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Andres Escobar Wildest Stories GFXGOAL

Andrés Escobar e o gol contra mais trágico da história da Copa do Mundo

A história de Andrés Escobar é uma das mais trágicas do futebol. Zagueiro da seleção colombiana e do Atlético Nacional, ele foi assassinado aos 27 anos em seu país após a Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos.

Escobar foi responsabilizado pela eliminação da Colômbia na fase de grupos, por ter feito um gol contra na derrota por 2 a 1 frente aos EUA. Menos de uma semana depois, foi morto a tiros em frente a uma boate em Medellín. Humberto Castro Muñoz, guarda-costas e motorista de traficantes, confessou o crime.

O futebol colombiano estava profundamente ligado ao narcotráfico, tendo clubes como o Atlético Nacional sendo financiados por Pablo Escobar, e embora esse choque entre o mundo da bola e o dos cartéis de drogas tenha resultado em muitas mortes, o assassinato de Andrés Escobar abalou o mundo e, até hoje, não se sabe exatamente por que o zagueiro foi morto.

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  • Andres Escobar Colombia 1994Getty Images

    O orgulho de Medellín

    Escobar nasceu em uma família de classe média em Medellín. Destacou-se nas equipes de futebol na escola e seguiu os passos de seu irmão mais velho, Santiago, no futebol profissional. Inicialmente volante, foi convencido pelo técnico Carlos "Piscis" Restrepo a se tornar zagueiro para melhor aproveitar sua altura e força no jogo aéreo.

    Antes de completar 18 anos, assinou com o Atlético Nacional, onde seu irmão jogava. Após a saída do zagueiro titular, Escobar, então com 20 anos, ganhou mais espaço no time.

    Em março de 1988, o técnico da seleção colombiana (e também técnico do Nacional), Francisco Maturana, deu a Escobar a chance de estrear na seleção principal. Foi em uma vitória por 3 a 0 contra o Canadá. Escobar rapidamente tomou conta da posição ao lado de lendas como Rene Higuita e Carlos Valderrama, ganhando fama nacional.

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  • Herói do clube e do país

    A juventude e a falta de experiência de Escobar geraram preocupações na seleção colombiana por sua ascensão meteórica, apesar de boas atuações contra Canadá, EUA e Escócia. Ele também se destacou ao marcar de cabeça no empate de 1 a 1 contra a Inglaterra.

    Em 1989, Escobar ajudou o Atlético Nacional a conquistar sua primeira Copa Libertadores, jogando todas as partidas e marcando o gol decisivo contra o Deportivo Quito. O time superou Racing Club e Millonarios, vencendo o Olimpia nos pênaltis na final e se tornando a primeira equipe colombiana a conquistar o torneio. Também venceram o UNAM, do México, na Copa Interamericana e foram vice-campeões do Mundial de Clubes contra o Milan.

    Na época, traficantes colombianos, como Pablo Escobar, controlavam clubes como brinquedos e usavam o futebol para lavar dinheiro, resultando em corrupção e assassinatos.

  • Andres Escobar 1994 World Cup ColombiaGetty

    Infelicidade na Copa do Mundo

    Após seu sucesso em 1989, Escobar foi para a Europa jogar no Young Boys, da Suíça. Ele convenceu seu irmão a acompanhá-lo, mas não conseguiu se adaptar e retornou à Colômbia após seis meses.

    De volta ao seu país, Escobar venceu o campeonato nacional em 1991, porém, em 1993, uma lesão no joelho o tirou da Copa América e das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994. Ele voltou ao selecionado no início de 1994, ajudando a Colômbia a se manter invicta em sete jogos antes do Mundial nos Estados Unidos.

    Na Copa do Mundo de 1994, Escobar, que havia tido uma boa experiência anterior no Mundial de 1990, enfrentou dificuldades. Após uma derrota por 3 a 1 para a Romênia, a Colômbia precisava vencer os EUA e a Suíça para avançar.

    No jogo contra os EUA, Escobar acidentalmente esticou a perna em um cruzamento e marcou um gol contra, contribuindo para a derrota por 2 a 1. Apesar de vencer a Suíça por 2 a 0, o estrago já estava feito e a Colômbia foi eliminada, uma grande decepção para quem havia chegado ao torneio tida como uma das favoritas ao título.

  • O assassinato

    "A vida não termina aqui", disse Escobar aos repórteres após a derrota para os EUA. Ele escreveu um artigo para o El País com o mesmo título, enfatizando a importância do respeito e expressando gratidão pela experiência.

    Após o gol contra, Escobar passou por um período horrível. Enfrentou dificuldades para dormir e poderia ter ido para Miami ou ficado na cobertura do torneio com uma emissora colombiana, mas decidiu voltar para casa, dizendo à sua irmã, Maria Ester: "Quero ir para a Colômbia e mostrar minha cara." Amigos notaram que ele queria ficar sozinho, mas também ser transparente sobre o incidente.

    Poucos dias após seu retorno a Medellín, Escobar foi a uma boate com amigos, onde estavam os traficantes David e Santiago Gallón. Eles provocaram Escobar repetidamente gritando "Gol contra, Andrés, gol contra". Quando Escobar saiu do local, foi confrontado pelos homens no estacionamento. Ele disse que o gol contra foi um erro inocente, mas um deles puxou uma arma e disparou seis vezes, gritando "gol!" a cada tiro. Escobar morreu no hospital menos de uma hora depois.

  • As consequências

    Yepes lembra: "Eu estava em um táxi de madrugada quando ouvi no rádio: 'Andrés Escobar acaba de ser assassinado'. O taxista parou o carro, colocou as mãos na cabeça e gritou: 'Desgraça!'"

    "Eu senti uma tristeza completa. Seus primeiros pensamentos vão para a família dele", escreveu Harkes, o jogador estadunidense cujo cruzamento levou ao gol contra de Escobar. "O dia ficou confuso, você tenta afastar, não quer ouvir sobre isso. E no hotel naquela noite, você tenta pensar no jogo, mas não consegue."

    A polícia prendeu rapidamente Humberto Castro Muñoz, que confessou o assassinato e foi condenado a 43 anos de prisão, apenas para ser libertado 10 anos depois.

    "Francamente, acredito que não há justiça na Colômbia", disse Darío Escobar, pai de Andrés. "É uma decepção, porque dizem que ele foi condenado a 43 anos, mas agora o assassino está solto."

    Há especulação sobre o motivo do assassinato. Alguns acham que foi azar, enquanto os promotores acreditam que os irmãos Gallón, chefes de Muñoz, ordenaram o assassinato por perderem dinheiro apostando no jogo. Eles foram acusados de encobrir o crime e soltos após alguns meses. Pamela Cascardo, namorada de Escobar, acredita que os Gallón subornaram oficiais para reduzir a pena de Muñoz. Outros creem que se Pablo Escobar estivesse vivo, ninguém teria tido coragem de matar o astro do seu time.

  • Andres Escobar hat Getty Images

    A perda do "cavalheiro" do futebol

    Aos 27 anos, Andrés Escobar tinha uma promissora carreira pela frente, com rumores de que se juntaria ao Milan como sucessor de Franco Baresi. Adorado por sua habilidade e comparado a Franz Beckenbauer, ele também era conhecido como "O Cavalheiro" por sua personalidade justa, calma e gentil.

    "Eu tinha uma amizade muito próxima com ele", disse seu irmão, Santiago. "Vivemos nossa infância juntos, nossas carreiras no futebol foram semelhantes. Eu o amava e ainda amo."

    Escobar planejava se casar no final de 1994. "Eu amava Andrés. Ele seria meu marido, o pai dos meus filhos, mas não aconteceu", disse sua namorada. "Aprendi que tinha que começar do zero."

    Seu amigo de infância, Juan Jairo Galeano, que estava com ele na noite de seu assassinato, descreveu Escobar como respeitoso, sincero e generoso. "Ele gostava de fazer caridade sem que ninguém percebesse."

    Luis Fernando "Chonto" Herrera, companheiro de equipe, lembrou-se dele como uma pessoa séria, mas alegre e brincalhona. "Ele era o melhor zagueiro da história do futebol colombiano. Ainda não aceitei sua morte."

    No ano em que se completa 30 anos do brutal assassinato de um dos melhores defensores da Colômbia, o mundo do futebol, assim como Luis Herrera, ainda luta para entender como uma tragédia tão sem sentido pôde acontecer com uma figura tão admirada.