Como William Saliba pode deixar o Arsenal para ser o próximo galáctico da defesa do Real Madrid

O Real está mal defensivamente nesta temporada. Não há realmente como disfarçar isso. A equipe que, até alguns anos atrás, tinha como cartão de visitas a capacidade de evitar gols, hoje não consegue impedir os adversários de balançar as redes.

Eles têm apenas a quarta melhor defesa do Campeonato Espanhol, atrás de Barcelona, Atlético de Madrid e Athletic Bilbao. Em competições de mata-mata, o desempenho é ainda pior. Os quatro gols sofridos contra uma fraca Real Sociedad chamaram atenção, assim como as atuações vulneráveis diante de Borussia Dortmund, Milan e Liverpool.

E depois, vieram os problemas nos jogos grandes. O Barça parece ter encontrado a fórmula para bater o Real nesta temporada: jogar de forma vertical e forçar uma dupla de zagueiros lentos a correr. A tática funcionou bem nos dois 'El Clásicos' do ano, com o Barcelona marcando nove gols nas duas partidas.

Parte disso se deve ao elenco. Houve ausências individuais que Carlo Ancelotti pode citar — nada menos que Dani Carvajal e Éder Militão. As lesões também afetaram o meio-campo, com Dani Ceballos, Eduardo Camavinga e Aurélien Tchouaméni afastados por um tempo. A postura displicente de Kylian Mbappé na recomposição defensiva também tem sido prejudicial.

Somando tudo isso, o Real mostra fragilidades em vários setores e limitações coletivas. Falta uma estrutura tática bem definida — e há uma fórmula bastante clara para vencê-los.

Nenhum defensor consegue resolver todos os problemas de um time sozinho — mas seria um bom começo. Talvez a melhor comparação seja com Virgil van Dijk no Liverpool, em 2018. Aquele time também era letal no ataque, mas tinha falhas defensivas. A chegada do zagueiro holandês fortaleceu o setor e transformou a equipe de Jurgen Klopp em uma potência defensiva. O mesmo pode ser dito sobre Rúben Dias no Manchester City ou, antes disso, sobre a crescente influência de Sergio Ramos no Real.

E não se engane — se William Saliba ainda não está nesse patamar, não está longe. Na verdade, ele já fez algo parecido no Arsenal. É bom lembrar que este é um time que sofreu por anos com zagueiros da chamada “era das piadas”. Enquanto Saliba estava emprestado na França, a torcida do Arsenal precisava ver atuações de jogadores como David Luiz, Sokratis Papastathopoulos e Shkodran Mustafi — que, em certos momentos, beiravam o cômico de tão ruins.

Saliba não transformou o cenário sozinho — foi preciso também o conhecimento tático de Mikel Arteta e uma reorganização defensiva bem estruturada —, mas o zagueiro teve um papel central nessa mudança. Arteta resumiu bem o impacto do francês em maio de 2024:

“Ele precisou se provar em outros lugares. E foi incrível, consistente, regular, soube lidar com dificuldades. Quando voltou, após uma ou duas sessões de treino, em um ambiente novo, já sabíamos que ele poderia dar conta do recado. Desde então, tem provado isso com excelência. Seu progresso e consistência são impressionantes. Estamos muito felizes por tê-lo conosco”, disse o treinador em entrevista coletiva.

O zagueiro já vinha chamando a atenção dos torcedores do Arsenal há algum tempo. Havia rumores sobre um jovem francês emprestado que, um dia, poderia se tornar um talento de primeira linha.

Mas o mundo do futebol só passou a notar de verdade após um momento-chave. Quando Mbappé invade o corredor esquerdo, ninguém deveria ser capaz de pará-lo. O atacante francês é rápido demais, ágil demais, inteligente demais para que a maioria dos defensores sequer chegue perto.

Mas, em 25 de outubro de 2021, Saliba conseguiu. E mais do que isso: roubou a bola com um desarme espetacular, no último instante, impedindo um gol quase certo. De repente, todos começaram a prestar atenção. Quem era esse garoto? E como ele conseguiu alcançar o homem que ninguém consegue parar?

Acontece que os dois já tinham história. Saliba, como se sabe, foi treinado na infância pelo pai de Mbappé. Estão ligados desde cedo. E Mbappé não escondeu o apoio ao sucesso do zagueiro, chamando-o de um dos melhores do mundo e apontando-o como peça-chave para o futuro da seleção francesa.

“Ele está começando a ter minutos conosco. Agora cabe a ele conquistar seu espaço. Para mim, ele tem todas as qualidades para, com o tempo, ser titular de Les Bleus”, disse Mbappé em 2024.

Se elogio vale alguma coisa, então Mbappé fez sua parte.

Vale a pena, neste ponto, analisar onde o Arsenal está agora. Arteta evoluiu muito como treinador, transformando a equipe de coadjuvante a candidata constante ao título.

Com o elenco atual, sob o comando atual, os Gunners estarão sempre na briga pela Premier League e serão uma ameaça nas competições de mata-mata.

Mas ainda falta algo neste time. Não é apenas a carência evidente de um camisa 9 — uma lacuna que segue sem solução.

Há uma questão mais profunda em jogo, algo que freia o time, algo que impediu o Arsenal de superar o Manchester City em duas disputas pelo título e que fez com que fosse surpreendentemente deixado para trás pelo Liverpool nesta temporada.

O Arsenal é um time defensivo — às vezes, até de forma dolorosa. Tudo é tão meticuloso, tão previsível, que em muitos momentos parece que a equipe se esforça demais para conquistar pontos.

Decisões equivocadas são tomadas. A cabeça, às vezes, se perde. Não, não existe uma conspiração contra o clube; às vezes, eles simplesmente perdem o controle — e isso faz parte.

Talvez, de forma mais ampla, este time, da forma como está hoje, tenha alcançado seu teto. Tirando a necessidade de um centroavante imponente — posição na qual o clube reluta em investir —, não há realmente muitos setores que possam ser melhorados de forma significativa.

Resta, então, ao treinador seguir ajustando, se não reconstruindo. E onde isso deixa Saliba?

O zagueiro deixou claro que quer conquistar troféus com o Arsenal, mas o quão realista, honestamente, é essa meta — especialmente com um Liverpool em ascensão e um City renovado pronto para competir na próxima temporada?

Enquanto isso, o Real está acumulando talentos para o futuro. Florentino Pérez tem administrado o clube com maestria nos últimos anos. Houve um período de escassez, enquanto o Santiago Bernabéu passava por reformas. Mas agora, os nomes são grandes — e as estrelas, jovens.

É só listar: Bellingham, Vinícius Jr, Mbappé, Rodrygo e Federico Valverde estão todos entrando em seus auges. Alexander-Arnold deve oferecer uma solução de longo prazo para a lateral direita. Um Camavinga saudável é titular da seleção francesa. Militão, se conseguir fazer uma temporada inteira, deve ser um zagueiro de classe mundial.

O clube está bem posicionado não só para um presente forte, mas para construir uma dinastia nos próximos anos. A única peça que falta, na verdade, é um zagueiro confiável para sustentar a defesa a longo prazo.

Rudiger é excelente, mas aos 32 anos já passou do auge. Raúl Asencio mostrou lampejos promissores, mas ainda precisa de tempo para se firmar. Já Saliba, com 24 anos, está entre os três melhores zagueiros da Premier League.

Nada parece abalá-lo. É sempre a personificação da calma. Saliba simplesmente parece, joga e se comporta como um 'Galáctico' nato.

A janela do verão europeu de 2025 pode parecer precoce para uma mudança. O clube da capital espanhola provavelmente seguirá com o que tem, apostando em Militão, Rudiger e Asencio. Além disso, haverá gastos com salários e bônus de assinatura por Alexander-Arnold.

Mas 2026 pode ser interessante. Nessa altura, Saliba terá apenas um ano restante de contrato. O Arsenal pode se ver obrigado a negociar. E, se isso acontecer, pode acabar entregando ao Real a peça final para a nova era Galáctica.