Neymar mostrou ser craque desde o primeiro jogo pelo Santos, há 15 anos; e aí viveu de superar e sucumbir diante das expectativas

Ora, se Neymar era tratado como joia santista e grande candidato a ídolo desde tão cedo, e se já movimentava o imaginário de olheiros de grandes clubes europeus, era possível imaginar uma grande chance de sucesso. Mas era uma época diferente, aquela da primeira década do Século XXI. Os muitos elogios e comentários de “o céu é o limite” pareciam querer zicar a carreira do garoto nascido em Mogi das Cruzes. A vida não é um conto de fadas e muitos aspirantes a estrela sequer chegavam ao céu.

Sendo assim, o Santos não teria de novo a sorte de revelar um dos mais talentosos atacantes de sua época tão pouco tempo após a geração que ganhou o título brasileiro de 2002, não é mesmo? Tenha calma, por favor. Estamos falando do clube que revelou Pelé, é claro. E Pepe e tantos outros craques da mais alta prateleira mundial. Mas não era uma fábrica tão constante assim: o time que inspirou a alcunha de Meninos da Vila foi campeão em 1978, mas não teve um craque atemporal e histórico. Giovanni, o grande nome do time de 1995, foi revelado pela Tuna Luso.

Neymar parecia estar a detalhes de ser jogador do Real Madrid em 2007, quando seu nome entrou de vez no burburinho do noticiário esportivo. Mas acabou seguindo no Santos, recebendo salário de gente grande mesmo estando ainda na base. Constantemente comparado a Robinho, a expectativa e responsabilidade para estar à altura de tudo isso só cresciam.

Aos 15 anos, estreou na Copa São Paulo em 2008 já sendo tratado como joia e tendo os passos bem documentados pelos principais veículos de imprensa. A expectativa só ia crescendo, ainda que o Santos tenha caído nas quartas de final e que Neymar sequer fosse titular do time – uma vez que era bem mais jovem que os outros jovens. Em 2009, já como titular, a cobertura de seus dribles e gols na Copinha aumentou. A espera para jogar no profissional estava prestes a acabar.

O Santos não vinha fazendo um bom jogo contra o Oeste, naquele 7 de março de 2009. Antes dos 15 minutos do segundo tempo, seja pela ansiedade de ver logo a joia estrear em campo, seja pelo placar ainda zerado, a torcida santista pediu em uníssono dentro do Pacaembú: “Neymar! Neymar! Neymar!”.

O técnico santista era Vagner Mancini, e ninguém viu o que ele falava com o menino da camisa 18 naquele momento. Mas Neymar já havia movimentado tantas emoções, que antes de entrar em campo, no limite de adentrar as quatro linhas, chegou a falar para os microfones do SporTV. Algo impensável hoje, claro, mas talvez sem precedentes já naquela época se considerarmos que o personagem em questão era só um adolescente.

- “Chegou o dia, dá para traduzir o que você está sentido agora?”, perguntou o repórter Carlos Cereto.

- “Estou muito feliz, muito ansioso”, respondeu Neymar antes de entrar no lugar do colombiano Maurício Molina.

Neymar não estreou com gol, mas teve impacto imediato para mudar a cara do jogo. Acertou a trave logo em sua primeira participação no ataque, mostrou personalidade para estar em diversas áreas do campo, driblou e criou chances e tabelou com seus companheiros. Acabou sendo o melhor em campo na vitória por 2 a 1 sobre o Oeste de um então desconhecido goleiro Weverton.

A melhor definição da estreia de Neymar, do peso da expectativa até aquele momento e o quanto ela aumentaria nos capítulos que viriam depois, veio através do comentário feito pelo jornalista André Rizek, que participava daquela transmissão na TV.

“Ele não sente (o peso). Não sei se vai virar jogador, se vai virar o craque que se espera dele, mas entrou como se estivesse batendo uma pelada no quintal de casa”, disse.

Daquele 7 de março de 2009 até aqui, Neymar venceu aquela expectativa inicial: se transformou em um dos maiores protagonistas e craques da história do Santos, da seleção brasileira e construiu uma belíssima história no Barcelona. É uma grande vitória.

É verdade que não tenha conseguido vencer outras expectativas (o clamor por uma Bola de Ouro ou por ser protagonista absoluto na Europa, ou de conduzir o Brasil a uma Copa do Mundo), mas se naquela noite de 2009 alguém chegasse do futuro e falasse tudo o que aquele franzino e habilidoso garoto conquistaria, seria impossível não ficar admirado. Incrível como as mudanças de expectativas mudam nossa percepção. Quem é Neymar? O mundo inteiro hoje vai te dar uma resposta.