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Rayan Cherki City Guardiola GFXGetty/GOAL

Rayan Cherki é a nova estrela do Manchester City que mira a Bola de Ouro - mas Pep Guardiola vai conseguir evitar outra situação como as de Zlatan Ibrahimovic e Jack Grealish?

Sempre que um jogador fala com a imprensa, o ideal — do ponto de vista do assessor — é que ele diga o mínimo possível e, de preferência, não vire manchete. Como resumiu Peter Crouch: “Você dá uma entrevista para o jornal tentando não aparecer no jornal. Eles ficavam nervosos com medo de a gente se atrapalhar.”

Mas Rayan Cherki seguiu um caminho bem diferente ao falar com jornalistas pela primeira vez desde que chegou ao Manchester City. Em apenas cinco minutos com a imprensa, durante a preparação do time para a estreia no Mundial de Clubes, ele já deixou uma forte impressão.

Cherki falou abertamente sobre suas ambições de conquistar a Bola de Ouro, dizendo que o sucesso de Rodri em 2024 mostrou como o City é uma plataforma para se tornar o melhor do mundo. E conquistou rapidamente os torcedores ao afirmar que queria “matar” o Manchester United — uma resposta à dolorosa eliminação do Lyon para os Red Devils na Europa League, em abril. Antes daquele confronto, aliás, ele disse que estava “pronto para ir à guerra” com o time de Ruben Amorim.

Essas declarações não surpreendem quem acompanhou sua trajetória. Desde cedo, Cherki fez questão de chamar atenção — foi o artilheiro mais jovem da história do Lyon, aos 16 anos. Mas sua atitude, vista como obstáculo por alguns treinadores, sempre gerou controvérsias.

Mesmo assim, seu talento é inegável. Na última temporada, encontrou a consistência que tanto buscava: foram 34 participações em gols em 44 jogos. O desempenho rendeu sua primeira convocação para a seleção principal da França, onde estreou com um lindo voleio contra a Espanha na semifinal da Liga das Nações.

A boa fase o levou a um dos maiores clubes do mundo. E agora, com o palco global do Mundial de Clubes à disposição, Cherki tem a chance de mostrar por que é visto como um talento fora da curva. Suas declarações ousadas reforçam sua fama de inconformista — mas a grande questão é: ele conseguirá prosperar sob o comando exigente de Pep Guardiola?

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  • Jack Grealish Man CityGetty

    Jogador de rua para 'estação de descanso'

    A chegada de Rayan Cherki ao Manchester City gerou comparações imediatas com a contratação de Jack Grealish, que trocou o Aston Villa pelo Etihad em uma transferência recorde de £100 milhões de libras. Assim como Cherki, Grealish era visto como um meia incrivelmente talentoso — mas viu seu estilo criativo ser contido sob o comando de Pep Guardiola.

    No Aston Villa, Grealish era celebrado como um “jogador de futebol de rua”. No City, passou a ser chamado de forma menos elogiosa de “estação de descanso”, por sua função de prender a bola na ponta e desacelerar o jogo para reorganizar a equipe.

    A temporada 2022/23 — a mais vitoriosa da era Guardiola — foi a única em que Grealish teve destaque. Fora isso, enfrentou dificuldades. Após começar apenas sete jogos da Premier League na última temporada e não sair do banco na final da Copa da Inglaterra, perdeu espaço. Foi preterido inclusive pelo estreante Claudio Echeverri em Wembley e acabou fora do elenco para o Mundial de Clubes, enquanto o clube busca um novo destino para ele. Guardiola ainda alfinetou o inglês ao afirmar que Savinho vive momento melhor.

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  • Zlatan BarcelonaGetty

    A recusa de Zlatan em se conformar

    A chegada de Rayan Cherki ao Manchester City também trouxe à tona lembranças da conturbada passagem de Zlatan Ibrahimovic pelo Barcelona sob o comando de Pep Guardiola. O sueco criticou duramente os métodos do treinador em sua autobiografia, comparando o ambiente criado por Guardiola a uma escola. Segundo ele, não se encaixava no perfil exigido e não estava disposto a seguir ordens para se comportar ou se conformar. O ponto de ruptura veio após a eliminação do Barça nas semifinais da Champions League diante do Inter de Milão, ex-clube de Ibrahimovic. Na ocasião, ele disparou: “Você não tem bolas.”

    No livro 'Eu Sou Zlatan', o atacante revelou:

    “Fiz muito para me adaptar — os jogadores do Barça pareciam meninos de escola, seguindo cegamente o técnico, enquanto eu estava acostumado a perguntar ‘por quê?’. Gosto de pessoas que passam no sinal vermelho, não de regras rígidas. Tentei ser simpático, evitei perder a paciência...”

    Mas, segundo ele, isso mudou:

    “Depois parei de tentar. No Barcelona, os jogadores não podiam ir aos treinos com carros esportivos. Achei isso ridículo. Antes de um jogo contra o Almería, fui de Ferrari Enzo e causei alvoroço. Quando me compram, compram uma Ferrari. Se você dirige uma Ferrari, coloca combustível premium, vai para a autoestrada e pisa. Guardiola colocou diesel e deu uma volta no campo. Ele devia ter comprado um Fiat.”

  • Rayan CherkiGetty

    'Não é um jogador especial'

    Cherki ainda não alcançou o nível que Grealish e Ibrahimovic tinham antes de trabalhar com Guardiola, mas já demonstrou, em diversas ocasiões, uma postura que pode levá-lo a enfrentar desafios com seu novo técnico.

    Na temporada de estreia pelo Lyon, em 2019/20, Cherki protestou por ter ficado no banco contra o Bordeaux pedindo para voltar à equipe juvenil. No entanto, não teve bom desempenho nas categorias de base — e seu próprio pai chegou a gritar da arquibancada: “Se não quer jogar, saia de campo.”

    Rudi Garcia, técnico que o promoveu ao profissional, logo alertou para os riscos do excesso de elogios. “Continuamos dizendo a ele que terá a carreira que merece, se continuar trabalhando. O perigo é fazê-lo acreditar que já é um dos melhores do mundo”, disse.

    Seu sucessor, Peter Bosz, foi mais direto: usava Cherki com moderação e sem prioridade. “Sei que ele é popular, isso é ótimo para ele e os torcedores. Mas escalo quem acho que pode nos dar a vitória. Se for o Rayan, ele começa. Caso contrário, será outro.”

    Laurent Blanc admitiu ter tido “algumas discussões acaloradas” com o jogador, criticando sua postura individualista. Já Fabio Grosso foi ainda mais duro: “Ele é apenas mais um jogador — tem qualidades técnicas, sim, mas isso não basta. Faltam qualidades mentais e físicas também.”

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    Silenciando os críticos

    Cherki começou a mostrar seu verdadeiro valor sob o comando de Pierre Sage, sucessor de Fabio Grosso. Isso aconteceu após um período afastado do time e outro no início da última temporada, devido a um impasse contratual com o Lyon. Seu retorno foi marcante: saiu do banco contra o Marseille e marcou poucos minutos depois, dando início a uma sequência de cinco gols e sete assistências entre setembro e dezembro. Quando Sage foi demitido, em janeiro, Cherki prestou uma homenagem emocionada: “Ele deixa um legado excepcional.”

    Sob o comando de seu último técnico no clube, Paulo Fonseca, Cherki também demonstrou liderança. Após o português ser suspenso por nove meses em competições domésticas por confrontar um árbitro, o elenco do Lyon se uniu em apoio a ele no jogo seguinte, contra o FCSB, pela Europa League. “Sentimos uma sensação de injustiça antes da partida. Queríamos dar tudo por ele”, disse Cherki, que respondeu em campo com cinco gols e 15 assistências em 19 partidas sob Fonseca.

    O meia acredita que evoluiu nos últimos anos, principalmente nos aspectos que antes eram criticados:

    “Acho que tive a melhor temporada da minha carreira. Consegui fazer com que falassem apenas das coisas boas: meus passes, meus dribles. Não ouço mais tantas críticas infundadas. Dei um passo à frente em tudo: na eficiência, no trabalho defensivo, no esforço sem a bola. Todos conhecem meu estilo ofensivo — isso nunca foi o problema. O que trabalhei de verdade foi entender quem eu queria me tornar, e isso é o que faz a diferença.”

  • Pep GuardiolaGetty Images

    Caráter é mais importante do que habilidade

    Guardiola e o Manchester City esperam que Rayan Cherki tenha amadurecido por completo — e que seus antigos rompantes de temperamento fiquem no passado. É um equívoco pensar que Guardiola não consegue lidar com personalidades fortes e talentosas. Afinal, foi sob seu comando que Lionel Messi alcançou o estrelato, mesmo que o craque argentino nem sempre fosse fácil de lidar, ao contrário do que muitos imaginam.

    Certa vez, após uma partida fora de casa contra o Málaga, Messi enviou uma mensagem a Guardiola reclamando de Ibrahimovic, que havia assumido o posto de centroavante. “Vejo que não sou mais importante para o time”, dizia. Pouco depois, Guardiola redesenhou a formação para priorizar Messi, o que acabou marginalizando Ibrahimovic. A escolha arruinou a relação com o sueco, mas foi, sem dúvida, a decisão certa.

    Messi não foi o único gênio individual com quem Guardiola soube trabalhar. Ele manteve uma relação complexa, mas produtiva, com Kevin De Bruyne, conhecido por seu temperamento, e também extraiu o melhor de Erling Haaland. De fato, o treinador catalão parece até preferir jogadores confiantes — desde que saibam respeitar sua autoridade e não desestabilizem o ambiente, como aconteceu com Ibrahimovic e, mais recentemente, João Cancelo.

    “Meu jogador favorito é aquele que é uma boa pessoa. Para jogar futebol, o ego precisa estar lá — não muito alto, mas presente — e eu adoro trabalhar com esse tipo de jogador”, disse Guardiola à Sky Sports em 2022, pouco depois de começar a trabalhar com Haaland. “Aprendi há anos que, antes de contratar alguém, é preciso perguntar ao diretor esportivo sobre o caráter do jogador. Não me importo só com as habilidades. Como dizia o lendário golfista Seve Ballesteros: o caráter é mais importante que o swing. Não adianta conquistar títulos se houver veneno nos bastidores.”

  • Rayan Cherki Manchester City 2025-26Manchester City FC

    Sabendo o seu lugar

    Desde que não envenene o ambiente no vestiário do City, Cherki tem tudo para se sair bem. Apesar da declaração ousada sobre a Bola de Ouro e da provocação que agradou os torcedores ao falar sobre o United, o francês tem demonstrado respeito à hierarquia do novo clube.

    “Eu não sou o Kevin De Bruyne — ele é uma lenda”, afirmou. “Estou aqui para ajudar o time. Temos os melhores jogadores do mundo. Trabalho e espero a minha vez. Conversei com o Pep sobre minha posição e sobre o que gosto em campo. Ele me disse que ama um camisa 10, mas agora jogo em várias posições — e está tudo bem, porque só quero jogar. Ele também disse: ‘Quando você tem a bola, é livre’. Isso é ótimo para mim, porque é a melhor maneira de eu contribuir com a equipe.”

    Seu drible afiado e os chutes de longa distância podem ser armas importantes para destravar defesas fechadas e tirar um pouco da pressão sobre Haaland, já que nomes como Phil Foden, Savinho e Doku não conseguiram se firmar na última temporada. A estrutura tática seguirá como base do jogo posicional de Guardiola, mas o time também precisa de jogadores capazes de decidir — e Cherki mostrou ser um deles na Ligue 1.

    Só o tempo dirá se o francês poderá seguir os passos de Rodri e conquistar a Bola de Ouro no City, ou até mesmo se tornar o sucessor de De Bruyne no Etihad. O que já se sabe, no entanto, é que o clube contratou uma personalidade forte, com ambição à altura — e agora ele tem um treinador que pode canalizar isso da melhor forma.

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