Cuidado, PSG! Como Gabriel Martinelli enfim vive seu auge no Arsenal e sonha com a Champions League

De fato, se o Arsenal pretende contrariar a lógica e vencer o PSG para alcançar sua primeira final de Liga dos Campeões desde 2006, Martinelli pode ser a chave. Afinal, ele foi quem atormentou o Real Madrid no Santiago Bernabéu no segundo jogo das quartas de final do Arsenal, confundindo Lucas Vazquez antes de eventualmente garantir a vitória por 2 a 1 com uma ataque veloz impressionante e finalização nos acréscimos.

Foi a mesma versão de Martinelli que deixou Klopp maravilhado há quase seis anos. Incrivelmente, porém, esse foi apenas seu segundo gol na Liga dos Campeões nesta temporada, e seu primeiro em qualquer competição desde o empate de 2 a 2 do Arsenal com o Aston Villa na Premier League em 18 de janeiro.

Isso se deve em parte a uma lesão no tendão que o deixou de fora por um mês, e pelo fato de que ele teve que substituir regularmente Bukayo Saka na ala direita enquanto seu companheiro de equipe estava lesionado. Mas o principal motivo foi simplesmente a confiança abalada.

Não houve mudança no esforço de Martinelli, apenas parecia que faltava um brilho, como foi o caso quando ele enfrentou uma seca de gols de 17 jogos entre março e setembro do ano passado. O brasileiro finalmente o redescobriu em Madri, e os torcedores do Arsenal esperam que aquela noite prove ser um ponto de virada em sua carreira.

"Não posso dizer que é minha melhor temporada pelo Arsenal. [Mas] estou muito feliz. Acho que é a maior noite da minha carreira porque marcar no Bernabéu é incrível e estou muito feliz com a performance da equipe e com o gol também", disse o brasileiro ao iPaper ao retornar ao norte de Londres.

Arteta resistiu à tentação de descansar Martinelli para a viagem do Arsenal a Ipswich na Premier League no domingo, apesar de ser um jogo relativamente sem importância, dado que o Liverpool já praticamente garantiu o título. Isso sugere que o espanhol sabe muito bem quão importante é para Martinelli ganhar impulso, e a decisão valeu a pena, pois os Gunners conseguiram uma vitória por 4 a 0 em Portman Road.

Martinelli foi uma ameaça constante enquanto obrigava Axel Tuanzebe a recuar toda vez que pegava a bola, muitas vezes indo para a linha de fundo em vez de cortar para trás em busca do passe fácil. Não foi uma atuação no mesmo nível da que fez no Bernabéu, com o brasileiro sendo substituído por Raheem Sterling nos últimos 20 minutos, mas ele estava novamente com confiança e estufou as redes pelo segundo jogo consecutivo.

Pouco antes dos 30 minutos de jogo, Martinelli finalizou com confiança de primeira para coroar uma bela jogada coletiva e colocar o Arsenal em vantagem por 2 a 0, após ser habilmente servido por Mikel Merino. Ele se esforçou para chegar ao segundo poste à frente do marcador e não cometeu erro à queima-roupa, tornando-se o quarto jogador mais jovem a alcançar 50 gols pelos Gunners (depois de Saka, Cesc Fabregas e Theo Walcott).

Agora de volta à sua posição habitual e totalmente em forma, Martinelli está começando a atingir o auge no momento perfeito. Pode ser tarde demais para salvar a última tentativa do Arsenal pela glória doméstica, mas ele está em ótima forma para liderar as ambições europeias da equipe.

Arteta está certamente satisfeito com a volta por cima de Martinelli, como deixou claro em sua coletiva de imprensa pós-jogo: "Acho que ele está em muito boa forma no momento, cheio de confiança, parece realmente afiado e está chegando em situações muito perigosas com um timing muito bom, o que é bom de ver."

De fato, o Arsenal não precisa apenas que Martinelli crie gols no momento, ele também tem que assumir grande parte da responsabilidade de marcar na ausência de um centroavante natural, com Kai Havertz e Gabriel Jesus ainda no departamento médico. Os últimos dois jogos sugerem que ele pode estar à altura do desafio.

Martinelli voltou a pressionar a defesa e procurar a rota mais direta para o gol, o que inicialmente fez dele um favorito dos torcedores. Ele provou que é capaz de atingir grandes números há duas temporadas, registrando 21 participações em gols em todas as competições, e apesar de todos os seus recentes desafios, Martinelli agora está apenas a seis de distância desse total para a campanha atual.

Arteta está sendo recompensado por manter a fé no atacante enquanto outros foram rápidos em descartá-lo. Mas não se engane: o verdadeiro teste de sua determinação virá quando o Arsenal receber o PSG no Emirates em 29 de abril.

Vencer os campeões da Liga dos Campeões por 5 a 1 no agregado é uma conquista impressionante, mas o Arsenal simplesmente explorou as fraquezas de um time desarticulado do Real Madrid que vinha se encaminhando para uma queda há algum tempo.

O PSG representará um desafio muito mais rígido. Desde que viu Kylian Mbappé partir para Madri, os campeões franceses evoluíram para a equipe mais completa do continente sob o comando de Luis Enrique, combinando um talento surpreendente com um trabalho árduo implacável em todas as áreas do campo.

Liderados por Ousmane Dembele, Khvicha Kvaratskhelia e Desire Doue, os franceses têm o poder de fogo para derrotar todos os adversários, como o Aston Villa descobriu com desgosto na fase anterior. Mas o Arsenal pode ter sucesso onde o time de Unai Emery falhou.

Os Gunners ainda parecem sólidos na defesa, apesar de terem perdido Gabriel Magalhaes por lesão, e Arteta terá um plano para conter a linha de frente temível do PSG. Enquanto isso, na outra extremidade do campo, o Arsenal pode causar ao PSG tantos problemas quanto o Villa fez, se não mais, com Martinelli agora aparentemente se aproximando de seu melhor nível novamente.

Superar nomes como Dembele e Kvaratskhelia também projetaria Martinelli a novas alturas em sua carreira. Esta é a sua oportunidade de entrar na elite do futebol, e o brasileiro tem que agarrá-la com as duas mãos, caso contrário, corre o risco de enfrentar mais especulações desconfortáveis sobre seu futuro após mais uma temporada sem troféus para o Arsenal.

Se Martinelli não conseguir terminar a temporada em grande estilo, ele poderá - no mínimo - perder seu lugar de titular sob o comando de Arteta na próxima temporada. Isso porque Arsenal ainda mantém interesse no alvo de longa data Nico Williams, que teve mais um bom ano com o Athletic de Bilbao.

Com 22 anos, Williams já é um atacante experiente com perícia para passes decisivos. Sua criatividade ajudou a Espanha a desmontar todos os seus oponentes jogando com uma defesa baixa na Eurocopa 2024, que é como a maioria dos times se configura contra o Arsenal.

Em contraste, Martinelli tipicamente precisa de espaço e tempo com a bola para prosperar. Williams também construiu uma forte relação com Marc Cucurella a nível internacional que faz uma grande diferença contra defesas compactas, mas Martinelli ainda não estabeleceu laços semelhantes com seus companheiros de equipe no Arsenal ou na seleção brasileira. Essa é uma das razões pelas quais Saka o superou como o talismã ofensivo do Arsenal. Em áreas mais apertadas, Saka procura se ligar com Odegaard e Ben White para superar as linhas adversárias.

O Arsenal não tem sido tão ameaçador pela esquerda porque Martinelli tem sido muito fácil de marcar. Para se tornar intocável como Saka novamente, Martinelli precisa mostrar que pode ser igualmente adaptável em jogos onde as margens são mais estreitas.

O destino de Martinelli ainda está muito em suas mãos, e ele possui a força mental para não apenas reafirmar sua importância para o Arsenal, mas também corresponder às expectativas de Klopp como um astro geracional. Nada jamais foi dado de bandeja a Martinelli; ele teve quatro testes no Manchester United quando jovem, mas segundo ele próprio, "nunca houve um momento em que eles quiseram me contratar".

Decepções dessa magnitude frequentemente consomem jovens promissores, mas Martinelli só tirou aspectos positivos da experiência, o que acabou levando ao seu grande momento no Arsenal. "Isso me deu um gostinho e tornou a adaptação um pouco mais fácil porque eu já havia experimentado o futebol na Inglaterra", acrescentou ao The Athletic. "Mesmo depois desses testes, eu sempre acreditei em mim mesmo. Minha mente está sempre pensando: 'Eu consigo fazer isso'."

Essa crença está novamente correndo pelas veias de Martinelli enquanto o Arsenal está a apenas três jogos da imortalidade. Os Gunners não possuem a profundidade de elenco do PSG, nem dos potenciais adversários da final da Liga dos Campeões, Inter e Barcelona, mas se Martinelli repetir suas façanhas no Bernabéu, o troféu pode muito bem ficar no Emirates no final de maio.