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Crazy Transfers Julien Faubert Real Madrid GFXGOAL

Contratações malucas do futebol: Julien Faubert foi o reforço mais bizarro do Real Madrid?

Uma temporada para se esquecer do Real Madrid. Apesar de ter um elenco cheio de estrelas, a campanha de 2008/09 foi um total fracasso, com a equipe terminando bem atrás do Barcelona e deixando escapar o título de La Liga, além de ser eliminada da Liga dos Campeões e da Copa do Rei de forma constrangedora e bem precoce.

No entanto, havia algo naquela temporada diabólica que lhe confere um lugar especial nos livros de história do futebol, pois envolveu uma das transferências mais desconcertantes de todos os tempos.

Quando os reis da Europa ligaram para assinar com Julien Faubert, um lateral direito comum do West Ham, tanto seu agente quanto o próprio jogador suspeitaram que estavam no meio de alguma pegadinha bizarra. Imagine, então, as reações dos torcedores ao redor do continente quando o ex-jogador da França foi apresentado como uma nova contratação ao Santiago Bernabéu.

O que se seguiu não foi uma simples contratação fracassada. Foi um fiasco que gerou mistério e humor, que incluiu histórias bizarras no banco de reservas, trazendo algo memorável para uma temporada vazia em Madrid.

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  • Real Madrid v Real Valladolid - La LigaGetty Images Sport

    Real Madrid naquela temporada

    O Real Madrid montou uma equipe bem forte para a temporada 2008/09, com nomes como Sergio Ramos, Pepe, Fabio Cannavaro, Raul, Ruud van Nistelrooy, Iker Casillas, Marcelo, Arjen Robben, Gonzalo Higuain, Wesley Sneijder, Guti, Gabriel Heinze e Javier Saviola no elenco.

    A pressão, então, estava sobre o técnico Bernd Schuster para melhorar os resultados da temporada anterior, já que, apesar de terem conquistado o Campeonato Espanhol, a eliminação nas oitavas de final da Liga dos Campeões não foi bem recebida pela diretoria e pelos torcedores do clube, e muito mais era esperado dessa vez.

    No início de dezembro, no entanto, a temporada do Real já estava quase arruinada. A equipe ocupava o quinto lugar na tabela após perder por 4 a 3 do Sevilla, e, tendo um El Clássico logo em seguida, eles não podiam correr o risco de deixar a degradação continuar. Por isso, demitiram Schuster e trouxeram Juande Ramos.

    Ele conseguiu reverter a situação – mas só após perder por 2-0 para o Barça – e ficou claro que o elenco precisava de mais reforços em janeiro. Assim, o clube foi ao mercado de transferências, contratando Klaas-Jan Huntelaar do Ajax e Lassana Diarra do Portsmouth.

    Isso, aparentemente, não foi suficiente, pois os dirigentes decidiram fazer mais uma contratação no último dia da janela de transferências – trazendo Faubert, do West Ham. O francês chegou por um empréstimo com a opção de assinar um contrato de três anos na janela seguinte.

    Foi uma transferência intrigante, sem dúvida, mas uma oportunidade para o lateral direito provar seu valor e conquistar um salto tremendo para o maior clube do planeta. Então, aproveitou a oportunidade e... será que fez valer a pena? Bem, há uma razão para essa não ser a história de "Julien Faubert, uma lenda do Real Madrid".

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  • Julien Faubert West Ham 2009Getty Images

    "Não tinha tempo para essa bobagem"

    Faubert já não era um fenômeno no West Ham. Após ter dificuldades com lesões em sua primeira temporada na equipe, seguia sem se destacar na segunda. Até iniciou 15 dos 23 jogos da Premier League na primeira metade de uma campanha bem irregular sob o comando de Alan Curbishley, que mais tarde foi substituído por Gianfranco Zola. Portanto, é fácil entender por que seu próprio agente ficou confuso quando os espanhóis entraram em contato.

    Yvan Le Mee, posteriormente, contou a história: “Eu liguei para um amigo na Espanha. Disse: ‘Olha, alguém do Real Madrid me ligou sobre o Faubert. É tão estranho.’ Ele ligou para o diretor esportivo para checar e me retornou a ligação. ‘Yvan, é verdade. Eles querem te ver às 7 da manhã de amanhã no aeroporto de Heathrow.’”

    Até Faubert estava incrédulo. "Estávamos no ônibus da equipe a caminho de Upton Park para jogar contra o Fulham", comentou ele anos depois. "Recebi uma ligação de um francês do Real Madrid e ele me falou: ‘Oi, trabalho para o Real Madrid e precisamos falar com você.’ Eu disse que tinha um jogo importante para preparar e não tinha tempo para essa bobagem. Desliguei o telefone, jogamos a partida e depois do jogo eu liguei o telefone e vi cerca de 30 mensagens de texto e 50 mensagens de voz. Foi aí que eu soube que era sério."

    "Então eu liguei para o meu agente e ele declarou que precisávamos falar com o Real Madrid porque estavam em um hotel em Heathrow. Era o último dia da janela de transferências, fomos lá e começamos a negociar."

    Mesmo quando as negociações começaram, não estava claro se o Madrid realmente queria Faubert. Eles estavam tentando contratar Antonio Valencia, mas estavam hesitantes em atender às exigências de 25 milhões de libras do Wigan. Foi o técnico Ramos, recém-saído de uma passagem pelo Tottenham, quem havia pressionado para que assinassem com Faubert, após ter se impressionado com seu futebol nos jogos de derby de Londres contra o West Ham.

    Logo, as negociações com o Wigan por Valencia falharam e Faubert se tornou a única opção com o fim da janela de transferências se aproximando, e um acordo de empréstimo foi fechado.

  • O início da jornada

    Mesmo depois que o Real Madrid confirmou a contratação de Faubert, muitos ainda achavam difícil acreditar. A estranheza da transferência é bem ilustrada pela reação de Alfredo Di Stefano, então presidente honorário. A lenda do clube parecia totalmente surpresa enquanto apresentava o novo reforço à imprensa, segurando a camisa de Faubert.

    Faubert havia passado pela mesma base de formação que Zinedine Zidane, mas ninguém tinha ilusões de que ele iria replicar o sucesso de seu compatriota.

    O lateral direito teve que esperar pouco mais de uma semana para sua estreia, sendo relacionado no banco para um jogo de La Liga contra o Racing Santander, em que substituiu Robben nos últimos 30 minutos do jogo na vitória merengue por 1 a 0. Sua performance não impressionou o técnico Ramos, pois levaria mais de um mês para jogar novamente – entrando em campo por 24 minutos em outro triunfo por 5 a 2 contra o Athletic Bilbao.

    Essa seria sua última aparição – 54 minutos no total, significando que o Madrid pagou 28 mil euros por minuto, levando em consideração a taxa de empréstimo de 1,5 milhão de euros para contratá-lo.

    “Eu não tive a oportunidade de mostrar o que eu podia fazer em campo. Trabalhei duro, mas Robben jogava na minha posição. Um jogador que marcava gols em todos os jogos,” lamentou Faubert.

  • FBL-EUR-C1-REAL MADRID-LIVERPOOLAFP

    Não relacionado

    O choque com a transferência e seus fracassos na capital espanhola fizeram de Faubert um motivo de piada. Uma das críticas que recebeu foi de que não estava em forma suficiente para jogar numa das maiores equipes do mundo, o que o jogador tentou justificar ironicamente, dizendo: “Eu nunca fui um jogador magro ou esbelto. Eu estava em forma, deve ser a cor da camisa branca que faz você ganhar peso!”

    As coisas só pioraram, já que não foi relacionado para um jogo contra o Recreativo Huelva em abril. Quando o time se reuniu no dia seguinte para o treino, Faubert não estava por lá, pois achava que tinha o dia de folga.

    “Eu sempre perguntava a algum jogador que falava inglês ou a Diarra qual era o horário que teríamos e, dessa vez, saí sem perguntar. Isso me prejudicou”, afirmou.

    O lateral acabou recebendo uma multa, mesmo que Ramos não tenha levado a situação muito a sério. “O garoto teve uma falha, mas nada mais,” falou o técnico. “Ele pensou que o domingo era um dia de folga, como era a regra natural. Foi uma falha, e não há problema.”

    A piada só aumentou a partir daí, culminando em sua ridicularização por supostamente ter dormido no banco em um jogo contra o Villarreal. Faubert sempre negou que seus olhos estavam fechados, mas admitiu que seu comportamento relaxado e desinteressado foi porque estava “irritado” por não ter a chance de jogar enquanto a temporada se aproximava do fim.

    Na semana seguinte, em seu último jogo no Bernabéu, os torcedores exibiram um banner que dizia: "Obrigado por tudo, Faubert".

  • Decadência geral

    Apesar de Ramos ter elevado o desempenho do Real Madrid em La Liga, não conseguiu evitar que a equipe fosse eliminada nas oitavas de final da Liga dos Campeões mais uma vez, perdendo por 5 a 0 no agregado para o Liverpool. Nem sua equipe conseguiu manter a boa forma no campeonato nacional, já que perdeu os últimos cinco jogos – incluindo uma famosa goleada por 6 a 2 para o Barcelona – e acabou terminando a temporada nove pontos atrás dos campeões de Pep Guardiola.

    Naquele ponto, Faubert já havia perdido qualquer esperança de jogar novamente pelo time e seu tempo terminou sem que a opção de compra fosse acionada. Embora não tenha causado uma impressão séria, Faubert recorda o período no Bernabéu com um sorriso.

    “Eu aprendi muito, mesmo que não tenha jogado muito. Aprendi o espírito de vencer,” confirmou, refletindo sobre o breve período. “Você joga com caras que ganharam a Copa do Mundo, a Liga dos Campeões, mas ainda querem ganhar. Mesmo se jogarem contra o time que está na lanterna da tabela, eles querem vencer, nunca se cansam disso.”

    Ramos, o homem que pressionou o clube a contratar o lateral direito, foi demitido naquele verão e substituído por Manuel Pellegrini. O ex-técnico do Real assumiu o CSKA, da Rússia, alguns meses depois, mas deixou o cargo após apenas 47 dias à frente da equipe nova.

  • Julien Faubert Bordeaux 2014Getty Images

    E após isso?

    Após seu tempo peculiar pelo Real Madrid, Faubert retornou a Londres ansioso para levar sua carreira no West Ham a um novo nível. Ele rapidamente se tornou um jogador-chave sob o comando de Zola, que guiou a equipe a um nono lugar na tabela durante a ausência de Faubert, mas não conseguiram dar continuidade a essa campanha.

    O francês disputou apenas 33 partidas enquanto o West Ham evitava o rebaixamento no Inglês, terminando com cinco pontos de vantagem da zona de rebaixamento. Na temporada seguinte, com os técnicos Avram Grant e depois Kevin Keen, o time terminou na última posição. Faubert, que jogou apenas nove vezes naquela edição da liga, acabou criando um novo inimigo.

    “Esse cara era tão antissocial,” reclamou de Grant. “Ele nunca falava conosco, mal comandava os treinos porque estava sempre em seu escritório, sua motivação era uma porcaria e eu não aprendi nada com ele... Eu não tinha um bom relacionamento com ele e acabamos sendo rebaixados por causa dele. Naquela temporada, ele tomou tantas decisões ruins. Vai parecer ruim, mas na temporada em que fomos rebaixados era inevitável.”

    Apesar das dificuldades naquele ano, Faubert permaneceu para ajudar o West Ham a retornar à Premier League - e conseguiu, ao vencer o Blackpool na final dos play-offs.

    A partir daí, a jornada de Faubert foi bem aleatória. Ele deixou Londres para se juntar ao Elazıgspor na Turquia, mas foi liberado alguns meses após assinar um contrato de três anos. Retornou ao Bordeaux, seu antigo clube, onde ficou entrando e saindo da equipe até deixar o clube na janela de 2015. No mês de fevereiro seguinte, assinou com o Kilmarnock, da Escócia, onde jogou apenas nove vezes, e depois teve passagens por Finlândia e Indonésia antes de assumir um cargo de jogador-assistente técnico na quarta divisão francesa para encerrar sua carreira.

    Sua trajetória de 18 anos como jogador foi uma montanha-russa de emoções e performances, e seu auge foi, sem dúvidas, um período único no Real Madrid.

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