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Por que José Mourinho pode ser a escolha ideal para substituir Thomas Tuchel no Bayern de Munique

Dayot Upamecano ter sido expulso logo após cometer pênaltis completamente evitáveis em duas partidas seguidas simboliza muito bem o atual momento do Bayern de Munique.

"Parece um filme de terror sem fim", afirmou Leon Goretzka, meio-campista do time da Bavária, logo após o apito final do que se tornou a terceira derrota em oito dias ao clube.

O revés fora de casa, por 3 a 2, diante do Bochum, que luta contra o rebaixamento na Bundesliga, deste domingo (18) deixou a situação de Thomas Tuchel ainda mais desconfortável, agora a gigantescos oito pontos de distância do Bayer Leverkusen na tabela e com uma iminente decisão contra a Lazio, pelas oitavas da Liga dos Campeões - em um confronto que, inicialmente, parecia bem favorável. Nesta quarta, para completar, foi confirmado que o técnico não seguirá no cargo para a próxima temporada..

Apesar de ter reconhecido os problemas da própria equipe nas derrotas em Leverkusen e Roma, Tuchel afirmou, no pós-jogo contra o Bochum, que "não dá para colocar a culpa nos jogadores. Se jogássemos este jogo de novo, muito provavelmente venceríamos".

Sem querer pisar em ovos aqui, mas ele está totalmente certo. Os 3,5 xG (expected goals)gerados, consequentes de 27 finalizações (dez no gol) e quase 70% da posse de bola, comprovam o volume de jogo dos bávaros. Fazia, entretanto, muito tempo (uns 11 anos) que o Bayern de Munique não se tratava de um time de estatísticas.

Sejamos sinceros, na última década, sempre que o Bayern queria, ele conseguia. A exceção talvez tenha sido no título alemão passado, quando tudo se desenrolou mais pela incompetência do Borussia Dortmund, empatando com o Mainz no Signal Iduna Park lotado, no último dia do nacional, do que qualquer outra coisa. Ainda assim, eles venceram. De novo. Pela 11ª vez.

Mas fato é: este não é o Bayern que estávamos acostumados a ver há tanto.

E com o futuro de Tuchel definido, o crescente interesse em Xabi Alonso e rumores de um possível retorno de Hansi Flick, um outro nome também vem à tona: José Mourinho.

  • THOMAS TUCHEL BAYERN MÜNCHENGetty Images

    Futuro de Tuchel

    Após o revés deste fim de semana - sim, temos, atualmente, que especificar a qual derrota nos referimos -, a situação do alemão encontra-se em maus lençóis. Péssimos lençóis. E o clube bávaro, então, confirmou que o alemão não seguirá no comando da equipe após o fim desta temporada.

    E é inquestionável que os bastidores já são pesados. Ao The Athletic, um executivo do clube recentemente afirmou que o técnico "tira a confiança de todos". Mais, no meio da semana, logo depois do revés para a Lazio, a Sky Sports da Alemanha reportou que Tuchel teria afirmado, no vestiário, que o elenco não era "tão bom quanto pensava" e que teria que "se adaptar ao nível" dos jogadores.

    Tuchel fica, portanto. Pelo menos por ora. Ainda não se sabe se mais problemas com relação a bastidores e/ou resultados podem acabar sendo insustentáveis para a estadia e antecipem sua saída ainda antes do meio do ano. Após o confronto contra o Bochum, Jan-Christian Dreesen, dirigente do clube, foi questionado se Tuchel estaria à beira do campo no próximo jogo. "Naturalmente", respondeu.

    Cheiro, gosto e forma de fim de era.

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  • Thomas Tuchel Xabi AlonsoGetty Images

    Xabi Alonso é, por ora, sonho

    Os colegas europeus noticiam que o Bayern - e praticamente qualquer outro clube atualmente, convenhamos - teria como principal alvo para o comando técnico justamente o homem que os colocou na atual situação. Mas repatriar Xabi Alonso, que, vale lembrar, construiu história na Bavária como meio-campista, tem seus 'poréns'.

    Primeiro e mais óbvio, a concorrência. Não é surpresa nenhuma que o Liverpool também pense com carinho na possibilidade de ter o espanhol à beira do campo em Anfield, já que Jürgen Klopp anunciou que, após quase nove anos, deixará os Reds ao final desta temporada. Essas, claro, seriam as investidas mais óbvias. O Barcelona, por exemplo, também estará buscando um substituto para Xavi no meio do ano - e certamente haverá mais gente interessada. Convencê-lo de que teria bom futuro não será o bastante - é preciso convencê-lo de que prosperaria mais do que em qualquer outro lugar.

    Fora que, mesmo se Tuchel sair agora, não há a menor chance de Alonso abandonar o Leverkusen. Logo, qualquer que seja a definição, alguém precisaria comandar a galera lá em Munique até o final da temporada.

    Ademais, é claro que existe 'profissionalismo' entre os torcedores - ou a maioria deles, ao menos -, mas, se Alonso vencer de fato a Bundesliga, será imediatamente alçado a ídolo do Bayer, apelidado historicamente de 'Neverkusen', 'Vicekusen' e 'Loserkusen'. Juntar-se, porém, depois de fazer história com o Leverkusen, justamente ao atual arquirrival da corrida pelo caneco não é exatamente o futuro que a torcida - ou qualquer um no clube - necessariamente gostaria. Assim, por mais que Alonso também tenha história em Munique, é inegável que seu potencial feito sobre o comando dos Löwen fala muito alto. Talvez até mais alto do que seus feitos como jogador do clube. Mas de novo: escolher eventualmente o time de Munique não seria algo incompreensível e muito menos condenável, muito pelo contrário. Mas será interessante vê-lo ponderando tudo isso.

    Terceiro e não menos importante, há o 'fator Premier League'. Sendo bem sucinto, é a maior liga de futebol do mundo hoje e, naturalmente, é centro de mercado. Financeiramente mais forte. Esportivamente mais atrativa. Um palco mais observado.

    De todo modo, ressalta-se: a escolha não é simples. E cabe apenas a Alonso ponderar todos esses fatores.

  • Hansi Flick 2023Getty

    E Hansi Flick?

    A situação de Flick é um pouco contraditória. Por mais que os motivos em favor da sua vinda sejam simples e claros, os argumentos contra sua recontratação também são, de certa forma, inquestionáveis.

    O alemão chegou ao Bayern na mesma situação que entraria agora - sendo contratado com o bonde andando e com pouco tempo para instaurar verdadeiras mudanças. Ainda assim, foi o responsável pela 'era vitoriosa mais moderna' em Munique, na qual liderou a conquista de respeitáveis seis taças em apenas 86 jogos - a mais importante delas, a Liga dos Campeões de 2020, em cima do Paris Saint-Germain justamente de Tuchel.

    O pé atrás se dá pura e simplesmente pelo histórico recente. Enquanto essa passagem vitoriosa já completa três anos, os meses que se sucederam, no comando da seleção da Alemanha, foram um verdadeiro desastre, protagonizado pela eliminação na fase de grupos da Copa do Mundo no Qatar, em um grupo que continha Japão e Costa Rica.

    Os vários títulos, é verdade, são álibi. Mas o trabalho recente ruim - comandando, aliás, vários jogadores deste Bayern - também fala muito alto.

  • mourinho romaGetty Images

    Antes do 'por que sim': por que não?

    Antes de falar sobre os trunfos de ter Mourinho no banco de reservas, tratemos do que, historicamente, já temos de concreto sobre seus trabalhos.

    Primeiramente, é notório como praticamente todos os seus trabalhos não terminaram bem. Isso aconteceu no Real Madrid, no Chelsea, no Manchester United e no Tottenham - é claro. Como estamos falando de concretude e sabemos que sua demissão da Roma é, até certo ponto, alvo de questionamentos, ela não entrará na lista, assim como sua primeira passagem pelo Chelsea. Não obstante, seus trabalhos no Porto e Inter de Milão não foram foram estendidos por decisão própria do técnico, que havia vencido a Champions nas duas ocasiões. Logo, também estão imunes.

    Ainda assim, virou um padrão a queda de rendimento de seus clubes entre sua segunda e terceira temporada de trabalho. Em sua primeira temporada no Real Madrid, por exemplo, bateu Pep Guardiola na disputa pela Copa do Rei; em sua segunda, bateu o catalão nas corridas pela La Liga e Supercopa da Espanha. No terceiro ano, contudo, o rendimento caiu, terminando a temporada sem taças e com o anúncio que deixaria o comando técnico.

    No Manchester United, por sua vez, o português liderou a equipe à inédita conquista da Europa League, em 2016, mas depois foi protagonista de uma polêmica envolvendo Paul Pogba e líderes do elenco e passou em branco até deixar a equipe.

    No Tottenham, por fim, quando assumiu um time no meio da temporada pela primeira vez na carreira, teve a façanha de levar a equipe à Champions, mas, na temporada seguinte, acabou demitido logo antes da final da Carabao Cup, uma eventual derrota para o Manchester City.

  • Jose Mourinho Roma 2022-23 HIC 16:9Getty

    Justamente o que o Bayern precisa

    Dá para pensar que o Bayern contratá-lo, portanto, não faria o menor sentido. Mas as retas finais dos trabalhos de Mourinho só podem ser consideradas 'abaixo' se as primeira partes foram bem feita. E, como dito, mesmo os inícios de trabalho com final melancólico são muito bons - e normalmente com títulos. Isso sem falar no projeto com a Roma, o qual é discutivelmente o mais consistente de todos esses e, não surpreendentemente, terminou com um título de Conference League - que tornou Mourinho o único até hoje a conquistar as três frentes europeias - e um vice de Europa League.

    E se há uma coisa que o Bayern precisa é de resultados a curto prazo. Os oito pontos de distância para o Leverkusen são gritantes, mas não definem nada - e o torcedor brasileiro sabe bem disso, com base no que foi visto em 2023. E, claro, ainda há a Champions, na qual ainda é até possível colocá-los como favoritos para o confronto de volta, contra a Lazio.

    Não se pode fazer vista grossa aos problemas a longo prazo - mas também é impossível ignorar seu currículo.

  • Mourinho-Man-Utd-2018Getty

    Ultrapassado?

    Existe um 'senso comum' em cima da concepção de que José Mourinho é um técnico 'demasiadamente defensivo' que não faz realmente muito sentido.

    Antes de mais nada, ninguém vence duas Ligas dos Campeões, uma La Liga, três Premier Leagues, duas Europa Leagues e alguns outros variados títulos só se defendendo. É claro que estamos falando de um recorte de 20 anos e é inegável que o Mourinho de 2014 não tem o mesmo status do Mourinho de 2024. Não é exagero nenhum dizer que ele talvez tenha ficado 'parado no tempo', mas isso vai além dos resultados.

    Um dos motivos por isso diz respeito às próprias características de jogo do português. Pep Guardiola, Jürgen Klopp, Roberto De Zerbi, Xabi Alonso e Ange Postecoglou não são cinco dos técnicos mais bem vistos no mundo por acaso. O estilo de jogo baseado na pressão como manobra de defesa (sendo uma das mais famosas o Gengerpressing) ganhou espaço no esporte nos últimos anos e virou tendência. Tendência que, por sua vez, pouco se aplica ao caderno de José Mourinho. O estilo mais pragmático do técnico, que não sente a necessidade de vencer dominando adversários, de fato não acompanha as novas implementações naturais, mas isso tampouco significa que seu estilo de jogo é 'ultrapassado' ou 'defensivo demais'.

    Diego Simeone, técnico do Atlético de Madrid, falou sobre isso, inclusive, recentemente. "Você vê jogos no futebol inglês terminando 4 a 4, 5 a 3, 6 a 2, 5 a 1", reclamou. "São jogos divertidos de assistir, mas ninguém se defende bem". Claro, há certo exagero na colocação. Mas não espanta um pouco que um dos técnicos mais longevos da história (Simeone completará 13 anos de Atleti neste ano) e com vários títulos domésticos e finais de Liga dos Campeões dificilmente seja cogitado para assumir o comando técnico de outros gigantes europeus?

    O pragmatismo não é por si só um modelo de jogo pré-definido, mas uma maneira de formular seu modelo de jogo. E é inegável que, enquanto Real Madrid e Chelsea tenham sido equipes favoritas a conquistas durante as passagens de Mourinho, o mesmo não pode ser dito de Manchester United, Tottenham e Roma - e o Porto, claro, se quiser ir lá atrás.

    Logo, é ilógico assumir que Mourinho 'só se defende' porque quer; ele o faz porque era o que seu pragmatismo indicava com base no material humano que seus últimos clubes lhe ofereciam - recentemente, chegou a dizer que teve "a dificuldade de trabalhar em times onde vencer é um milagre". Além disso, outro ponto característico do técnico sempre foi confiar em 'craques', valorizar atributos individuais às vezes mais do que o conjunto coletivo. E, apesar de Paulo Dybala e Harry Kane - que ficou de fora de grande parte da reta final do trabalho de Mourinho nos Spurs, vale lembrar - terem sido protagonistas durante as passagens do português, não é como se os clubes citados tivessem craques em demasia.

    Mas o Bayern tem. Apesar dos resultados recentes, o time é muito mais coeso defensivamente do que no ano passado e, de quebra, possui um recém-chegado Harry Kane no ataque - com quem Mourinho, inclusive, já trabalhou - quebrando recordes já nos seus primeiros meses de Alemanha. Circunstâncias praticamente inéditas e que podem se encaixar bem com o estilo do português, que poderia, pela primeira vez na carreira, trabalhar em um clube indiscutivelmente franco favorito a tudo que disputa domesticamente e sempre um dos candidatos à Liga dos Campeões.

  • Jose Mourinho Harry KaneGetty Images

    "Entendeu o meu jogo com perfeição"

    Nos debrucemos, então, no futebol de Harry Kane durante a estadia de José Mourinho em Londres - no lado branco de Londres, para ser mais exato.

    O 'Harry Kane 2.0' - aquele que conhecemos hoje - foi desenvolvido, sobretudo, sob o comando do português. Enquanto Pochettino o utilizava como um camisa 9 de referência, liderando o ataque, Mourinho basicamente deixava Kane fazer o que ele quisesse. Concedeu-lhe liberdade para vagar pelo campo, flutuar entre as linhas, pedir a bola no meio de campo, participar ativamente da distribuição de jogo.

    É possível argumentar que, não fosse a vontade de Mourinho em tirar o que Kane tinha de melhor - e não me entenda mal, é claro que todo técnico gostaria de fazê-lo, mas Mourinho sempre teve preponderância em canalizar esforços para construir estrutura ao redor de seus melhores jogadores -, talvez o atacante jamais teria se tornado na ainda arma letal dentro da área que é hoje, é verdade, mas muito mais versátil, capaz de quebrar linhas com um passe vertical, arriscar arremates - marcando gols, em grande parte das vezes - de fora da área... Enfim, participar ativamente do jogo.

    E quem afirmou isso foi, aliás, o próprio Kane.

    “Está sendo muito bom trabalhar com José Mourinho e perceber como é que ele lida com as várias situações e problemas. É uma grande experiência de aprendizagem", disse Kane, à época, em entrevista à Associated Press. "Acho que ele entendeu o meu jogo com perfeição. Percebeu que gosto de voltar para pegar a bola e avisou aos atacantes para irem ao fundo. Assim tenho sempre opções”, concluiu.

    As "situações e problemas" aos quais Kane se refere, claro, relacionam-se à grande discussão à época (e durante toda a sua longa passagem pelos Spurs, para ser justo) de que o elenco do Tottenham não era 'do nível' de Kane.

    Pois bem, se o elenco carecia de qualidade para levar a bola até o seu craque, o jeito era trazer o craque até a bola. Simples, mas eficaz. Pontual, mas revolucionário para a carreira do atacante.

    E em um elenco recheado como é o do Bayern, Mourinho teria ainda mais opções para construir o jogo ao redor de Kane.

  • Jose Mourinho Roma Conference League 2022Getty Images

    'A quem os gigantes se voltam'

    Se bem que, com base nas passagens por Tottenham e Roma, Mourinho de fato tem se tornado não necessariamente em um 'técnico tampão' - até porque são normalmente trabalhos longevos, e não pontuais -, mas um técnico a quem os gigantes da Europa têm se voltado em momentos de necessidade. Foi assim nos Spurs, após a demissão de Mauricio Pochettino, e foi assim em Roma, seguindo a saída de Paulo Fonseca.

    E, já que a questão é o ego do carismático português... Treinar um clube alemão? Check. Conquistar mais alguns prováveis títulos inéditos? Check. Guiar Harry Kane, um dos maiores atacantes da história do futebol, à sua primeira taça? Check. Voltar aos holofotes e disputar novamente a Liga dos Campeões? Check. Não há muito o que dizer para concordar que o português teria todos os motivos do mundo para aceitar um eventual convite, ainda que estivesse sobre a óbvia pressão de tanto favoritismo.

    Mas, sejamos sinceros, Mourinho não tem mais nada a provar. Nada. A ninguém. Campeão de quase todos os grandes títulos possíveis, a passagem pelo Bayern não serviria para consagrá-lo nos livros de história - ele já está lá. Mas poderia, sem dúvida alguma, recolocá-lo no mais alto patamar dos treinadores. Realçá-lo à 'briga de galo' europeia. O tipo de caminho que favorece todos os envolvidos.

    E se nada aqui posto pôde te convencer até agora, eis a cartada final: seria, acima de tudo, divertido para caramba.

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