bem no time, no nosso jeito de jogar, nos treinos, no futebol inglês.
Ele com certeza fez isso! Agora, para provar que é o melhor do mundo, qual o próximo passo?
JA: É difícil dizer, mas posso dizer que ele já chegou ao Liverpool em um nível muito algo e conseguiu manter isso. Como eu digo, mantendo essa intensidade, o desejo e o foco no nível mais alto possível. Esse é o desafio para ele.
E, se ele jogar nos próximos anos como no ano passado, bem, todos ficam felizes, não?


