Os vencedores e os perdedores da janela de transferências de janeiro

Às vezes, é preciso lembrar por que certos jogadores tomam decisões motivadas pelo dinheiro. O futebol é uma profissão difícil, as carreiras podem ser curtas e uma lesão grave pode mudar tudo. Basta olhar para Ansu Fati. Aos 16 anos, ele parecia um talento geracional. Aos 22, ninguém parece querê-lo.

Embora o Barcelona tenha deixado claro que estava novamente disposto a ouvir ofertas pelo atacante, Fati ainda continua no clube, e suas perspectivas de jogo parecem sombrias. O espanhol foi titular apenas uma vez sob o comando de Hansi Flick e acumula apenas 186 minutos em campo.

Um dos jogadores mais promissores a sair de La Masia enfrenta um futuro extremamente incerto, não só no Barcelona, mas também no mais alto nível do futebol.

Muitas pessoas começam a fazer perguntas desconfortáveis a Pep Guardiola. Mesmo quando era acusado de "pensar demais" nos grandes jogos da Champions League, ele ainda acumulava títulos nacionais no Manchester City. No entanto, pela primeira vez em sua carreira, Guardiola parece um pouco perdido, incapaz de lidar com a maior (e talvez única) crise que já enfrentou como treinador.

Felizmente para o catalão, seus comandados mantêm total confiança no homem que conquistou seis títulos da Premier League e uma Champions League durante seu período de sucesso no Etihad. Além de dar apoio total a Guardiola no mercado de transferências para rejuvenescer um elenco envelhecido e atingido por lesões – trazendo quatro jogadores na janela de janeiro e gastando quase tanto quanto todos os outros clubes da Premier League juntos no processo –, os proprietários do City, sediados em Abu Dhabi, também amarraram sua estrela, Erling Haaland, a um novo contrato escandalosamente longo e lucrativo.

Portanto, enquanto Pep pode estar sob pressão da imprensa, ele não sofre qualquer pressão interna. O Grupo City claramente acredita que ele é o homem certo para liderar o início de uma nova era de domínio no futebol inglês.

A janela do inverno europeu trouxe alguns pontos positivos para Rúben Amorim: em primeiro lugar, ele se livrou da constante distração que era Marcus Rashford; em segundo, a nova contratação Patrick Dorgu parece se encaixar bem na preciosa formação do português. No entanto, o já pressionado técnico do Manchester United precisava de muito mais do que um ponta versátil de 20 anos vindo do Lecce para ter qualquer chance de reverter esta campanha desastrosa.

A falta de qualidade, criatividade, coesão e um finalizador no United foi brutalmente exposta mais uma vez na desanimadora derrota de domingo (2), em casa, para o Crystal Palace, partida em que o zagueiro Lisandro Martínez sofreu o que parecia ser uma lesão que pode tirá-lo do restante da temporada.

Com base no que vimos até agora de Amorim, que não conseguiu melhorar a posição do United na liga – nem o desempenho da equipe – desde que assumiu o cargo de Erik ten Hag em novembro, ainda há muitas tardes dolorosas pela frente em Old Trafford até o fim da temporada.

Para piorar a situação do técnico já pressionado, seu elenco parece mais fraco agora do que quando a janela se abriu, especialmente do ponto de vista ofensivo. E, se os resultados não melhorarem rapidamente, a diretoria do United pode começar a questionar se Amorim é realmente o homem certo para liderar o clube a longo prazo.

O único beneficiado pela passagem de Neymar pela Arábia Saudita foi seu saldo bancário. Foi uma transferência catastrófica para todos os envolvidos, especialmente para o Al Hilal, que desembolsou €90 milhões em taxa de transferência e mais de €200 milhões em salários por apenas sete aparições em um ano e seis meses – antes de finalmente decidir rescindir seu contrato na semana passada.

Não surpreende que o Santos tenha recebido Neymar de volta à Vila Belmiro de braços abertos – ainda mais porque ele aceitou um corte salarial massivo para que o retorno acontecesse. E sua apresentação deixou claro o quanto significava para ele estar de volta ao lugar onde tudo começou. Há uma grande possibilidade de que essa reunião seja positiva para ambas as partes – mesmo que a condição física e o foco de Neymar nunca possam ser dados como garantidos.

Além disso, a transferência representa um grande impulso para o Brasil, que sentiu muita falta de seu craque durante seu longo período afastado dos gramados. A seleção ainda caminha para a classificação à Copa do Mundo de 2026, graças ao formato relativamente acessível das eliminatórias sul-americanas, mas as atuações sob o comando de Dorival Júnior têm sido terríveis – tão desprovidas de brilho que até Ronaldinho chegou a se "demitir" como torcedor da equipe nacional no último ano.

Jogadores como Vinícius Júnior têm sentido o peso da camisa amarelinha, mas um Neymar revitalizado tem o talento divino para devolver o sorriso ao rosto dos brasileiros na preparação para o torneio do próximo ano nos Estados Unidos, Canadá e México.

Não se engane: o Liverpool assumiu um grande risco ao decidir não reforçar seu elenco na janela de janeiro. Lesões e desgaste físico já cobraram seu preço na temporada passada, e a história pode se repetir em 2025 – especialmente porque a equipe ainda parece vulnerável defensivamente. No entanto, pelo menos o time de Arne Slot segue confortavelmente no topo da Premier League e avançou diretamente para as oitavas de final da Champions League.

Em contraste, o Arsenal, principal rival do Liverpool na disputa pelo título inglês, tem muito terreno a recuperar. Os londrinos estão seis pontos atrás dos Reds, tendo disputado um jogo a mais, o que significa que não podem mais se dar ao luxo de tropeçar até o fim da temporada. E a última coisa que Mikel Arteta quer é terminar a campanha lamentando a falta de um artilheiro confiável no elenco.

Sabemos que o Arsenal queria um centroavante – a oferta por Ollie Watkins foi prova disso. Mas é difícil não sentir que o clube demorou demais para agir. Mesmo se Gabriel Jesus não tivesse se lesionado, os Gunners deveriam ter tentado fechar com Watkins antes que o Aston Villa se antecipasse e resolvesse sua situação em relação às regras de Lucro & Sustentabilidade (PSR) ao vender Jhon Durán para o Al Nassr.

Agora, o Arsenal terá que correr atrás dos Reds confiando, mais uma vez, que Kai Havertz demonstre um nível de consistência que sempre lhe escapou desde sua chegada à Inglaterra.

Apesar das constantes alegações de Enzo Maresca em contrário, a situação em Stamford Bridge no último verão europeu foi uma verdadeira piada. A onda insana de gastos do Chelsea levou à criação do infame "Bomb Squad" – um grupo de jogadores considerados excedentes, que precisavam ser negociados antes do fechamento da janela de transferências.

Jogadores como Raheem Sterling e Romelu Lukaku conseguiram sair, mas outros não tiveram a mesma sorte e acabaram desperdiçando cerca de seis meses de suas carreiras. Vale dizer, porém, que alguns estavam dispostos a esperar para evitar aceitar uma redução salarial em uma transferência para outro clube.

Agora, mais membros do "Bomb Squad" já deixaram Stamford Bridge, com Ben Chilwell, Axel Disasi, Carney Chukwuemeka e Cesare Casadei garantindo transferências essenciais, enquanto o indesejado João Félix seguiu para o Milan em busca de tempo regular de jogo.

Ainda há muito trabalho a ser feito no oeste de Londres para montar um elenco realmente capaz de disputar o título da Premier League – o que é impressionante, considerando que o clube gastou mais de £1 bilhão (R$ 6 bilhões) em reforços nos últimos anos. No entanto, pelo menos começaram a limpar parte do "peso morto".

Há três anos, a Juventus contratou Dusan Vlahovic da Fiorentina por um valor inicial de € 70 milhões (R$ 419milhões). O sucesso parecia iminente para o atacante sérvio, que havia marcado mais gols na liga em 2021 do que Kylian Mbappé, Lionel Messi e Mohamed Salah.

No entanto, as coisas não saíram como o planejado para Vlahovic em Turim. A expectativa era de que ele rendesse mais sob o comando de Thiago Motta do que com Massimiliano Allegri, mas, apesar de ser o artilheiro da Juve nesta temporada e de ter balançado as redes na vitória sobre o Empoli no último domingo (2), ele mais uma vez começou no banco – de onde viu o novo atacante dos Bianconeri, Randal Kolo Muani, marcar seu terceiro gol em apenas dois jogos na Série A italiana.

Ainda mais preocupante para Vlahovic é o fato de que, em um momento em que várias equipes de elite da Europa buscavam um centroavante de referência, nenhuma bateu à sua porta. Os próximos cinco meses podem ser complicados para o sérvio – especialmente se Motta conseguir permanecer no cargo até o fim da temporada.

Os torcedores do Aston Villa temeram o pior quando o Arsenal fez uma oferta formal por Ollie Watkins poucos dias antes do fechamento da janela de transferências. Era de conhecimento geral que o clube enfrentava dificuldades para equilibrar as finanças e que uma saída de alto nível era uma possibilidade real.

No entanto, no fim das contas, o Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita veio ao resgate do Villa ao financiar a impressionante venda de Jhon Durán para o Al Nassr por £64,5 milhões (R$ 386 milhões) – um jovem talentoso, mas temperamental, de 21 anos, que ainda tem muito a provar no mais alto nível.

E as boas notícias não pararam por aí. Além de já terem contratado Donyell Malen, os Villans garantiram dois empréstimos que podem se revelar muito inteligentes: Marcus Rashford e Marco Asensio, jogadores talentosos que buscam redescobrir sua melhor forma. Para completar, reforçaram uma defesa fragilizada por lesões ao superar o Tottenham na disputa pela contratação de Axel Disasi.

De repente, um lugar entre os cinco primeiros – o que deve ser suficiente para garantir vaga na próxima Champions League – parece um objetivo bem acessível para o time de Unai Emery, que está apenas quatro pontos atrás do Manchester City e agora conta com algumas adições bastante promissoras para a reta final da temporada.

A reputação de Jordan Henderson foi gravemente afetada por sua decisão de deixar o Liverpool e se transferir para o Al Ettifaq, do Campeonato Saudita, no verão europeu de 2023. O capitão do Ajax foi novamente criticado na semana passada, após supostamente tentar forçar uma transferência no meio da temporada para o Monaco, o que resultou em uma confrontação intensamente acalorada com um jornalista holandês em uma coletiva de imprensa no domingo (2).

"Eu não era eu mesmo na quinta-feira (30) [durante o confronto da Europa League contra o Galatasaray] e acho que 99% das pessoas, se soubessem da informação interna, não teriam jogado o jogo", disse o ex-jogador da Inglaterra. "E ainda assim, pessoas nesta sala questionaram meu profissionalismo e meu caráter – acho isso completamente fora de ordem."

"Eu posso lidar com isso. Já passei por situações mais difíceis na minha carreira. Mas eu tenho uma família, esposa, filhos, mãe, pai, que leem disparates na mídia de vocês... A única razão para a transferência ter acontecido foi por causa da situação em que o clube se encontra, e é o máximo de detalhes que estou disposto a dar."

O que se seguiu foi uma troca desconfortável, onde Henderson se recusou repetidamente a revelar mais detalhes sobre o que exatamente havia ocorrido, até que o assessor de imprensa do Ajax interveio. A esperança é que o clube eventualmente esclareça melhor a situação, mas o que já está claro é que Henderson não está feliz no momento, profundamente irritado com intensas críticas sobre seu caráter.

A maioria dos clubes tem dificuldade em fazer uma contratação de destaque durante a janela de meio de temporada. No entanto, a equipe feminina do Chelsea conseguiu duas.

Em 26 de janeiro, os Blues pagaram ao San Diego Wave um recorde de £890.000 (R$ 5,3 milhões) por Naomi Girma, a defensora de 24 anos que ajudou os Estados Unidos a conquistar a medalha de ouro nas Olimpíadas de 2024, em Paris. Cinco dias depois, o clube londrino deu outro grande passo ao convencer Keira Walsh a deixar o Barcelona e se mudar para o oeste de Londres. A jogadora da seleção inglesa admitiu que a proximidade com sua família teve um grande peso em sua decisão, mas também destacou a notável ambição de seu novo clube.

O Chelsea está atualmente a caminho de conquistar o sexto título consecutivo do Campeonato Inglês feminino e agora parece estar preparado para dominá-lo por ainda muitos anos. Além disso, ao contratar duas das melhores jogadoras do mundo, a equipe também demonstra claramente sua intenção de desbancar o Barcelona como a força dominante no futebol feminino europeu em geral.