Eliminação da Copa da Inglaterra foi um vexame, mas Liverpool correu risco necessário para garantir sucesso em Premier League e Champions League

Para começar, Slot tinha todo o direito de esperar que a equipe que escalou contra o Plymouth Argyle saísse vitoriosa. O time titular contava com sete jogadores experientes de seleções, e foram justamente esses atletas que decepcionaram o Liverpool – não os jovens, como Trey Nyoni e James McConnell.

"O goleiro deles fez uma ou duas boas defesas no final", reconheceu Slot posteriormente, "mas mal criamos qualquer coisa." E isso foi absolutamente imperdoável, considerando que os visitantes tinham um trio de ataque formado por Luis Díaz, Diogo Jota e Federico Chiesa – todos eles estiveram irreconhecíveis na partida.

Também é justo dizer que nem Harvey Elliott nem Jarell Quansah aproveitaram a oportunidade para reivindicar mais minutos em campo, com atuações repletas de erros. Além disso, a perda precoce de Joe Gomez por lesão foi extremamente preocupante, já que o Liverpool não conta com muitas opções na zaga.

Como Slot reconheceu, o único ponto positivo foi a luta da equipe até o fim. No entanto, o desempenho geral foi decepcionante, e os Reds não podem reclamar da eliminação na FA Cup para um adversário que atualmente ocupa a lanterna da segunda divisão inglesa – um vexame para o clube e uma grande frustração para aqueles que começavam a se empolgar com mais uma tentativa de conquistar os quatro troféus da temporada.

No entanto, a pressão de competir em quatro frentes na reta final da temporada pesou sobre o Liverpool em duas ocasiões recentes: 2022 e 2024. Em ambas, a equipe acabou frustrantemente falhando em conquistar seus dois principais objetivos – a Premier League e a Champions League. A fadiga mental e física foram fatores determinantes para esses desfechos.

Basta olhar para a última temporada: o ex-técnico do Liverpool, Jurgen Klopp, admitiu que a surpreendente eliminação nas quartas de final da FA Cup para o Manchester United, que vivia um momento difícil, foi a primeira vez que viu seu time "lutando" e perdendo um jogo que realmente deveria ter vencido. Para ele, aquilo parecia uma "catástrofe" da qual a equipe nunca se recuperou de fato.

A eliminação deste domingo (9) foi, sem dúvida, ainda mais inesperada do que aquela derrota em Old Trafford. No entanto, é altamente improvável que tenha o mesmo impacto sobre a equipe. Pelo contrário, pode acabar se tornando uma bênção disfarçada.

O Liverpool deveria ser recompensado com duas semanas livres em fevereiro após garantir vaga direta nas oitavas de final da Champions League ao terminar no topo da fase de liga. No entanto, a equipe terá que disputar um enorme dérbi de Merseyside contra o Everton na quarta-feira (12) – o último da história no Goodison Park –, já que o confronto original, marcado para 7 de dezembro, foi adiado devido às condições meteorológicas adversas causadas pela Tempestade Darragh.

Ainda mais preocupante é o fato de que a classificação do Liverpool para a final da Copa da Liga Inglesa, em 16 de março, resultou na antecipação de sua difícil visita ao Aston Villa para a próxima quarta-feira (19) – apenas quatro dias antes do aguardado duelo contra o Manchester City no Etihad. Três dias após enfrentar o time de Pep Guardiola, os Reds encerram o mês com mais um compromisso complicado na Premier League, contra o Newcastle, que briga por um lugar no G-4, em Anfield.

De repente, fevereiro se tornou um mês repleto de desafios para Slot e sua equipe na disputa pelo título, tornando a decisão de poupar jogadores contra o Plymouth uma escolha óbvia – por duas razões.

Como Slot destacou, o simples fato de tantos reservas do Liverpool terem enfrentado dificuldades contra o Plymouth evidenciou o quanto eles precisavam de minutos em campo.

"Esses jogadores também precisam de ritmo", ressaltou o ex-técnico do Feyenoord. "Para estarem prontos nos próximos meses, precisam de tempo de jogo, e ficou claro hoje que alguns deles realmente necessitam de partidas como esta para estarem preparados para os últimos três meses da temporada."

Slot está absolutamente certo. O elenco do Liverpool é forte, mas será testado ao limite nos próximos meses, e jogadores como Mohamed Salah não podem ser sempre os únicos a fazer a diferença. Outros atletas terão que assumir a responsabilidade em momentos cruciais – e, para isso, precisam estar em plena forma.

Mais importante ainda, o valor de dar um fim de semana de folga a Salah e companhia não pode ser subestimado na reta decisiva da temporada – especialmente a apenas três dias da visita a Goodison Park, partida que o ex-zagueiro dos Reds, Jamie Carragher, corretamente classificou como "o jogo mais importante da temporada" para o Liverpool.

Uma vitória no clássico colocaria os Reds nove pontos à frente do Arsenal na liderança da Premier League – uma vantagem extremamente significativa com 14 rodadas restantes. Slot, portanto, tomou a decisão correta ao garantir que seus titulares estivessem na melhor condição possível para o que promete ser uma verdadeira batalha contra um Everton que, sem dúvida, melhorou desde a chegada de David Moyes para substituir Sean Dyche.

"A maioria das coisas que fazemos, fazemos por uma razão – não tomamos decisões do nada", explicou o técnico do Liverpool. "Já disse antes que temos muitos jogos pela frente. Nas últimas semanas, jogamos duas vezes por semana, e nas próximas, isso continuará acontecendo."

"Portanto, não é apenas importante que os titulares tenham uma semana ocasionalmente com apenas um jogo, mas também para aqueles que estavam aqui [em Plymouth]. Eles precisam da intensidade da partida, porque podemos continuar treinando com eles, mas, de tempos em tempos, eles também precisam jogar. Isso aconteceu contra o PSV [na Champions League]. Infelizmente, perdemos aquele jogo, e aconteceu novamente hoje (domingo, 9), e, infelizmente, também saímos derrotados."

É claro que é lamentável ver os grandes clubes rotacionando tanto nas competições de copas atualmente. No entanto, essa é uma consequência natural da ganância das entidades que governam o futebol, que insistem em apertar mais e mais jogos em um calendário já congestionado – forçando as copas nacionais a fazer concessões, como a eliminação das partidas de desempate.

Podem ser feitos inúmeros argumentos sobre a desvalorização da FA Cup, mas sejamos brutalmente honestos: sua perda de importância começou muito antes da chegada de Slot e remonta ao momento em que a Associação de Futebol (FA) pediu ao então campeão Manchester United que abrisse mão do torneio para disputar o questionável Mundial de Clubes em 2000.

O triste fato é que, embora os torcedores do Liverpool tenham muitas lembranças especiais da competição de clubes mais antiga do mundo, a surpreendente eliminação será rapidamente esquecida se o time de Slot vencer o clássico na quarta-feira – tal é a realidade do futebol moderno.

As mudanças promovidas pelo técnico podem ter custado as chances do Liverpool na FA Cup, mas, inegavelmente, fortaleceram a muito mais importante campanha na Premier League. E, gostem ou não os tradicionalistas, é isso que realmente importa para o clube neste momento.