Talvez nem todos tenham a exata noção do quão históricas foram as partidas do Athletico-PR contra Maringá e Foz do Iguaçu nessa semana, pelo Campeonato Paranaense. Não pelos confrontos ou placares em si, mas pela presença de mais de 30 mil mulheres e crianças nas arquibancadas de cada uma das partidas disputadas na Arena da Baixada.
O que seria só uma pena alternativa do TJD-PR aos episódios lamentáveis de marmanjos brigões, se transformou em um mar de cenas incríveis: crianças indo ao estádio pela primeira vez, famílias vivendo juntas a experiência de torcer em segurança, mulheres ocupando funções predominantemente masculinas na torcida, entre outras situações inimagináveis — infelizmente.
Tanto, que algumas histórias inspiradoras acabaram viralizando na internet. A pequena Aurora, por exemplo, começou a gostar de futebol recentemente e foi levada pela mãe para assistir a um jogo do Athletico e outro do Coritiba, a fim de decidir sua torcida daqui para frente. No fim das contas, encantada pelo estádio, pelas cores e pela pelúcia Fura-cão, acabou optando pelo lado rubro-negro.
Já a torcedora mirim Mia também foi ao estádio com a mãe e se divertiu como nunca: comeu pipoca, gritou e imitou as reações da torcida, conquistando fãs na arquibancada e na internet. Dias depois ela ainda foi convidada pelo Athletico para pisar no gramado, desejo que não foi possível realizar no dia do jogo. No fim do passeio, ainda visitou a loja do clube e ganhou um Fura-cão de presente.
Entre os adultos, a história que mais chamou a atenção foi a das irmãs Lola e Lila, de 85 e 79 anos respectivamente, que foram juntas à Arena para curtir uma partida do Athletico. Na foto, publicada pela neta @graboskiana no Twitter, dá para ver que elas estavam minuciosamente trajadas para a ocasião e com um sorriso enorme de satisfação pela oportunidade.
Outro destaque foi a perseverança e a dedicação da ritmista Bruna Lack, que, nas duas partidas, comandou a bateria atleticana com um barrigão de nove meses — devidamente assistida por uma equipe médica, claro. “Eu já vivi muita coisa com o Athletico, mas nada se compara com isso”, disse, em entrevista ao site UmDois Esportes.
É por histórias como as das crianças Aurora e Mia, das irmãs Lila e Lola e da grávida Bruna que urge a necessidade de repensar o que (não) estamos fazendo para incluir mulheres e crianças nas arquibancadas do futebol brasileiro.
Não é só questão de replicar para o resto do país a iniciativa de torcida feminina e infantil em partidas que seriam com portões fechados, mas também de implementar projetos específicos de longo prazo para atrair e manter esse público nos estádios.
O que não faltam são ideias: ingressos mais baratos, pacotes especiais, promoções pontuais, campanhas de marketing específicas, reformas estruturais para receber esse público com maior conforto e segurança, enfim, são várias as possibilidades.
O que não dá mais, em pleno 2023, é ver clubes, federações e CBF ignorando que elas existem e amam o futebol tanto quanto nós.
