O que Real Madrid e Florentino Pérez têm a ensinar a Chelsea e Todd Boehly

Com exceção a José Mourinho, Pérez evitou contratar grandes treinadores táticos no Santiago Bernabéu. Em vez disso, o proprietário prosperou empregando técnicos "cascudos", o tipo de treinador que impõe respeito e opta por promover o ambiente certo para que seus jogadores brilhem, em vez de utilizar configurações complicadas nas suas formações.

Carlo Ancelotti e Zinedine Zidane são os melhores exemplos dessa situação. Os dois treinadores, agraciados com equipes tão talentosas, mantiveram suas estrelas felizes por si só para trazer imenso sucesso ao seus respectivos projetos esportivos.

Estes são jogadores de muito dinheiro e de grande ego. E, embora não sejam avessos a aplicar táticas - a grande melhoria de Eduardo Camavinga na latera esquerda é um exemplo - os jogadores do Real Madrid prosperam quando confiam em mostrar o seu melhor.

Boehly, por outro lado, parece não saber que tipo de técnico seu time precisa. Até agora, ele demitiu um ótimo estrategista, como o alemão Thomas Tuchel, antes de nomear dois treinadores relativamente promissores para supervisionar um esquadrão montado de maneira cara, como Graham Potter e Frank Lampard.

E é claro que boas vibrações e sorrisos por si só não são suficientes para gerenciar um time inchado e cheio de "estrelas". Ainda não se sabe se Boehly precisa de um Ancelotti ou de alguém mais técnico, como Julian Nagelsmann, ex-comandante do Bayern de Munique. Como Pérez provou, encontrar o molde certo de treinador é vital para o sucesso.

Quando foi o último talento da base que se destacou no Real Madrid? La Mesia, como é conhecida, rendeu alguns jogadores imensos ao longo dos anos, mas muito poucos apareceram na escalação do Real Madrid e permaneceram lá - especialmente na última década.

Na verdade, os merengues, apesar de sua multidão de jovens promissores, não viram um jogador da base se tornar um titular do time principal desde que Iker Casillas apareceu.

Houve alguns breves sucessos no meio, como Nacho, Dani Carvajal e Lucas Vazquez, por exemplo, mas o Real Madrid abandonou em grande parte um sistema de base imensamente talentoso e, em vez disso, procurou contratar seus jovens jogadores de outros lugares.

Jogadores como Achraf Hakimi e Juan Mata fizeram parte do sistema juvenil antes de obter sucesso em outras equipes. Esses dois, em vários estágios, poderiam ter sido imensas adições ao time principal.

O Chelsea muitas vezes se vê fazendo a mesma coisa, apesar de ter uma formação juvenil mais completa. Jamal Musiala foi contratado pelo Bayern de Munique antes que pudesse entrar no time titular, enquanto Fikayo Tomori e Tammy Abraham foram negociados após algum sucesso na seleção principal. Mason Mount agora parece provável que saia neste verão.

É claro que é difícil prever o quão bom um jovem jogador será, especialmente quando os nomes à sua frente são de classe mundial. Mas Boehly precisa ignorar o desrespeito de Pérez pelos talentos jovens e tentar manter as grandes armas, mesmo que isso signifique deixá-los inicialmente por empréstimo.

O Real Madrid é implacável no mercado de transferências. Embora seus torcedores sejam extremamente leais aos jogadores enquanto estão no centro das atenções, Pérez demonstrou pouco sentimento em vender suas maiores estrelas, especialmente quando eles não são mais essenciais para seu time.

Cristiano Ronaldo, Casemiro, Ángel Di Maria, Mesut Ozil e Gonzalo Higuain foram vendidos quando queriam sair ou foram considerados excedentes para os requisitos. O clube também tem sido inteligente na distribuição de contratos. Sergio Ramos, por exemplo, não renovou seu acordo quando ficou claro que seus melhores dias haviam passado.

O Chelsea, por outro lado, realmente não vende. Pelo menos, não na hora certa. Enquanto eles tiveram retornos saudáveis para Eden Hazard, Juan Mata e Thibaut Courtois, o Chelsea tem um histórico misto de se livrar de jogadores.

E é um período crucial para os Blues começarem a cortar o elenco. Boehly arrastou o clube para problemas financeiros profundos com seus gastos e precisará descarregar vários jogadores do time principal para chegar perto de equilibrar as contas de seu time.

Boehly tem sido legal e acolhedor. Agora é hora de ele ser implacável.

Pérez não é exatamente o cara mais popular e parece gostar disso. O dono do Real Madrid desempenha alegremente o papel de "vilão", jogando o peso de seu clube com pouca cautela. É um padrão que remonta ao início de seu mandato no Real Madrid, quando ele contratou Luis Figo, do Barcelona, em sua primeira grande jogada como presidente do clube.

Esse foi o início da era Galáctica, quando o Real Madrid contratou alguns dos maiores nomes do futebol europeu, atraindo jogadores, como Ronaldo, David Beckham e Michael Owen, para o Santiago Bernabéu.

Sua política de trazer um grande nome a cada verão atraiu a ira de outros proprietários em toda a Europa, com a aparente arrogância de Pérez tornando-o uma figura imensamente impopular fora da Espanha.

Boehly já está se desviando perigosamente por esse caminho. Algumas de suas ideias, como realizar um jogo All-Star da Premier League, já foram recebidas com grande ceticismo. Ele seria melhor aconselhado a evitá-los.

Indiscutivelmente, o maior erro de Boehly no comando até agora foi se nomear diretor de futebol quando assumiu o clube antes da janela de transferências de verão de 2022.

Isso levou a uma série de más contratações e uma tentativa frustrada de trazer Cristiano Ronaldo, que forçou a saída de Tuchel. No total, o proprietário desembolsou mais de 600 milhões de libras em novos jogadores desde que assumiu - muitas vezes sem nenhum método claro. E é difícil dizer que qualquer uma das novas contratações causou um impacto tangível na lateral.

Pérez, por sua vez, confiou na extensa rede de transferências do Real Madrid ao longo dos anos e contratou as pessoas certas para o futebol. O olheiro Juni Calafat contratou nomes como Vinícius Jr, Rodrygo, Federico Valverde e, mais recentemente, Endrick, do Palmeiras. Tornou Madrid um paraíso para o desenvolvimento de talentos, ao mesmo tempo que um destino para uma série de estrelas.

Boehly, apesar de todas as suas boas intenções e maneiras de gastar muito, não é um gênio do futebol. E parece que ele pode estar disposto a admitir isso, reunindo recentemente um elenco de mentes mais coerente para administrar as transferências. Mas, com todo o dinheiro já desperdiçado, pode ser tarde demais.

Pérez já era uma figura impopular quando liderou a campanha para a Superliga Europeia há dois anos. O presidente do Real Madrid tornou-se seu presidente, e o maior proponente, tentando vender a competição potencialmente destrutiva como boa para o futebol.

A ideia, é claro, desmoronou rapidamente. Mas Pérez nunca deixou isso de lado e o usou como um ponto improvável de uma aliança com o presidente do Barcelona, Laporta - uma estranha amizade que agora está sendo severamente testada.

Até hoje, o presidente do Real Madrid defende a competição, alegando que os jovens não estão mais interessados no cenário futebolístico atual. Independentemente da validade de suas afirmações, seu apoio contínuo à competição só o fez cair ainda mais em desgraça com o mundo do futebol.

Boehly deve manter seu nome fora da série de ideias semelhantes, que, provavelmente, se materializarão nos próximos anos.

"Pela vida da minha mãe, ele (Vinícius Jr.) joga contra a gente!" foi a frase que resumiu a temporada 2020/21 do Real Madrid. Estas palavras, ditas em privado por Karim Benzema a Ferland Mendy, mas captadas pelas câmaras e espalhadas pelo mundo, sintetizam a frustração sentida face às exibições do então adolescente brasileiro com a camisa merengue;

De fato, Vinícius foi irritantemente inconsistente durante seus primeiros dias, embora ele sempre mostrasse sinais de se tornar o talento elétrico que é agora. Rodrygo, de certa forma, sofreu críticas semelhantes, enquanto Camavinga e Aurelien Tchouameni também tiveram seus detratores.

Mas todos os quatro estão em sua melhor forma, já que a diretoria da equipe está disposta a ser paciente com aqueles que obviamente se encaixam no sistema. Vinícius e Rodrygo sempre tiveram potencial para serem excelentes atacantes.

Essas foram contratações inteligentes na época, e a disposição do clube em dar a eles a chance de jogar - e aprender efetivamente no trabalho - fez maravilhas.

O problema do Chelsea é que sua abordagem de transferência tem sido tão errática que é difícil identificar quem pode ser o ajuste certo. De fato, se não houver um sistema, é impossível saber quais jogadores têm futuro a longo prazo no clube.

Mas supondo que um novo técnico, provavelmente contratado neste verão, resolva tudo em uma visão mais coerente, o Chelsea deve manter a calma com os jogadores que, sem dúvida, experimentarão algumas dores do amadurecimento.

Pode ser tarde demais para este. Boehly já gastou muito com um elenco de jogadores assustadoramente semelhantes, fazendo incursões constantes no mercado de transferências, sem produzir uma contratação particularmente inspiradora. Enzo Fernandez, talvez, pode valer a pena seu preço, mas é difícil justificar contratações em outras posições.

É um erro que o Real Madrid cometeu várias vezes durante a gestão de Pérez. Eden Hazard, Luka Jovic e James Rodriguez tiveram sucesso limitado no clube, apesar de receberem altos valores. Nenhum dos três, de fato, assinou extensões de contrato para permanecer no Real - com Hazard improvável de permanecer na capital além do próximo ano.

Também houve mais desperdícios de dinheiro. Danilo, Walter Samuel e Jonathan Woodgate (lembra dele?) foram todos péssimos investimentos. Ambos os clubes, reconhecidamente, podem se dar ao luxo de gastar dinheiro, mas isso não significa que devam fazê-lo sem sentido.

Boehly supostamente flertou em trazer Cristiano Ronaldo para Stamford Bridge. Ele só precisa olhar para alguns dos grandes fracassos do Real Madrid para ver o motivo que abrir a carteira para nomes de alto perfil nem sempre é prudente.