Claudio Coutinho 14072016Reprodução

Há 80 anos nascia Cláudio Coutinho, símbolo do Flamengo e da obsessão pelo estudo no futebol

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O estudo analítico do futebol cresce no Brasil a cada ano. E com isso, nos vemos em meio a palavras novas que buscam explicar de forma mais apurada uma determinada posição ou a inclusão de mais traços na hora de escrevermos um esquema tático. Você pode achar isso chato, espetacular ou até mesmo dar de ombros, mas é uma realidade cada vez mais presente – ainda mais por causa das informações que podemos buscar hoje através da internet.

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Claro, o futebol não nasceu ontem. E desta forma, o olhar quase científico sobre o jogo também não começou hoje: cada época conta com um exemplo. Mas na hora de falarmos sobre estudiosos brasileiros do Esporte Bretão, talvez o mais revolucionário de todos tenha sido Cláudio Coutinho, que há exatos 80 anos nascia no distrito de Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul.

Arquiteto do melhor Flamengo da história, Coutinho foi um homem à frente de seu tempo no futebol.

Os seus conhecimentos ajudam a explicar a mudança de eras no jogo por aqui: Cláudio Coutinho foi parte vital na modernização da forma de trabalhar o futebol no Brasil, a partir da década de 70. Um exemplo rápido e direto para evitar muitas enrolações: auxiliar do preparador físico Admildo Chirol, o gaúcho de alma carioca implementou o chamado método Cooper na preparação física da Seleção no caminho da conquista do Tri – e sob o escaldante sol mexicano, que ainda ganhava peso maior com a altitude, o Brasil voou em campo além de encantar pela forma como tratava a bola.

O método Cooper fazia parte do programa de preparação física dos astronautas que iriam para a Lua, e ajudou Coutinho a decolar na carreira de treinador de futebol. Em 1976, iniciou o seu trabalho em um Flamengo que não vivia a melhor de suas situações financeiras – fanático pelo clube, assinou um contrato em branco para o então presidente Márcio Braga. Além de ter sido tricampeão carioca em 1978-79-79 ainda comandou a Seleção Brasileira no Mundial da Argentina, em 1978 (onde apesar de ter campanha invicta, o Brasil voltou com a terceira posição).

O ponto alto veio em 1980, quando levou o Rubro-Negro ao seu primeiro título brasileiro. Um ano depois, o Flamengo conquistaria o mundo já com Paulo César Carpegiani no comando. Em meio à euforia pela taça conquistada no Japão, após vitória por 3 a 0 sobre o Liverpool, a única tristeza era saber que o arquiteto daquele time de craques não estaria mais lá. Semanas antes de o Fla bater os ingleses, Coutinho morreu precocemente no Rio de Janeiro enquanto praticava um de seus hobbies favoritos: a pesca submarina.

Se estivesse vivo por mais tempo, podemos imaginar o quanto mais sairia de sua mente inquieta por conhecimentos no futebol. O livro “Pirâmide Invertida”, uma espécie de Bíblia da tática do esporte mais popular de todos, atribui ao Flamengo de Coutinho a primeira escalação de um 4-5-1; no Brasil, a primeira referência de um 4-2-3-1 é também daquele Fla, já sob o comando de Paulo César Carpegiani – que herdou aquele grupo após se aposentar dos gramados.

O próprio Carpegiani ajuda a explicar, também, o olhar apurado de Coutinho como técnico: se no Internacional Paulo César era meia de ligação, virou primeiro volante justamente sob o comando do capitão. Aquele Flamengo de Zico, Júnior e tantos outros pressionava o adversário sem a bola e, quando recuperava a esfera, dominava completamente a posse de bola - um futebol já moderno décadas atrás.

O mesmo livro também deixa implícito o pensamento de ‘Futebol Total’ de Coutinho ao citar uma de suas palavras mais repetidas: polivalência. Ele também canonizou outras, como Ponto Futuro (o espaço onde a bola seria lançada) e Overlapping (quando o jogador se desloca sem a bola para atrair a marcação adversária). Uma outra publicação (Escola Brasileira de Futebol, escrita pelo jornalista Paulo Vinícius Coelho) mostra em um relato de Zico o quanto os treinos de Coutinho eram revolucionários para a época: contrariando o que era comum então, ele colocava o time para treinar sem um adversário e explicava todas as movimentações táticas que gostaria de ver em campo. Hoje, é algo normal.

Tudo isso sem a obrigação de ter sido um jogador profissional. Estudioso até a raiz e amante do esporte, Cláudio Coutinho não está apenas por trás dos maiores momentos vividos pelo Flamengo: o seu conhecimento ajudou a colocar um marco no futebol brasileiro.

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