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Futebol femininoGetty Images

Assédio no futebol feminino, ainda um problema a ser vencido

O relatório anual de Política na Mídia Esportiva produzido pelo Centro de Comunicação e Mídia Esportiva da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, aponta em um dos seus estudos de caso que, para não prejudicar o avanço do esporte feminino, muitas vezes atletas e jornalistas tentam esconder o lado feio das modalidades. Já que esportes femininos são percebidos como "empoderadores", muitas vezes se fala muito sobre os avanços e se acaba ignorando o que ainda precisa avançar.

Mesmo com todos os avanços e conquistas do futebol feminino no mundo, ainda há muitos problemas a serem encarados, principalmente no tratamento às jogadoras. Recentemente, a Câmara Judicial do Comitê de Ética da Fifa decidiu não sancionar um treinador argentino acusado de assédio sexual e comportamento abusivo contra jogadoras na Argentina.

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Diego Alberto Guacci já treinou as seleções femininas sub-17 e sub-15, e tem passagens por clubes como River Plate e UAI Urquiza. A denúncia contra ele foi realizada na Fifa em 28 de janeiro de 2020 e, dias depois, companheiras da atleta que efetuou a denúncia apoiaram as alegações de uso de termos degradantes referentes ao gênero, orientação sexual e aparência, condutas relacionadas a abuso sexual e psicológico e ameaças.

De acordo com a Fifpro, a associação de jogadores de futebol - uma espécie de sindicato -, cinco jogadoras apresentaram evidências e relataram serem vítimas de maus tratos recorrentes. Mesmo com as denúncias, a Fifa decidiu por não aplicar nenhuma punição.

Isso não acontece apenas em categorias de base ou clubes de menor expressão. Recentemente, foram divulgadas denúncias contra o treinador Didier Ollé-Nicolle, à época comandante do Paris Saint-Germain, referentes a um assédio moral e sexual de uma jogadora menor de idade.

Segundo o jornalista Romain Molina e a jornalista Tiffany Henne, o PSG soube das acusações e não agiu por meses. Além da jovem, que teria sofrido com comentários e toques "inapropriados" - para não dizer abusivos e violentos - do treinador, outras também se pronunciaram contra alegações de ofensas por parte do comandante.

Só após os casos virem à tona nas redes sociais, seis meses após a denúncia inicial, o PSG montou um gabinete de crise e decidiu pelo afastamento de Ollé-Nicolle. O clube também prometeu realizar uma investigação interna sobre o caso. O clube, que já era criticado por não conseguir estabelecer uma boa relação entre as jogadoras no vestiário, teria inicialmente apoiado o treinador internamente. De acordo com Molina, o clube não queria mais um escândalo após o caso da agressão a Kheira Hamraoui em novembro, que resultou em Aminata Diallo sendo detida pela polícia por 48 horas sem provas.

Esses casos, embora chocantes, não são nem de longe isolados no futebol. Vale lembrar das repercussões de acusações de assédio que movimentaram a NWSL, a liga de futebol feminino dos Estados Unidos. Em 2021, cinco dos 10 clubes da liga tiveram treinadores pedindo demissão ou sendo afastados, e a comissária Lisa Baird também deixou o cargo, devido a várias denúncias de assédio moral e sexual, racismo, LGBT+fobia, entre outras.

E é extremamente importante ressaltar também que isso não é exclusivo do futebol feminino. Em fevereiro, o Projeto de Lei 9622/2018 foi aprovado pela Câmara dos Deputados. A proposta da deputada Erika Kokay (PT-DF) exige que, para que clubes e entidades esportivas recebam recursos de bancos públicos, devem promover medidas de proteção a crianças e adolescentes contra a violência sexual. Há anos, são recorrentes - e muitas vezes invisibilizados - os casos de abuso e tráfico de jogadores de categorias de base em clubes e escolinhas.

Falar em proteção de jogadoras de futebol é lembrar que, por mais que hajam avanços no futebol feminino no Brasil e no mundo, só poderemos considerar um sucesso real quando todas as jogadoras tiverem acesso a condições de trabalho dignas. E isso inclui acesso a ambientes seguros dentro do futebol.

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