Trajetória de Mohamed Salah no Liverpool se encaminha para final com pouco brilho

O Liverpool se encontra em uma situação bem peculiar. Ninguém esperava que os Reds se candidatassem ao título da Premier League quando a temporada começou - e agora seria uma grande decepção se eles não fossem coroados campeões, no mês que vem. A saída iminente de Klopp é a principal razão para isso, claro. Desde o momento em que o lendário treinador do Liverpool anunciou sua decisão de sair no final desta temporada, a pergunta era: seu reinado terminaria em alta?

A Carabao Cup representou o melhor começo possível para a 'last dance' - Klopp a considera, aliás, como "a mais especial" conquista de sua carreira por causa das circunstâncias que cercaram o jogo, com os Reds devastados por lesões e vencendo o Chelsea graças, em grande parte, à contribuição de uma empolgante safra de jovens. Ficou óbvio naquela noite em Wembley que, não importa como o restante da temporada se desenrolasse, Klopp deixaria o Liverpool em excelente maneira.

No entanto, todos ligados ao clube ainda esperavam um adeus de conto de fadas. Um segundo título da Premier League seria um ótimo encerramento, mas a realidade tem sido muito mais difícil nas últimas semanas.

Assim como Klopp, o legado de Salah já está assegurado. São ícones e lendas da Premier League. Contudo, a impressão é que eles perderam forças no pior momento possível.

Quando o Liverpool jogou contra o Brentford, no dia 17 de fevereiro, perdeu Diogo Jota e Curtis Jones por lesões na primeira metade do jogo. Ambas foram grandes perdas - porque eram jogadores em boa forma. No entanto, o aguardado retorno de Salah ainda parecia ser a história principal.

O ponta estava em ótima forma antes de partir para representar o Egito na Copa Africana das Nações, no início de janeiro, envolvido em 26 gols - atrás apenas para Harry Kane (33) entre as cinco grandes ligas da Europa.

No entanto, ele sofreu uma lesão no tendão durante a competição na Costa do Marfim, o que o fez perder vários jogos cruciais da Premier League - incluindo a derrota por 3 a 1 diante do Arsenal e a final da Carabao Cup. O Liverpool até se saiu bem sem seu jogador mais prolífico na história da Premier League - Darwin Núñez, Luis Díaz e Jota corresponderam à altura em sua ausência -, mas seu retorno ainda parecia ser crucial para a disputa do título.

Em apenas 46 minutos de ação contra o Brentford, ele marcou um gol e participou da criação de outro. Com Salah naquela forma, realmente parecia que tudo era possível.

No entanto, jogo contra os Bees, se lesionando e ficando de fora dos dois jogos seguintes - e ele simplesmente não pareceu o mesmo jogador desde então.

Houve lampejos de sua genialidade. Por exemplo, o passe que abriu a defesa do Manchester City para Díaz desperdiçar uma chance absurda no clássico em Anfield. Ele também foi herói na vitória sobre o Brighton, assim como no empate no fim, diante do Manchester United, no final de semana seguinte. Ao todo, ele se envolveu em dez gols desde seu retorno - o mesmo número de Vinicius Júnior e só dois a menos que Kylian Mbappé.

Assim, daria facilmente para argumentar que ele tem sido vítima de seus próprios padrões incrivelmente altos - mas não há como disfarçar o fato de que Salah está enfrentando dificuldades no momento. E Klopp sabe disso.

Na noite de 4 de abril, Anfield testemunhou algo raro. O Liverpool ia tropeçando contra o Sheffield United, quando Klopp decidiu substituir Salah. Os anfitriões estavam desesperadamente precisando de um gol e ainda assim o treinador retirou seu talismã.

Não houve recalamações, porém, dos torcedores. O que normalmente pareceria tolice na verdade fez todo sentido para os presentes. Ao contrário do jogo contra o Brighton, quando Salah havia desperdiçado chances antes de marcar, enfim, seu gol, ele tinha feito um jogo bem apagado.

Foi uma história semelhante contra a Atalanta, na semana passada. Salah abriu o placar da marca do pênalti aos sete minutos, mas depois desapareceu - seu outro lance de destaque foi uma chance claríssima desperdiçada.

Ainda faltavam 24 minutos, mais do que tempo suficiente para os Reds se recuperarem no agregado, e Klopp, mais uma vez, decidiu substituir Salah. E, mais uma vez, foi a decisão certa.

Houve aqueles que argumentaram que Klopp percebeu que o jogo estava perdido e achou melhor poupar Salah para o confronto de domingo com o Fulham. No entanto, eles estavam errados.

Salah nem sequer foi titular no Craven Cottage. E, verdade seja dita, ninguém ficou surpreso.

"Não é um problema de cansaço porque ele ficou aqui durante a Data Fifa e se machucou no meio da temporada", disse Jaime Carragher, ex-defensor do Liverpool e comentarista da Sky Sports. "Ele simplesmente não está jogando bem o suficiente no momento".

Ele não está exatamente sozinho nesse aspecto, é claro. Núñez também teve uma queda dramática de produção. Perguntado sobre a ausência de Salah no pré-jogo, Klopp respondeu: "Eu fiz seis mudanças e você só me perguntou sobre o Mo".

Também foi significativo que, quando perguntado em sua coletiva de imprensa pós-jogo sobre a importância do retorno de Jota à boa forma, dado sua reputação como o "melhor finalizador" do Liverpool, Klopp rapidamente contra-argumentou: "O melhor finalizador deste clube é obviamente Mo Salah. De longe".

No entanto, os números de Salah estão em baixa. Desde seu retorno da lesão, seu aproveitamento - tanto em termos de finalizações quanto de grandes chances - diminuiu, embora ele esteja finalizando mais vezes do que estava durante a primeira metade da temporada. Ele também está criando menos chances por 90 minutos. As estatísticas simplesmente apoiam a percepção de um jogador que está tentando, de todas as maneiras, voltar ao seu melhor.

Ainda assim, Klopp está correto quando diz que Salah já passou por essas baixas antes. "Já tivemos isso no passado, seja com Sadio [Mané], Bobby (Roberto Firmino) ou Mo", explicou. "Um deles sempre teve esses momentos, mas então os outros entraram e ninguém realmente falou sobre isso. Qual é o problema se Mo Salah tiver duas ou três semanas pós-lesão nas quais ele não está exatamente [em seu melhor]?"

O problema é que o tempo está se esgotando. O Liverpool tem apenas quatro jogos restantes e precisa vencê-los todos se quiser ter alguma chance de ganhar o campeonato - e garantir a Klopp a despedida mais doce possível.

O mesmo vale para Salah. Ele ainda tem um ano de contrato, mas é amplamente esperado que ele saia nesta janela, muito provavelmente para a Arábia Saudita - um negócio que parece financeiramente fazer muito sentido para todas as partes. O objetivo, então, será terminar com um brilho.

Pode parecer injusto focar exclusivamente em Salah. Outros também precisam fazer sua parte, afinal. O Liverpool, para que ninguém esqueça, não tem apenas tido problemas para marcar gols nas últimas semanas; a defesa também tem sido uma grande questão.

Mas está claro que, se o Liverpool quer ter alguma chance de ganhar o título, precisa de Salah no auge. Ele é um mágico - e os Reds precisam de um pouco mais de sua magia.

Que fique claro: não seria vergonhoso perder o troféu, mas seria uma pena tanto para Salah quanto para Klopp se as oportunidades perdidas, assim como a briga protagonizada por ambos após o tropeço frente o West Ham, forem as últimas lembranças de suas brilhantes passagens em Anfield