Álvaro Carreras: o lateral esquerdo que fracassou no Manchester United, mas está perto de retorno ao Real Madrid

Carreras nasceu em Mallorca, mas cresceu em Ferrol, na Galícia, região noroeste da Espanha. Começou a jogar futebol aos quatro anos no modesto Racing de Ferrol como atacante. “Amava fazer gols”, contou ao jornal Marca. “Em uma temporada no Racing, marquei 100 vezes!”

Na sequência, passou pelas categorias de base do tradicional Deportivo La Coruña, onde foi recuado para a lateral esquerda. Segundo ele, a maior dificuldade na adaptação foi ter que aprender a recompor, já que seu instinto sempre foi ofensivo. “Costumo brincar que defendo atacando”, afirmou.

Em 2017, Carreras se mudou para a capital espanhola para se juntar à base do Real Madrid. “Foi uma decisão difícil”, revelou. “Um bom passo, mas duro. Tive que deixar minha casa e me mudar a 600 quilômetros de distância para correr atrás do sonho de ser jogador profissional.”

Três anos depois, em plena pandemia da Covid-19, Carreras deu um passo ainda mais ousado: trocou o Real Madrid pelo Manchester United. “Foi outra decisão difícil, mas acho que acertei”, disse. “Minhas características combinam com o futebol inglês. Queria vir para a Inglaterra para evoluir na parte defensiva e me tornar um jogador nota 10. E é impossível não crescer quando você treina todos os dias com Cristiano Ronaldo, Juan Mata, Jadon Sancho e Marcus Rashford.”

Durante duas temporadas nas categorias de base dos Red Devils, Carreras marcou seis gols e deu 11 assistências. Um de seus destaques foi em um empate em 1 a 1 contra o Chelsea pelo time sub-21: fez uma partida consistente e ainda deixou sua marca com um golaço, após driblar o marcador na área e finalizar no canto.

Mas a frustração veio com a ausência de chances no time principal. Primeiro, teve que lidar com a concorrência de Alex Telles e Luke Shaw; depois, a chegada de Tyrell Malacia, em 2022, fez com que optasse por um empréstimo ao Preston North End, da segunda divisão inglesa. Em Deepdale, fez 39 jogos e deu seis assistências, chamando a experiência de “um bom desafio”.

Na pré-temporada de 2023, Carreras participou dos amistosos contra Leeds e Lyon, mas foi deixado de fora dos principais compromissos da turnê do United nos Estados Unidos. Atuou apenas contra o Wrexham, quando o clube escalou um time de jovens com a presença do veterano Jonny Evans. Mesmo assim, deixou sua contribuição com uma assistência para o compatriota Marc Jurado no único gol da equipe.

Carreras também começou jogando o último amistoso da pré-temporada, contra o Athletic Bilbao, e ganhou esperança de, enfim, estrear oficialmente quando Luke Shaw se lesionou na segunda rodada da Premier League e Malacia passou por cirurgia no joelho. Mas, em vez de apostar no jovem, o United preferiu contratar Sergio Reguilón por empréstimo junto ao Tottenham.

Sem espaço, Carreras foi emprestado ao Granada, onde viveu momento complicado: titular em apenas cinco jogos de uma das equipes mais frágeis de LaLiga. Com poucas oportunidades, o United optou por encerrar o empréstimo e o repassou ao Benfica, em janeiro de 2024, e foi em Lisboa que sua carreira decolou de vez.

Após um começo discreto, alternando entre o time titular e o banco de reservas, o lateral ganhou sequência com a chegada do técnico Bruno Lage e aproveitou a chance. Em novembro, marcou dois gols em uma mesma semana: primeiro, uma finalização de canhota contra o Farense; depois, um chute de direita na goleada por 4 a 1 sobre o Porto.

O bom momento gerou comparações com Alejandro Grimaldo, outro lateral espanhol que brilhou com a camisa do Benfica. Em entrevista ao Marca naquele mês, Carreras falou sobre a boa fase e aproveitou para mandar uma indireta ao Manchester United, que não acreditou no seu potencial.
“Acredito que, se você merece algo, isso chega uma hora ou outra”, afirmou. “Senti que tinha assunto inacabado no United. Se você não tem oportunidade, precisa sair e provar seu valor. Foi isso que eu fiz. Tive que mostrar na Championship (Segunda Divisão Inglesa). No Granada, não encaixei bem, mas também precisei provar do que era capaz. Se você tem talento, em algum momento as pessoas vão notar.”

A principal arma de Carreras é o drible. Embora seja veloz, ele prefere vencer os marcadores na habilidade do que apenas na corrida. Costuma desacelerar a jogada, arrastar a bola para um lado e, na hora certa, enganar o adversário. Atua pela esquerda, de onde pode cruzar ou finalizar com a perna canhota, mas também sabe cortar para dentro e arriscar com a direita. Essa versatilidade permite que atue como lateral invertido, ocupando o meio-campo com naturalidade. Além disso, tem qualidade para fazer viradas de jogo com passes longos.

Na parte defensiva, evoluiu bastante, e credita isso ao período no Preston. “Acho que foi onde mais aprendi defensivamente, quando fui para a lama, para a Championship inglesa”, contou ao Marca. “Passei um ano emprestado ao Preston e cresci muito. Tive que me concentrar mais, porque sempre tive facilidade para atacar, mas defender exigia mais foco.”

O maior legado de sua passagem por Deepdale é a paixão por carrinhos. No Benfica, virou uma de suas marcas registradas: ele não hesita em se jogar dentro da área para travar jogadas e é agressivo na pressão para recuperar a bola no meio.

Carreras não apresenta muitas falhas em seu estilo de jogo, mas os questionamentos giram em torno do tempo que levou para se firmar e da dificuldade que teve para se destacar em duas passagens por ligas do topo do futebol europeu. A grande dúvida é: ele conseguirá repetir o bom desempenho que teve em Portugal agora em LaLiga? Logo no clube mais exigente do mundo? Algumas vozes influentes na Espanha estão ainda resistentes, principalmente por conta do valor da transferência.

“Gosto dele, mas acho a cifra muito alta”, opinou o jornalista Carlos Carpio, do jornal Marca. “É estranho que o Real Madrid vá pagar tudo isso por um jogador com tão pouca experiência.”

Agora que concretizou o sonho de voltar ao Real Madrid, Carreras terá que brigar por espaço no time titular de Xabi Alonso. E a concorrência não será fácil: Fran García, em alta após boas atuações no Mundial de Clubes, e Ferland Mendy, que se recupera de lesão, estão à frente na disputa pela posição.

Carreras pode se beneficiar do sistema 3-4-3, utilizado com frequência por Xabi Alonso no Bayer Leverkusen e também em alguns momentos no próprio Mundial. Nesse esquema, ele se encaixa bem como ala pela esquerda, onde pode explorar todo seu potencial ofensivo. E se conseguir se firmar no time merengue, a convocação para a seleção principal da Espanha deve ser apenas uma questão de tempo.

O que está claro é que Carreras percorreu um caminho longo e cheio de obstáculos até voltar ao clube onde cresceu. Mas, depois de tanto esforço e renúncia para chegar de volta ao Real Madrid, ele está determinado a fazer valer a oportunidade e ficar por muito tempo.