Zico exclusivo: erros de planejamento do Flamengo, idolatria de Gabigol, Sampaoli, estádio próprio e mais

“Como você já falou (frustrações) o que está sendo a temporada. Eu acho que tudo o que começa mal, a tendência é dar errado. Tudo começou lá atrás, na questão da saída do Dorival. O Dorival pegou um time quase na zona de rebaixamento, arrumou, deu confiança para a equipe, a equipe foi se recuperando, poxa, ganhou duas competições importantes… Lógico, quando você está com uma coisa já bem definida, a gente lembra lá em 2019, que o Flamengo foi lá e levou uma sapatada do Santos de 4 já campeão e ninguém falou nada do Jorge jesus, ninguém tirou o Jorge Jesus aí agora com Dorival, aconteceu isso, ficou a dúvida.

As explicações não eram convincentes, não teve uma explicação lógica, como ‘Eu tirei o Dorival porque ele vendeu hambúrguer em frente ao CT’.Diz alguma coisa, mas, não, ficou aquilo… ‘ah podia sairpara a seleção brasileira. E daí que vai para a seleção? Quantos não foram? Ah porque ele perdeu a mão do plantel, então diz isso…nós tiramos ele por causa disso. Acabou, deixando na dúvida toda a nação rubro-negra. Eu não sei até hoje qual foi o motivo da saída do Dorival”.

“Para mim foi um caso ainda mais esdrúxulo você trazer o cara que perdeu as duas competições para ele. Ele (Dorival) ganhou do Vitor Pereira a Copa do Brasil e ganhou na Libertadores, para mim ainda foi pior isso. Podia trazer qualquer um, menos esse. Eu não conheço ele, nunca falei com ele, não sei se é capaz, mas estou falando o que estamos vendo de fora. No meu entender, eu como torcedor, a competição mais importante para esse ano era o Mundial. Você não pode jogar o Mundial no início do ano e ficar 40 dias de férias, que foi o que aconteceu. Não foi feito nenhum planejamento para essa competição por parte do Dorival e nem por parte do Vitor Pereira, que não podia assumir até o dia 31 de dezembro. É uma hora que alguém tem que tomar as rédeas, chamar aqui ‘Ó, nós temos a competição mais importante, vamos ficar 30 dias e aí a gente recomeça’, se tiver que dar mais na frente a ente dá. Então aconteceu isso, os jogadores não estavam na melhor condição. Para mim o erro foi aí e está repercutindo até hoje. Mudou o treinador, a coisa até ser arrumada leva um tempo e até hoje não foi arrumada. O Flamengo não está constante, com regularidade.

“Isso é só quem está lá no dia a dia, não dá para ficar opinando daqui, só quem sabe o que pode, o que não pode, o contrato de cada um. A gente vai falar mais pelo rendimento, mas tem que saber do cara do rendimento como ele está no dia a dia, se está desmotivado. Aliás, quem joga no Flamengo não pode nunca estar desmotivado. Vestiu a camisa do Flamengo tem que estar sempre com aquela gana, aquela vontade de conquista. Uma das coisas importantes dessa geração é que eles têm fome de conquistas, como a gente tinha também. Agora, essa fome ela é muito boa quando está tudo arrumado. A gente (geração 81). Teve durante as nossas temporadas mudanças de treinadores,mas o grupo se juntava, se reunia… ‘aí moçada, não importa quem esteja ali, a gente tem que fazer o nosso trabalho, se mudou, se saiu o cara que a gente gostava e chegou um que a gente não conhece, vamos agir como profissionais que nós somos’. Essa é uma coisa importante que os jogadores têm que entender”.

“Nesse período a gente não deu muita chance de ser cobrado, de passar por um momento assim, de estar disputando e ter tantas perdas. Não tinha tantas competições como hoje e não tinha tanta facilidade para chegar, disputar uma Libertadores como se tem hoje. Brasileiro hoje vai sempre seis, às vezes oito, na nossa época tinha que ganhar o Brasileiro se não você não ia. Não tinha Copa do Brasil para você disputar, não tinha Sul-Americana, Recopa, Supercopa, nada disso.

Acho que a gente sofreu, mas a maneira como a gente perdeu foram perdas assim… no segundo ano que a gente perdeu a Libertadores, a gente amassou o Penãrol e a bola não entrava. Típico daquele jogo que você saí aplaudido no dia da derrota, além de uma arbitragem totalmente conivente com o adversário. Eu nunca tive gente protestando na Gávea. Er anormal a torcida vaiar um jogo ou outro que não estávamos bem, mas normalmente aquele grupo, a torcida muitas vezes sentia que a gente não estava legal e eles vinham, ajudava e a gente correspondia dentro de campo. Não teve esse negócio de querer ir ao CT, primeiro que a gente não tinha CT, tinha que ir até a Gávea e não tinha muita facilidade para entrar. Hoje está muito normal… depois que começou a se criar torcida organizada eles acham que são donos do clube e muita gente, muitas vezes dá benefícios para essas pessoas então essas pessoas começam a se acharem os donos”.

“Eu gosto muito dele, sou fã dele. Eu acho que ele consegue transmitir dentro de campo aquilo que é ser jogador do Flamengo. A entrega, a vontade, a gana dele. E vai passar por momentos de dificuldades, o que é normal. Sempre tratei e ele me trata com muito carinho, a gente tem um bom relacionamento e eu torço muito por ele, para que ele continue dando alegrias ao torcedor do Flamengo”.

“Eu sofri a mesma lesão e no meu tempo a medicina não ajudava. Ele voltou em menos tempo do que eu e lógico numa recuperação fantástica. Muito feliz por isso. Eu pude, no momento em que ele estava em recuperação, falar com ele, da dedicação, da importância que tinha para ele, para a carreira dele e com certeza pelo profissionalismo dele, ele ia voltar. E depois me emocionar estando em casa, naquele jogo contra o Grêmio, de ver realmente tudo aquilo que aconteceu, o que a torcida fez para ele. É uma felicidade muito grande, saber que um jogador que para muitos era tido que não ia mais jogar futebol. Às vezes tem que acreditar na gente, em Deus, que a gente é capaz de transformar a nossa vida e fazer uma recuperação como ele fez, eu fico muito feliz por ele, ainda por cima por ver como ele é, a história dele, a carreira”.

“São coisas do futebol. Não é a primeira e nem vai ser a última vez. O Dorival, a situação dele de chegar no São Paulo foi bem parecida como ele chegou no Flamengo. Ele foi lá, remando bem, conseguiu juntar todo mundo e está numa final e o São Paulo procurando fazer todos os esforços para trazer grandes jogadores, trouxe o Lucas o James, jogadores que num lance podem decidir.Agora é 50% a 50%, para o Flamengo não tem esse problema da decisão ser em São Paulo. O Flamengo mesmo perdendo para o São Paulo foi campeão brasileiro lá. A gente viu a dificuldade que o São Paulo está tendo de vencer jogos dentro de casa e a gente viu aqui a dificuldade que o Flamengo teve contra o São Paulo que estava com um time reserva. As condições são as mesmas”.

“Ele é mais fechado. O que eu sinto dele e já senti outras vezes é a importância que ele dá para o futebol brasileiro, o futebol sul-americano. A forma como ele gosta, como ele sente o quanto poderia ser maior ainda, o futebol brasileiro, argentino, chileno, colombiano. Você nota que ele gosta desse tipo de futebol. Ele gostaria que os times entendessem isso e jogassem dessa forma. Eu senti esse amor dele pelo futebol brasileiro, a vontade de trabalhar e ter sucesso no futebol brasileiro.

Tomara, tomara (que ele dê a volta por cima). A gente torce para que isso aconteça. Lógico que, muitas vezes a postura dele dentro do jogo, a forma como ele lida, a forma como ele está no dia a dia, muitas vezes as pessoas não compreendem, é uma cultura que às vezes as pessoas não entendem, tem que compreender para ajudar ele a ter sucesso”.

“Eu acho que o Flamengo deveria ter um estádio de menor capacidade. Hoje é um momento assim, diferenciado, que todo jogo está dando 60 mil pessoas, mas daqui há um ano pode não ser assim. Eu acho que o Flamengo deveria ter um estádio seu, de menor capacidade, 30, 35 mil para esse tipo de jogos e aí sim cobrar mais caro em algumas situações para ter menos público e mais renda e, lógico, ter o Maracanã para as grandes situações.

Se você sabe que vai ter um jogo que vai explodir, tem que ser no Maracanã. Acho que às vezes o Flamengo está pagando uma conta exagerada, desgaste muito grande porque acaba que o Flamengo não é dono do Maracanã. O Maracanã acabou excluindo o povão para ter muito mais receita e o povão sofre, então eu acho que o Flamengo, se tivesse que fazer um estádio, tinha que ser de menor capacidade”.

“A gente começa a ver algumas coisas.. eu não estou mais para ficar… as pessoas dizendo o que pode, o que tem que fazer ou não. Algumas situações, até mesmo os atletas têm uma cabeça diferente hoje em dia. Diferente do que eu penso, do que eu vejo e necessito para um jogador. Não existe geração antiga, nova, futebol é uma cultura. Alguns se adaptam melhor a umas e outro se adaptam melhor a outras. Não quer dizer que o novo não jogaria na velha e que a velha não jogaria na nova. O futebol não vai mudar. É questão de conceitos e eu não quero chegar e o cara falar ‘ah está ultrapassado, está gaga’.

Hoje você não pode desagradar ninguém, o mundo parece que caí, você não pode ter opinião. Você ter uma opinião, mesmo certa ou errada, você tem a sua opinião e eu tenho a minha, mas nem por isso eu vou te atacar. Tem que atacar porque discordei de você? Hoje virou uma briga, você fala algo que o cara não gosta e ele te ataca e isso é um problema do ser humano, questão de respeito. Opinião cada um tem a sua. Estamos num momento que a gente precisa repensar isso. O que fez isso no país? A política fez isso e hoje as pessoas estão se ofendendo a torto e a direito, a gente tem que ter calma, para não ter tiro, confusão, gente perdendo a vida”…