Obrigação do atacante é só fazer gol? Tiquinho Soares levanta debate no Botafogo

O revés por 3 a 1 frente aos colombianos, contudo, é – com toda a razão – o que ficou como gosto final para a torcida. E em relação às críticas direcionadas a Tiquinho, levanta também a questão: qual é o papel de um centroavante em um time de futebol? Fazer gol é a resposta óbvia, mas hoje sabemos que não é só isso.

No futebol moderno, o atacante também é o “primeiro defensor” e os espaços que gera em campo, para infiltrações perigosas de seus companheiros, passou a ser algo tão valorizado que, nas últimas décadas, voltou a popularizar a figura do Falso Nove.

O histórico Barcelona de Pep Guardiola teve Lionel Messi como um brilhante Falso Nove. No Bayern de Munique, o treinador precisou trabalhar o debate filosófico um pouco mais profundamente e encontrou equilíbrio: Robert Lewandowski passou a recuar um pouco mais para participar também da construção e criação de jogadas, ao invés de ficar mais concentrado só na finalização do time.

Mas é a passagem de Guardiola no Manchester City que mostra, realmente, a complexidade da questão. Dono de um dos trabalhos mais autorais da história do esporte, o catalão só conseguiu voltar a conquistar uma Champions League depois que se rendeu a um camisa 9 daqueles clássicos: Erling Haaland.

Ter um artilheiro, uma referência no comando de ataque, faz a diferença. Isso é óbvio. Mas, sendo o futebol um esporte coletivo, um centroavante de poucos gols que possibilita um ataque melhor de seu time também não é bom? Olivier Giroud é criticado pela baixa incidência como goleador, mas a sua participação sem a bola no pé teve importância fundamental para o título mundial da França em 2018 e para a campanha de vice-campeonato na Copa seguinte.

Em comum às situações desde Giroud a Haaland, é o fato deles marcarem gols em jogos pesados, decisivos, e acima de tudo os resultados entregues em campo: suas equipes vencem mais do que não vencem e conquistam títulos. Suas equipes possuem sistemas defensivos sólidos, não costumam tomar gols bobos.

No final das contas, é isso o que toca a narrativa do futebol. E para Tiquinho Soares a situação tem sido diferente desde os últimos dias de outubro de 2023.

Tiquinho chegou ao Botafogo, em 2022, fazendo gols importantes, contra adversários de peso, e sendo muito influente na parte ofensiva do time. Isso mudou após o apagão que fez o jogo contra o Athletico-PR ser disputado entre dois dias no Brasileirão de 2023. Na primeira parte daquela partida, Tiquinho fez gol e vibrou como leão. Depois daquele jogo, nada mais deu certo como vinha dando – para ele e para o Botafogo.

Veio a perda do pênalti contra o Palmeiras e a derrocada do time, que obviamente afetam muito a parte anímica e a confiança. Desde então, Tiquinho fez apenas cinco gols em 23 partidas. E sempre contra adversários muito mais frágeis, bem abaixo do nível competitivo do Botafogo. Em 2024, o nome mais importante no setor de ataque passou a ser Júnior Santos – artilheiro do Brasil até aqui.

Ainda nesta atual temporada, contudo, Tiquinho é um dos atacantes com mais assistências para gols no futebol brasileiro. Se der mais dois passes, já iguala as sete assistências dadas em todo o ano de 2023. Ou seja, o camisa 9 alvinegro ainda é muito importante para a sua equipe. O grande problema tem sido o que o Botafogo tem apresentado às costas de Tiquinho.

O colapso de 2023 teve como grande protagonista a fragilidade defensiva, e em 2024 a defesa botafoguense é uma das mais frágeis dentre os times de elite do país. Aliado a isso, é impossível deixar de falar das atuações ruins de Eduardo: o principal responsável pela criação de jogadas teve uma das maiores quedas de rendimento de todo o time.

Com Eduardo em péssima fase desde o ano passado, a bola chega menos para Tiquinho, que por sua vez precisa recuar mais em campo para ajudar na construção e criação de jogadas, ficando mais longe do gol – onde é letal seja finalizando ou servindo.

O camisa 9 do Botafogo caiu de rendimento e tem feito menos gols do que antes, até aí a crítica é válida. Mas continua sendo um dos melhores do país. O problema têm sido nas partes criativa e defensivas, que estão dificultando as chegadas dos resultados positivos. E isso ficou em evidência, mais uma vez, na derrota por 1 a 0 frente a LDU, um resultado que poderia ter sido muito pior mas que deixa os alvinegros em situação complicadíssima na Libertadores.