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Atalanta overachievers Europa League final GFXGOAL

Como a Atalanta acabou com a invencibilidade do Bayer Leverkusen para chocar o mundo na Liga Europa

Gian Piero Gasperini nunca havia conquistado um troféu como treinador, a Atalanta não levantava uma taça há 61 anos, e eles haviam perdido outra final da Coppa Italia (a terceira sob o comando do técnico) na semana passada. Então, que chance eles tinham contra o Bayer Leverkusen, os recém campeões da Bundesliga, que não perdiam há 361 dias, em busca da tríplice coroa? Quase zero, de acordo com muitos especialistas.

De fato, alguns até temiam que Gasperini estivesse se preparando para a derrota ao argumentar que o resultado da final da Liga Europa era irrelevante; que a mera presença da Atalanta em Dublin já era uma espécie de vitória em si. Ele também estava certo, por um lado.

Mesmo que tivessem perdido, as conquistas do time de Bérgamo com o treinador ainda mereceriam o maior respeito. A questão é, se eles não tivessem acabado com o time até então imparável de Xabi Alonso, talvez não tivessem recebido esse reconhecimento.

O fato é que Atalanta tem desafiado a lógica há muito tempo, e só agora eles receberão o crédito que tão merecidamente conquistaram após finalmente colocarem as mãos no troféu que realmente merecem.

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  • Antonio Percassi Atalanta Serie A 12072017Getty Images

    Objetivo anual: evitar o rebaixamento

    Quando Antonio Percassi adquiriu o Atalanta em 2010, o clube estava na Série B, enfrentando problemas dentro e fora de campo. O primeiro objetivo era voltar à elite do futebol italiano; o segundo era permanecer lá. Até hoje, Percassi diz que o objetivo no início de cada temporada é evitar o rebaixamento - e é fácil entender o motivo.

    A Atalanta é um clube relativamente pequeno na Itália, seu estádio tem capacidade para apenas 15.000 pessoas e sua receita anual, uma parte significativa gerada pela venda de jogadores, geralmente é em torno de € 200 milhões (R$ 1,11 bilhão). Este não é um clube que tenha aparecido entre os 20 maiores na Football Money League da Deloitte, mas eles acabaram de se classificar para a Champions League pela terceira vez em cinco anos, ao mesmo tempo em que chegaram à sua primeira final europeia - e venceram.

    Talvez ainda mais impressionante, eles fizeram tudo isso jogando um futebol fantástico, sem retrancas ou qualquer tipo de antijogo.

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  • GasperiniGetty Images

    'Gosto das suas ideias'

    Antes do confronto decisivo da Atalanta contra o Crotone, em 2 de outubro de 2016, o recém técnico da equipe Gasperini foi abordado por um homem do lado de fora de sua casa em Bérgamo. Após quatro derrotas nos primeiros cinco jogos da Série A sob seu comando, o piemontês naturalmente já temia algo que o torcedor pudesse fazer.

    No entanto, a pessoa disse: "Gosto das suas ideias. Estou convencido de que você vai se sair bem aqui." Como Gasperini mais tarde admitiu em uma entrevista à Gazzetta dello Sport, "Achei que ele estava zombando de mim."

    Naquela segunda-feira, a Atalanta conquistou uma vitória importantíssima por 3 a 1, e o técnico admite que aquilo salvou seu emprego, além de uma janta grátis "Encontrei aquele homem novamente e ele me convidou para jantar em sua casa", revelou. "Ele cozinhou um ótimo risoto. Hoje, Paolo é um grande amigo."

    O apoio dos torcedores e da família Percassi desempenhou um papel fundamental para o sucesso de Gasperini - mas, também, a resiliência e a confiança em sua própria filosofia de jogo foram cruciais.

  • Atalanta GasperiniGetty Images

    Humildade e ambição

    Gasperini admite que por uma década de sua carreira "manter a superioridade numérica na defesa era um dogma". No entanto, antes de um jogo contra a Juventus durante sua segunda passagem pelo Genoa, entre 2013 e 2016, ele teve um insight que mudou seu pensamento.

    Embora determinado a manter sua formação principal, o 3-4-3, ele decidiu apostar - um real feeling - em liberar o um contra um na defesa quando em posse de bola, ganhando assim "um homem livre que eu poderia comprometer taticamente."

    "Valeu o risco", declarou depois à Gazzetta. "Os defensores da Atalanta que você vê atacando constantemente hoje nasceram dessa mentalidade."

    Esse estilo aventureiro também foi uma faca de dois gumes em alguns momentos, particularmente por equipes com orçamentos maiores e, portanto, melhores jogadores. "Toda vez que sofremos cinco gols, penso em jogar de uma maneira diferente", ele admitiu recentemente. "Mas eu e meu assistente Tullio Gritti – somos teimosos. Nesta temporada, conseguimos uma grande sequência e também continuamos com nossa identidade."

    De fato, além do título da Europa League, eles já haviam garantido a participação na Champions League da próxima temporada com um lugar entre os cinco primeiros na Série A, além de chegar à final da Copa da Itália, onde foram derrotados pela Juventus.

    É uma conquista notável para um clube com uma folha salarial de pouco mais de € 29 milhões (R$ 161 milhões) - para contexto, a da Juve é € 74,1 milhões (R$ 412 milhões). Para Gasperini, esta temporada apenas evidencia mais ainda de que é possível para os clubes menores não apenas vencer os grandes, mas fazer isso jogando de forma ofensiva, como fizeram em Dublin.

    "Só porque você é humilde, não significa que não pode ser ambicioso", argumentou ele. "Acredito firmemente que você tem mais chances de obter bons resultados se jogar um bom futebol."

    No entanto, como Gasperini e outros têm destacado, a ascensão da Atalanta não seria possível sem a família Percassi. "Por trás das equipes que jogam bem e se expressam como a Atalanta, sempre há uma grande gestão," disse o ex-treinador da seleção italiana Cesare Prandelli à Gazzetta. "A solidez e a mentalidade dos proprietários fizeram muito pelo clube. Gian Piero merece uma estátua em Bérgamo. Junto com a família Percassi."

  • Antonio Percassi, AtalantaAlessandro Sabattini / Getty

    O clube melhor administrado na Europa

    Percassi é um homem rico, que fez uma pequena fortuna trabalhando com a Benetton e investindo na indústria de cosméticos. No entanto, o ex-zagueiro, que foi forçado a abandonar o futebol aos 24 anos, não é tão rico o suficiente (como outros) para comprar os melhores jogadores da Itália. Portanto, não resta outra opção a Percassi senão fazer uma gestão excelente.

    Como disse à Sky Sport Italia, "Manter os livros contábeis equilibrados é fundamental para nós" - e não há clube melhor administrado na Itália, e talvez até na Europa.

    Eles conseguiram obter lucros ano após ano, enquanto adquiriam seu estádio da prefeitura de Bérgamo (tornando-se um dos apenas cinco times da Série A a possuir seu próprio estádio) - e depois o modernizaram para atender aos padrões da UEFA. Quando a fase final da reforma for concluída antes do início da próxima temporada, a capacidade terá aumentado para 25.000.

    "Foi o maior investimento da história da Atalanta, mas estamos muito orgulhosos, pois o clube e o povo de Bérgamo merecem um estádio dessa qualidade," disse Luca Percassi à Sky. "Poder ver as muralhas da cidade das arquibancadas é significativo, é um lar para a equipe e seus torcedores."

    Então, como o Atalanta conseguiu alcançar tudo isso? Identificando e desenvolvendo jogadores como nenhum outro time na Itália.

  • Antonio Percassi, Gian Piero Gasperini, Giovanni Sartori, AtalantaMarco Luzzani / AFP

    Virando a chave

    Durante seu primeiro mandato como presidente do clube, entre 1990 e 1994, Percassi contratou Fermo Favini, do Como, com o objetivo de criar uma categoria de base qualificada. Hoje, o juvenil da Atalanta é o mais produtivo da Série A - e Gasperini aproveitou ao máximo a mina de ouro que teve a sorte de encontrar em Bérgamo.

    "[Oito anos atrás], havia muitos jogadores nas categorias de base, próximos ao time principal, mas que quase não eram envolvidos," ele disse ao site oficial da UEFA. "Esse foi a virada de chave – a partir daí, o mundo da Atalanta mudou um pouco."

    De fato, a Atalanta se tornou uma das melhores equipes da Europa ao utilizar jogadores da base, como Franck Kessie, Andrea Conti, Roberto Gagliardini, Mattia Caldara e Alessandro Bastoni no time principal antes de vendê-los e forrar mais ainda com os lucros. Também conseguiram grandes quantias com estrelas das categorias de base que mal jogaram pela equipe principal, incluindo Dejan Kulusevski e Amad Diallo.

    Além disso, há casos como o de Rasmus Hojlund, que foi contratado do Sturm Graz por €17 milhões (R$ 94 milhões) em agosto de 2022 e vendido para o Manchester United na janela seguinte por mais de quatro vezes esse valor - a ilustração perfeita de uma equipe de olheiros (scouting), implementada pelo ex-diretor técnico Giovanni Sartori.

  • Atalanta HDGetty

    O melhor projeto do mundo

    O troféu da Liga Europa, então, é um exemplo brilhante do que pode ser alcançado quando cada pessoa em um clube está trabalhando em prol de um objetivo comum. "Ideias, habilidades de gestão e um senso de pertencimento são a chave," Gasperini disse à UEFA na véspera da final. "Já provamos que, mesmo em um ambiente pequeno e com números que não são extraordinários, ainda é possível criar uma equipe que esteja inteiramente identificada com a área local... Talvez nossa jornada extraordinária seja melhor avaliada daqui a alguns anos."

    Está acontecendo agora, porém. A vitória de quarta-feira é um divisor de águas para Gasperini e a Atalanta. O triunfo - e a forma como ele veio - atraiu a atenção de todo o mundo do futebol para Bérgamo, significando que o time do italiano finalmente deveria ser reconhecido como o maior caso de sucesso da Europa há mais de cinco anos.

    Nenhum outro treinador - nem Pep Guardiola, nem Carlo Ancelotti e nem mesmo Jurgen Klopp - fez algo que se compare ao trabalho feito por Gasperini na Atalanta. Você teria que voltar até Sir Alex Ferguson no Aberdeen ou Guy Roux no Auxerre para ver algo semelhante. A Atalanta é, simplesmente, a melhor equipe do mundo.

    "Você nem sempre consegue ganhar troféus", Gasperini disse à Sky em abril, depois de assistir a Atalanta se tornar a primeira equipe italiana a vencer duas vezes em Anfield, "mas quando você pode fazer história em um clube como o nosso, isso também vale muito." Em uma era do futebol totalmente arruinada pelo dinheiro, uma história assim é muito inspiradora, e agora ela tem o final feliz - e o dinheiro pelo título - que sempre mereceu.

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