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Gabigol Kaio Jorge Cruzeiro 2025Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Como o Cruzeiro ressurgiu para brigar de novo pelo título do Brasileirão

A cor azul tem uma conotação de melancolia na língua inglesa. Pensar na personagem Tristeza, dos filmes “Divertidamente”, da Disney, completamente azulada, resume bem o recado. Dizer, em tradução livre, que está “sentindo o azul” (feeling blue) é um alerta de que as coisas não andam bem. E até mesmo o Blues, como gênero de música, canta sobre sofrimentos, grandes dificuldades ou injustiças vividas por alguém.

Neste sentido, o Cruzeiro tem vivido o período mais Blue de sua laureada história... mas em 2025 as coisas parecem voltar ao sentido do “tudo azul” que o idioma português, aí sim, tratou de usar de forma positiva. E que o clube celeste se acostumou. O time treinado pelo português Leonardo Jardim tem sido um dos melhores da atual temporada, figurando nas primeiras posições da tabela do Brasileirão e mostrando que é um candidato sério ao título – que foi seu pela última vez em 2014. A vitória por 4 a 0 sobre o Juventude, pela 15ª rodada, só faz aumentar esta percepção.

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  • Fluminense v Cruzeiro - Brasileirao 2025Getty Images Sport

    De volta à liderança

    É importante destacar que este texto não representa, ao menos ainda, uma consagração. Ilustra parte de um caminho. O Cruzeiro ainda não voltou a levantar grandes títulos desde o rebaixamento em 2019: sua última taça importante, exceção feita à Série B de 2022, foi o estadual daquele fatídico 2019. Mas a vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense, pela 14ª rodada do Brasileirão, teve um sabor mais que especial: pela primeira vez, após 11 anos, a Raposa voltava a ficar na liderança da Série A. Pouco importavam os asteriscos na tabela, indicando que o topo seria relativo, em meio ao menor número de jogos dos seus perseguidores mais próximos.

    Desde aquela 38ª rodada do Brasileirão de 2014, que sacramentou o quarto título de Campeonato Brasileiro cruzeirense, a Raposa viveu uma longa jornada. Os anos de 2017 e 2018, com títulos de Copa do Brasil, não pareciam indicar a queda que viria. Os mais atentos às finanças do clube, e à completa falta de organização de seus dirigentes, contudo, já sentiam o cheiro do que estava por vir: caos, queda e necessidade de um milagre para sair do buraco.

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  • Cruzeiro v Palmeiras - Brasileirao Series A 2019Getty Images Sport

    Inferno e pesadelo

    A queda, em 2019, surpreendeu até o mais pessimista dos cruzeirenses. E a sensação de humilhação completa só piorou, em meio a um rebaixamento também marcado por diversas polêmicas de um vestiário de jogadores que se mostrava completamente perdido. O Cruzeiro caiu pela primeira vez, mas até mesmo as grandes dificuldades pareciam não impedir o roteiro clássico do gigante que voltava, mesmo atravessando dificuldades na Série B do ano seguinte. Como a expectativa seria por não voltar logo depois?

    A dedução de seis pontos em 2020, punição por irresponsabilidades administrativas, não serviu como justificativa para o 11º lugar na segundona. O Cruzeiro ficou mais uma temporada na Série B. E a 14ª posição em 2021 no ano seguinte mostrou que o buraco era muito mais fundo do que qualquer um poderia imaginar. Em meio à mais profunda depressão esportiva, o cruzeirense não teve paz nem mesmo quando levantava a cabeça para recuperar um pouco de ar. As notícias extracampo não eram apenas ruins para a Raposa: eram péssimas.

    Como se não bastasse ver joias como Estevão ou Vitor Roque deixando o clube para atuarem em outras categorias de base, despontando como revelações de adversários nacionais, a Raposa ainda ficou, de camarote, vendo o seu arquirrival levantando um somatório impressionante de troféus. O Atlético-MG, justamente o Atlético-MG, igualou o feito cruzeirense de 2003 como time campeão estadual, do Brasileirão e da Copa do Brasil. Aconteceu em 2021, enquanto o Cruzeiro se arrastava no pesadelo da Série B.

  • Ronaldo, Cruzeiro 2022Gustavo Aleixo/Cruzeiro

    A “Era Ronaldo” inicia a recuperação

    A mão que surgiu para tirar o clube do buraco pertencia àquele cujos pés fizeram, ainda muito jovem, gols que o torcedor mais veterano nunca vai esquecer. Ronaldo, o Fenômeno, comprou, em 2022, a SAF do clube que o alçou ao estrelato. A expectativa voltava a circular pela Toca da Raposa, mas no futebol as coisas não são fáceis. Em meio a uma dura reformulação do clube, a administração de Ronaldo passou por alguns protestos, especialmente após a saída do histórico goleiro Fábio, mas ao final daquela temporada o primeiro objetivo enfim havia sido alcançado. Após três anos o Cruzeiro deixava a Série B para trás, e com estilo: o acesso e título vieram com antecedência recorde na história.

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  • FBL-SUDAMERICANA-CRUZEIRO-CATOLICAECUAFP

    Pedrinho chega com investimentos pesados

    Reconstrução responsável, sustentável, e sem contratações extravagantes seguiu sendo a regra nos anos seguintes. O Cruzeiro voltou à elite, mas não como potência esportiva. Foi um figurante em 2023, mas a busca pelo protagonismo fez com que Ronaldo vendesse suas ações, em 2024, para o empresário Pedro Lourenço. Pedrinho se tornou acionista majoritário em 2024, com promessa de investir pesado, mas as muitas demissões de treinadores refletiram na instabilidade do elenco. Ainda assim, o título de Copa Sul-Americana quase veio. A derrota por 3 a 1 para o Racing, da Argentina, representou um choque de realidade. E acabou decretando, meses depois, a demissão do técnico Fernando Diniz.

    Pedrinho contratou diversos jogadores de peso, ídolos em outros grandes clubes do país. Vieram Cássio (ex-Corinthians), Eduardo (ex-Botafogo), Fagner (ex-Corinthians) e Gabigol (ex-Flamengo) – isso sem falar em uma tentativa pra lá de falha com Dudu, ex-Palmeiras. Mas os dois principais nomes se revelaram através das contratações de Matheus Pereira (ainda na administração de Ronaldo) e Kaio Jorge. A chegada do técnico Leonardo Jardim, português com trabalho brilhante no Monaco que revelou Kylian Mbappé ao mundo, serviu como a definitiva carta de intenções: desta vez o Cruzeiro não viria só com nomes famosos, mas com a promessa de um futebol competitivo e organizado. Tem sido assim em 2025.

  • Cruzeiro v Gremio - Brasileirao 2025Getty Images Sport

    Jardim promete bons frutos

    Se este Cruzeiro será campeão brasileiro no fim do ano, é uma pergunta que, com o perdão do clichê, só o tempo vai mostrar. Mas não há dúvidas de que a Raposa voltou a ter esta capacidade. Após anos e anos em um inferno que parecia sem fim, daqueles que poderiam inspirar grandes sucessos do Blues, os cruzeirenses estão sorrindo e mostrando que “tudo azul” pode voltar a ser, absolutamente, uma coisa boa.

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