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Kroos to the rescue for GermanyGetty

Toni Kroos, ao resgate! Craque do Real Madrid deixou aposentadoria da seleção para salvar Alemanha de nova vergonha na Euro

Era 23 de junho de 2018. A seleção da Alemanha parecia prestes a desmoronar, na segunda rodada da fase de grupos da Copa do Mundo da Rússia. Toni Kroos se preparava para uma cobrança de falta, um pouco à esquerda da grande área, aos 50 minutos do segundo tempo da partida contra a Suécia, com pouco ângulo para o gol. Em linhas gerais, a Alemanha estava prestes a ser eliminada muito precocemente, empatando em 1 a 1 - qualquer resultado que não fosse uma vitória acabaria com as esperanças da equipe de chegar ao mata-mata.

No entanto, Kroos mudou as coisas. Ele rolou para Marco Reus, que parou a bola, abrindo um pouquinho mais de ângulo. Kroos acertou um chute curvado no ângulo do goleiro, confirmando uma uma vitória por 2 a 1. Esse seria o último grande momento do craque com a seleção. A Alemanha, claro, acabaria perdendo dramaticamente para a Coreia do Sul no jogo seguinte e eliminada diante da Inglaterra, três anos depois, na Euro 2020, nas oitavas de final.

Naquela época, o maestro estava sendo massacrado pela imprensa alemã e deixado de lado por companheiros. A nação, na prática, voltou-se contra ele, que mostrou pouco remorso ao anunciar a aposentadoria com a seleção, em 2021.

Quase três anos, porém, tudo isso mudou. O ousado técnico Julian Nagelsmann trouxe Kroos de volta à equipe, e o meio-campista, uma vez desonrado e descartado, agora está pronto para ser uma parte essencial de uma equipe que precisa muito de uma boa campanha, sediando a Euro 2024.

Ele não retorna como um salvador, contudo. Na verdade, Kroos recuperou seu lugar na equipe por mérito. Trata-se de um jogador renascido e pronto para trazer qualidade a um time que parecia estar nas piores.

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  • Germany World Cup 2014Getty Images

    O melhor da Copa do Mundo

    Era um prazer poder assistir a Kroos em 2014. Joachim Löw havia montado um meio-campo bem equilibrado. Bastian Schweinsteiger operava como o primeiro volante, responsável pelas disputas de bola e distribuição de jogo, Sami Khedira e Mesut Özil jogavam mais à frente e Kroos atuava mais pelo meio. Este era o exemplo perfeito de um jogador pouco atlético, mas ao mesmo tempo formidável, cobrindo terreno e dominando-o com muita sutileza, ditando o ritmo do jogo.

    Os números confirmaram: Kroos foi o melhor jogador da Copa do Mundo de 2014. O Castrol Index da FIFA, um sistema que classificava cada jogador do torneio, deu a Kroos a maior pontuação no Brasil, superando Arjen Robben pelo primeiro lugar.

    Aquele torneio apresentou Kroos ao mundo e foi o suficiente para convencer o Real Madrid a contratá-lo por um valor que agora parece uma pechincha - 30 milhões de euros.

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  • Toni Kroos Euro 2016 team of the tournamentGetty

    Como tudo desmoronou

    A Alemanha só enfrentou dificuldades em grandes torneios desde aquele título no Brasil. A geração de ouro fracassou na Euro 2016 - embora Kroos tenha sido nomeado para a seleção do torneio - e, desde então, a equipe passou por uma sequência de decepções. Em 2018, foi eliminada na fase de grupos - magia de Kroos à parte.

    E a Euro 2020 provou ser o fim da linha para o meio-campista. Após inconsistência durante a fase de grupos, os alemães caíram perante a Inglaterra, nas oitavas de final. Kroos, talvez injustamente, recebeu a culpa, sendo apontado como o verdadeiro problema para um time que tinha inconsistências em várias áreas. O camisa 8 se aposentou pouco depois, alegando que queria focar no futebol de clubes.

    "Eu tinha tomado a decisão de me aposentar depois deste torneio há muito tempo. Já estava claro para mim há muito tempo que eu não jogaria a Copa do Mundo de 2022, no Qatar", afirmou.

    Mas os outros motivos eram claros. Kroos, apesar de ter sido convocado 106 vezes, havia se tornado o bode expiatório. Como ele poderia permanecer e jogar por um país que não mais acreditava nele?

  • Toni Kroos Real Madrid 2023-24Getty

    Seu atual momento no Real Madrid

    Em janeiro do ano passado, Ancelotti pareceu indicar que Kroos poderia estar de saída do Real Madrid. Ele sugeriu que o alemão e seu companheiro de meio-campo Luka Modric deveriam se preparar para um "momento de transição" na capital espanhola. Na época, isso fazia sentido. Kroos vinha, por longos períodos da temporada 2022/23, deixando espaços no meio-campo do Madrid. Todos os pontos positivos do seu jogo ainda estavam lá - a porcentagem de passes completos, a habilidade de chutar de longa distância, a excelência em cobranças de bola parada -, mas as fraquezas defensivas estavam evidentes.

    Mas este ano, aos 34 anos, Kroos é um jogador revitalizado. O Madrid está mais equilibrado. Ancelotti agora joga com quatro meio-campistas, usando o incansável Federico Valverde em uma posição mais recuada para cobrir os espaços que Kroos não conseguia alcançar rápido o suficiente. Como resultado, o alemão agora tem mais liberdade para focar no que é realmente bom.

    Com 20 jogos como titular na La Liga até o momento, ele já está próximo de superar a mesma métrica do ano passado. Ainda, suas sete assistências na liga são seu maior total em três anos.

  • Julian Nagelsmann Germany 2023Getty Images

    Caos na Alemanha

    O cenário em que Kroos entrará não é dos mais fáceis. Não se trata apenas de problemas em grandes torneios. A Alemanha tem enfrentado enormes dificuldades nos últimos meses, passando por mudanças de comando técnico e resultados ruins. Nagelsmann, contratado em setembro de 2023, ainda não convenceu no comando, vencendo apenas uma partida em seus primeiros quatro jogos - e uma vitória pouco convincente, sobre uma equipe dos EUA que estava em má fase.

    Suas tramoias táticas também vêm sendo questionadas. Ele escalou Kai Havertz como lateral-esquerdo na derrota por 3 a 2 para a Turquia e tem tido dificuldades para extrair o melhor de Leroy Sané - que foi expulso contra a Áustria, em novembro. O grupo de jogadores também tem sido um problema, considerando que os 'favoritos' de Nagelsmann, com quem o treinador teve experiência de trabalho durante sua passagem recente pelo Bayern, estão todos enfrentando campanhas difíceis com o clube e têm levado essa má forma para a seleção nacional.

    Tudo isso resulta em uma equipe de muito potencial, mas de pouco resultado real, até aqui.

  • Julian Nagelsmann Leon Goretzka Germany 2023Getty Images

    O ajuste tático

    Nesse sentido, o retorno de Kroos faz muito sentido. Este é um time caótico, carente de controle. Ter de volta um 'controlador supremo' deve, teoricamente, fazer tudo se acalmar.

    No entanto, o encaixe tático ainda não parece perfeito. Nagelsmann tem feito ajustes em seu sistema, mas prefere alguma variação do clássico estilo 'Red Bull 4-2-2-2'. Kroos, nesse caso, deve se encaixar de forma bem natural na primeira linha de meio. Com a posse de bola, na verdade, seria perfeito. Distribuindo a bola de posições recuadas, o meio-campista do Real faria deste time uma ameaça, independentemente do adversário.

    Mas as coisas ficam mais instáveis, analisando de outra forma. Os alemães demandariam, assim, de um jogador em boa forma para fazer dupla com Kroos - defensivamente capaz de cobrir os espaços que ele inevitavelmente deve deixar. Pascal Gross, hoje, parece estar encaixado nessa posição. Ainda assim, é difícil dizer se funcionaria especificamente ao lado de Kroos. Contra-ataques serão um problema.

  • TONI KROOSImago Images

    Salvando a nação de (outra) humilhação

    Ainda assim, talvez, de forma mais geral, seja o simbolismo de tudo isso o que realmente importa. Kroos foi escanteado por seu próprio país três anos atrás e se afastou quando a pressão aumentou. Poucos poderiam, sejamos sinceros, culpá-lo por isso.

    Mas, agora, ele retornou. Se isso é uma questão de orgulho pessoal ou séria lealdade à sua nação é possível discutirmos. De qualquer forma, esta é uma equipe que precisa de um impulso. Trata-se de um país que precisa acreditar em algo antes de um grande torneio.

    E Kroos parece ser essa luz no fim do túnel. Ele não é uma estrela global com qualidade para, sozinho, vencer jogos no improviso.

    Mas ele é o cara calculista. O cara que controla o meio-campo. O cara que pode estabilizar um time caótico.