Rúben Amorim enfrenta batalha perdida após desempenho risível do Manchester United na janela de transferências

Começando pelos pontos positivos, Dorgu pode até conseguir provar ter sido uma contratação inteligente por apenas £25 milhões. O United venceu a corrida contra Chelsea, Liverpool e Barcelona pelo lateral dinamarquês, que se destaca pelo perfil ofensivo e poder atuar em ambos os lados da defesa e até mesmo no meio-campo. Não era o reforço de peso que a torcida esperava, mas pode ser peça-chave para Amorim no longo prazo.

O clube também tirou mais uma promessa da base do Arsenal - Ayden Heaven, que seguiu os passos de Chido Obi Martin e trocou o Emirates pelo Old Trafford após recusar uma renovação de contrato. O zagueiro de 18 anos tem grande potencial, embora ainda não esteja pronto para brigar por minutos no time principal.

Por um lado, é positivo ver a INEOS investindo no futuro. Por outro, o United deveria ter priorizado reforços para o ataque. A falta de gols é o maior dos problemas atualmente, e a omissão do clube nesse aspecto o deixará em desvantagem nos próximos cinco meses.

A ineficácia do United ficou evidente, mais uma vez, na humilhante derrota por 2 a 0 para o Crystal Palace em pleno Old Trafford. Foi a sétima em casa na temporada, já igualando o pior desempenho da história do clube na Premier League, em 2013/14, que resultou na demissão de David Moyes após apenas nove meses no cargo.

Amorim surpreendeu ao escalar Kobbie Mainoo como centroavante e acabou sendo um fracasso. No entanto, é difícil culpá-lo por tentar algo diferente neste cenário.

Rasmus Hojlund e Joshua Zirkzee começaram no banco. Juntos, os atacantes contratados por £108 milhões somam apenas cinco gols na liga - Jean-Philippe Mateta, só nos últimos seis jogos, já marcou seis. Amorim os colocou em campo nos 20 minutos finais, e também sem muito efeito.

Zirkzee foi lento e displicente, enquanto Hojlund errou vários domínios - algo que a torcida já se acostumou a ver. O dinamarquês não marca há 13 jogos; o holandês tem apenas um gol nos últimos 16. O desespero de Amorim é compreensível: apenas quatro times marcaram menos gols na Premier League - e três deles estão na zona de rebaixamento.

Para piorar, o United enfraqueceu ainda mais seu ataque. Marcus Rashford, que alternou entre bons e maus momentos como centroavante desde 2015, foi emprestado ao Aston Villa até o fim da temporada. O mesmo rolou com Antony, no Real Betis.

Nenhuma dessas saídas representa uma grande perda. Rashford vive um declínio físico e mental há quase dois anos e, depois de manifestar o desejo de um "novo desafio", Amorim fez certo ao afastá-lo.

Antony é mais comprometido que Rashford, mas isso não compensa seu desempenho decepcionante desde que chegou do Ajax, em 2022. O brasileiro marcou apenas cinco gols em 62 jogos de Premier League e se tornou previsível para os defensores.

Ainda assim, perder ambos sem encontrar substitutos foi um erro. Optar por empréstimos em vez de vendas definitivas também não fez muito sentido, já que é bem provável que eles voltem ao Old Trafford no meio do ano - e com um valor de mercado ainda mais baixo.

Como de costume, o United foi ligado a vários atacantes nesta janela, de Randal Kolo Muani, do PSG, a Victor Osimhen, do Napoli. No entanto, poucos tiveram fundamento.

O clube realmente explorou apenas dois nomes em janeiro: Christopher Nkunku, do Chelsea, e Mathys Tel, do Bayern. Segundo a Sky Sports, houve conversas por um empréstimo de Nkunku, mas o Chelsea só aceitava vendê-lo por cerca de £70 milhões. No caso de Tel, o United chegou a fazer uma oferta formal de empréstimo, recusada porque o Bayern queria um valor maior e uma cláusula de compra obrigatória. O clube não parecia totalmente decidido a contratar nenhum dos dois, o que é estranho.

Nkunku tem sido pouco utilizado no Chelsea, mas isso se deve mais à incompatibilidade com o sistema de Enzo Maresca. No United, poderia ser diferente, já que o francês já mostrou no RB Leipzig que pode decidir jogos quando em forma.

Tel seria uma aposta maior, pois ainda tem 19 anos e não se firmou ainda em alto nível. Mas o que o United tinha a perder? No pior cenário, seria mais uma opção para Amorim; no melhor, poderia se tornar o centroavante decisivo que o clube tanto procura.

Mas Ratcliffe e a INEOS dirão que a janela discreta foi necessária para cumprir as regras de sustentabilidade financeira da Premier League, claro. Desde que comprou parte do clube, Ratcliffe vem cortando custos sem piedade, inclusive irritando os torcedores ao aumentar o preço dos ingressos.

O bilionário britânico também quebrou a tradição do clube ao colocar jogadores da base à venda para gerar "lucro puro". Mainoo e Garnacho foram sondados pelo Chelsea na última janela.

Mas por que cogitar vender esses dois, enquanto tantos outros jogadores poderiam ter sido negociados? Casemiro, Hojlund, Eriksen e Dalot deveriam estar na lista de dispensas, assim como Rashford e Antony. Mais, valeria a pena avaliar a saída de Mount e Shaw, que vivem lesionados.

A equipe ainda está cheia de pesos mortos por causa da abordagem estranha da INEOS - e quem mais sofre com isso é Amorim.

Embora seja difícil que o United, atualmente 11 pontos acima do Z-3, lute contra o rebaixamento - já que Leicester, Ipswich e Southampton já parecem não ter escapatória -, sem uma boa recuperação, os Red Devils não chegarão nem perto do oitavo lugar da última temporada, a pior da história do clube no Inglês.

Amorim faria bem em priorizar a Europa League, já que é a única via restante para a classificação à Champions. No papel, conquistar essa competição parece viável, com a nova regra da UEFA que impede os eliminados da Champions de entrarem no mata-mata da Europa League.

Porém, Tottenham, Athletic Club, Eintracht Frankfurt e Lazio ainda são equipes mais do que capazes de fazer frente a este United. O mesmo vale para Ajax, Porto, Real Sociedad e Roma, caso avancem nos playoffs.

No mais, o United não tem elenco para reconquistar a Copa da Inglaterra, o que significa que também não terão a vaga à Liga Europa da próxima temporada. Não há como ser menos direto: a INEOS acabou com a temporada do clube.

Amorim talvez já esteja se arrependendo seriamente de ter aceitado o convite para substituir Ten Hag. Ele não merecia estar nessa posição.

Parece realmente um trabalho impossível - e tudo por culpa de Ratcliffe.