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Claudio Ranieri Roma GFXGOAL

Como o "Normal One" Claudio Rainieri recuperou a Roma em mais um conto de fadas para o técnico

Apesar da impressionante sequência de vitórias da Roma, Claudio Ranieri não pretende voltar atrás em sua decisão de deixar o cargo de treinador ao final da temporada para assumir uma função diretiva no clube que representou pela primeira vez como jogador há mais de 50 anos.

Ele, inclusive, está desempenhando um papel importante na busca por seu sucessor. Após a vitória contra o Lecce por 1 a 0 no sábado passado (29), que foi a última das sete consecutivas que teve até o empate com a Juventus neste domingo (6), Ranieri foi questionado pelo canal Sky Sport Italia se estava procurando por um treinador com um perfil semelhante ao seu.

Sem hesitar, o romano respondeu: “Outro Ranieri não existe!” Ele estava brincando, claro — mas é impossível negar a veracidade da afirmação.

Ranieri é único: uma figura universalmente adorada no futebol, responsável por milagres que nem mesmo técnicos mais celebrados, como Pep Guardiola, chegaram perto de realizar.

Ele garante que não há fórmula mágica para seu sucesso. “Ninguém tem uma varinha mágica”, diz Ranieri. E ainda assim, aos 73 anos, ele está escrevendo aquele que pode ser o capítulo final perfeito de um verdadeiro conto de fadas futebolístico…

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  • "Decidi partir agora"

    A história, é claro, parecia destinada a terminar na Sardenha na última temporada — e em circunstâncias agradavelmente simbólicas.

    Trinta e três anos depois de ter salvado milagrosamente o Cagliari do rebaixamento para a Série B, Ranieri repetiu o feito com uma vitória por 2 a 0 sobre o Sassuolo no dia 19 de maio. O que tornou essa permanência ainda mais notável foi o fato de Ranieri ter oferecido sua demissão em fevereiro de 2024, quando os Insulares ocupavam a 19ª posição na tabela do Campeonato Italiano, após acumularem 14 derrotas em 24 partidas.

    No entanto, os jogadores do Cagliari o convenceram a continuar, tamanha era a confiança depositada no experiente técnico — e, ao soar o apito final no Estádio Mapei, um emocionado Ranieri não conteve as lágrimas.

    Ele ainda tinha mais um ano de contrato com o Rossoblu, mas tudo indicava — seu olhar, sua postura, suas palavras — que o homem responsável pela conquista mais surpreendente da história das ligas europeias com o Leicester City não tinha mais nada a oferecer a um esporte que tanto foi abençoado por sua presença.

    “Decidi sair agora e é a coisa certa a fazer”, disse Ranieri em um vídeo publicado pelo Cagliari. “Faço isso com relutância porque foi uma decisão difícil e dolorosa, mas acredito que é o certo.”

    No entanto, a aposentadoria de Ranieri durou pouco.

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  • Dan Friedkin Ryan FriedkinGetty Images

    A falta de referência em Roma

    Apenas quatro jogos após o início da temporada 2024/25, a Roma demitiu a lenda do clube Daniele De Rossi, que vinha fazendo um trabalho excelente ao restaurar a ordem no Estádio Olímpico após a tumultuada passagem de José Mourinho.

    Foi uma decisão desastrosa por parte dos proprietários do clube, o grupo americano The Friedkin Group, que ainda conseguiu piorar a situação ao nomear Ivan Juric como sucessor de De Rossi. O croata durou menos de dois meses no cargo, sendo dispensado após quatro derrotas em cinco partidas da Serie A.

    O aposentado Ranieri foi publicamente crítico à forma como seu clube do coração vem sendo conduzido. “A Roma parece ter uma alma fria, sem personalidade”, disse ele à emissora de rádio RAI Radio 1.

    “Não entendi o que fizeram com o De Rossi. Quando você renova com ele por três anos, está dizendo ao mundo que está construindo uma nova equipe. Nesse caso, é preciso dar tempo ao treinador — não se pode demiti-lo após apenas quatro rodadas.

    “A Roma carece de uma figura de liderança. Não dá para culpar os Friedkins por falta de investimento, porque colocaram muito dinheiro no clube, mas estão provando que dinheiro não é tudo.

    “Falta um ponto de referência dentro da instituição.”

  • "Roma é a minha vida"

    Talvez o desabafo de Ranieri tenha surtido efeito sobre os Friedkins, porque, poucas semanas depois de se livrarem de Juric, eles procuraram o vencedor da Premier League para saber se ele estaria disposto a voltar à Roma.

    Ranieri já havia recusado propostas de diversos outros clubes para retomar sua carreira como técnico ou assumir cargos de consultoria — incluindo uma do ex-clube Chelsea — mas sentiu que não poderia dizer “não” ao time que apoia desde menino.

    “Roma é a minha vida”, explicou ele em entrevista ao jornal Gazzetta dello Sport. “E agora que tenho mais experiência, estou vacinado contra qualquer situação! Mas também é a realização de um sonho de infância, para alguém que costumava ficar na Curva Sud.”

  • Manchester United v Fulham FC - Premier LeagueGetty Images Sport

    Do "Special One" para o "Normal One"

    É verdade que dizem que no futebol você nunca deve voltar atrás — e a Roma estava em uma situação muito pior do que aquela que Ranieri havia encontrado no início de suas duas passagens anteriores pelo clube.

    Os Giallorossi ocupavam a 12ª posição na tabela do Campeonato Italiano, com apenas 13 pontos nos 12 primeiros jogos — o pior início de temporada do clube desde 1979 —, e os ultras estavam em aberta revolta contra os donos do clube.

    O impacto de Ranieri não foi imediato, ao menos em termos de resultados: a Roma perdeu três dos quatro primeiros jogos sob seu comando. No entanto, sua postura positiva contrastava fortemente com toda a atmosfera negativa que envolvia o clube.

    Como observou o agente de Ranieri, Pietro Chiodi, ao jornal Corriere dello Sport, em menos de um ano a Roma passou do “The Special One" para "The Normal One”, destacando que o foco havia deixado de ser o de culpar terceiros pelas derrotas e se voltava agora a tentar melhorar o que estava ao alcance para voltar a vencer.

    “O comprometimento estava lá”, disse Ranieri à emissora DAZN após a derrota por 2 a 0 para o Como, em 15 de dezembro. “Demos o nosso melhor, mas não foi o suficiente. Houve alguma incerteza no nosso jogo, mas temos que seguir em frente com o desejo de levar a Roma cada vez mais alto na tabela.”

    E, para ser justo com os comandados de Ranieri, foi exatamente isso que eles fizeram.

  • Colocando tudo em ordem

    A Roma não perdeu nenhum jogo do Campeonato Italiano desde o revés contra o Como e somou 21 de 27 pontos possíveis desde o início do ano. Como resultado, os Giallorossi ocupam a sétima colocação na tabela, tendo caído apenas uma posição neste final de semana, após o empate em 1 a 1 contra a Juventus no Olímpico de Roma.

    Na verdade, uma nova vitória não apenas deixaria o time com a mesma pontuação dos Bianconeri, mas também o colocaria a apenas um ponto do Bologna, o então quarto colocado e último na zona de classificação para a Champions League — lembrando que a equipe de Vincenzo Italiano só enfrenta o Napoli, candidato ao título, nesta segunda-feira (7).

    Mas como Ranieri conseguiu essa virada? Como ele revitalizou a Roma em tão pouco tempo? Bem, como o próprio treinador costuma dizer, essa não é exatamente sua primeira experiência no cargo.

    "Costumo ser chamado em situações problemáticas nos clubes e tento trazer serenidade, uma ética de trabalho árdua e restaurar alguma confiança", disse ele ao DAZN.

    Aproveitar ao máximo o elenco à sua disposição também foi fundamental. Por exemplo, Mats Hummels e Leandro Paredes mal haviam jogado nos três primeiros meses da temporada, mas passaram a ser utilizados com frequência sob o comando de Ranieri — especialmente Paredes.

    "Pareceu-me lógico começar com dois vencedores da Copa do Mundo", destacou o treinador.

  • Jamais haverá outro Ranieri

    A disponibilidade de Alexis Saelemaekers também foi fundamental para o ressurgimento da Roma sob o comando de Ranieri, já que o ponta belga marcou seis gols na primeira divisão italiana desde que voltou de lesão em dezembro. Mas o técnico merece grande crédito por elevar o ânimo de Lorenzo Pellegrini e Bryan Cristante, que não reagiram bem às críticas dos torcedores insatisfeitos no início da temporada.

    Ranieri realizou até uma espécie de aula magna em gestão de grupo ao nomear Pellegrini capitão para o clássico contra a Lazio, em 5 de janeiro. O meia ofensivo, sob pressão, marcou o gol que abriu o placar na vitória por 2 a 0 — resultado que elevou significativamente sua moral e a de toda a equipe, ao mesmo tempo em que preservava o recorde perfeito do treinador nos dérbis da capital.

    Ranieri também restaurou, lenta mas seguramente, a confiança abalada do principal reforço da janela do início da temporada, Artem Dovbyk, que agora marcou três vezes nas últimas quatro partidas da liga após um período irregular diante do gol. Além disso, foi recompensado por confiar nos jovens Matias Soulé (21) e Tommaso Baldanzi (22).

    Talvez o feito mais impressionante do comandante, no entanto, tenha sido arrumar uma defesa que vinha sendo sistematicamente exposta sob o comando de Juric. A Roma sofreu apenas dois gols nos últimos oito jogos.

    Diante dessa virada impressionante, Ranieri tem sido constantemente questionado se há alguma chance de mais uma reviravolta em sua decisão. Ele insiste, porém, que sua escolha está tomada: "Comecei na Roma como jogador e terminarei lá como dirigente."

    E quanto ao seu sucessor? Ranieri apenas diz esperar "que encontremos alguém mais jovem do que eu!" Atender a esse requisito não deve ser difícil, mas a Roma nem precisa tentar encontrar alguém parecido.

    Porque, se o renascimento milagroso da Roma serviu para alguma coisa, foi para lembrar que, realmente, jamais haverá outro Claudio Ranieri.