Cristhian Mosquera: por que o Arsenal quer o defensor do Valencia que quase virou jogador de basquete

Nascido em Alicante, na Espanha, de pais colombianos, Cristhian Mosquera cresceu em uma família apaixonada por futebol. No entanto, segundo o jornal Super Deporte, seu primeiro amor foi o basquete. Ele preferia assistir aos jogos da NBA na televisão em vez das partidas da La Liga e, graças à sua estatura imponente, se destacou jogando basquete em sua cidade natal.

Tudo mudou quando seu tio ligou perguntando se ele poderia completar o time de futsal de seu primo, o San Blas Canavate, que estava com jogadores insuficientes. A partir daí, Mosquera rapidamente fez a transição para o futebol de campo, se destacando como ponta, impulsionado por suas passadas largas e impressionante capacidade física.

Após passagens por clubes como SCD Carolinas e Hércules, Mosquera chamou a atenção do Valencia, que viu nele um talento promissor — mas mais adequado para a defesa. O clube o integrou às suas categorias de base em 2016, quando ele tinha apenas 12 anos. Cinco anos depois, estreava pelos reservas e, em janeiro de 2022, fazia sua primeira aparição no time principal sob o comando de José Bordalás.

Mosquera foi titular em uma vitória por 1 a 0 sobre o CD Atlético Baleares, pela Copa do Rei, tornando-se o zagueiro mais jovem a atuar pelo time principal do Valencia, com 17 anos, seis meses e 23 dias. Bordalás elogiou sua atuação com entusiasmo: “Muito bom. Foi o melhor jogador da equipe, sem dúvida.”

Com o tempo, Mosquera viria a se consolidar como um dos principais nomes do elenco, embora inicialmente tenha precisado esperar com paciência por oportunidades — especialmente após a saída de Bordalás ao fim da temporada 2021/22.

A lenda italiana Gennaro Gattuso foi chamada para substituir José Bordalás no comando do Valencia, mas simplesmente não ofereceu a Cristhian Mosquera a chance de evoluir. Durante os sete meses em que esteve à frente da equipe, o ex-volante do Milan deu apenas três oportunidades ao jovem defensor na La Liga — e não há dúvidas de que Mosquera ficou aliviado com sua demissão, em janeiro de 2023, após o time cair para a 14ª colocação na tabela.

As coisas também não melhoraram de imediato com a chegada do sucessor, Rubén Baraja. Mosquera foi inicialmente relegado aos reservas. No entanto, tudo mudou com o infortúnio de um companheiro. Gabriel Paulista, então zagueiro titular, perdeu o início da temporada 2023/24 por lesão, e Baraja confiou a Mosquera a missão de substituí-lo. Foi o impulso que o jovem precisava: ele respondeu à altura e acumulou 3.075 minutos em campo pela La Liga — o maior número para um adolescente desde que Thibaut Courtois jogou 3.261 minutos pelo Atlético de Madrid em 2011/12. Sua contribuição foi fundamental para que o Valencia terminasse a temporada em 9º lugar, uma melhora considerável em relação ao 16º da campanha anterior.

O domínio de Mosquera na defesa foi reforçado por números impressionantes: ele ficou no percentil 95 da La Liga em duelos vencidos. O impacto foi tão significativo que o clube liberou Gabriel Paulista para o Atlético de Madrid em uma transferência gratuita no meio da temporada. Com o bom desempenho, surgiram rumores de uma possível saída do zagueiro, mas ele fez questão de afastá-los em entrevista ao portal Relevo, em março de 2024 — não sem alfinetar Gattuso.

“Foi uma bagunça no ano passado! Uma mudança radical de um ano para o outro. Eu não conseguia ter continuidade em campo há tempos e, neste ano, recebi as oportunidades — graças a Deus e à confiança que Rubén Baraja está me dando no Valencia”, disse Mosquera. “Não vou mentir, foi mentalmente difícil, mas era questão de ter paciência e não desanimar. Eu sabia que meu momento chegaria… Estou muito focado no Valencia e ignorando os rumores. Estou feliz.”

Após uma temporada de destaque com o Valencia, Cristhian Mosquera foi convocado para representar a Espanha nos Jogos Olímpicos de Paris. Embora tenha atuado apenas uma vez durante o torneio, ele voltou ao clube com uma medalha de ouro no pescoço. No entanto, a alegria pela conquista rapidamente deu lugar à frustração.

Apesar de Mosquera manter um nível individual elevado, o Valencia teve um início desastroso na temporada 2024/25. O time venceu apenas duas vezes nos primeiros 17 jogos e caiu para a zona de rebaixamento. O técnico Rubén Baraja acabou demitido, e Carlos Corberán — ex-West Brom e Olympiacos — foi chamado para tentar salvar o clube.

Corberán mudou o esquema tático de Baraja, trocando o 4-2-3-1 por um 3-4-2-1 mais seguro defensivamente. A mudança surtiu efeito imediato: o Valencia sofreu apenas 25 gols nos 14 primeiros jogos sob seu comando, e Mosquera teve atuações de alto nível — tanto com quanto sem a bola. Corberán também incentivou a saída de jogo desde a defesa, e Mosquera brilhou nesse papel.

O time encerrou a temporada com nove partidas invicto e garantiu uma improvável 12ª colocação — um feito considerável, considerando o cenário de risco vivido no fim do ano. Mosquera ainda marcou seu primeiro gol pelo time principal em uma vitória por 2 a 0 sobre o Leganés no Mestalla.

O bom momento rendeu mais uma convocação: desta vez, para a seleção espanhola sub-21, comandada por Santi Denia, ao lado de seu parceiro de zaga César Tárrega. A campanha terminou com uma eliminação decepcionante nas quartas de final diante da futura campeã Inglaterra, mas Mosquera foi amplamente elogiado pelas atuações sólidas.

O técnico da seleção principal, Luis de la Fuente, confirmou que o zagueiro optou por defender a Espanha, mesmo sendo elegível pela Colômbia. Agora, o foco de Mosquera está em conquistar uma vaga na lista para a Copa do Mundo de 2026, que será disputada na América do Norte.

O ex-treinador das categorias de base do Valencia, Miguel Ángel Angulo, descreveu Mosquera como “fisicamente dominante, tecnicamente sólido e notavelmente maduro para sua idade” — uma avaliação que se mostra bastante precisa. Além dessas qualidades, o jovem defensor impressiona com sua velocidade de recuperação e com um QI futebolístico elevado, sobretudo no que diz respeito ao posicionamento em campo.

Esses atributos fazem com que Mosquera raramente seja superado em situações de um contra um. No entanto, é a sua qualidade com a bola nos pés que realmente o diferencia dos demais zagueiros de sua geração. Ele tem facilidade em sair jogando da defesa conduzindo a bola e realizando passes incisivos, algo que executa com precisão usando ambos os pés.

Por essas características, é fácil imaginá-lo se encaixando com naturalidade no estilo de jogo de Mikel Arteta no Arsenal. Além disso, seu porte físico e inteligência tática indicam que ele não deve encontrar dificuldades para se adaptar à intensidade da Premier League.

Mosquera ainda está longe de ser um jogador completo. A jovem promessa do Valencia é, surpreendentemente, pouco eficaz no jogo aéreo — apesar de seus 1,88 m, ele não consegue usar bem sua altura e frequentemente é superado por adversários em disputas pelo alto.

Além disso, suas investidas ofensivas às vezes deixam o Valencia vulnerável ao contra-ataque. Ele precisa tomar decisões mais acertadas sobre quando soltar a bola e quando mantê-la, para evitar perdas de posse desnecessárias. Seu primeiro toque também pode ser impreciso, especialmente pelo lado esquerdo, onde demonstra menor controle. É evidente que Mosquera hesita mais nas disputas com o pé esquerdo, o que pode ser um ponto de atenção para o Arsenal, caso o clube deseje que ele dispute posição com Gabriel.

Mosquera é, na verdade, bastante semelhante tanto a Gabriel quanto a Saliba. Assim como Gabriel, ele prefere proteger o espaço em vez de avançar precipitadamente — uma abordagem que funcionou bem para ele na La Liga, onde alcançou uma taxa de sucesso de 72,6% em “tackles verdadeiros” na última temporada, segundo o The Athletic. Já a maneira como Mosquera se posiciona, especialmente ao tentar romper linhas, lembra bastante Saliba.

No entanto, ele tem ainda mais em comum com o zagueiro equatoriano que brilhou ao conquistar a Tríplice Coroa em sua primeira temporada completa pelo Paris Saint-Germain: o imperturbável Willian Pacho. O ex-estrela do Eintracht Frankfurt tem sido uma verdadeira muralha na defesa do PSG, e sua calma é determinante na construção das jogadas da equipe. Mosquera ainda não atingiu o mesmo nível em termos de tomada de decisão e execução, mas já demonstra as mesmas qualidades notáveis de recuperação, antecipação e a audácia necessária para assumir o controle das partidas.

“O que eu entendo é que o jogador quer ir para o Arsenal, e ele enxerga o clube como a oportunidade perfeita para sua carreira”, revelou Fabrizio Romano no podcast Here We Go na semana passada. “É claro que ele terá que competir com Gabriel e Saliba, mas o que estou ouvindo é que Mosquera não tem medo disso. Ele sabe que esses dois zagueiros são provavelmente os melhores do mundo, mas quer estar ali.

“Ele também sabe que o Arsenal terá muitos jogos e que, com Arteta, os jogadores jovens evoluem muito bem. Por isso, Mosquera disse sim ao Arsenal.”

Essa confiança é um bom sinal para as chances de Mosquera causar impacto imediato no Emirates. O jovem espanhol também foi fortemente ligado ao RB Leipzig, onde teria a garantia de um lugar como titular, mas está claro que ele tem ambições maiores.

Outro ponto a favor é a versatilidade de Mosquera, que pode atuar em ambos os lados da defesa e até como lateral direito, se necessário. Com Takehiro Tomiyasu ainda afastado por uma lesão prolongada, Mosquera pode inicialmente ser usado nessa posição, mas Arteta certamente testará com quem ele se encaixa melhor no centro, Gabriel ou Saliba.

De qualquer forma, a defesa do Arsenal estará completa se conseguirem fechar o acordo com o Valencia, que não deve dificultar a negociação. Chegou a hora de Mosquera se provar no palco da elite.