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Man United Mainoo Amorim gfxGetty/GOAL

Sem risadinha, Ruben Amorim! Tratamento a Kobbie Mainoo pode ser a pá de cal ao trabalho do português no Manchester United

Na primeira entrevista de Amorim como técnico do Manchester United ao site oficial do clube, o treinador afirmou que o mais importante não era fazer seus jogadores se adaptarem imediatamente a um novo esquema tático, mas resgatar o básico do que significa atuar pelos Red Devils.

“A coisa mais importante é o sentimento de pertencimento ao clube. Temos uma história muito forte nesse aspecto”, disse Amorim após sua primeira semana de trabalho em Carrington.

“Hoje se fala muito em 3-4-3, 4-3-3 e outras formações. Mas, quando penso no Manchester United — seja como jogador ou companheiro de equipe — não se trata de sistema ou esquema, e sim de caráter: da forma como os jogadores enxergam o clube. Neste momento, o mais importante para mim é reconstruir os princípios, a identidade e o caráter que tivemos no passado.”

Basta perguntar a qualquer torcedor do United qual é a identidade do clube para que dois pilares sejam imediatamente citados: futebol ousado e ofensivo, e o uso de jogadores jovens — especialmente aqueles formados em casa. Até aqui, porém, Amorim tem dado pouca ênfase a ambos.

Embora a torcida tenha sido notavelmente paciente com o treinador, mesmo após a pior campanha do clube em 51 anos — continuando a cantar, nos jogos, que o português vai “mudar os Red Devils” —, o uso limitado de Kobbie Mainoo, único jogador formado na base do elenco com presença no time principal, vem colocando essa confiança à prova.

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  • Manchester United v Sunderland - Premier LeagueGetty Images Sport

    Doze minutos por jogo

    Os sentimentos da torcida do United em relação a Mainoo ficaram evidentes na calorosa ovação que ele recebeu ao sair do banco contra o Wolves em 8 de dezembro. No entanto, o momento de sua entrada em campo disse muito sobre a importância que hoje ocupa na equipe: era o 78º minuto, e o United já vencia por 3 a 1 o pior time da liga — talvez um dos mais frágeis da história da Premier League.

    Era impossível não lembrar de sua primeira aparição no Molineux, pouco mais de dois anos atrás, quando atuou durante os 90 minutos e marcou o gol decisivo com uma arrancada sinuosa seguida de um chute baixo e colocado no canto inferior. Naquele período, havia uma empolgação palpável em torno de Mainoo. Ele havia marcado seu primeiro gol na Premier League justamente contra o Wolves, depois balançou as redes com um belo chute de curva diante do Liverpool e, na sequência, concluiu uma jogada coletiva brilhante que garantiu o título da Copa da Inlgateera na final contra o Manchester City.

    A rápida ascensão até a seleção inglesa, com seis partidas disputadas na Euro 2024, parecia confirmar esse protagonismo. Agora, porém, sua carreira vive um momento de encruzilhada. Mainoo ainda aguarda sua primeira titularidade na Premier League nesta temporada. O máximo que atuou foram 45 minutos, contra o Burnley, em agosto, quando Mason Mount se lesionou. Desde então, sua média é de apenas 12 minutos por partida no campeonato.

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  • Não é motivo de riso

    Amorim iniciou Mainoo como titular em oito dos seus primeiros 13 jogos na Premier League, quase sempre atuando no duplo pivô de meio-campo ao lado de Manuel Ugarte. O episódio mais surpreendente ocorreu quando o escalou como falso nove diante do Crystal Palace, partida que terminou com derrota por 2 a 0. Pouco depois, o jovem sofreu uma lesão em treinamento que o afastou por dois meses. Quando retornou, Casemiro já havia recuperado espaço no meio-campo, e Mainoo passou a iniciar apenas partidas em que Amorim optava por poupar jogadores visando às fases eliminatórias da Liga Europa.

    O belo gol marcado por Mainoo contra o Lyon manteve o United vivo na competição continental, mas não resultou em maior protagonismo. Na final contra o Tottenham, ele foi acionado apenas nos acréscimos. Ainda assim, causou estranheza o fato de não ter iniciado nenhum dos três primeiros jogos da equipe na Premier League. Sua ausência prolongada entre os titulares, quatro meses após o início da temporada, fez com que Amorim passasse a ser questionado com frequência — de forma compreensível — sobre o uso limitado do meio-campista.

    A situação ganhou contornos ainda mais delicados quando o nome de Mainoo foi citado em uma coletiva de imprensa após o empate morno por 1 a 1, em casa, contra o West Ham. Amorim reagiu com uma risada, o que chocou jornalistas presentes e irritou muitos torcedores que acompanhavam a entrevista online. Para o treinador, ao menos naquele momento, Mainoo pareceu ter se tornado quase um motivo de deboche.

    “Entendo o que você está dizendo — vocês amam o Kobbie, ele começou pela seleção inglesa”, disse Amorim. “Mas isso não significa que eu precise colocá-lo quando sinto que não devo. É a minha decisão. Eu só quero vencer. Não olho quem é o jogador, não me importo com isso. Estou apenas tentando escalar os melhores.”

  • FBL-ENG-PR-MAN UTD-SUNDERLANDAFP

    Guerra cultural da base

    Amorim, porém, parecia ignorar um ponto central: importa, sim, o fato de Mainoo ser o último jogador formado na base ainda presente no elenco e, atualmente, ter participação mínima na equipe. Isso levou a um embate acalorado entre o treinador e o jornalista da BBC, Simon Stone, que sugeriu que Amorim não “confiava” nos jogadores da base. “Por quê?”, reagiu o técnico, de forma irritada, apenas para ouvir a resposta: “porque você nunca escolhe nenhum deles”. Em meio ao momento delicado, Amorim citou Mainoo como exemplo de atleta da base que ele utiliza — uma afirmação que, para muitos, soou contraditória diante dos fatos.

    A escassez de minutos de Mainoo também contribuiu para o aumento da atenção em torno de Shea Lacey, jovem de 18 anos nascido em Liverpool, incluído no grupo nos últimos quatro jogos. A simples menção a Lacey gerou nova incredulidade por parte de Amorim, que explicou, de maneira razoável, que Amad Diallo e Bryan Mbeumo são opções mais confiáveis do que um adolescente ainda não testado.

    A frustração da torcida, no entanto, não está relacionada à falta de oportunidades para Lacey. O que causa incompreensão é a ausência de Mainoo — jogador que foi titular em uma final de Eurocopa e marcou em uma final de Copa da Inglaterra — e que muitos acreditam ter capacidade para dar mais fluidez a uma equipe que ainda patina em campo.

    E, apesar de Amorim insistir que sua prioridade absoluta é vencer, os resultados não têm aparecido com a regularidade necessária.

    Em defesa do treinador, é verdade que ele dispõe de menos partidas para lançar jovens do que na temporada passada, quando Chido Obi, Toby Collyer, Tyler Fredricson e Harry Amass tiveram oportunidades. Mainoo, contudo, já havia demonstrado seu valor. Ainda assim, tornou-se vítima do sistema rígido de Amorim e de sua insistência em atuar com dois meio-campistas, o que o coloca em concorrência direta com Bruno Fernandes — justamente o jogador mais decisivo do United e alguém que raramente se machuca.

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  • Wolverhampton Wanderers v Manchester United - Premier LeagueGetty Images Sport

    'Tenho que sair daqui'

    Amorim tampouco foi capaz de assegurar que Mainoo terá mais minutos quando Bryan Mbeumo e Amad Diallo se ausentarem para a Copa Africana de Nações. Embora a solução mais evidente fosse adiantar Bruno Fernandes para ocupar o espaço deixado por Mbeumo no meio-campo ofensivo e, assim, reintegrar Mainoo, o cenário mais provável é que Mason Mount ganhe mais oportunidades, mantendo o jovem de 20 anos em segundo plano.

    Para retomar o rumo da carreira, uma transferência por empréstimo em janeiro passa a ser praticamente inevitável para Mainoo. O fato de ele não desejar uma saída definitiva — ao menos por ora — indica que segue comprometido com o clube e reluta em abandoná-lo, sobretudo em um contexto no qual o futuro de longo prazo de Amorim no comando do United está longe de ser garantido. Ainda assim, ex-jogadores de peso do clube já começaram a aconselhá-lo a deixar Old Trafford.

    “Se eu pensar nisso e me colocar no lugar de Kobbie Mainoo, eu sairia daí, sem dúvida”, afirmou Rio Ferdinand em seu canal no YouTube. “Ele acabou de desperdiçar 18 meses da carreira no Manchester United. Provavelmente ficou seis meses a mais do que deveria. Ele deveria ter saído, e acho que seu agente e, mais importante, sua família ao redor dele precisam protegê-lo.”

  • Manchester United v West Ham United - Premier LeagueGetty Images Sport

    Não entende o clube

    Paul Scholes deixou clara sua posição com um desabafo contundente no Instagram no início do mês, após Amorim afirmar que Mainoo era titular. “Besteira”, escreveu o ex-meio-campista em reação às declarações do treinador. “O garoto está sendo prejudicado, não está jogando em um time que consiga controlar uma partida de futebol. Odeio ver jogadores formados em casa irem embora, mas, neste momento, provavelmente é o melhor para ele. Já chega.”

    Scholes apagou a publicação, mas manteve o mesmo discurso no episódio mais recente do podcast The Good, The Bad and the Football. “Você teria que aconselhá-lo a sair. Se ele me ligasse e dissesse: ‘Acho que o Chelsea está interessado em mim, o que você acha?’, eu responderia: ‘Com certeza’.”

    Para Scholes, a situação de Mainoo é apenas mais um indício de que Amorim não é o treinador ideal para o Manchester United. “Não acho que o técnico entenda este clube, ponto final”, afirmou. “Simplesmente não acredito que ele seja o homem certo. O United sempre foi sobre risco e entretenimento mais do que qualquer outra coisa — jogar em casa com a torcida pronta para apoiar, atacantes que driblam, chutes ao gol.”

    “Não há nada disso agora. Ele colocou quatro defensores contra o West Ham. Se estivéssemos vencendo por 1 a 0, o técnico sempre dizia que precisávamos continuar atacando, buscar o segundo, o terceiro, o quarto gol. Ele simplesmente não entende. E, sinceramente, não acho que ninguém no clube hoje entenda o que é o Manchester United.”

  • FBL-ENG-PR-MAN CITY-MAN UTDAFP

    Uma revolta está chegando

    Scholes foi além e questionou a postura da diretoria. “Eles adoram jogadores formados em casa no United, é óbvio. Então por que Jason Wilcox e Berrada estão permitindo que o treinador trate um talento da base dessa maneira? Se o time estivesse vencendo toda semana e liderando a liga, tudo bem”, disparou.

    E esse é o ponto central da discussão. Amorim teria muito menos críticos se estivesse conduzindo o United a uma trajetória ascendente, mesmo com pouca utilização de atletas formados no clube. Em momentos de dificuldade, porém, ver jogadores criados em casa ganharem espaço — como Mainoo e Garnacho fizeram durante a turbulenta segunda temporada de Erik ten Hag — costuma funcionar como um bálsamo para a torcida.

    A vitória sobre o Wolves levou o United à sexta colocação da Premier League, mas o verdadeiro teste começa agora, em um intenso período de fim de ano. A equipe vem de um empate por 4 a 4 com o Bournemouth e ainda terá pela frente Aston Villa e Newcastle United, além de precisar se virar sem Amad e Mbeumo. 

    Contra os Cherries, a situação para Mainoo se repetiu: entrou aos 61 minutos no lugar de Casemiro, que já estava amarelado. Se a temporada seguir nesse padrão de um passo à frente e outro atrás, as vozes críticas sobre o caminho traçado por Amorim tendem a abandonar o tom de dissidência para evoluir rumo a uma revolta aberta.

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