Jorrel Hato: por que o Chelsea está atrás da nova promessa da base do Ajax

Em 7 de março de 2006, o Chelsea de José Mourinho liderava a Premier League com 15 pontos de vantagem sobre o Manchester United, um Liverpool que contava com Steve Finnan e Jermaine Pennant acabara de eliminar um jovem Lionel Messi e o Barcelona da Champions League, e, mais importante para este perfil, Jorrel Hato nascia em Roterdã.

Apesar de seu talento, Hato de alguma forma escapou do radar do Feyenoord e acabou assinando com o clube secundário da cidade, o Sparta Rotterdam. No entanto, ele não permaneceu lá por muito tempo: em 2018, transferiu-se para a renomada base do Ajax.

A mudança exigiu uma reflexão do jovem lateral, que mais tarde comentou: "Na época, tive que pensar bastante porque estava confortável no Sparta. No Ajax, felizmente, fui muito bem acolhido e pude ser eu mesmo desde o início."

Em 2022, após impressionar nas categorias de base, Hato assinou seu primeiro contrato profissional — um momento que mudou sua vida e o deixou tão ansioso que mal conseguiu dormir na noite anterior.

"Eu sabia que ia assinar o contrato. Minha noite de sono não foi das melhores por causa disso, mas estou muito feliz," revelou.

Hato teve sua oportunidade no time principal no final da temporada 2022/23. Após algumas aparições como substituto no começo da campanha, ele acabou começando os últimos seis jogos do Ajax na Eredivisie. Com a liga já decidida — o Feyenoord de Arne Slot já havia garantido o título — dar espaço ao jovem fazia sentido, mas sua vaga na equipe titular ainda não estava assegurada para a temporada seguinte.

No entanto, um verão europeu agitado em Amsterdã mudou o cenário — afinal, o caos é uma escada. Mohammed Kudus e Edson Álvarez foram vendidos ao West Ham por valores significativos, enquanto 12 novos jogadores chegaram para reforçar o elenco. A movimentação mais impactante para Hato, porém, foi a saída de Jurrien Timber para o Arsenal.

Isso abriu uma vaga no setor defensivo, e Hato fez de tudo durante a pré-temporada para conquistá-la. Quando chegou a abertura da Eredivisie contra o Heracles, lá estava ele, firme no coração da defesa. Todas as dúvidas sobre sua prontidão para se tornar uma peça-chave do Ajax foram dissipadas naquela tarde, com uma atuação sólida. Ele ainda contribuiu com uma assistência — um passe curto para Jakov Medic, que finalizou de longa distância.

Hato rapidamente se tornou peça indispensável para o Ajax em uma temporada extremamente desafiadora para os gigantes holandeses. Em meio a um cenário turbulento na diretoria e a controvérsias sobre as contratações do diretor esportivo Sven Mislintat — que substituiu o problemático Marc Overmars —, o time teve um começo desastroso que o levou à zona de rebaixamento em outubro, custando o emprego ao técnico Maurice Steijn.

No meio de toda essa instabilidade, Hato foi a única constante. Ele chegou a se tornar o capitão mais jovem da história do Ajax quando o técnico interino John van ’t Schip entregou a braçadeira em um confronto da Europa League contra o Brighton, em novembro.

“Ele é especial por ter conseguido se manter firme durante tanto tempo e continuar atingindo um nível tão alto,” afirmou Van ’t Schip aos repórteres.

“Claro, ele ainda é muito jovem, tem muito a aprender, mas se observar o que ele traz — a maneira como defende e joga para frente — é evidente que tem um futuro brilhante pela frente. Não precisamos fazer muito porque ele é um profissional exemplar.”

Reconhecendo o desempenho impressionante de Hato, o técnico da seleção holandesa, Ronald Koeman, o convocou para sua estreia contra Gibraltar, em novembro, elogiando a “ousadia” do defensor após a vitória por 6 a 0 nas eliminatórias para a Eurocopa. A campanha 2023/24, porém, terminou em decepção para Hato, já que o Ajax caiu para o quinto lugar na Eredivisie e ele acabou fora da lista de convocados para a Euro. Ainda assim, o jovem se recuperou da melhor forma na temporada seguinte.

No último ano, Hato contribuiu com oito assistências e gols enquanto o Ajax ressurgia como candidato ao título sob o comando do novo técnico permanente, Francesco Farioli. Os tetracampeões da Champions terminaram em segundo lugar, atrás do PSV, após um colapso inesperado no fim da temporada. Mesmo assim, Hato recebeu o prêmio de Talento do Ano da Eredivisie, uma justa homenagem que reconheceu sua consistência tanto na defesa quanto no ataque pelo time de Francesco Farioli.

A ascensão de Hato na base do Ajax prova que, quando o assunto é formar a próxima geração de estrelas globais, poucos clubes fazem isso tão bem quanto De Godenzonen. O jovem defensor é a personificação do estilo Ajax.

Tecnicamente sublime e com um QI futebolístico muito além da sua idade, Hato é o defensor moderno por excelência. Ele não hesita em romper linhas com seus passes e gosta de avançar para o meio-campo para ajudar na construção do jogo. Isso se reflete em sua precisão de passe de 89% na Eredivisie na última temporada, além de uma média de mais de quatro passes progressivos a cada 90 minutos.

Sua habilidade para conduzir a bola impressiona ainda mais. Com pés ágeis e uma calma admirável sob pressão, ele foi peça fundamental no ressurgimento do Ajax sob o comando de Farioli, que afirmou que o jovem deu “grandes passos” em todos os aspectos do seu jogo.

No aspecto defensivo, Hato também impressiona. Ele lê o jogo com inteligência e possui uma capacidade de recuperação notável graças à sua agilidade. Farioli chegou a descrevê-lo como um “leão” em situações de um contra um, elogiando sua coragem. Contudo, Hato não é um jogador que se precipita para desarmar; ele prefere escolher o momento certo para agir e neutralizar o adversário.

O próprio Hato já identificou uma área para melhorar desde 2022, quando assinou seu primeiro contrato profissional: “Cabeceio defensivo é algo que preciso começar a trabalhar. Muitas vezes acabo cabeceando a bola para o lugar errado.”

Três anos depois, essa continua sendo uma habilidade a ser aprimorada, especialmente se Hato quiser se firmar em algumas das ligas mais físicas da Europa no futuro. Na última temporada, ele venceu 74% dos duelos aéreos na Eredivisie — um aumento significativo de 20% em relação à temporada anterior —, mas ainda não é dominante no jogo aéreo, e atacantes mais robustos podem explorar sua menor força física.

Sua defesa em situações de um contra um também pode ser aprimorada, já que ele depende demais do pé esquerdo mais forte. Além disso, há momentos em que ele é pego fora de posição por seguir o marcador de forma excessivamente próxima, o que expôs o Ajax em contra-ataques.

No entanto, essas são pequenas falhas que a equipe técnica do Chelsea certamente poderá corrigir. À medida que Hato amadurece física e mentalmente, espera-se que suas habilidades de recuperação e tomada de decisão evoluam naturalmente.

Hato parece estar prestes a trilhar o mesmo caminho de Matthijs de Ligt, Jurrien Timber e Lisandro Martínez — todos defensores técnicos que conquistaram transferências milionárias para grandes clubes europeus após brilharem em Amsterdã. As comparações com De Ligt, que também foi capitão do Ajax ainda jovem, são compreensíveis. Contudo, a versatilidade de Hato para atuar em toda a linha defensiva o coloca em uma categoria semelhante à de Timber.

Outra comparação pertinente é com Lucas Hernández. Assim como o defensor francês, Hato tem dividido grande parte de sua carreira ascendente entre funções de zagueiro central e lateral esquerdo. Ambos se destacam pela qualidade no passe, embora Hato ainda tenha um caminho a percorrer para alcançar o nível defensivo do campeão mundial, que brilhou ao longo dos anos por Paris Saint-Germain, Bayern de Munique e Atlético de Madrid.

É uma questão de “quando”, não de “se”, Hato deixará o Ajax em busca de novos desafios — e o Chelsea pode ser o ambiente ideal para ele desbloquear todo o seu potencial. Embora os Blues precisem realizar algumas vendas antes de fazer novas contratações, jogadores como Christopher Nkunku, Renato Veiga e Nicolas Jackson estão despertando grande interesse, o que pode abrir espaço para que Hato se junte à equipe de Enzo Maresca a tempo para o início da próxima temporada.

A versatilidade de Hato será uma arma valiosa para o Chelsea, que busca brigar novamente pelo título da Premier League após o sucesso recente em sua pré-temporada nos Estados Unidos. Ele ofereceria a Maresca mais uma excelente opção para o lado esquerdo da defesa, ao lado de Levi Colwill e Marc Cucurella. Embora o jovem possa precisar de um tempo para se adaptar à intensidade do futebol inglês, a pressão de chegar a um clube tão grande provavelmente não será um problema para ele.

No Ajax, Hato já recebeu responsabilidades crescentes mesmo com pouca idade — e nunca decepcionou. Com seis partidas pela seleção principal da Holanda e uma participação fundamental na campanha da equipe sub-21 até as semifinais da Euro em junho, ele já demonstra maturidade além dos seus anos.

Hato tem contrato com o Ajax por mais três temporadas, mas parece que o momento para abrir suas asas chegou. O clube holandês fez um trabalho excepcional ao moldar o jogador que ele é hoje, e o Chelsea pode ser o lugar que ele precisa para se tornar um dos melhores defensores da Europa.