Por que nenhum dos gigantes da Europa quer contratar Victor Osimhen?

O Napoli sabia, desde o meio de 2023, que Osimhen queria sair. Por isso, em conjunto com o jogador e seus representantes, o clube elaborou um plano: ele renovaria seu contrato até 2026, com um generoso aumento salarial, mas poderia sair em 2024 caso algum clube pagasse a multa rescisória de €120 milhões (R$768 milhões).

A ideia agradava a todos. O Napoli garantiria mais uma temporada com o artilheiro do título da elite italiana antes de lucrar alto com sua venda, enquanto Osimhen enfim realizaria o sonho de defender uma potência europeia.

No dia 23 de janeiro, durante a disputa da Copa Africana de Nações, Osimhen chegou a confirmar que já tinha definido seu futuro: “Já tomei minha decisão”, disse à CBS Sports. “Tenho meu plano, sei o que quero fazer e qual será o próximo passo.”

Ele ainda comentou os rumores sobre a Premier League: “Acho que 60% das pessoas falam sobre isso. É uma das maiores ligas do mundo. Mas, por enquanto, quero terminar bem a temporada no Napoli e depois seguir com o plano que já tracei.”

Três dias depois, o presidente do Napoli, Aurelio De Laurentiis, confirmou que Osimhen deixaria o clube ao fim da temporada 2023/24. E foi além: revelou que o destino do atacante seria “Real Madrid, PSG ou algum clube da Premier League”.

A confiança era tanta que não passava pela cabeça de De Laurentiis que algum desses gigantes recusaria pagar a quantia por um artilheiro de 26 gols em 32 jogos na Série A. Um ano e meio depois, o Napoli ainda busca comprador, agora por quase metade do valor.

As circunstâncias jogaram contra Napoli e Osimhen na última janela. O Real Madrid deixou a corrida pelo atacante assim que contratou Kylian Mbappé. Embora tenha chegado sem custos de transferência, o francês exigiu um investimento colossal. Além disso, os espanhóis planejam usá-lo como centroavante, o que fechou qualquer brecha para Osimhen, tanto no elenco quanto na folha salarial.

No PSG, o técnico Luis Enrique também não quis saber de um centroavante tradicional, mesmo com as oscilações de Gonçalo Ramos e uma lesão precoce no início da temporada. O treinador espanhol preferia trabalhar com muitos pontas. Assim, rejeitou a chance de contratar Osimhen e optou por trazer, no início de 2025, o georgiano Khvicha Kvaratskhelia, ex-companheiro de Napoli. A aposta deu certo: o ataque móvel e veloz ajudou o PSG a conquistar a Champions League pela primeira vez.

Por pouco, a tão sonhada ida à Premier League também não aconteceu.

Apesar de ter gasto mais de £1 bilhão (R$ 7,39 bilhões) com contratações, o Chelsea ainda buscava um goleador confiável. A investida por Osimhen fazia sentido, ainda mais pelo fato de o nigeriano ter como ídolo Didier Drogba, lenda dos Blues. Mas a negociação fracassou devido às altas exigências salariais do jogador.

Ao mesmo tempo, o Al-Ahli tentava convencer Osimhen a aceitar uma mudança para a Arábia Saudita. E não foi fácil.

Em novembro de 2023, quando o empresário de Kvaratskhelia afirmou que Osimhen se mudaria para o futebol saudita na janela seguinte, o atacante reagiu furiosamente nas redes sociais: “Mamuka Jugeli, você é um lixo e uma vergonha”, escreveu no Instagram. “Me envergonha o seu raciocínio. Imbecil! NÃO FALE MEU NOME!”

Além de estar incomodado por alguém interferir em seus planos, Osimhen também se mostrou ofendido com a sugestão de que preferiria dinheiro fácil a disputar a Champions League. Seu agente, Roberto Calenda, reforçou essa ideia: “Victor ainda tem muito a fazer na Europa.”

Mesmo assim, com a janela de transferências se aproximando do fim e sem opções viáveis, Osimhen chegou a aceitar uma proposta gigantesca do Al Ahli. Mas o negócio desmoronou quando o Napoli elevou o valor da negociação na última hora, o que irritou o jogador.

A relação entre clube e atleta desandou de vez. Não havia mais clima para Osimhen seguir em Nápoles, principalmente porque Antonio Conte já havia indicado Romelu Lukaku como seu substituto. Diante desse cenário turbulento, um empréstimo ao Galatasaray por uma temporada foi a solução temporária mais viável para todas as partes.

Mas o problema continua.

O empréstimo ao Galatasaray chegou oficialmente ao fim nesta segunda-feira, e Osimhen segue sem destino. O campeão turco não tem condições financeiras de bancá-lo, e o campeão italiano não o quer de volta.

O Napoli foi campeão sem ele, e os torcedores, conhecidos pela paixão e intensidade, consideram o atacante um traidor que abandonou a cidade que o acolheu como ídolo. Ainda assim, Osimhen terá de se reapresentar a Nápoles dentro de duas semanas para exames médicos de pré-temporada — uma situação que promete ser, no mínimo, constrangedora.

Há expectativa de que algo mude até lá. Isso porque a multa rescisória, antes de €120 milhões (R$ 767 milhões), foi reduzida para €75 milhões (R$479 milhões) como parte do acordo com o Galatasaray, justamente para facilitar uma venda. Mas, até o momento, ninguém apareceu.

O curioso é que Osimhen não teve seu comprometimento ou profissionalismo questionados na Turquia. Pelo contrário.

“Desde que chegou a Istambul, Osimhen superou as expectativas, demonstrando comprometimento e caráter até maiores do que mostrara no Napoli”, disse Idil Erin, da GOAL Turquia. “Sua humildade e postura fora de campo, combinadas com o desempenho dentro dele, conquistaram torcedores de todo o país. E parece que ele realmente valorizou o carinho e respeito que recebeu.”

Por isso, não se pode descartar totalmente uma volta definitiva ao Galatasaray, ainda que isso dependa de grandes concessões financeiras, seja do jogador, seja do Napoli.

Está claro que Osimhen ainda quer jogar em uma das cinco grandes ligas europeias. E é estranho que ainda não tenha recebido nenhuma proposta oficial, especialmente da Inglaterra.

Embora poucos clubes de ponta estejam em busca de centroavantes, alguns gigantes da Premier League claramente precisam de um camisa 9.

O Chelsea, que contratou Liam Delap e João Pedro, parece ter desistido. Mas é difícil entender por que não reativou o interesse em Osimhen, alguém com muito mais chances de marcar gols do que os dois recém-chegados juntos.

Mais inexplicável ainda é a falta de movimentação do Arsenal, que cogita pagar valores altíssimos por Benjamin Sesko ou Viktor Gyokeres, nomes que estão longe do nível de Osimhen.

O Liverpool, por sua vez, já gastou bastante nesta janela. Isso pode dificultar o pagamento dos salários exigidos pelo nigeriano. No entanto, com a provável saída de Darwin Núñez e os constantes problemas físicos de Diogo Jota, os Reds precisarão de um novo atacante, mesmo se quiserem usar Florian Wirtz como falso 9.

Por metade do preço de Alexander Isak, ou até menos, Osimhen poderia dar outra dimensão ao ataque do atual campeão inglês.

Especialistas do mercado acreditam que alguns clubes europeus estão esperando o tempo passar, assim como o próprio Osimhen. Com os valores envolvidos, ainda parece provável que ele acabe mesmo no futebol saudita, seja pelo preço pedido ou por suas exigências salariais incompatíveis com os clubes de elite.

Ainda assim, Osimhen recusou uma proposta do Al Hilal antes do início do Mundial de Clubes justamente para manter as portas abertas. E sua cláusula de rescisão para clubes do exterior expira em 15 de julho. Se nada acontecer até lá, o Napoli pode ter de aceitar uma quantia ainda menor só para tirá-lo da folha salarial.

Nesse cenário, ele se tornaria um nome mais acessível para grandes clubes da Europa. Vale lembrar também que Antonio Conte está interessado em Darwin Núñez, o que pode abrir caminho para uma troca com o Liverpool envolvendo dinheiro mais jogador.

Situação parecida ocorre com a Juventus. Mesmo sendo rival do Napoli e já tendo contratado Jonathan David de graça, o clube de Turim segue interessado em Osimhen e quer se livrar de Dusan Vlahovic, outro atacante caro e fora dos planos.

O fato é que um acordo terá de ser costurado antes do fim da janela. Nem Napoli nem Osimhen querem reviver o drama do ano passado. De Laurentiis não pode se dar ao luxo de prolongar esse impasse, e Osimhen não quer desperdiçar os melhores anos da carreira.

Falta humildade e bom senso, e, se antes havia um plano, agora parece que ninguém mais sabe o que está fazendo.