Como Marcus Rashford pode ser mais do que um reserva de luxo do trio de ataque estrelado do Barcelona

O Manchester United obviamente tomou muitas decisões desastrosas ao longo de sua década de declínio — e a renovação colossal do contrato de Rashford certamente será lembrada como uma delas. No entanto, não estamos exatamente falando de gastar £85 milhões em Antony.

Rashford estava jogando em altíssimo nível na época, vindo da temporada mais artilheira de sua carreira, tendo se tornado o primeiro jogador do United desde Robin van Persie a marcar 30 gols em todas as competições em uma única temporada. A palavra “imparável” foi repetidamente usada para descrever Rashford durante aquela campanha de 2022/23 — e não apenas pelo então técnico Erik ten Hag.

Casemiro, por exemplo, admitiu abertamente que não tinha ideia do quão bom Rashford era antes de chegar ao United vindo do Real Madrid. “Na minha opinião, especialmente conhecendo o jogador fora de campo, posso dizer que, se ele estiver se sentindo bem, ele pode ser um dos cinco melhores jogadores do mundo”, disse o volante à ESPN Brasil.

A declaração de Casemiro também não parecia tão absurda durante a Copa do Mundo de 2022. Rashford foi uma grande dor de cabeça para os adversários na fase de grupos, marcando três gols em três partidas, e muitos torcedores da Inglaterra ficaram perplexos com a decisão de Gareth Southgate de não utilizá-lo no mata-mata.

Naquela época, realmente parecia que Rashford, então com 25 anos, era capaz de justificar comparações com jogadores como Kylian Mbappé, com Erik ten Hag absolutamente convicto de que o melhor ainda estava por vir.

“Há muito espaço para evoluir no seu futebol”, disse o holandês em maio de 2023. “Estou convencido de que ele poderia marcar ainda mais. Nós o apoiamos onde podíamos, com nosso estilo de jogo, mas também em seu estado mental, então estamos satisfeitos com isso. Mas agora temos que pressioná-lo a ir além, porque estou certo de que ele pode chegar a 40 gols em uma temporada.”

Desde então, porém, Rashford marcou apenas 19 vezes — o que ajuda a explicar o ceticismo em torno de sua transferência para o Barcelona. Ainda assim, trata-se de um acordo que faz sentido tanto esportiva quanto financeiramente para os catalães.

Não há como negar que o Barcelona teria preferido trazer Nico Williams ou Luis Díaz em sua busca por um atacante de lado nesta janela. Rashford foi, no máximo, a terceira opção na lista de pontas-esquerdos do clube. No entanto, a ausência de uma taxa de transferência deve (com sorte!) significar que não haverá dificuldades para registrá-lo, e ainda há espaço para ele na escalação titular de Hansi Flick.

O Barça vem procurando outro ponta há algum tempo — e não apenas como substituto para Raphinha. Flick, com razão, acredita que o brasileiro renderia mais atuando como camisa 10, dado o estrago que causou sempre que se movimentou para dentro na última temporada.

Consequentemente, o tempo de jogo provavelmente será uma preocupação tanto para Dani Olmo quanto para Rashford na próxima temporada. O Barça teve um grande trabalho para garantir que o espanhol estivesse elegível para atuar após sua chegada do RB Leipzig, mas Olmo passou uma quantidade preocupante de tempo afastado por conta de problemas musculares recorrentes, o que dificultou seus esforços para justificar a decisão do clube de priorizar sua contratação em vez da de Nico Williams no ano passado.

As chances de Rashford jogar com regularidade também são reforçadas por sua versatilidade. Ele já atuou como centroavante no passado — às vezes com bastante sucesso — e certamente será uma opção sempre que Hansi Flick quiser poupar o titular Robert Lewandowski, que completa 37 anos apenas cinco dias após o início da campanha do Barça em LaLiga.

Claro, Ferran Torres teve um ótimo desempenho substituindo Lewandowski na última temporada, marcando 19 gols em todas as competições — seu melhor número até hoje — e está mais determinado do que nunca a provar que pode ser um sucessor em potencial do artilheiro polonês. Ainda assim, Rashford sem dúvida oferece a Flick mais uma alternativa viável para a camisa 9 — e é exatamente esse tipo de profundidade que o técnico alemão queria, após não conseguir rodar seus titulares tanto quanto desejava na temporada passada.

É claro que a ideia do Barcelona é utilizar Rashford em sua posição preferida — e onde ele é mais eficaz — na ponta esquerda. E, como destacou Rio Ferdinand, ele pode oferecer a Flick algo bem diferente dos demais atacantes do elenco, caso recupere as características que o tornaram tão perigoso.

“O jogo do Rashford mudou (nos últimos dois anos), ele tem tentado driblar mais com a bola”, disse o ex-zagueiro em seu canal no YouTube. “Mas o que o tornava tão difícil de marcar era a disposição para correr em profundidade. Ele é mágico nisso quando acerta e mantém consistência.”

“Ele pode ser esse diferencial para o time do Barcelona. Raphinha não se incomoda em correr nas costas da defesa, mas prefere receber a bola nos pés. Lamine Yamal também prefere receber no pé e partir no drible. E Lewandowski, hoje em dia, não é mais um jogador que ataca os espaços com tanta frequência. Ele atua mais como referência, é um finalizador do mais alto nível. Por isso, acho que Flick vai dizer ao Rashford: ‘Nos dê algo que os outros não oferecem.’”

“Raphinha pela esquerda, Lewandowski no centro, Lamine Yamal pela direita — Rashford não é titular automático nesse time, mas pode entrar, causar grande impacto e, a partir disso, decidir jogos. Então, Marcus não precisa chegar para substituir alguém. Ele precisa chegar e agregar valor a este time.”

É claro que ainda existem preocupações em relação ao comportamento passado de Rashford. Seu profissionalismo, disciplina e ética de trabalho já vinham sendo questionados muito antes da chegada de Rúben Amorim ao Manchester United — e é revelador que tantas ex-estrelas do clube acreditem que o clube estará melhor sem um jogador que — com justiça ou não — passou a simbolizar a cultura de permissividade e o nocivo senso de direito que tomou conta de Old Trafford.

Paul Parker acredita que o sucesso subiu à cabeça de Rashford, apontando, em entrevista exclusiva: “Ele tem um entorno maior do que a maioria dos boxeadores! Os clubes da Premier League talvez quisessem o jogador, mas não a pessoa e tudo que vem junto.”

Teddy Sheringham, por sua vez, classificou a conduta de Rashford durante sua longa saída como "destruidora de almas" e foi além de Ferdinand ao argumentar que sua transferência para o Barcelona não só foi surpreendente, mas também absolutamente merecida.

Se Rashford mereceu essa chance ou não é irrelevante neste momento. O que importa agora é que ele aproveite ao máximo essa oportunidade inesperada. E, apesar de todas as falhas apontadas, a motivação não deveria ser um problema. De maneira significativa, ele já parece estar em ótima forma física — e inclusive aceitou uma redução salarial para viabilizar a negociação. Por quê? Porque, aos 27 anos, Rashford sabe muito bem que talvez não tenha outra chance como essa para finalmente cumprir o potencial de alto nível que muitos sempre enxergaram nele.

Como disse Lisandro Martínez à Sky Sports em 2023: “Para mim, o Rashy é um jogador incrível. Ele pode ser o que quiser — tudo depende dele.” Apesar de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos, essa afirmação continua tão verdadeira hoje quanto era naquela época.