Novo rei de Nápoles! Como Scott McTominay se inspirou em Diego Maradona e levou o Napoli ao título italiano

É impressionante pensar nisso agora, mas, se a Atalanta não tivesse atravessado o acordo do Napoli por Marco Brescianini em agosto passado, talvez McTominay nunca tivesse sido contratado pelos Partenopei.

A frustração por não conseguir reforçar o meio-campo antes do início da Serie A foi um dos fatores que contribuíram para o colapso de Antonio Conte após a desastrosa derrota na estreia contra o Hellas Verona. Conhecido por seu temperamento explosivo, o técnico não perdeu tempo e já no início da temporada criticou publicamente a diretoria pelas falhas percebidas na janela de transferências.

Ainda assim, o diretor esportivo Giovanni Manna seguiu trabalhando até o último dia do mercado — e, em 30 de agosto, conseguiu não só um, mas dois reforços escoceses para o meio-campo.

Billy Gilmour, contratado por €14 milhões de euros junto ao Brighton, mostrou ser uma adição valiosa ao elenco, especialmente nos últimos meses da temporada. McTominay, no entanto, virou ídolo no Estádio Diego Armando Maradona — tão popular que já não consegue mais caminhar tranquilamente pelas ruas de Nápoles.

Em uma ocasião, ele entrou em uma loja no centro da cidade e, ao sair minutos depois, encontrou mais de 500 pessoas do lado de fora, todas ansiosas para ver de perto o novo talismã do time.

"Nunca tinha vivido algo assim na minha carreira", contou McTominay ao Gazzetta dello Sport. "Minha namorada e eu simplesmente não acreditamos. Toda vez que as pessoas me veem, são incríveis — querem uma foto, um autógrafo — e eu faço questão de retribuir todo esse carinho. É algo realmente especial."

Manna havia avisado McTominay sobre o fervor e a paixão dos torcedores napolitanos quando visitou o meio-campista em sua casa, em Manchester, no último verão europeu, para convencê-lo a aceitar a transferência para o Napoli. Mesmo assim, McTominay não estava preparado para a recepção que recebeu ao desembarcar em Nápoles, após a transferência de €30 milhões de euros do United.

"Quando saí do avião, minha mãe, que estava logo atrás de mim, não fazia ideia do quanto os torcedores eram apaixonados e carinhosos", contou ao Gazzetta dello Sport. "Sabíamos da ligação deles com o clube, mas não podíamos acreditar no que víamos. Foi um momento que vou lembrar para o resto da vida."

Outro momento inesquecível aconteceu em sua estreia no Estádio Diego Armando Maradona, quando McTominay marcou com o primeiro toque na bola, apenas segundos após entrar em campo, durante um jogo da Copa da Itália contra o Palermo, em setembro do ano passado.

"Foi muito importante para mim, porque eu realmente queria vir para o Napoli", explicou. "Havia grandes expectativas, já que um valor significativo foi investido, e eu queria mostrar meu melhor desde o início. Quero ser um jogador que dá tudo em qualquer circunstância."

Esse nível de comprometimento cativou os torcedores imediatamente e também foi o que fez de McTominay uma contratação perfeita para Antonio Conte, que sempre alcançou sucesso com times que contam com meio-campistas poderosos e incansáveis.

Conte transformou a Juventus em uma máquina de vitórias graças, em grande parte, a Paul Pogba, Arturo Vidal e Claudio Marchisio. O título do Chelsea em 2016/17 foi impulsionado pelo trabalho de Nemanja Matic e N'Golo Kanté no meio-campo, enquanto a brilhante atuação de Nicolo Barella, cobrindo todo o campo, foi crucial para a conquista da Serie A pelo Inter, há quatro anos.

McTominay tem sido igualmente fundamental para o sucesso de Conte no Napoli.

Antonio Conte mudou sua formação após a chegada de McTominay do United, certo de que tinha em mãos um jogador em torno do qual valia a pena construir o meio-campo. A ideia básica era dar ao meio-campista de 28 anos a liberdade para avançar o máximo possível, pois Conte viu em McTominay algo que muitos outros treinadores não haviam percebido.

Como o próprio McTominay já explicou, ele foi “mal aproveitado” em Old Trafford, principalmente por causa de sua estrutura física imponente, que o fazia ser utilizado como volante ou até zagueiro central. Em Nápoles, porém, encontrou um treinador convencido de que ele poderia ser muito mais efetivo como meio-campista ofensivo.

“Scott tem gols no sangue,” afirmou Conte à DAZN em setembro do ano passado. “Ele é muito bom em avançar, tem boa técnica, além de altura e físico. Tem, no seu DNA, um bom número de gols.” E o italiano estava certo.

McTominay alcançou dois dígitos em gols pela primeira vez em toda a sua carreira em uma temporada de liga, com cinco dos seus 12 gols marcados durante três vitórias consecutivas em abril. Esse desempenho o tornou o primeiro escocês a ser eleito Jogador do Mês da Serie A.

Como Conte ressaltou recentemente, McTominay tem evoluído cada vez mais ao longo da temporada, justificando plenamente sua decisão de torná-lo peça-chave no projeto do Napoli. “Ele nunca teve um papel principal no Manchester United, enquanto aqui nós demos esse papel a ele,” disse Conte aos repórteres. “Ele trabalhou duro e agora é um jogador completo.”

E, como provou com sua espetacular bicicleta na vitória que garantiu o título sobre o Genoa na última sexta-feira, McTominay é um jogador que aparece quando mais se precisa dele.

A possível saída de Khvicha Kvaratskhelia em janeiro poderia ter comprometido a disputa pelo título do Napoli — especialmente porque o talentoso ponta georgiano não foi substituído à altura —, mas McTominay ajudou a preencher essa lacuna, às vezes atuando até como ala-esquerdo.

Independentemente da posição em que foi escalado na segunda metade da temporada, McTominay aliviou a pressão de Romelu Lukaku para marcar gols, frequentemente abrindo o placar em jogos decisivos — como na vitória por 2 a 0 sobre o Cagliari — o que rendeu o apelido de “abre-garrafas” do Napoli.

Alguns torcedores também o chamam de “MacGyver” por sua versatilidade e habilidade para resolver problemas dentro de campo, mas hoje ele é praticamente conhecido como “McFratm” (ou “McBro” no dialeto local) — um apelido dado pelo companheiro de equipe Pasquale Mazzocchi, que até virou tema de um mural em uma rua do centro de Nápoles.

Esse mural fica em um antigo santuário dedicado à Madonna, mas que hoje exibe o rosto do novo ícone do Maradona. Mourinho estava certo o tempo todo sobre McTominay: ele realmente é um personagem especial. E agora, em vez de um castiçal, ele tem um Scudetto para comprovar isso.