Por que o Manchester United deveria ir com tudo para tirar Matheus Cunha do Wolverhampton

Cunha contribuiu para 37 gols na Premier League nas últimas duas temporadas, representando 38% do total de gols do Wolves nesse período. E apesar de jogar por um time que está em 16º na tabela - e que terminou em 14º no ano passado - ele marcou mais gols (12 na temporada passada e 14 nesta) e tem mais contribuições para gols (sete assistências no ano passado, quatro nesta) do que qualquer jogador do United em ambas as temporadas.

E o United tem experiência de primeira mão com sua ameaça de gol. Ele aterrorizou os Red Devils no jogo de abertura da temporada passada em Old Trafford, que o United acabou vencendo por 1 a 0 graças à decisão altamente controversa de não conceder um pênalti nos acréscimos para o Wolves devido à agressão de Andre Onana em Sasa Kalajdzic. Cunha abriu caminho pela defesa do United até três vezes, mas chutou para fora, além de acertar a trave em uma oportunidade.

Ele armou o gol de empate de Pedro Neto na emocionante vitória por 4 a 3 no Molineux mais tarde na temporada e foi o talismã dos Wolves na derrota de 2 a 0 do United no mesmo campo nesta temporada no Boxing Day, quando marcou um 'Olimpico', enganando Andre Onana em um escanteio.

Cunha é um dos vários alvos de ataque que o United está considerando para resolver seu maior problema. Ruben Amorim disse que estava preocupado com a falta de gols do time após seu primeiro jogo no comando em novembro e, cinco meses depois, houve pouca melhora nesse departamento.

Os Red Devils têm uma média de 1,2 gols por jogo na Premier League nesta temporada, com apenas o Everton, além dos quatro últimos, West Ham, Ipswich Town, Leicester e Southampton, marcando menos. Amorim ficou tão desapontado com os atacantes do United que enviou Antony e Marcus Rashford por empréstimo e, no início deste mês, afirmou que Harry Maguire era sua maior ameaça de gol após enviar o zagueiro à frente nos últimos oito minutos contra o Nottingham Forest. Não foi uma declaração tão maluca, afinal, pois nesses poucos momentos Maguire criou mais gols esperados (XG) do que Rasmus Hojlund tinha em seus 15 jogos anteriores. E olhe só o impacto que ele teve na dramática vitória na Liga Europa sobre o Lyon.

Hojlund, que só marcou dois gols na Premier League sob o comando de Amorim, não é o único que não está entregando. Alejandro Garnacho só balançou as redes duas vezes na liga durante o mesmo período. De fato, diz muito sobre a temporada do United que a lesão de Joshua Zirkzee e sua exclusão do restante da campanha foram vistas como um grande golpe. O holandês não marcou um gol na liga desde 1º de dezembro.

Cunha está entre os principais alvos de ataque do United, juntamente com Liam Delap, depois de decidirem que Viktor Gyokeres era muito caro pelo preço de £ 80 milhões (R$ 617 milhões). O brasileiro é ligeiramente mais barato após assinar um novo contrato com o Wolves, contendo uma cláusula de rescisão de £ 62m (R$ 480 milhões). Mas enquanto Delap tem muito potencial, o United precisa de uma garantia de qualidade de ataque, e não apenas a promessa disso. Afinal, eles decidiram contratar Hojlund em vez de Harry Kane em 2023, contra o desejo de Erik ten Hag, e a aposta no dinamarquês para cumprir seu potencial deu muito errado.

Vender Hojlund para contratar Delap poderia resultar em uma troca equivalente, substituindo um jovem centroavante por outro, sem garantia de que o jovem inglês suportará a carga de ser o principal homem dos Red Devils melhor do que o dinamarquês. Cunha é uma aposta mais segura e poderia resolver dois problemas para o United ao mesmo tempo.

Embora seja a principal fonte de gols do Wolves, ele não é um 9 como Delap ou Hojlund, mas um 10 do lado esquerdo, tão útil para criar chances quanto para marcá-las. Ele não é apenas o maior artilheiro do seu clube, é também o principal criador de chances em jogadas abertas e tem o maior número de assistências esperadas, embora o ala Rayan Ait-Nouri tenha mais assistências de fato. Cunha provavelmente aumentaria consideravelmente a contagem de gols do United, marcando muitos ele mesmo e também melhorando os números de seus companheiros de equipe. De fato, há um cenário em que ele acaba desbloqueando o potencial de Hojlund ao elevar a qualidade das jogadas de ataque em todos os sentidos.

Outra vantagem que Cunha tem é que ele já joga no mesmo sistema em que seria utilizado sob o comando de Amorim no United. Ele tem jogado em um 3-4-2-1 desde que Vitor Pereira sucedeu Gary O'Neil em dezembro. Ter um jogador acostumado a atuar como um No.10 mais fechado deve ser atraente para Amorim, já que Garnacho, Rashford e Antony tiveram dificuldades para se ajustar ao novo papel.

Enquanto Bruno Fernandes redescobriu sua veia ofensiva nas últimas semanas, o português se vê como um armador mais recuado no futuro, posicionando-se mais atrás no meio-campo. Embora Amad Diallo certamente ocupe uma das duas posições atrás do centroavante quando se recuperar de sua lesão no tornozelo, é provável que haja uma vaga ao lado dele. E quem melhor para ocupá-la do que Cunha?

O brasileiro jogou em um 3-4-2-1 em inúmeras ocasiões sob o comando de O'Neil, o homem a quem ele credita por mudar sua carreira. Cunha disse no mês passado para The Guardian: "Gary me entendeu completamente. Ele chegou e disse: 'Cara, acho que você é uma pessoa incrível, mas você precisa de afeto. E eu vou te dar afeto. Vou reclamar quando precisar reclamar, mas quase vou ser família para você'. Quando alguém vê algo além do jogador em você, isso te toca. Essas conversas e essas lições foram de grande importância na minha vida."

O'Neil refletiu sobre o quanto Cunha havia melhorado sob sua supervisão depois que ele se destacou em uma vitória por 4 a 1 sobre o Fulham em novembro. "Todos sabem o quão importante ele é para nós, mas também é importante reconhecer o trabalho que ele tem feito desde que chegou aqui. Este não é o Matheus Cunha que chegou ao Wolves," disse o treinador. "Eu amo trabalhar com ele porque definitivamente caiu a ficha de que ele pode ser um jogador de elite. Havia lacunas antes e ele trabalha todos os dias para ser o melhor que pode ser."

"Seu talento é incrível, obviamente. Mas se você observar os principais jogadores, eles conseguem fazer isso semana após semana. Assista a pessoas como Bernardo Silva, Martin Odegaard. Todos eles são ótimos com ou sem a bola e Matheus, os números que ele está produzindo no momento, estão à altura de todos. Não há limite para onde ele pode chegar, em termos de habilidade. Ele vai ficar no Wolves pelo máximo de tempo possível primeiro, mas depois disso não há limite para onde ele pode ir."

Cunha teve dificuldades para impressionar o antecessor de O'Neil, Julen Lopetegui, marcando dois gols em 12 partidas como titular na segunda metade da temporada 2022/23, após chegar por empréstimo do Atlético de Madrid. Sua experiência sob o comando de Diego Simeone foi ainda mais miserável, já que ele iniciou 10 jogos da liga em dois anos na capital espanhola, após uma transferência de €30 milhões do Hertha Berlin, logo depois de conquistar a medalha de ouro com o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Sua falta de tempo de jogo no Atlético levou a que ele não fosse convocado para a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2022, e ele não foi o único furioso com Simeone por não lhe dar mais chances. Quando ele deixou o Atlético por Wolves, seu pai Carmelo buscou explicar por que ele teve dificuldades em prosperar no Metropolitano: "Com o sistema de Simeone, não há como um atacante ter sucesso. É muito difícil."

O jogador também refletiu sobre sua estadia infeliz na Espanha em sua entrevista ao The Guardian. Ele lembrou: “Me senti mal, muito mal. Sofri muito. Me senti muito por não ter jogado a Copa do Mundo e me senti ainda pior porque não fui à Copa do Mundo porque não estava jogando pelo meu clube. Tive a sensação de que só queria uma oportunidade para mostrar meu futebol e poder lutar por uma vaga em condições mais iguais."

Cunha certamente mostrou sua verdadeira habilidade como jogador de futebol nos Wolves e não escondeu o fato de querer ir para um grande clube, tendo recusado a chance de sair em janeiro. "Eu tive muitas ofertas, mas não me sentiria bem se tivesse feito isso", disse ele. "Algumas coisas você não pode controlar, mas eu não poderia deixar o clube no meio da temporada, em uma situação difícil, na zona de rebaixamento. Agora, estamos perto de alcançar nosso objetivo. Mas deixei claro que preciso dar o próximo passo. Quero lutar por títulos, por grandes coisas."

Esses comentários não caíram bem com os torcedores dos Wolves e levaram Cunha a entrar em uma briga online com um site popular de fãs. Seu desabafo foi outro sinal de sua personalidade forte, que ele já havia demonstrado em dois incidentes chocantes no campo. O primeiro foi quando deu uma cotovelada em um membro da equipe do Ipswich e pegou os óculos dele após a derrota dos Wolves em dezembro. O brasileiro foi suspenso por duas partidas após uma investigação da FA, e depois recebeu gancho de quatro jogos por socar e dar uma cabeçada no jogador Milos Kerkez, do Bournemouth.

O temperamento de Cunha pode afastar certos clubes, mas pode-se argumentar que o United poderia se beneficiar de um jogador com o desejo de vencer do brasileiro. De fato, jogadores com personalidades vulcânicas muitas vezes prosperaram no United. Basta olhar para Roy Keane e Eric Cantona. Por muito tempo, o United teve jogadores não dispostos a agitar as coisas, que se sentiam confortáveis demais com a decadência do clube rumo à mediocridade. Bruno Fernandes é o único jogador que foge desse padrão, e no mês passado Amorim declarou: "Precisamos de mais Brunos."

Certamente precisam de mais gols, e Cunha marcou mais do que qualquer jogador do United nas últimas duas temporadas enquanto carregava os Wolves nas costas. Se o United estiver sério sobre ser um grande clube novamente, então precisa de mais jogadores de alto nível. Cunha é indiscutivelmente um deles e, após uma longa luta, ele está entrando em seu auge. O United precisa garantir que ele o passe em Old Trafford.