Kylian Mbappé, Cole Palmer, times brasileiros e os vencedores e os perdedores do Mundial de Clubes

Kylian Mbappé perdeu toda a fase de grupos do Mundial de Clubes por conta de uma forte gastroenterite. Mas isso foi pouco perto da decepção que viveu na semifinal, ao reencontrar o Paris Saint-Germain.

O atacante jogou os 90 minutos na derrota por 4 a 0 do Real Madrid para seu ex-clube, mas passou em branco e pouco fez para mudar o rumo da partida, totalmente dominada pelos franceses.

O jogo em Nova Jersey mostrou como o PSG evoluiu desde sua saída — e como o Real Madrid ainda está longe de engrenar com Mbappé em campo.

É verdade que a era Xabi Alonso está só começando, e o time deve crescer com o treinador. Mas a semifinal deixou claro o tamanho do trabalho que ele terá pela frente.

Por enquanto, o PSG está em outro nível. E a ida de Mbappé para o Real Madrid parece ter acontecido no pior momento possível — uma das transferências mais mal cronometradas da história recente do futebol.

Sendo bem sinceros, a participação do Inter Miami no Mundial de Clubes foi bastante questionável. O convite pareceu mais uma jogada de marketing, aproveitando o "efeito Messi" para atrair atenção e vender ingressos.

Ainda assim, mesmo sem ter se classificado por mérito esportivo, o clube soube aproveitar a chance de estar no torneio. O time foi eliminado pelo PSG — o que está longe de ser vergonha —, mas só de chegar às oitavas de final já foi um feito importante para o futebol dos Estados Unidos.

Além disso, apesar da goleada sofrida em Orlando, o time de Javier Mascherano voltou mais confiante para a MLS. Desde então, venceu três jogos seguidos, com Messi em grande fase, marcando seis gols nesse período.

Com esse embalo, o Mundial pode ter sido um ponto de virada na temporada do Inter Miami — e talvez até ajude a convencer Messi a renovar seu contrato com o clube.

O Chelsea surpreendeu o PSG em todos os sentidos.

Muita gente esperava que os franceses vencessem com facilidade, como fizeram contra Atlético de Madrid, Inter Miami, Bayern de Munique e Real Madrid. Mas, já no intervalo da final, o sonho do inédito quadruplo de títulos praticamente havia acabado.

O Chelsea dominou o jogo usando exatamente o estilo que o PSG vinha aplicando nos últimos seis meses: marcação intensa e contra-ataques rápidos. Os campeões da Champions League simplesmente não conseguiram reagir. Em certo momento do segundo tempo, a torcida já gritava "Olé" a cada passe dos ingleses, enquanto o PSG corria atrás da bola, sem sucesso.

Pior ainda foi a reação do time após a derrota. João Neves foi expulso por puxar os cabelos de Marc Cucurella, e o técnico Luis Enrique se envolveu em uma briga vergonhosa, que terminou com João Pedro no chão.

A cena foi lamentável e pegou muito mal para o treinador e seus jogadores. Ficou claro que o time não está acostumado a perder — e não soube lidar com isso.

Luis Enrique tentou minimizar dizendo que ser vice não é motivo de vergonha. Mas a verdade é que o PSG saiu da final com a imagem arranhada e se comportando como um mau perdedor.

Cole Palmer teve uma queda de rendimento na segunda metade da última temporada. O meia ofensivo só se destacou mesmo na goleada do Chelsea sobre o Real Betis, pela Liga Conferência. No Mundial de Clubes, também teve atuações discretas na maior parte do torneio.

Mas, nos Estados Unidos, Palmer voltou a mostrar que cresce em jogos grandes. Brilhou na final contra o PSG com dois gols e uma assistência, e mostrou ao mundo sua calma impressionante em momentos decisivos. Com isso, ele chegou a seis participações diretas em gols nas últimas três finais que disputou por clube e seleção.

"De novo. Eu gosto de finais", disse o inglês no seu estilo simples e direto. E, de fato, Palmer parece não se abalar com pressão. Mesmo com o calor intenso em East Rutherford, ele manteve a frieza que lhe rendeu o apelido de "Cold Palmer", finalizando com categoria.

O mais impressionante é que Palmer foi o melhor em campo numa final cheia de estrelas que disputam a Bola de Ouro. Se continuar nesse nível com o Chelsea e a seleção inglesa, será forte candidato ao prêmio em 2026.

Pep Guardiola sempre deixou claro que ganhar o Mundial de Clubes não apagaria a fraca temporada 2024/25 do Manchester City. Mas, ao menos, uma boa campanha poderia trazer algum ânimo para o início do novo ciclo.

O problema é que o time foi eliminado logo nas oitavas de final, em uma derrota constrangedora para o Al Hilal. Isso aumentou as dúvidas sobre a força do novo projeto de Guardiola.

Mesmo com o investimento pesado do City — cerca de 289 milhões de libras (R$ 2,2 bilhões) desde janeiro — o time está longe de parecer um candidato ao título. O Al Hilal também investiu bastante nos últimos anos, mas a diferença de estrutura e elenco entre os dois ainda é grande.

Há até rumores de que Nico Gonzalez, contratado por 50 milhões de libras (R$ 373,3 milhões) na última janela de transferências, pode sair antes mesmo de começar a nova temporada. Isso levanta ainda mais questionamentos sobre a direção que o clube está tomando.

Claro, é normal que reforços levem tempo para se adaptar, e Guardiola continua sendo um dos técnicos mais respeitados do mundo. O City também deve lucrar bem só por ter chegado ao mata-mata do torneio nos Estados Unidos.

Por outro lado, Rodri, peça-chave do time, sofreu uma lesão durante a competição — e o próprio Guardiola reconheceu que o impacto da maratona da temporada passada só será sentido por completo perto do fim do ano.

No fim das contas, o City praticamente não ganhou nada dentro de campo com o Mundial. Mas os efeitos dessa participação ainda podem ser sentidos — para o bem ou para o mal.

Justo quando o torcedor da Inter achava que nada podia piorar, veio o Mundial de Clubes — e o clima em San Siro ficou ainda mais pesado.

No dia 31 de maio, o time já havia sofrido uma dura goleada por 5 a 0 para o PSG na final da Liga dos Campeões. Um mês depois, em 30 de junho, o cenário continuou sombrio: a equipe perdeu por 2 a 0 para o Fluminense nas oitavas de final do Mundial de Clubes.

O grupo ainda tentava digerir a derrota histórica em Munique e a saída do técnico Simone Inzaghi. Para piorar, após a eliminação, Lautaro Martínez e o dirigente Beppe Marotta criticaram publicamente o meio-campista Hakan Calhanoglu, que não participou do jogo. As declarações causaram um racha no elenco e expuseram ainda mais a crise interna do clube.

Já era esperado que a final da Champions marcasse o fim de uma era na Inter. Mas poucos imaginavam que o encerramento desse ciclo seria tão amargo e conturbado.

Durante a fase de grupos do Mundial de Clubes, o atacante do Flamengo, Luiz Araújo, afirmou com orgulho: "Temos grandes times no Brasil que podem enfrentar qualquer equipe do mundo." E ele estava certo. O Brasil teve quatro representantes no torneio — e todos chegaram ao mata-mata.

Flamengo e Botafogo surpreenderam ao vencer Chelsea e PSG na fase de grupos, mesmo sendo eliminados nas oitavas de final.

O Palmeiras foi até as quartas, e o Fluminense chegou à semifinal, sendo eliminado apenas pelo Chelsea — que gastou fortunas em reforços nos últimos anos.

"O futebol europeu tem muito mais dinheiro", admitiu o técnico do Flu, Renato Gaúcho. "Eles conseguem montar times fortíssimos contratando grandes jogadores."

Mesmo assim, ele destacou que o torneio provou a força do futebol brasileiro. Nenhum outro país teve mais clubes ou jogadores nas oitavas.

"O futebol se decide dentro de campo", completou Renato. "E o povo brasileiro pode se orgulhar muito do que nossos clubes fizeram lá dentro."

Ao contrário dos clubes brasileiros, os times argentinos fizeram campanhas muito fracas no Mundial de Clubes.

Foram apenas dois representantes — Boca Juniors e River Plate — e os dois foram eliminados cedo, com atuações decepcionantes. Juntos, somaram só uma vitória: o River venceu o Urawa Red Diamonds por 3 a 1. Já o Boca sequer conseguiu ganhar do Auckland City, que havia levado 10 a 0 do Bayern de Munique.

O problema não foi a distância em relação aos clubes europeus, e sim a diferença para os brasileiros. O Mundial só reforçou o que a Libertadores já vinha mostrando: os principais times da Argentina estão em queda.

Vale lembrar que Boca e River decidiram a final da Libertadores em 2018 e ainda foram vice-campeões em outras ocasiões. Mas as últimas seis edições do torneio foram vencidas por clubes do Brasil — e quatro finais foram totalmente brasileiras.

Um dos desafios é que os clubes argentinos perdem seus jovens talentos cada vez mais cedo. Franco Mastantuono, do River, por exemplo, foi vendido ao Real Madrid com apenas 17 anos. Mas isso também acontece com clubes do Brasil.

O problema maior é que nem mesmo gigantes como o Boca conseguem competir com os times do Brasileirão em estrutura e capacidade de contratar os melhores jogadores da América do Sul.

O saldo final? A Argentina teve algumas das torcidas mais apaixonadas do Mundial — mas também os piores resultados.

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, celebrou a vitória do Al Hilal sobre o Manchester City nas oitavas de final como o começo de uma "NOVA ERA DO FUTEBOL". Pode ter sido um exagero — afinal, o dinheiro do petróleo já vem mudando o cenário do esporte há algum tempo.

Ainda assim, a vitória por 4 a 3 do Al Hilal em Orlando foi muito simbólica. Foi a maior surpresa do torneio e deu mais credibilidade à liga saudita do que qualquer ação de Cristiano Ronaldo nos últimos dois anos.

Jogadores como Sergej Milinkovic-Savic viram o resultado como uma resposta às críticas que receberam por se transferirem para a Arábia Saudita ainda jovens. “Quero ver se vão continuar nos criticando agora”, disse o ex-meio-campista da Lazio.

É claro que ainda há muitas questões sobre essas transferências, e a liga saudita gastou uma fortuna para chegar a esse ponto. Mas, para quem está por trás desse projeto de expansão do futebol no Oriente Médio, a vitória histórica do Al Hilal é um enorme incentivo — porque a repercussão de um feito assim não tem preço.

Nicolas Jackson teve ao menos o mérito de reconhecer o erro. Ele pediu desculpas logo após ser expulso de forma irresponsável contra o Flamengo — apenas quatro minutos depois de entrar em campo. A expulsão pôs fim à sua participação na Premier League deste ano.

"Estou muito bravo comigo mesmo", escreveu ele nas redes sociais. "Sem desculpas. Assumo total responsabilidade. Vou refletir, crescer e voltar mais forte, pelo escudo e por todos que acreditam em mim."

O problema é que, neste momento, talvez ninguém no Chelsea ainda acredite. Jackson virou um peso — e o técnico Enzo Maresca não precisa mais insistir com ele. O clube contratou dois novos centroavantes nesta janela: Liam Delap e João Pedro. Ambos se destacaram nos Estados Unidos, especialmente João Pedro, que marcou três gols em três jogos após chegar do Brighton.

Com isso, Jackson perde espaço no elenco e dificilmente voltará a ser titular. Sua passagem pelo Chelsea pode acabar sendo lembrada principalmente pela expulsão sem sentido na Filadélfia — um lance que resumiu sua falta de controle emocional em momentos decisivos.

O Bayern de Munique deve ter faturado perto de 50 milhões de euros (R$ 322,7 milhões) por participar do Mundial de Clubes, mas o prejuízo foi maior que o ganho. Isso porque Jamal Musiala sofreu uma lesão grave durante o torneio nos Estados Unidos e deve ficar fora dos gramados até 2026.

A entrada que quebrou a perna de Musiala e ainda deslocou seu tornozelo segue gerando polêmica. O goleiro do Bayern, Manuel Neuer, culpou o italiano Donnarumma, do PSG, acusando-o de imprudência.

Musiala, por outro lado, preferiu não apontar culpados. “Acho que situações como essa acontecem. Agora, quero focar em recuperar minha força e positividade”, escreveu o jovem no Instagram.

A atitude madura de Musiala é admirável, mas sua ausência será muito sentida. Ele é o principal jogador do Bayern, e o técnico Vincent Kompany demonstrou irritação ao falar da lesão após a partida contra o PSG.

Kompany sabe o tamanho do problema: substituir Musiala será quase impossível. E o clube já tem dificuldades até para contratar um novo ponta-esquerda.

O Chelsea é o novo "campeão mundial", mas isso não significa que seja o melhor time do mundo. Longe disso. Os Blues terminaram a última edição do Campeonato Inglês em quarto lugar e disputaram a Conference League, enquanto os principais clubes europeus jogavam a Liga dos Campeões.

Ainda assim, é fato que os investimentos milionários do Chelsea — mais de 1,5 bilhão de libras — começam a dar resultado. O jovem elenco montado por Enzo Maresca mostra evolução, e a vitória contundente sobre o PSG, que vinha atropelando adversários, é a maior prova disso.

O Chelsea complicou a vida dos parisienses como nenhum outro clube havia feito. E mostrou intensidade e qualidade suficientes para ser considerado um forte candidato ao título inglês na próxima temporada. Nesse sentido, o Mundial de Clubes foi perfeito para os Blues.

É verdade que a ausência de uma pré-temporada completa pode pesar. Mas a conquista trouxe uma bolada em premiação — os reforços Pedro e Delap praticamente já se pagaram — e, mais importante, aumentou a confiança do grupo.

“Falaram muita besteira sobre a gente durante a temporada, mas estamos no caminho certo”, disse Cole Palmer ao DAZN. “O técnico está construindo algo especial.”

Não dá para negar: em pouco mais de um ano, o Chelsea deixou de ser um time criticado por gastar demais para se tornar campeão mundial.

A Copa do Mundo de Clubes teve qualidade e surpresas — dois ingredientes essenciais para qualquer torneio envolvente. Mas o evento também levantou muitas dúvidas sobre a preparação dos Estados Unidos para sediar, ao lado de Canadá e México, a próxima Copa do Mundo de seleções em 2026.

Um dos principais problemas foi a qualidade dos gramados. Muitos jogadores e técnicos reclamaram. Jude Bellingham, estrela do Real Madrid, disse que os campos "não eram bons". Luis Enrique, técnico do PSG, ficou especialmente incomodado com o gramado do Lumen Field, em Seattle — que será usado no Mundial de 2026.

“Não consigo imaginar uma quadra da NBA cheia de buracos!”, criticou ele após a vitória por 2 a 0 sobre o Seattle Sounders. “A bola quicava como se fosse um coelho.”

Outro desafio foi o clima. As altas temperaturas obrigaram a pausas para hidratação, e o treinador do Chelsea, Enzo Maresca, afirmou que o calor era tão forte que impedia treinos normais. O volante Enzo Fernández chegou a dizer que se sentiu “tonto” durante os jogos.

Além disso, seis partidas foram adiadas por causa de tempestades. Nos Estados Unidos, os jogos são automaticamente interrompidos por segurança sempre que há relâmpagos a menos de 16 km do estádio.

“Para mim, isso não é futebol”, disse Maresca depois que o jogo entre Chelsea e Benfica foi paralisado por 113 minutos. “Entendo que é por segurança, mas se isso acontece em sete ou oito partidas, talvez esse não seja o lugar certo para essa competição.”