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Hachim MastourGetty Images

De jogar com Neymar e Kaká a atuar na terceira divisão: a derrocada do "maior talento do mundo"

Quando Hachim Mastour é perguntado hoje como descreveria o garoto de 16 anos que um dia foi, sua resposta já dá uma boa noção do que acontece quando fama e sucesso chegam cedo demais. “Eu era um menino jogado no mundo dos adultos, mas que seguia seu sonho: me divertir jogando futebol. Depois, o sonho virou trabalho”, contou recentemente em entrevista à Gazzetta dello Sport.

Não faz tanto tempo assim que o nome de Mastour era sinônimo de um dos jovens mais empolgantes e promissores do futebol. Mas, em vez de uma carreira brilhante, recheada de títulos e passagens por grandes clubes, o destino do marroquino hoje com 27 anos foi uma queda tão rápida quanto dramática.

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  • Hachim Mastour Daniel Carvajal AC Milan Real MadridGetty

    Disputado por gigantes

    Filho de pais marroquinos, Hachim Mastour nasceu em Reggio Emilia, na região da Lombardia, norte da Itália. Foi por lá mesmo que deu os primeiros passos no futebol, jogando nas categorias de base do US Reggio Calcio ASD até 2008. Depois passou quatro anos na Reggiana, outro clube local, até ser contratado pelo Milan em 2012, aos 14 anos, por 2,1 milhões de euros (R$ 13,64 milhões na cotação de hoje).

    Na época, o Milan venceu uma briga acirrada com outros gigantes europeus: clubes da Itália, da Inglaterra, da Espanha e até o Ajax, famoso por sua formação de talentos, queriam contar com o garoto. Mastour acabou optando por Milão também pela proximidade de casa, uma escolha que ele viria a lamentar anos depois.

    “Digamos assim: a repercussão midiática da minha ida para o Milan fez com que clubes e empresários me enxergassem mais como uma oportunidade de negócio do que como um projeto esportivo que exigiria paciência”, disse ele em entrevista ao portal italiano Tuttomercatoweb em 2019. “A expectativa exagerada acabou tirando meu tempo de campo, que era o que mais importava pra mim.” Se Mastour pudesse voltar no tempo e “com um pouco mais de visão”, como ele disse, admitiu que teria escolhido o Ajax.

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  • Hachim MastourGetty Images

    Aos olhos de Neymar e Kaká

    No começo, tudo parecia seguir o roteiro dos sonhos. Logo na estreia, contra o Albinoleffe, Mastour marcou dois gols, sendo um deles com uma cavadinha abusada. Com boas atuações constantes, em menos de dois anos foi premiado com um contrato profissional. E, aos 16 anos, já dividia o vestiário com nomes como Kaká, Robinho, Balotelli e Michael Essien.

    “Kaká me abraçou como um irmão mais velho. Ele me ajudou a me enturmar com o grupo. Com o Robinho, falávamos a mesma língua dentro de campo. Ele sempre me dava conselhos, dizia onde eu deveria conduzir a bola e em que momento partir pra cima. Ele me incentivava o tempo todo. E o Balotelli... lembro dele falando no treino: ‘Hoje quero ver você terminar sem errar nada. Vou contar os seus erros’”, recordou.

    Foi nesse período que as grandes marcas também passaram a cortejá-lo. Após ser incluído pelo jornal inglês The Guardian na lista dos 50 maiores talentos nascidos em 1998, Mastour participou de uma disputa de freestyle organizada por Nike e Red Bull com ninguém menos que Neymar. No vídeo, apresentado como “o maior talento do mundo”, Mastour aparece lado a lado com o astro brasileiro. O clipe acumula mais de 10 milhões de visualizações no YouTube.

    Desde então, seu nome passou a circular até entre o público que não acompanhava as categorias de base. Hoje, muitos comentários no vídeo ironizam sua carreira (“esse é o maior momento da vida do Mastour”), mas ele garante não se arrepender da fama precoce: “Conheci meu ídolo, foi um momento lindo”, afirmou.

  • Hachim Mastour, PEC Zwolle, Eredivisie, 20160718PROSHOTS

    Do Milan a Holanda, Grécia e Marrocos

    Depois de brilhar precocemente com a camisa do Milan e ganhar as manchetes ao lado de Neymar e Kaká, Hachim Mastour também conheceu o lado sombrio da fama precoce. Com apenas 16 anos, já era tratado como uma joia do futebol mundial. Mas, à medida que o rendimento não acompanhava o alarde, a pressão crescia e o Milan acabou perdendo a paciência. A primeira tentativa de reencontrar o rumo foi um empréstimo ao Málaga, mas ele quase não entrou em campo: jogou apenas cinco minutos em toda a temporada.

    Em 2016/17, novo empréstimo, desta vez para o PEC Zwolle, na Holanda. Longe dos holofotes, Mastour esperava reencontrar o prazer de jogar. Mostrou habilidade com a bola nos pés, mas escancarou deficiências sem ela: faltava intensidade, físico e comprometimento tático. O talento técnico estava ali, mas faltava o resto.

    A queda não parou por aí. Após deixar o Milan de graça em 2018, ele iniciou uma verdadeira odisseia por clubes menores: passou por Grécia, Itália e Marrocos, nunca ficando mais de uma temporada em um mesmo time. Em alguns períodos, ficou até sem clube. Seu último contrato havia sido com o Union Touarga, da primeira divisão marroquina, mas também foi dispensado após pouco tempo, quando o clube decidiu que ele não valia mais o investimento.

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  • Hachim Mastour MilanGetty Images

    "Tudo o que passei me fez bem"

    Aos 27 anos, o rótulo de "grande promessa" já ficou para trás, mas Mastour ainda não se vê como uma história fracassada. Pelo contrário, tenta enxergar maturidade em tudo o que viveu. “Hoje sou um cara mais maduro, que tenta aplicar no presente tudo o que aprendeu no passado. Do garoto de 16 anos só restou o desejo de ser feliz jogando futebol. Nada me realiza mais do que estar em campo, tocar na bola, me divertir com os companheiros e vencer. Eu nasci pra isso.”

    No dia 1º de julho, assinou contrato com o Virtus Verona, da terceira divisão italiana, que é possivelmente sua última chance de reconstruir a carreira. “Recebi muitas propostas na Itália, mas hoje o Virtus é o lugar certo pra mim. A categoria não importa tanto: no futebol atual, tudo muda de um minuto para o outro. Nunca tive problema com a divisão em que estou. Eu tinha perdido o sorriso e a alegria de jogar. Agora, só preciso entrar em campo e ser eu mesmo.”

    Seu sonho continua o mesmo: voltar ao grande palco do futebol. Mostrar ao mundo que é mais do que uma promessa que não vingou. “Aprendi que não existe felicidade sem sofrimento. Uma coisa completa a outra e faz com que a gente valorize mais. Tudo o que passei me fez bem, e foi com propósito. Tenho fé e acredito que cada dificuldade que enfrentamos serve para tornar o que vem depois mais leve.”

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