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MLS is Back Bubble Oral HistoryGetty/GOAL

"A coisa mais bizarra do mundo" - Como a bolha da MLS manteve o futebol vivo nos EUA cinco anos atrás em meio à pandemia

Às 21h32 do dia 11 de março de 2020, o mundo dos esportes nos Estados Unidos parou — primeiro por causa de um vírus, depois por causa de um apito. Naquela noite, tudo começou a fechar.

Quando a NBA anunciou a suspensão de sua temporada após Rudy Gobert, do Utah Jazz, testar positivo para a Covid-19, o impacto foi imediato. Não se tratava apenas de uma pausa no basquete. Estádios ao redor do planeta também silenciaram. Temporadas inteiras foram canceladas. A engrenagem global dos esportes — movida por paixão, espetáculo e lucros — travou. Foi um período de isolamento e incerteza.

O futebol, claro, não ficou imune. O jogo mais popular do planeta também foi paralisado. Mas, três meses depois, em meio à ansiedade e dúvidas, a Major League Soccer encontrou um caminho. Um plano improvável, talvez, mas ainda assim um plano — e um que poderia trazer o futebol de volta.

“Obviamente, o projeto aqui em Orlando é incrivelmente ambicioso.”

Don Garber, comissário da MLS, estava sendo modesto. “Ambicioso” era pouco. No verão norte-amricano de 2020, em plena pandemia global, a liga concebeu algo inédito: um torneio isolado, dentro de uma bolha, para que o futebol pudesse voltar — com segurança.

Tudo começou com um telefonema. Alex Leitao, CEO do Orlando City, ligou para Faron Kelley, então vice-presidente do ESPN Wide World of Sports, complexo esportivo dentro do Walt Disney World Resort, na Flórida.

A MLS, como o restante do mundo, estava em espera. Mas... e se não precisasse estar?

"Meu telefone tocou", lembrou Kelley. "Era meu amigo Alex Leitao. Ele disse: 'Ei, ideia maluca. A MLS está pensando em criar uma bolha — um único local onde os times poderiam jogar um torneio. Você acha que dá pra fazer?' Ninguém jamais tinha feito algo assim. O mais próximo seria uma Olimpíada, com atletas vivendo e competindo no mesmo lugar."

“Agora imagine isso somado a um vírus sobre o qual, em abril e maio, sabíamos pouquíssimo... Desde essa primeira ligação da MLS até o momento em que os jogadores pisaram nos campos para treinar, se passaram apenas 66 dias.”

A proposta, inicialmente tratada como plausível, logo ganhou corpo. Leitao mandou uma mensagem para Gary Stevenson, presidente da MLS Business Ventures, que levou a ideia a Don Garber.

“Tenho essa ideia maluca”, lembrou Leitao. “Conversei com o pessoal da Disney, e eles acham que pode dar certo. O que você acha?” Meia hora depois, estávamos todos em uma chamada no Zoom com o comissário Garber. Repeti a ideia. Ele gostou. Disse: ‘Vamos organizar isso. Vamos tentar.’”

Em apenas dois meses, a ideia virou realidade. Especialistas foram consultados, protocolos rigorosos foram criados, testados e colocados em prática. No verão daquele ano, 550 jogadores desembarcaram em Orlando para disputar o inédito — e agora lendário — Torneio MLS is Back.

Poucos sabiam o que esperar. Muitos não tinham ideia de como aquilo mudaria suas vidas.

Cinco anos depois, o MLS is Back permanece como um marco surreal na história do futebol nos EUA. Um torneio que deixou legados ainda não totalmente compreendidos. Para alguns, parecia um acampamento de verão para adultos — futebol no paraíso, longe do caos do mundo real. Para outros, foi um pesadelo: semanas de confinamento, enfrentando desafios físicos e mentais sem precedentes.

O torneio começou em 8 de julho de 2020. Foram 51 partidas, todas sem público, encerrando-se pouco mais de um mês depois, com o Portland Timbers levantando uma taça personalizada no dia 11 de agosto.

Uma coisa é certa: todos que deixaram Orlando naquele verão saíram com uma nova perspectiva sobre o futebol — e sobre a vida.

Enquanto nos aproximamos do quinto aniversário do primeiro chute, a GOAL conta a história do Torneio MLS is Back — nas palavras de quem viveu cada instante.

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  • Orlando City MLS Bubble 2020Imagn

    ENTRANDO NA BOLHA

    Em 12 de março de 2020 — um dia após a NBA suspender sua temporada — a Major League Soccer também paralisou suas atividades. Naquele momento, apenas duas rodadas haviam sido disputadas. Em 18 de abril, a liga anunciou que a suspensão se estenderia até, pelo menos, 8 de junho. Mas dois dias depois, veio a notícia surpreendente: a MLS voltaria com um novo torneio, o MLS is Back, realizado em Orlando.

    Todas as equipes foram hospedadas nos resorts Disney Swan & Dolphin e disputaram seus jogos no ESPN Wide World of Sports Complex, em um ambiente completamente controlado. A liga criou rígidos protocolos de segurança para tentar impedir um surto de Covid-19 entre os times — incluindo testagens frequentes, distanciamento social e uso obrigatório de máscaras.

    A chamada “Bolha da MLS” foi um dos primeiros grandes eventos esportivos nos Estados Unidos a ser realizado durante a pandemia. Esta é a história daquele momento, contada por quem viveu tudo de dentro — identificados por suas funções à época.

    Dax McCarty (Meio-campista, Nashville SC):

    "Foi uma mistura de dúvida e ansiedade, com um pouco de empolgação no meio. No auge de uma pandemia global, ser a primeira liga esportiva profissional a voltar com um plano de retorno ao jogo era algo empolgante, mas também dava muito nervosismo. Naturalmente, havia ceticismo — nunca tínhamos feito algo assim antes."

    Diego Valeri (Meio-campista, Portland Timbers):

    "Os dias antes de entrarmos na bolha foram difíceis para todo mundo. As famílias estavam preocupadas, e nós, como jogadores, sabíamos que voltar a jogar significava nos afastarmos delas. Não tínhamos muitas informações sobre o que estava acontecendo, certo? O pensamento era: “Como vamos lidar com isso?” Mas, ao mesmo tempo, queríamos competir — desde que nossas famílias estivessem em segurança."

    Justin Morrow (Defensor, Toronto FC):

    "Rolava aquela dúvida: "Meus companheiros estão levando isso a sério? A minha cidade está levando a sério?" Em Toronto e no Canadá, nós levamos. A gente mal podia sair de casa. Então chega uma hora que você pensa: “Ok, acho que isso vai mesmo acontecer.”

    McCarty:

    "Você precisa confiar nos tomadores de decisão, acreditar nos médicos e especialistas que dizem que será seguro. A gente queria garantir que a temporada não fosse totalmente perdida. Mas claro, havia ansiedade, estresse... e também uma ponta de empolgação."

    Óscar Pareja (Técnico, Orlando City):

    "Estamos tão acostumados a ver jogos todos os dias, que às vezes até cansamos. Mas, naquele momento, a gente implorava por qualquer partida, em qualquer lugar. Estávamos assistindo jogos da Rússia ou de campeonatos que nem lembramos mais. Foi um choque de realidade pra todo mundo."

    Diego Valeri:

    "A parte dentro de campo foi especialmente difícil. Lembro que, no começo, os treinos eram totalmente isolados — apenas quatro jogadores por vez em um campo enorme. Ainda assim, por mais estranho que fosse, eu só queria voltar a competir."

    Um a um, os times foram chegando à bolha e sendo recebidos com todos os cuidados de segurança possíveis. A liga havia consultado especialistas para garantir que as diretrizes fossem bem elaboradas, implementadas e seguidas à risca. Testes frequentes, uso de máscaras e distanciamento social viraram rotina. Tudo para evitar que um surto comprometesse o torneio em Orlando.

    Tesho Akindele (Atacante, Orlando City):

    "Todo mundo estava com medo — de já estar doente ou de acabar pegando o vírus ali. Lembro que, assim que entramos no hotel — acho que nem chegamos a colocar as malas no chão — fomos direto para uma sala de conferências com mais de 60 estações de testagem. Era insano. Hoje parece mais fácil dizer “ah, nem foi tão grave”, mas naquela época foi assustador. Eu tinha medo até de encostar no corrimão das escadas, pensando que outros jogadores podiam ter tocado ali."

    John Tolkin (Defensor, New York Red Bulls):

    "Lembro que, alguns dias depois de chegar, testei positivo — ou melhor, tive um falso positivo. Minha primeira reação foi: “Sério? Vou ficar preso aqui por 10 dias por causa disso?” Felizmente, foi só um susto. Mas, mesmo assim, a incerteza era constante. Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo. Eram tantos protocolos... e tantos cotonetes subindo pelo nariz todos os dias."

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  • MLS Bubble 2020Imagn

    SUSTOS INICIAIS, TESTES POSITIVOS

    Antes do início do torneio, a MLS dividiu os 26 times participantes em seis grupos, organizados com base nas conferências. No entanto, essa conta logo caiu para 24. Em 6 de julho, o FC Dallas anunciou sua retirada do torneio após 10 jogadores e um membro da comissão técnica testarem positivo para Covid-19. Três dias depois, foi a vez do Nashville SC, que também se retirou após nove jogadores apresentarem resultados positivos.

    A partir daí, os protocolos implementados na bolha começaram a se mostrar eficazes. De 16 de julho em diante, a MLS não registrou mais nenhum caso positivo entre os atletas, comissões e funcionários hospedados no complexo da Disney.

    Dax McCarty:

    "Meu primeiro pensamento foi: espero que todo mundo do meu time esteja seguro. Ainda havia tantas perguntas sem resposta sobre o Covid e o que aquilo realmente significava. Já existiam alguns dados indicando que atletas saudáveis, em tese, não teriam complicações graves. Mas, ao ver colegas testando positivo um após o outro, ficava aquela sensação de “quem será o próximo?”. Parecia só uma questão de tempo."

    Taylor Twellman (Analista, ESPN):

    "Lembro de fazer reuniões no Zoom com jogadores e técnicos que estavam lá embaixo — e, de repente, vinha a notícia de que quatro, cinco, seis jogadores tinham testado positivo. Foi um baque."

    Tesho Akindele:

    "O que aconteceu com Dallas e Nashville foi duro — eles sofreram o impacto mais forte. Então, pra gente que já estava na bolha, a sensação era tipo: “Beleza, eles passaram por isso. Pelo menos não fomos nós.” Tirou um peso enorme das nossas costas. Sabíamos que, se tudo desse errado, não teríamos sido os primeiros a estragar tudo."

    Justin Morrow:

    "Acompanhamos a situação de Nashville e Dallas pelas redes sociais. Vimos os jogadores postando fotos já na bolha... e a gente ainda nem tinha saído de Toronto. Tudo parecia muito incerto. A dúvida era: “A gente entra nesse avião ou não?” E quando finalmente chegamos, já nas primeiras 24 horas tivemos um falso positivo. Era tensão o tempo inteiro."

    McCarty:

    "O nosso pensamento era: se conseguirmos montar um time, queremos jogar. Já estávamos ali, fisicamente bem, prontos pra competir. Fizemos uma espécie de votação entre o grupo. Quem estivesse em forma e liberado pelos protocolos queria entrar em campo. Acho que tínhamos uns 12 ou 13 jogadores de linha prontos, além de dois goleiros. Era o mínimo necessário, mas a vontade era enorme. No fim, a MLS decidiu que, por segurança — tanto nossa quanto da competição como um todo — não seria possível seguir em frente."

  • ESPN Wide World of Sports MLS Bubble 2020Getty Images

    AS REALIDADES SÚBITAS DA BOLHA

    Para os jogadores que participaram, qualquer expectativa sobre como seria a vida dentro da bolha evaporou rapidamente. Bastou a rotina começar para que a realidade se impusesse — e todos entendessem, de fato, no que haviam se metido.

    Brenden Aaronson (Meio-campista, Philadelphia Union):

    "Lembro que a gente fazia piada dizendo que ia aproveitar tudo no hotel. “Ah, vamos pescar, jogar golfe, fazer mil coisas.” No fim, tivemos um único dia de golfe. Havia uma sala de jogos também. Mas, na prática, era só você no seu quarto. Não dava pra fazer muita coisa. Você podia dar uma volta, sim, mas sem sair da propriedade. A gente podia andar pelos arredores do Swan Hotel — e só."

    John Tolkin (Defensor, New York Red Bulls):

    "Ficamos hospedados no Swan, e até dava pra caminhar até o Epcot saindo do hotel. Eu adoro a Disney — até voltei lá três vezes nos anos seguintes. Mas toda vez que vejo aqueles malditos hotéis em que ficamos durante a bolha... me dá pesadelos. Nenhuma boa lembrança. Ok, talvez uma ou outra, mas não muitas."

    Diego Valeri:

    "Na primeira semana, estava tudo bem. A gente treinava, jogava... parecia normal. Mas na segunda semana, tudo começou a pesar. O time inteiro estava isolado em um andar do hotel. Você passava os dias sozinho no quarto, sem contato com jogadores de outras equipes. Os jogos e os treinos aconteciam à noite, por causa do calor. E o único contato com sua família era por videochamada. Aquilo começou a mexer com a cabeça."

    Sebastian Berhalter (Meio-campista, Columbus Crew):

    "Eu era só um garoto, então queria mesmo era jogar. Pensava: “Por que alguém não gostaria de estar aqui?” Eu não entendia. Claro, os outros tinham famílias em casa — eu não. Então, pra mim, era só futebol."

    Taylor Twellman (Comentarista, ESPN):

    "Até eu e o John Champion, que estávamos narrando os jogos remotamente, ficamos isolados em Connecticut, cada um num andar diferente de um hotel em West Hartford. Não havia mais ninguém hospedado ali."

    Eryk Williamson (Meio-campista, Portland Timbers):

    "Eu era jovem o suficiente pra ter assistido muito Canal Disney — então, pra mim, aquilo parecia um episódio de “Zack & Cody: Gêmeos em Ação”. A gente estava vivendo num hotel, literalmente. Nossa vida inteira acontecia dentro daquele prédio."

    Matt Freese (Goleiro, Philadelphia Union):

    "Pra ser honesto, não diria que foi uma experiência agradável. Ficar preso em um hotel, sem nenhum acesso ao mundo exterior, por semanas? Acho que ninguém diria que gostou disso."

    Valeri:

    "Era claustrofóbico. Você sozinho, num quarto de hotel, olhando o mundo passar pela janela."

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  • Eryk Williamson MLS Bubble 2020Getty Images

    ENTRETENIMENTO, DE QUALQUER MANEIRA, DE QUALQUER FORMA

    No fim das contas, o futebol só preenchia uma parte do dia. Fora dos treinos e jogos, os jogadores estavam confinados aos seus quartos e a áreas específicas da equipe. Nos primeiros dias, alguns até encararam como se fosse uma espécie de férias na Flórida. Mas, conforme as semanas passavam, encontrar formas de se distrair virou uma necessidade — e um desafio diário.

    Dax McCarty:

    "Eu praticamente vivia de roupão. Era a minha marca registrada. Peguei o roupão do hotel e usei por uma semana inteira. Me sentia uma mistura do Cara de O Grande Lebowski com o Ace Ventura. Ficava gravando vídeos meus pulando de cama em cama, jogando uma bola de futebol americano... sinceramente, acho que estava começando a enlouquecer. Lembro de ver jogadores do outro lado do hotel se comunicando por sinais — qualquer coisa para passar o tempo."

    Eryk Williamson:

    "De algum jeito, comecei a me bronzear. Tinha uma área com piscina, então às vezes dava pra dar uma escapada e relaxar um pouco. Eu ia lá fora, lia um livro e tomava sol. Só que eu não percebia que o índice UV estava em 10 ou 11 — o que, olhando agora, era bem perigoso."

    Matt Freese:

    "Eu tinha acabado de comprar um violão antes do torneio. Levei comigo e comecei a aprender várias músicas — umas do Zach Bryan, por exemplo. Também estava fazendo faculdade, e acho que concluí três matérias naquele mês e meio. Ter algo pra estudar ou praticar todos os dias me ajudou. Meu pensamento era: “Ou você vence a Covid, ou a Covid vence você.” Ou você aproveita o tempo e faz algo produtivo, ou simplesmente se deixa levar."

    Óscar Pareja (técnico, Orlando City):

    "Lembro de ter gravado o que pareceram ser milhares de vídeos para os jogadores. Eles batiam na minha porta o dia todo — querendo orientação, assistir aos lances, conversar sobre o jogo. Nunca tinha vivido algo assim. Mas era sincero. Estávamos todos presos num mesmo lugar, sem muito o que fazer. As conversas, os treinos e os jogos eram a nossa válvula de escape. Era um momento difícil, as famílias estavam do lado de fora lidando com incertezas. Aquilo tudo foi uma forma de tentar seguir em frente."

    Tesho Akindele:

    "Todo mundo estava jogando videogame. A gente jogava muito Parchisi no iPad, e às vezes apostava um dinheirinho pra deixar mais interessante. Eu também comecei a jogar xadrez online e a estudar sobre isso. Foi ali que comecei a me interessar por investimentos imobiliários. Aprendi bastante."

    John Tolkin:

    "A gente ia quase todo dia pra quadra de vôlei de areia. Era uma das poucas coisas que dava pra fazer. Mas, sinceramente, eu estava frustrado. Treinava bem, mas não jogava um minuto sequer. Estava preso naquela bolha, em pleno verão da Flórida, e nem entrava em campo."

    Freese:

    "Foi um período difícil. Eu estava lá fazia semanas, vivendo numa bolha... e nem sequer ia pro banco durante os jogos. Nem treinava tanto assim. Então comecei a passar umas quatro horas por dia na academia. Ganhei cerca de 5 quilos de músculo. Pensei: “Se não dá pra melhorar jogando, pelo menos posso sair daqui mais forte.”

    Williamson:

    "Levei meu PlayStation comigo. Tinha duas camas no quarto — então dormia uns dias em uma, depois mudava pra outra, só pra variar um pouco."

    Aaronson:

    "Joguei muito Fortnite e FIFA."

    Williamson:

    "Tínhamos dias de ping pong, dias em que só torcíamos pro Wi-Fi funcionar bem o suficiente pra jogar Call of Duty."

    Aaronson:

    "A gente também jogava muitos dardos. Era tudo muito no clima da zoeira, especialmente pra gente que era mais novo. Serviu até pra nos aproximarmos mais como grupo. Claro que, com o passar do tempo, a energia foi acabando. No começo, tudo era divertido. Mas lá pelo fim do torneio, o cansaço bateu."

    Akindele:

    "Um dia, assustamos o Benji Michel, um dos nossos. Ele sempre deixava a porta do quarto aberta, então aproveitamos. Um se escondeu atrás da cama, eu entrei no armário. Quando ele chegou, o cara saiu de trás da cama, deu um susto, e quando ele se virou, eu pulei do armário. Depois de 40 dias ali, você só quer rir com seus amigos. Era o que nos restava."

    Com o tempo, até as opções de entretenimento começaram a cansar. E a comida... também. Não era um restaurante quatro estrelas, e nem havia como ser. A pandemia estava afetando todo mundo — inclusive os funcionários que preparavam as refeições. O cardápio era limitado.

    McCarty:

    "Era muito almoço embalado, isso com certeza. Não foram as melhores refeições da minha vida, longe disso. Rapidamente ficou repetitivo. Mas dava pra comer."

    Tolkin:

    "Sinceramente? Eu não serviria aquela comida pra ninguém. Era o mesmo almoço embalado todo dia. E a gente é atleta — precisa de comida de verdade pra render. Ainda mais naquele calor... Era puxado."

    Williamson:

    "Estávamos no fuso horário do Pacífico, então acabávamos tomando café ao meio-dia. Era sempre a mesma coisa: ovos e batatas. Chegou uma hora que parecia que eu era uma criança comendo repetidamente o mesmo prato. Então passei a tomar café com Fruit Loops e suco de maçã todo dia. Porque... por que não?"

    Akindele:

    "Acho que alguns caras exageravam um pouco. Não era uma refeição incrível, claro, mas era igual ao que a gente costuma receber em muitos hotéis por aí. Ficar sete semanas comendo aquilo cansa, sim. Mas não era pior do que a média. Acho que tinha gente que já chegou ali querendo odiar a experiência. Queriam que desse tudo errado. Mas ninguém teve intoxicação alimentar ou nada do tipo. Era bom? Não. Mas dava pra aguentar."

    Williamson:

    "A gente começou a pedir comida de fora. Era engraçado — todo mundo sabia que nosso time treinava mais tarde e precisava comer depois. Um dia, os caras desceram pra buscar os pedidos e encontraram uma sacola gordurosa do Five Guys com “Eryk W.” escrito. Era minha, claro. Pedi hibachi algumas vezes também. Quando não tínhamos jogo, eu pedia um lanche e um milkshake com a galera. Era o nosso momento de escapada."

  • Tesho Akindele MLS Bubble 2020Getty Images

    MAIS QUE FUTEBOL

    À medida que a expectativa pelo início do torneio crescia, ficava claro que aquilo seria sobre muito mais do que futebol. Em maio, George Floyd foi morto pela polícia em Minneapolis, e o impacto reverberou por todos os Estados Unidos — inclusive dentro da bolha em Orlando. Pandemia ou não, muitos jogadores sentiram que precisavam se posicionar. E Justin Morrow foi peça-chave para articular essa resposta.

    Tesho Akindele:

    "Depois do assassinato do George Floyd, a gente começou a trocar mensagens. O clima estava pesado. Os caras se perguntavam: "O que a gente pode fazer?" Primeiro foram conversas em grupos pequenos, depois reuniões maiores, até que fizemos uma chamada no Zoom — e a coisa só cresceu. Foi bem parecido com o que aconteceu no resto do país."

    Justin Morrow:

    "Os jogadores negros da liga já tinham um laço, mesmo que não fosse dito. A gente se cumprimentava como adversários. Antes da Covid, quando viajávamos, era comum sair pra jantar com amigos de outros times. Mas aquele momento era diferente. Estávamos todos juntos no mesmo lugar — e, diante do que estava acontecendo no mundo, precisávamos agir."

    Akindele:

    "Acho que o Justin foi o mais... vou dizer, firme. Mas também foi o mais racional. Alguns, como eu, não estavam tentando liderar nada — só queríamos ajudar. Tinha gente com propostas mais radicais, outros preferiam algo mais contido. Alguns nem queriam jogar. Mas o Justin conseguiu unir todo mundo. Ele foi o líder certo, na hora certa."

    Morrow:

    "Muita gente não se dá o devido crédito. Eu estive envolvido o tempo todo, sim, e passei dias inteiros trabalhando nisso. Mas não teria conseguido sem os líderes de cada time. Eles organizaram os grupos, passaram as mensagens adiante, abriram conversas difíceis. Cada jogador negro virou um porta-voz da comunidade, mesmo sem estar acostumado com isso. Muitos nunca tinham tido esse papel antes — e, de repente, estavam ali, falando por todos nós."

    Williamson:

    "Aprendi muito sobre mim mesmo nesse processo. Tinha coisas que eu evitava, conversas que eu temia. Mas tivemos companheiros que puxaram o diálogo e abriram espaço pra gente falar. Não só com a família e os amigos, mas também com pessoas da nossa própria comunidade, em Portland."

    Morrow:

    "A gente estava a menos de dois quilômetros da bolha da NBA, tentando uma colaboração com eles, mas os protocolos impediram. Ainda assim, participei de chamadas com o pessoal da NBPA. Conversei com o Andre Iguodala, a Michelle Roberts — diretora na época — e expliquei o que estávamos fazendo. Eles ouviram tudo com atenção. O Chris Paul também estava na chamada. Saí de lá animado. Parecia que todos nós, atletas, estávamos unidos pela justiça racial. Lembro que a MLS ajudou a produzir um vídeo que o Chris postou no Instagram. Mandei no nosso grupo do Black Players for Change: "Quem pode falar agora?" Foi um momento de euforia. A sensação era de que as coisas estavam acontecendo."

    Com Morrow liderando os esforços, o grupo Black Players for Change organizou um ato marcante. Na noite de abertura do torneio, no jogo entre Orlando City e Inter Miami, mais de 100 jogadores negros se reuniram para um momento de silêncio que durou oito minutos e 46 segundos — o mesmo tempo que o policial Derek Chauvin manteve o joelho sobre o pescoço de Floyd. Vestindo camisetas e máscaras idênticas, eles se ajoelharam e levantaram os punhos direitos. Os titulares das duas equipes e os árbitros também se ajoelharam antes do apito inicial. Foi um dos momentos mais fortes da história da MLS.

    Akindele:

    "A liga merece crédito. Eles nos deram liberdade pra nos expressar. Fizeram sessões de fotos com a gente, reuniram os jogadores negros, permitiram que a manifestação acontecesse antes do jogo. Nós éramos jovens tentando entender nosso papel naquele contexto. A liga também não tinha todas as respostas, mas ouviu, nos apoiou e caminhou junto."

    Morrow:

    "Eles ajudaram com as redes sociais, com a comunicação, com os contatos com a imprensa. Cuidaram da logística, levaram os jogadores até o estádio e de volta. Sem isso, teria sido quase impossível. O apoio da liga foi essencial."

    Akindele:

    "Mesmo separados nos hotéis, todos os jogadores negros foram levados juntos pro estádio naquela noite. Fizemos o aquecimento, e de repente vejo um ônibus chegando lotado de caras. Aquilo foi poderoso. Normalmente, em momentos de silêncio, sempre tem alguém gritando, tossindo, sussurrando. Mas naquele dia... ninguém disse uma palavra. Era um silêncio absoluto. Foi surreal."

    Morrow:

    "Naquele momento, pensei nos líderes que vieram antes de nós — tanto os conhecidos quanto os anônimos — que arriscaram muito mais. Gente que não sabia como seria a vida depois de protestar. Se teriam emprego, se ganhariam dinheiro de novo. E lá estávamos nós, sendo celebrados anos depois. Pensei em Tommie Smith e John Carlos, no gesto deles no México. A história estava viva ali."

    Williamson:

    "Até hoje, tenho a camiseta emoldurada. Aquela que usei naquela noite. Foi o nosso grande momento. E acho que conseguimos fazer tudo da forma certa."

    Morrow:

    "No fim, mesmo sem poder, a gente se abraçou, rindo. Era como se tivéssemos conquistado algo. Estar ali, cercado por mais de 100 irmãos do futebol... isso nunca acontece no esporte. Foi especial. Um momento de união e orgulho que vai ficar pra sempre."

  • Justin Morrrow MLS is Back Bubble 2020Getty Images

    O ESTADO DO JOGO

    Assim que os jogos começaram, ficou evidente que aquilo não era “negócios como sempre” na MLS. Após meses parados — como o resto do mundo — os jogadores ainda não estavam em forma. O pouco tempo de preparação antes do torneio não ajudou. E havia o calor sufocante da Flórida, agravado pela umidade extrema, que drenava a energia dos atletas — especialmente daqueles que enfrentavam os jogos marcados para o início da tarde.

    Brenden Aaronson:

    "Jogamos nosso primeiro jogo contra o NYCFC ao meio-dia e ninguém conseguia se mover. Estava tão quente. Foi um daqueles jogos em que nada acontece porque simplesmente não dá pra jogar. Depois disso, felizmente pegamos só jogos à noite — e esses foram realmente bons."

    Tesho Akindele:

    "Nosso primeiro jogo na bolha foi à noite. Estávamos empolgados, e o clima ajudava — não estava tão quente. Se você olhar a tabela do Orlando, todos os nossos jogos foram nos horários mais tarde. Assistíamos aos jogos da manhã e só pensávamos: “Graças a Deus não somos nós ali.”

    Eryk Williamson:

    "Um dos primeiros jogos foi D.C. United contra Toronto. Liguei a TV e parecia um sofrimento. Era ESPN no modo desespero. Não desejo aquilo nem pro pior inimigo. Os caras acordando cedo pra jogar sob o sol escaldante? Boa sorte."

    Diego Valeri:

    "Os primeiros jogos não tinham ritmo nem intensidade. Claro, só tínhamos jogado duas partidas naquela temporada. Mas quando a bola rola, com 22 jogadores em campo, ainda há competição. Mesmo sem estarmos 100%, mesmo com o calor, a vontade de competir estava lá."

    Justin Morrow:

    "Nosso jogo foi às 9h da manhã. Estava tão quente que metade do time titular teve que ser substituído. A qualidade do jogo foi baixa. À noite, víamos os jogos mais tarde e eram cheios de gols. Isso diz muito."

    Taylor Twellman:

    "O mais difícil era saber que o mundo estava de cabeça pra baixo — e você tentando dar conta da situação. Mas, no fundo, tudo isso fazia você sentir ainda mais falta do futebol de verdade. Dos estádios, da torcida. Os jogos sem público... só reforçavam a vontade de voltar ao normal."

    Apesar de todos enfrentarem dificuldades, o torneio trouxe uma consequência inesperada: virou uma vitrine para jovens talentos. Após se destacar em 2019, Brenden Aaronson foi eleito para o "Melhor XI" do torneio. Dos 11 jogadores escolhidos, cinco tinham menos de 23 anos.

    Aaronson:

    "Sou muito grato por essa experiência. Mudou minha carreira. O nível dos jogos, o fato de sermos a única liga passando na TV naquela época... Sabia que tinha muitos olhos de fora me observando. Clubes, olheiros. Foi a primeira vez que me vi em uma plataforma assim. E eu sabia que precisava aproveitar."

    Williamson:

    "Sentia que era a minha hora. O torneio parecia aquelas competições juvenis — você jogava, depois esquecia o jogo e já vinha outro. Isso me ajudou muito no desenvolvimento como jogador jovem."

    Sebastian Berhalter:

    "Me senti muito sortudo por ter algo acontecendo, e ainda mais por estrear na MLS justamente nesses jogos mais lentos. Sinceramente, talvez não tenha sido tão ruim estrear num ritmo assim. Me deu confiança: “OK, talvez eu consiga jogar nesse nível.”

    Williamson:

    "A bolha foi um divisor de águas na minha carreira. Mudou como as pessoas falavam de mim. Nunca vou desmerecer aquela experiência — foi nela que eu cresci como jogador."

    Mas o ambiente era implacável. O calor, o isolamento, a ansiedade e o tédio começaram a cobrar seu preço. Para alguns times, o torneio virou um teste de resistência. E, dentro de campo, uma pergunta pairava no ar: quem realmente queria estar ali?

    Valeri:

    "A gente seguia vencendo e ficando mais tempo... mas, ao mesmo tempo, tudo o que eu queria era estar com minha família."

    Tolkin:

    "Fomos eliminados na fase de grupos. E, olha, não vou dizer que não ligamos — mas digamos que estávamos tranquilos com a ideia de ir pra casa."

    Akindele:

    "Tinha time que claramente queria ir embora. Era nítido. Alguns nem disfarçavam. Você via nos resultados. O time jogava duas vezes às 9h da manhã e já estava dizendo: “Chega, me leva embora.” Acho que só metade dos times realmente queria estar ali. Mas, pra gente, era uma chance real de ganhar algo que ninguém mais teria. Cinco ou seis jogos. Uma oportunidade única."

  • Portland Timbers MLS Bubble 2020Getty Images

    FINALMENTE O FIM - E UMA TAÇA - À VISTA

    Após mais de um mês de partidas, o torneio chegou à final: um duelo entre Orlando City e Portland Timbers. Naquela altura, os jogadores do Orlando já estavam na bolha há quase 50 dias. Os do Portland, pouco menos.

    Tesho Akindele:

    "Eliminamos o LAFC nos pênaltis nas quartas de final. Voltamos pro vestiário — que, na verdade, era um trailer — e todo mundo estava enlouquecido. Parecia que estávamos no topo do mundo. Somos todos caras grandes, e aquele trailer devia ter, sei lá, uns dois metros de altura. Estávamos batendo no teto, jogando água nas paredes... parecia que íamos derrubar tudo. A energia estava lá em cima. O Oscar (Pareja) conseguiu manter esse clima até hoje."

    Oscar Pareja:

    "No aspecto futebolístico, foi uma grande oportunidade. A bolha nos forçou a mudar rotinas, a conviver de forma intensa. Crescemos juntos em meio ao caos. Era um cenário propício para mudar a cultura — e aproveitamos cada momento."

    Eryk Williamson:

    "Na reta final, com poucas equipes restantes, o lugar parecia mais vazio. Você acordava e percebia isso. Mas também tinha o lado bom: havia menos gente e todos os lanches ainda estavam sendo reabastecidos. Essas pequenas vitórias também pareciam motivo para comemorar."

    Diego Valeri:

    "A final teve clima de final, mesmo num estádio vazio. Orlando queria muito ganhar. Claro que torcedores fazem falta, eles mudam o jogo com a emoção. Mas os dois times estavam ali para competir. Quando aquele jogo começou, já tínhamos jogado tanto que estávamos no ritmo certo."

    No fim, foram Valeri, Williamson e o Portland Timbers que ergueram o troféu. E, sim — em alguns casos, beberam champanhe dele. Com a vitória por 2 a 1 sobre o Orlando City, os Timbers encerraram o torneio como campeões. Sebastián Blanco foi eleito o melhor jogador da competição, Diego Rossi levou a Chuteira de Ouro e Andre Blake, do Philadelphia Union, ficou com a Luva de Ouro. No total, a bolha da MLS teve 51 jogos e 146 gols. Pouco depois, a liga retomaria sua temporada regular com um novo calendário, que culminaria nos playoffs e na MLS Cup 2020.

    Williamson:

    "Chegamos no trailer e era só festa. Todo mundo queria tirar foto. Estávamos derramando o que fosse possível beber de dentro do troféu — o que, pensando bem, talvez não tenha sido uma ideia tão boa. Voltamos pro hotel, e como quase ninguém mais estava lá, tínhamos a piscina só pra gente, o bar da piscina, tudo. Em algum momento os árbitros apareceram, estavam numa cabana do outro lado, meio que comemorando também. Tinha jogador pulando na água com o troféu, usando ele como capacete… foi uma loucura."

    Valeri:

    "Naquele momento, talvez a gente nem soubesse como valorizar o troféu que conquistamos. Mas hoje, olhando em retrospecto, é um título que merece muito reconhecimento — por tudo o que passamos para conquistá-lo."

    Williamson:

    "A gente sabia que aquela noite era a nossa única chance real de celebrar. Porque no dia seguinte já estaríamos voando de volta pra casa. Teve recepção de familiares e amigos, claro, mas não dava pra fazer festa com todo mundo. O voo de volta foi o nosso desfile de campeão. Cruzamos o país com aquele troféu na mão, sentindo que realmente tínhamos vencido algo especial."

  • Don Garber MLS Bubble 2020Getty Images

    CINCO ANOS DEPOIS: O QUE TUDO ISSO SIGNIFICA

    Para os jogadores, treinadores e todos que viveram aquilo, a bolha da MLS parece hoje algo de outra vida. Foi um tempo, um lugar e uma situação absolutamente sem precedentes. Sim, houve inúmeros aspectos negativos. Mas, inegavelmente, aqueles dias mudaram vidas — e marcaram uma geração inteira.

    Dax McCarty:

    "Encaro aquilo como um mal necessário que surgiu do caos do mundo. Mostrou que, no fim das contas, o nosso futuro não está totalmente em nossas mãos. De uma hora pra outra, tivemos que deixar tudo, arrumar as malas e tomar decisões que afetavam nossas famílias. Foi um lembrete brutal de como tudo pode mudar num piscar de olhos."

    Taylor Twellman:

    "Essa vai ser uma daquelas histórias que vou contar para os meus netos. Pela loucura que foi. Em uma escala pequena, foi até revigorante: estávamos fazendo algo — mesmo que de uma forma completamente diferente. Estávamos assistindo futebol, comentando, nos conectando. Acho que isso vai virar estudo de caso em faculdades por muitos anos. Foi bizarro, mas também muito marcante."

    Eryk Williamson:

    "Tenho certeza de que, daqui a 10 anos, ainda estarei contando essas histórias. Às vezes, sim, dava vontade de ir embora, de voltar pra casa. Mas aí você ia treinar às 9 da noite... na Disney. No fim do dia, você percebia: “Estou jogando futebol.” E, por um instante, se sentia uma criança de novo."

    John Tolkin:

    "Foi tudo tão caótico, mas olhando agora, foi uma experiência incrível. É daquelas coisas que você sabe que nunca mais vai viver. E eu posso dizer: joguei futebol no auge da Covid, em uma bolha. Pouca gente no mundo pode dizer isso."

    Oscar Pareja:

    "Foi uma experiência que ninguém quer reviver, mas também foi cheia de aprendizados. Me fez crescer como treinador e como ser humano. A convivência, a rotina alterada, a conexão com os jogadores... tudo isso ficou. Quando penso naquele verão, penso em como éramos abençoados antes e como ainda somos agora. Quanto mais reflito, mais vejo que, de algum jeito, foi um bom tempo."

    Diego Valeri:

    "É claro que, diante de tudo aquilo, o futebol parecia pequeno. A vida é maior. Mas, ao mesmo tempo, o futebol é o que dá cor às nossas vidas. É o que une tudo."

    Akindele:

    "Cara, o que o Diego disse é genial. Eu queria ter dito isso! Ele resumiu perfeitamente."

    McCarty:

    "Você não sabe o quanto sente falta de algo até que aquilo te seja tirado. Só aí percebe o quanto aquilo significava. Quando o futebol parou, foi como uma crise de identidade. E quando tivemos a chance de voltar, mesmo daquela forma, vimos o quanto estávamos dispostos a fazer para retomar alguma normalidade. Foi algo único."

    Akindele:

    "De um dia pro outro, aquilo que preenchia todas as nossas horas simplesmente desapareceu. Foi um lembrete de como o futebol é importante pra gente — mas também de como ele nos conecta. Às vezes, no meio da correria, a gente se sente só um profissional indo de clube em clube. Mas, naquele verão, fomos um time. Aqueles caras viraram família. E a gente passou a valorizar cada momento, cada relação. Porque tudo aquilo podia acabar a qualquer instante. A bolha foi uma jornada. Mas foi uma jornada compartilhada — e, por isso, inesquecível."

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