Desistir de Casemiro foi um erro! Como o brasileiro ressurgiu sob Ruben Amorim na trajetória do Manchester United na Liga Europa

Quando Casemiro se preparava para o segundo jogo contra o Athletic na quinta-feira, ele pode ter refletido sobre os acontecimentos de um ano atrás, quando teve a pior partida de sua carreira europeia na derrota do United por 4 a 0 contra o Crystal Palace em 6 de maio de 2024. Isso não foi de forma alguma o único jogo ruim de Casemiro na última temporada, mas para muitos foi a gota d'água, a confirmação de que ele não era mais capaz de lidar com a intensidade da Premier League.

Foi certamente assim que Jamie Carragher se sentiu. O ex-defensor do Liverpool já era um dos maiores críticos de Casemiro, mas depois de assisti-lo desmoronar em Selhurst Park do estúdio da Sky Sports, ele produziu um dos comentários mais extremos de sua carreira, senão na história dos mais de 30 anos de cobertura da Premier League pela Sky.

"Acho que Casemiro deveria saber ele mesmo esta noite, como um jogador experiente, que ele deveria ter apenas mais três jogos em alto nível e então dizer que vai para a MLS ou Arábia Saudita", disse Carragher. "Seu agente ou a equipe ao seu redor precisa lhe dizer. Estamos assistindo a um dos grandes dos tempos modernos... Mas sempre me lembro de algo quando me aposentei, uma frase que sempre me lembrarei: 'Deixe o futebol antes que o futebol te deixe'.

"O futebol o deixou neste alto nível. Ele precisa encerrar a carreira neste nível de futebol e mudar. Ele não deveria se submeter a isso. Um homem desse nível não deveria passar pelo que está passando agora, ele precisa encerrar a carreira."

A crítica verbal de Carragher a Casemiro foi condenada pelos ex-jogadores do United Louis Saha e Rio Ferdinand, mas os dois técnicos do meio-campista pareciam concordar com a avaliação. Erik ten Hag deixou o meio-campista de fora da final da Copa da Inglaterra contra o Manchester City, e a decisão trouxe resultados, já que o United conseguiu uma vitória surpreendente. O então técnico da seleção brasileira, Dorival Junior, também optou por deixar Casemiro fora de sua equipe para a Copa América de 2024.

Casemiro se defendeu apontando para as lesões que sofreu naquela temporada e chamou os comentários de Carragher de "desrespeitosos". Ele também apontou com razão que o United havia sofrido uma quantidade inumerável de lesões e que ele foi forçado a jogar fora de posição como zagueiro central naquele infame jogo contra o Palace.

Quando a temporada 2024/25 começou, houve alguns sinais de melhora à medida que ele jogava em uma posição avançada, embora as coisas logo desandassem novamente quando Casemiro mais uma vez se complicou em campo, desta vez na derrota por 3 a 0 em casa para o Liverpool, durante a qual foi retirado no intervalo e substituído pelo estreante Toby Collyer.

Ele foi deixado de fora da escalação nos quatro jogos seguintes do United na liga, embora tenha começado os dois últimos jogos de Ten Hag. O técnico interino Ruud van Nistelrooy também o escalou nos quatro jogos sob seu comando, mas quando Ruben Amorim assumiu, Casemiro voltou ao banco, e sua carreira no United parecia estar chegando ao fim.

Casemiro começou apenas um dos 14 jogos do United entre meados de dezembro e o início de fevereiro. Ele jogou 136 minutos de um potencial de 1290 e foi um substituto não utilizado em nove partidas.

Quando perguntado sobre a longa ausência de Casemiro, Amorim deu uma resposta típica, mas mordaz, dizendo ao TNT Sports Mexico: "Sabemos que o Casemiro hoje em dia tem outras qualidades. Ele é inteligente, entende o jogo e sabe onde a bola vai estar. Mas estamos em uma liga onde há uma grande diferença de intensidade. Portanto, sinto que nossa equipe precisa de jogadores com alta intensidade e às vezes não os temos."

Algumas semanas depois, Casemiro deu sua entrevista ao AS, mas evitou criticar seu treinador. “Tenho que continuar fazendo o que estou fazendo, com muito respeito e educação", disse. "Claro que gostaria de jogar mais, claro. Não conheço nenhum jogador de futebol que não queira jogar e ajudar. Além disso, gostaria de ajudar o clube neste momento. Eu abordo as coisas com respeito pelos meus colegas de equipe e pela comissão técnica. E acima de tudo, respeito o United, um clube ao qual sou muito grato."

"Tenho mais um ano e meio de contrato e gostaria de terminá-lo aqui em Manchester. Estou confortável aqui e minha família também está. Eles se adaptaram, falamos inglês. Sou muito grato aos torcedores em Old Trafford e ao clube. Estou feliz a nível de clube. Feliz no banco? Claro que não. Isso é outra coisa."

Casemiro não está mais no banco, no entanto. Ele havia começado nove dos últimos 10 jogos do United antes de ganhar um merecido descanso na derrota de domingo em Brentford. Mostrou que ainda pode entregar contra as melhores equipes da Premier League, jogando de forma soberba nos empates em casa contra o Manchester City e o Arsenal, mas é na Liga Europa onde ele brilhou mais. Ele esteve envolvido em três dos gols do United na louca reviravolta na prorrogação contra o Lyon, incluindo sofrer o pênalti que deu início à reação antes de dar assistências a Kobbie Mainoo e Harry Maguire.

Ele foi então o destaque em Bilbao. Enquanto Bruno Fernandes e Maguire chamaram a maior parte da atenção, o primeiro pelos seus dois gols e o segundo pelo seu drible sensacional e cruzamento que levaram ao gol de abertura, Casemiro foi o jogador mais consistente durante os 90 minutos.

Foi ele quem cabeceou o primeiro gol após a complicada jogada de Maguire pela ala e quem liderou a atuação europeia fora de casa mais madura do United em mais de uma década. Casemiro correu 10,55 quilômetros durante o jogo, mais do que qualquer outro jogador do United. Comandou o meio-campo, apagou incêndios na defesa e foi uma presença constante no último terço do campo. Nas palavras de Maguire: "Ele estava em toda parte." Na volta contra o Bilbao, fez seu gol na goleada por 4 a 1 que confirmou a vaga na final da Liga Europa.

A ressurreição de Casemiro mostra o perigo de descartar vencedores natos, como fez Carragher, ao mesmo tempo que destaca a flexibilidade tática de Amorim. O técnico do United normalmente quer que ambos os meio-campistas em sua formação 3-4-2-1 trabalhem arduamente como fizeram por ele no Sporting e pressionem alto no campo, mas ele fez algo diferente com Casemiro, permitindo que o brasileiro recuasse mais e atuasse como um terceiro zagueiro, enquanto posiciona seus alas mais avançados.

O técnico explicou: "Entendemos que ele não pode sair [do meio-campo] o tempo todo e pressionar alto. Precisávamos entendê-lo melhor, e às vezes é melhor colocar três defensores e deixá-lo ser o quarto defensor e colocar os alas pressionando alto."

Mas Amorim também enfatizou que a ressurreição de Casemiro se deveu realmente ao jogador, acrescentando: "Essas são todas as coisas que estamos entendendo e tentando lidar, mas o crédito é de Casemiro."

Casemiro sempre foi conhecido por seu lado combativo em campo, mas sempre usou o cérebro. De origens humildes, ele disse uma vez que lutava pela bola como se fosse um prato de comida. Mas seu cérebro era igualmente útil, como quando mentiu para os olheiros do São Paulo ao tentar entrar no time como adolescente.

Ele disse que era um volante, mesmo sendo atacante, pois isso significaria que teria menos jogadores para competir e teria uma chance maior de ser selecionado. O plano funcionou e ele se moldou como um dos melhores da posição no mundo.

Casemiro disse ao The Guardian em 2020: "Gosto de pensar. Não são as pernas, é a mente que manda. Você tem que ser forte, agressivo: eu gosto de desafios, de contato. Mas você joga com a cabeça; sempre pensei que a chave era pensar: estar melhor posicionado, ver o movimento antes que aconteça".

O esforço também foi um grande fator no sucesso de Casemiro. Por exemplo, ele cancelou uma viagem familiar à Disney em 2019 para voltar ao treino do Real Madrid mais cedo, após ver seu time perder por 7 a 3 para o Atlético de Madrid em um amistoso de pré-temporada.

A recuperação de Casemiro no United se deve ao trabalho árduo e à inteligência, duas qualidades que ele sempre teve em abundância e que o serviram bem à medida que suas capacidades físicas começaram a diminuir. Carragher foi rápido em apontar que as "pernas do brasileiro se foram", e mesmo que isso fosse um exagero, estava fundamentado em fato.

Mas ele estava errado ao dizer que o 'futebol o havia deixado'. Mesmo no mais alto nível, o futebol é mais do que puro atletismo. É sobre inteligência posicional e, acima de tudo, mentalidade. Ao se recuperar da tentativa de assassinato de carreira por parte de Carragher, Casemiro demonstrou que tem uma força mental incrível.

Como Manuel Ugarte colocou antes do primeiro jogo em Bilbao: "Estou aprendendo muito com Case. Tento copiar o máximo que posso, todas as coisas boas que ele tem como jogador. E não só dentro do campo, mas fora do campo também. Essas são coisas que fazem você vencer, porque ele é um vencedor".

Não há como argumentar contra isso, e Casemiro está novamente no caminho das vitórias, mesmo quando todos pensavam que seus dias no topo estavam contados.