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Cristiano Ronaldo Al-Nassr nightmareGOAL

A última dança de Cristiano Ronaldo? Por que o Mundial de Clubes é o palco perfeito para o astro brilhar mais uma vez

Um dos momentos mais inusitados do futebol aconteceu na semana passada. Se você não estava assistindo, pode se considerar perdoado. Mas lá estava iShowSpeed — YouTuber, personalidade da internet, fã de Cristiano Ronaldo e, de certa forma, um representante do futebol nos EUA — transmitindo para milhões de pessoas.

Como de costume, ele gritava, falava rápido e soltava frases desconexas que, aparentemente, fazem sentido para os jovens de hoje.

Até que foi interrompido por um homem careca, vestindo uma camiseta polo estilosa, calças ajustadas e sapatos impecavelmente limpos. Gianni Infantino fez uma aparição surpresa, interrompendo a transmissão em pleno jogo, levantando-se de forma ensaiada e roubando a cena com sua entrada perfeita para ser vista pelas massas.

Veio o ritual de sempre: abraço amigável, troca de presentes, apresentação animada de iShowSpeed e, claro, a centésima exibição do troféu da Copa do Mundo de Clubes — porque, obviamente, alguém pode invadir a casa de outra pessoa com um enorme bloco dourado escondido sob um pano preto.

Depois, a conversa passou à Mundial de Clubes: número de times, grandes nomes, o espetáculo que será nos EUA neste mês. Até que, no meio do papo, Infantino soltou uma frase inesperada: “Cristiano Ronaldo pode jogar por uma das equipes também.”

Explosão imediata na internet. Como assim? Ronaldo, contratado pelo Al Nassr, não participa do torneio, seu clube atual não está na disputa, então como ele poderia simplesmente ser emprestado para um time qualquer que não treina com ele, nem está preparado para recebê-lo?

Parece impossível — até porque, no mundo real, isso não aconteceria.

Mas, veja só, pode acontecer sim. O contrato de CR7 termina no fim do mês. Houve rumores sobre renovação, mas nada oficial. Enquanto isso, cresce a especulação de que ele poderia se juntar a uma equipe participante do Mundial de Clubes. Outro time da Liga Saudita estaria interessado, e até um clube marroquino surge como possibilidade.

Aqui, a logística pouco importa. A realidade ficou de lado. O presidente da Fifa aparece no YouTube apoiando a ideia. O Mundial de Clubes virou, mais do que um torneio, um grande evento de marketing.

E, claro, Cristiano Ronaldo — de qualquer jeito, por qualquer meio — precisa jogar neste meio do ano. Seja como for, é isso que importa.

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  • Yokohama F.Marinos v Al Nassr: AFC Champions League EliteGetty Images Sport

    Por que é importante

    Nos últimos meses, tem sido difícil distinguir onde termina o futebol e começa o showbiz no Mundial de Clubes. Gianni Infantino, para seu crédito, mergulhou com facilidade na cultura pop. Se 90 minutos de futebol de liga são entediantes para os jovens? A resposta da Fifa tem sido alcançá-los por outros meios.

    Desde o anúncio dos países-sede durante um festival de música no Central Park, tudo tem parecido cuidadosamente roteirizado. O troféu é, ao mesmo tempo, deslumbrante e exagerado — exige até uma chave cravejada de joias para ser aberto. O torneio ganhou uma turnê global com superestrelas do futebol, do passado e do presente, e foi promovido em plataformas como TikTok, Instagram e transmissões ao vivo.

    Em outras palavras: o Mundial de Clubes deixou de ser apenas um torneio esportivo. Agora, trata-se de América, estrelato e espetáculo — a qualquer custo. E, para fazer o melhor show, é preciso ter as maiores estrelas. Por isso, clubes europeus teriam sido discretamente pressionados, sob ameaça de multas, a escalar seus principais nomes.

    É por isso que veremos Erling Haaland, Jude Bellingham e, graças a €10 milhões de euros pagos ao Liverpool, até Trent Alexander-Arnold.

    Cristiano Ronaldo, nesse cenário, não deveria ser uma escolha difícil. Ele e Lionel Messi não são apenas os atletas mais famosos do mundo — são algumas das pessoas mais conhecidas do planeta.

    Ninguém tem mais seguidores no Instagram ou mais gols na carreira do que o capitão de Portugal. Sua ida à Liga Saudita não reduziu seu brilho. Pelo contrário: fez as camisas do Al Nassr sumirem das prateleiras. De Manchester a Chinatown, em Nova York, surgiram torcedores do clube saudita.

    Muitos, provavelmente, não saberiam nomear outro time da liga. Mas isso pouco importa — eles sabem quem é Cristiano Ronaldo.

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  • Inter Miami CF v CF MontréalGetty Images Sport

    Lionel Messi fez acontecer

    Em parte, CR7 pode culpar seu maior rival por tudo isso. Pelos critérios estabelecidos pela Fifa, o Inter Miami tecnicamente não deveria estar no Mundial de Clubes. Seu coeficiente é inferior ao de outros clubes da MLS, e o time sequer venceu a MLS Cup.

    Mas, ano passado, a Fifa viu uma oportunidade. Após a conquista do Supporters' Shield - equipe com o melhor desempenho na temporada regular, o Inter Miami foi repentinamente convidado para o torneio — uma decisão que até Lionel Messi, ao que tudo indica, não sabia muito bem como reagir.

    Desde então, tudo tem servido como pretexto para aproveitar brechas no regulamento. Transferências não poderiam ser concluídas a tempo? Sem problemas: abre-se uma nova janela de contratações. Um clube da Liga Mexicana foi barrado por conflito de propriedade? Solução rápida: cria-se uma repescagem entre os times mais vendáveis da América do Norte.

    Nesse ponto, o que é mais uma exceção? Mais uma pequena distorção nas regras do futebol? Sim, CR7 não deveria poder ser transferido antes do fim do contrato. Mas, neste cenário, regulamentos já não parecem ser uma barreira.

  • Cristiano Ronaldo Al-Nassr 2024-25Getty

    O fazedor de dinheiro

    O mérito disso tudo depende de como você enxerga Cristiano Ronaldo hoje. Ele ainda joga em alto nível: foi artilheiro da Liga saudita por dois anos seguidos, segue convocado para a seleção portuguesa e está — notoriamente — em busca de se tornar o primeiro jogador da história a marcar 1.000 gols. Atualmente soma 936, e tem mantido uma média de cerca de 25 por temporada desde que chegou à Arábia Saudita.

    Aos 40 anos, marcar mais 64 gols pareceria um sonho distante para quase todo mundo. Mas CR7 é, ao mesmo tempo, um atleta excepcional e um atacante movido por metas pessoais. Se tiver mais três anos de carreira — e tudo indica que sim —, essa marca é possível.

    Mas CR7 é mais do que um jogador. Ele é uma marca. Promove de tudo: roupas, perfumes, suplementos, criptoativos. Um museu com seu nome será inaugurado em breve em Hong Kong. Ele tem contrato com a Armani, com a Nike e uma linha própria de colônia. Suas redes sociais, que somam mais de 650 milhões de seguidores no Instagram, são um desfile constante de parcerias e posts publicitários meticulosamente produzidos. Agora, até um canal no YouTube ele tem — mesmo sem mostrar muito além do quão bom é ser Cristiano Ronaldo.

    Ele tem mais fama e dinheiro do que jamais poderia imaginar. E não parece haver um plano claro para o pós-futebol. A solução? Tentar de tudo.

    E a Fifa adora isso. Hoje, CR7 ocupa o mesmo território de celebridades como Post Malone e MrBeast — figuras imensamente famosas, mas cuja razão de fama pode parecer difusa para alguns. O que importa são os cliques, o alcance e os milhões de novos olhos. O que se oferece a um homem milionário e sem rumo? Um novo palco para competir — e um produto global pronto para ser explorado.

  • Cristiano Ronaldo Portugal 2025Getty

    Cristiano em destaque?

    Também é importante lembrar: Cristiano Ronaldo adora os holofotes. Ele pode ter 40 anos, estar longe do auge e completamente fora da corrida pela Bola de Ouro, mas ainda transborda confiança. Vive com a energia de quem é — sempre — o personagem principal.

    Faz pouco tempo que ele deu entrevistas acusando o Manchester United de tê-lo traído ao perceber que ele havia se tornado um peso. Na última Copa, celebrou gols que nem eram seus. E segue acreditando que melhora a seleção portuguesa, apesar de o time ter hoje um elenco jovem e talentoso, que talvez rendesse ainda mais com um sistema mais fluido — e sem ele — pensando em 2026.

    Mas CR7 não se importa. Nem com isso, nem com o que você pensa sobre isso. Essa é a dualidade que o cerca: é irritante vê-lo insistir em estar no centro das atenções? Sim. Mas é exatamente isso que sempre o moveu. Sua origem é a de um competidor feroz, um atleta talentoso que se esculpiu — no esforço, no detalhe — como um dos maiores jogadores da história.

    Ele não sabe parar. E provavelmente não vai, até que alguém o obrigue.

    O Mundial de Clubes, então, vira mais um palco. Mais uma chance de irradiar essa energia, de provar que ainda pertence à elite, que pode dividir o campo com Haaland, Mbappé e outros atacantes do topo. Cristiano Ronaldo quer mostrar que ainda pode competir? Pois aqui está o cenário perfeito para isso.

  • Al Nassr v Al Ittihad - Saudi Pro LeagueGetty Images Sport

    Mas como pode acontecer?

    Em algum momento, no entanto, a lógica precisa prevalecer. Sim, as regras foram esticadas, torcidas, até ignoradas. Mas ainda há algumas verdades básicas no centro dessa história. A primeira: Cristiano Ronaldo vai querer muito dinheiro. A segunda: poucos clubes no mundo podem — ou estão dispostos a — pagar. E a terceira, talvez a mais importante (ainda que raramente dita em voz alta): não há garantia de que algum desses clubes esteja interessado nele para, de fato, jogar futebol.

    Mas o futebol é uma indústria peculiar, movida por boatos, paixão e decisões nem sempre racionais. Sempre há um ou dois interessados. Torcedores do Real Madrid, por exemplo, já fizeram sua parte: penduraram uma faixa no centro de treinamento pedindo “Florentino, traga o CR7 de volta.” Não vai acontecer, claro, mas o apelo emocional está ali — e, convenhamos, é um pensamento divertido.

    A possibilidade mais concreta é uma transferência para outro clube da Liga Saudita ou até para um time africano. A imprensa internacional aponta que o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita facilitaria com prazer uma ida ao Al Hilal — rival direto do Al Nassr — mesmo com Mitrovic já ocupando a camisa 9.

    O Daily Telegraph relatou que o Wydad Casablanca, do Marrocos, e o Monterrey, da Liga Mexicana, aparecem como opções viáveis para um acordo de curto prazo. A MLS? Seria um destino interessante do ponto de vista midiático, mas pouco provável, tanto pelas regras rígidas de teto salarial quanto pelo fato de que Seattle e Inter Miami já estão consolidados como representantes no torneio. Há também rumores de que o próprio Al Nassr estaria disposto a dar meia-volta e mantê-lo — mas, por ora, nada foi confirmado. E vamos lembrar dos boatos que o Botafogo estaria interessado nesse negócio.

    Fora de campo, há ainda questões mais delicadas. CR7 enfrentou acusações de agressão sexual após um suposto incidente em Las Vegas, durante uma turnê em 2009. Em 2019, o promotor Steve Wolfson decidiu não apresentar acusações criminais. No entanto, em 2023, a Associated Press noticiou que uma ação civil contra o jogador pode ser reaberta. Desde então, ele não disputou um único minuto de futebol nos Estados Unidos.

  • The Best FIFA Football AwardsGetty Images Sport

    A última dança no futebol de clubes

    Então, o que tudo isso significa para uma possível aparição de Ronaldo no Mundial de Clubes?

    Logo após o fim da temporada da Liga Saudita, ele foi ao Instagram para declarar: "Este capítulo acabou. A história? Ainda sendo escrita. Grato a todos." Não parecia exatamente a mensagem de alguém satisfeito em permanecer onde está.

    E aí vem o último grande atrativo: CR7 vs. Messi, o ato final. Com uma combinação de resultados convenientes — ainda que improváveis — e o clube certo, os dois poderiam se enfrentar uma última vez no cenário do futebol de clubes. Um duelo tardio entre rivais lendários, embalado e promovido como o maior espetáculo de todos, sob o pôr do sol americano. Dois gigantes em seus últimos anos, frente a frente pela última vez. Um sonho para o marketing, uma mina de ouro para a Fifa.

    Uma despedida cuidadosamente roteirizada, certo? Mas vamos fingir que é espontânea.

    E é justamente aí que reside a questão. O Mundial de Clubes será, ao mesmo tempo, futebol de verdade e entretenimento envernizado. Um torneio moldado com precisão para ser o mais comercial, atrativo e digerível possível. Um produto global. Sim, é um pouco surreal imaginar Infantino, IShowSpeed e Cristiano Ronaldo no mesmo contexto — parece uma montagem, um meme, um crossover de delírios coletivos.

    Mas esse é o futebol agora. É também o palco ideal para a última dança de Cristiano Ronaldo.

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