+18 | Conteúdo Comercial | Aplicam-se termos e condições | Jogue com responsabilidade | Princípios editoriais
Luka Modric time up GFXGetty/GOAL

Chegou a hora do adeus: Real Madrid acerta em ignorar pedidos de renovação e liberar a lenda Luka Modric

Todos nos lembramos daquele passe. Luka Modric recebe a bola em um pequeno espaço entre o meio-campo e a linha defensiva do Chelsea. Ele mal levanta a cabeça antes de executá-lo — um lançamento milimétrico, de trivela, direto para Rodrygo no segundo poste. O atacante finaliza em movimento, o Real Madrid salva sua vaga nas semifinais da Champions League, avança até a final e, depois, levanta o troféu. Aquela assistência deslumbrante foi um dos muitos momentos decisivos daquela campanha na temporada 2021/22.

Modric tinha 35 anos quando fez aquele passe provocante — e já parecia atemporal. O trio formado por Kroos, Modric e Casemiro caminhava para o fim, mas o croata mostrava que ainda tinha muito a oferecer.

Ele continuaria como peça-chave no meio-campo merengue por mais duas temporadas, sendo decisivo nos grandes jogos e poupado nos menos exigentes, cuidando do corpo. Mas agora, o cenário mudou. Modric parece cansado — e já não é mais o mesmo. Em uma temporada marcada pela instabilidade no meio-campo do Real, o vencedor da Bola de Ouro de 2018 também deu sinais de desgaste.

Ele está longe de ser um peso morto, mas o que se vê em campo confirma o que as estatísticas indicam: Modric envelheceu. O croata confirmou nesta quinta-feira que vai deixar o Real Madrid, e o melhor para sua história no clube é sim sair enquanto ainda tem futebol para partir com dignidade.

📱Veja a GOAL direto no WhatsApp, de graça! 🟢
  • Kroos Casemio ModricGetty Images

    Lenda do futebol

    Isso não é, de forma alguma, uma acusação contra Modric — tampouco uma crítica direta ao seu futebol. Ele é um jogador verdadeiramente brilhante e, de certo modo, subestimado, mesmo tendo sido o coração do meio-campo do Real Madrid por quase uma década. Foi ele quem rompeu o duopólio de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo na Bola de Ouro — e com justiça. Sua consistência em grandes torneios com a Croácia levou seleções medianas a flertarem com conquistas históricas.

    Modric nunca reclamou, tampouco demonstrou cansaço. Casemiro era o cão de guarda do trio no meio-campo, uma locomotiva de rosto sereno que desarmava qualquer ameaça. Kroos era o maestro analítico, que ditava o ritmo em campo e depois oferecia declarações afiadas fora dele. Modric fazia as coisas mais elegantes: deixava o jogo falar por ele e liderava pelo exemplo. Foi essa postura que lhe permitiu envelhecer com tanta graça.

    Quando ficou evidente, na temporada 2022/23, que não seria mais titular absoluto, Modric aceitou a nova realidade com classe. Atuou cerca de 300 minutos a menos no ano seguinte, tornando-se uma presença reservada para os grandes jogos. E ainda assim, entregava. Uma hora de pura qualidade contra Atlético de Madrid ou Barcelona numa semana, seguida por 30 minutos de controle e serenidade contra Villarreal ou Getafe na outra.

  • Publicidade
  • Real Madrid CF v RCD Mallorca - La Liga EA SportsGetty Images Sport

    Fazendo uma curva

    Ano após ano, os minutos de Modric foram diminuindo, e suas participações se tornaram cada vez mais esporádicas. Nesta temporada, ele foi titular em apenas 16 partidas da La Liga e participou de metade dos jogos do Real Madrid na Champions League. Sua ausência nos dois confrontos decisivos contra o Manchester City deixou claro seu lugar atual na hierarquia da equipe.

    Foi uma campanha confusa no Santiago Bernabéu — e uma daquelas que todos parecem ansiosos para ver chegar ao fim. O time foi superado pelo Barcelona na disputa do Campeonato Espanhol, caiu diante do Arsenal na Champions e, no fim das contas, só tem a Supercopa da Uefa e a Copa Intercontinental para mostrar em uma temporada que começou com a chegada bombástica de Kylian Mbappé.

    A ausência de Kroos foi sentida. A equipe nunca encontrou equilíbrio em um sistema onde Vinícius Jr. e Mbappé não conseguiram render juntos, enquanto Jude Bellingham passou de lesionado a irritado e, depois, totalmente desinteressado com o próprio jogo.

    Modric não é o culpado por nada disso. Na verdade, este é um time que nem mesmo ele seria capaz de consertar. Ao Real Madrid faltam pernas e vigor físico — duas características que, aos 39 anos, Modric já não possui. Não surpreende que Ancelotti tenha recorrido a ele com menos frequência.

    Mais do que uma decisão pontual, talvez isso reflita o novo rumo da equipe. O Madrid tem hoje três talentos criativos e individualistas no elenco, e precisa de jogadores dispostos a correr ao redor deles. É por isso que Fede Valverde se torna cada vez mais vital para o futuro do clube.

  • Toni Kroos Real Madrid 2024Getty

    Aprenda com Kroos

    Tudo, portanto, indicaria que Modric estaria de saída, já que seu contrato caminha para as semanas finais. Mas havia um obstáculo: ele não queria ir. A poucos meses de completar 40 anos, as informações vindas da imprensa espanhola sugeriam que o croata estava animado com a possibilidade de trabalhar com o novo técnico do Real Madrid, Xabi Alonso, e desejava permanecer por pelo menos mais uma temporada.

    Na teoria, soava como algo bonito — quase poético. Duas lendas reunidas para uma última jornada. Um final digno para os românticos do futebol. Mas há também o lado prático a considerar, e Modric quem sabe se inspirou em outro meio-campista lendário que soube a hora de parar.

    Toni Kroos dominou como poucos a arte de sair por cima. Encerrou a carreira ao fim da temporada 2023/24 — possivelmente sua melhor com a camisa do Real Madrid. Muitos se surpreenderam com a decisão. Afinal, ele ainda tinha futebol para continuar competindo em alto nível. Mas Kroos entendeu que seu auge já havia passado, e que o declínio era inevitável. Sem o desejo de vestir outra camisa, preferiu parar — mesmo que isso tenha deixado o clube em uma situação delicada. Mas esse já não era mais um problema dele.

    Modric agora segue este caminho. É possível que ele ainda tivesse condições de atuar em mais uma temporada, em um papel reduzido? Talvez. Mas isso correria o risco de resultar em uma despedida sem o brilho que sua carreira merece. É melhor sair enquanto ainda há algo a oferecer — e, principalmente, enquanto ainda há dignidade na forma como ele se despede.

  • ENJOYED THIS STORY?

    Add GOAL.com as a preferred source on Google to see more of our reporting

  • 1. FSV Mainz 05 v Bayer 04 Leverkusen - BundesligaGetty Images Sport

    Reconstrução necessária

    O Real Madrid, também, pode abrir mão de um Modric com 40 anos ocupando espaço no elenco. Pode soar estranho dizer isso sobre um clube historicamente formado por Galácticos, mas a verdade é que o Real precisa se renovar. E esse processo já começou. A equipe trouxe Trent Alexander-Arnold e Dean Huijsen, está ativamente em busca de um novo lateral esquerdo e rumores indicam que um novo meio-campista central também está no radar. Florentino Pérez foi às compras.

    Este é um clube implacável — com uma torcida exigente e uma política de contratações que não dá espaço para sentimentalismos. E é difícil ver exatamente o que Modric ainda poderia acrescentar nesse novo contexto. Jude Bellingham, Eduardo Camavinga, Aurélien Tchouaméni e Federico Valverde são nomes consolidados no meio-campo. Dani Ceballos, após uma temporada de recuperação, também pode seguir. E mesmo que o clube não traga mais reforços, existe a possibilidade de Alexander-Arnold ganhar liberdade para atuar por dentro.

    A realidade é que Modric teria de se contentar com minutos esporádicos em jogos menores, talvez com algumas aparições na Copa do Rei. É esse o final de carreira que ele mereceria?

  • Real Madrid CF v Girona FC - La Liga EA SportsGetty Images Sport

    Oportunidades em outros lugares?

    Então, o que vem a seguir?

    Toni Kroos foi claro ao dizer que o Real Madrid era seu único clube. Rejeitou abertamente a liga saudita, nunca se interessou pela MLS e, se houve sondagens de outros clubes europeus, nunca foram consideradas de forma séria. Ele sabia quando parar — e o fez no topo.

    Modric não precisa ser tão intransigente. Seu plano declarado é jogar até a Copa do Mundo de 2026, e a boa notícia é que há mercado para ele nesse período. A Arábia Saudita certamente continua interessada, a MLS permanece como uma opção viável, e não é impossível imaginá-lo em outro clube europeu de médio porte, onde ainda possa brilhar com protagonismo.

    Ficar em Madri para viver uma última temporada sob comando de Xabi Alonso soava romântico. Mas a realidade é mais dura: seu papel só iria diminuir, suas pernas só se cansariam mais. O tempo é imbatível — e Modric deixa o Real Madrid antes que o futebol o deixe.

0