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Conor Gallagher Chelsea disgrace GFXGOAL

Tratamento do Chelsea a Conor Gallagher escancara problemas do clube

Dois anos após o consórcio Todd Boehly-Clearlake Capital assumir o controle do Chelsea, está cada vez mais difícil se surpreender com as decisões tomadas no mais alto nível - mas eles ainda estão se esforçando ao máximo para isso. Na mais recente de uma série de decisões questionáveis no mercado de transferências, o clube está prestes a vender o prata da casa Conor Gallagher para o Atlético de Madrid.

O meio-campista se destacou como uma peça-chave e jogador favorito dos torcedores na temporada passada, sendo uma presença constante no meio-campo de Mauricio Pochettino. Ele chegou até a atuar como capitão dos Blues em várias ocasiões, muitas vezes carregando seus companheiros de equipe quando o Chelsea finalmente começou a fazer algum progresso na segunda metade da temporada.

Mas, aos olhos de quem toma decisões no clube, isso não vale nada diante da ameaça das regras de lucratividade e sustentabilidade da Premier League. Após gastar mais de £1 bilhão em dois anos de gestão Boehly-Clearlake, Gallagher - que está no Chelsea desde os oito anos de idade - é visto como dispensável, enquanto a hierarquia do clube busca desesperadamente equilibrar as finanças.

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  • Conor Gallagher Chelsea West HamGetty

    'Chelsea é meu time do coração'

    Talvez a parte mais triste de toda essa saga seja que Gallagher está saindo do clube que ama pelas pessoas que agora o controlam. Em circunstâncias normais, ele não tomaria essa decisão, mas acabou se tornando um bode expiatório no caos financeiro do clube.

    Gallagher é um dos poucos membros remanescentes do elenco que têm um profundo entendimento do que significa e do que é necessário para jogar pelo Chelsea, possuindo a mesma garra e determinação que foram personificadas por jogadores como John Terry, Frank Lampard e Dennis Wise em Stamford Bridge ao longo dos anos.

    Tendo ingressado nos Blues aos oito anos, Gallagher vive e respira Chelsea, e ter alguém em um elenco relativamente jovem que personifica esses valores profundamente enraizados é inestimável. No ano passado, ele disse: "O Chelsea é meu time do coração. Eu os apoiei durante toda a minha vida e só quero me sair bem sempre que entro em campo com a camisa do Chelsea." Em outra entrevista, ele reiterou: "Todo mundo sabe que o Chelsea é o meu time e eu amo jogar por eles."

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  • Conor Gallagher Moises Caicedo Chelsea 2023-24Getty

    Carregador de piano

    Gallagher provou repetidamente que é o tipo de jogador que um treinador adora, compensando o que pode faltar tecnicamente com corridas incansáveis, desarmes agressivos e pressão incessante. Ele atravessaria uma parede de tijolos pelo time.

    Mauricio Pochettino também reconheceu o potencial de liderança de Gallagher, entregando-lhe a braçadeira de capitão durante a ausência de Reece James e do vice-capitão Ben Chilwell na temporada passada. Ele foi de quase sair do clube no meio do ano passado para se tornar uma peça-chave, começando todos os jogos da Premier League em que esteve disponível em 2023/24.

    O meio-campista também eleva o nível dos que estão ao seu redor, fazendo o trabalho árduo e sujo para que outros não precisem fazê-lo. Entre os torcedores do Chelsea, há uma percepção generalizada de que Moisés Caicedo, contratado por £115 milhões, teve suas melhores atuações ao lado de Gallagher, enquanto sua presença ajudou a melhorar o futebol de Enzo Fernández em outras ocasiões.

    No entanto, Gallagher não fez todo o seu trabalho nos bastidores - ele contribuiu diretamente com 16 participações em gols em todas as competições em 2023/24. Sua abordagem enérgica foi refletida em uma estatística notável no final de 2023: Gallagher foi o único jogador nas cinco principais ligas da Europa com 20+ finalizações, 20+ chances criadas, 20+ dribles completos, 20+ toques na área adversária, 20+ duelos vencidos, 20+ desarmes e 20+ interceptações, de acordo com a Opta.

    O Chelsea considerou seriamente vendê-lo no meio do ano passado, e evidentemente sua excelente campanha individual não foi suficiente para mudar a cabeça da diretoria.

  • Conor Gallagher Chelsea 2023-24Getty Images

    Tratamento inapropriado

    Não é um exagero dizer que Gallagher deu tudo de si pelo Chelsea em seu relativamente curto tempo na equipe principal - um exemplo de consistência, ética de trabalho e garra em um período extremamente conturbado para o clube como um todo. Isso torna ainda mais difícil de engolir a decisão de que ele foi forçado a sair.

    No dia 31 de julho, o Chelsea informou vários jornalistas de que Gallagher havia rejeitado uma terceira proposta de contrato de dois anos mais uma opção para mais 12 meses, incluindo um aumento salarial que o colocaria em uma faixa de remuneração semelhante à de seus colegas de meio-campo Caicedo e Enzo Fernández. Enquanto isso, foi noticiado simultaneamente que o clube havia chegado a um acordo para vender o jogador ao Atlético de Madrid por £34 milhões.

    Em outra reportagem se falou que Gallagher, que estava entrando no último ano de seu contrato em Londres, havia rejeitado o novo contrato porque foi informado de que ele seria apenas um jogador de elenco com Enzo Maresca, já que não se encaixava no estilo de posse de bola do novo treinador, além de querer um contrato de longo prazo mais do que o oferecido.

    Pouco depois, surgiram relatos isolados de que Gallagher seria excluído da equipe principal ao retornar de suas férias após a Euro 2024. Essa foi uma alegação que o clube negou, mas evidentemente a escolha era simples: aceitar o novo contrato oferecido ou ser vendido.

    O Atlético deu a Gallagher até o último fim de semana para tomar uma decisão, e nas primeiras horas da manhã de segunda-feira, a notícia que se espalhou era de que ele optou por jogar na capital espanhola. De fora, parecia que o meio-campista havia sido arrancado do clube com o qual esteve associado por 16 anos e apoiou por toda a vida.

  • Enzo Maresca Chelsea 2024-25Getty Images

    'Não é problema do Chelsea'

    Não nos enganemos: essa situação foi criada pelo próprio Chelsea e seus pratas da casa estão pagando o preço enquanto o clube tenta obter 100% de lucro com eles na tentativa de equilibrar as finanças diante das regras de lucratividade e sustentabilidade.

    Gallagher será o nome mais significativo a ser negociado, mas ele segue o caminho de Ian Maatsen, Omari Hutchinson e Lewis Hall, que também foram vendidos, enquanto Trevoh Chalobah e Armando Broja certamente sofrerão o mesmo destino.

    No entanto, quando confrontado com perguntas sobre o manejo do Chelsea em relação a Gallagher e sua iminente saída, Maresca apontou o dedo para os responsáveis pelas regras e isentou o clube de culpa, pedindo mudanças nas regulamentações.

    “Isto não é problema do Chelsea,” disse ele em uma coletiva de imprensa durante a pré-temporada do Chelsea pelos Estados Unidos. “Essas são as regras. Todos os clubes neste momento são obrigados a vender jogadores da base por causa das regras. É um problema de todos os clubes da Premier League.”

    Perguntado se o clube ainda tem o objetivo de desenvolver seus próprios jogadores, Maresca acrescentou: “Absolutamente. Também acho que a intenção do clube não é vender jogadores da base, mas são as regras que, no final das contas, fazem com que você tenha que fazer isso. Não somos apenas nós. São todos os clubes da Premier League.”

    “É uma pena porque na Itália tivemos Francesco Totti na Roma. 20 anos no mesmo clube. Um jogador de um só clube - nós amamos isso no futebol. Os torcedores querem ver isso. Mas com as regras agora, é diferente do passado. Se eles querem proteger os jogadores da base, então provavelmente sim (as regras precisam ser mudadas).”

  • Chelsea fans Conor GallagherGetty

    Fúria dos torcedores

    Maresca pode ser o mais recente porta-voz, mas os proprietários do Chelsea estão jogando um jogo muito perigoso. Há uma diferença significativa nas atitudes em relação a Gallagher entre os torcedores que vão aos jogos e aqueles que acompanham online ou de casa.

    Os primeiros veem o meio-campista como a personificação dos valores centrais do clube na era moderna, tendo visto de perto sua ascensão da base ao time principal por meio de um empréstimo bem-sucedido no Crystal Palace. Já os últimos, por outro lado, o consideram amplamente dispensável, pois ele não é tão tecnicamente talentoso quanto as outras opções de meio-campo do Chelsea e, notoriamente, o clube precisa vender.

    Tão recentemente quanto em maio, uma enorme faixa do meio-campista foi desdobrada em Stamford Bridge antes da vitória sobre o Tottenham, com as palavras "Chelsea desde o nascimento" estampadas nela. Esse gesto de apoio ocorreu em meio à incerteza sobre seu futuro, e os torcedores mais fervorosos do clube não só devem ficar furiosos por ele ter sido autorizado a sair, mas também pela forma como aconteceu.

    O grupo de proprietários Boehly-Clearlake já encontra sua popularidade no ponto mais baixo, com um número crescente de torcedores questionando se eles têm alguma ideia do que estão fazendo, e correm o risco de o ambiente no estádio se tornar cada vez mais tóxico. Forçar a saída do meio-campista possivelmente será visto como mais um erro grosseiro da hierarquia - uma decisão cínica, motivada por dinheiro, impulsionada pela necessidade de corrigir seus próprios erros financeiros em seu curto tempo no comando.

    Já houve cantos isolados e protestos contra Boehly e sua equipe, mas é certo que esses se tornarão mais disseminados e apaixonados pela venda de Gallagher para levantar fundos.

  • Conor Gallagher Chelsea 2023-24Getty Images

    À beira do abismo

    Em meio a um período de extraordinária agitação e incerteza fora de campo, bem como um desempenho significativamente abaixo do esperado dentro de campo, havia algo reconfortante na presença de Gallagher no Chelsea. Alguém ligado ao clube e disposto a lutar com unhas e dentes para levá-lo de volta ao topo da Premier League e além.

    Agora, essa segurança está prestes a ser arrancada justamente quando seja mais necessária, no início de mais uma nova era no comando. Apesar do progresso constante na última temporada, os Blues são, mais uma vez, uma incógnita e - como evidenciado pela sua pré-temporada sem brilho - as coisas podem desandar rapidamente. Sem Gallagher, o elenco carece ainda mais de líderes e experiência, especialmente após a saída de Thiago Silva.

    Ao se destacar como líder e dar o exemplo quando as coisas ficaram difíceis na última temporada, Gallagher fez mais do que o suficiente para garantir seu lugar no coração desta próxima etapa em Stamford Bridge, mas agora ele tem essa chance negada, enquanto o clube segue rumo ao desconhecido sem ele.

    Há uma sensação crescente de que a alma do Chelsea está sendo dilacerada por pessoas em salas de reunião que não têm um entendimento real do clube, e o tratamento deplorável de um homem que faz parte disto só servirá para alimentar o conflito contra eles enquanto seguem se atrapalhando.