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Técnico estrangeiro faz mesmo a diferença no Brasil ou é só fetiche?

O treinador brasileiro de um grande clube nacional está balançando no cargo? Se houver um profissional que fale o português lusitano ou espanhol, uma grande sombra parece aumentar sobre a sua vaga.

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Técnicos estrangeiros fazem parte do Brasil desde que Charles Miller desembarcou de volta ao país, em fevereiro de 1894, com um kit de utensílios para introduzir de vez o esporte bretão por aqui. Mas a elite do nosso futebol nunca testemunhou um intercâmbio tão forte quanto nos anos mais recentes.

Dentre os últimos cinco Brasileirões, três foram conquistados por times com técnicos portugueses (Flamengo de Jorge Jesus em 2019, Palmeiras em 2022 e 2023 com Abel Ferreira). Mais impressionante ainda, passou a ser comum ver clássicos sendo disputados com treinadores estrangeiros na área técnica.

Em determinado momento do ano passado, os comandantes estrangeiros foram maioria no Brasileirão pela primeira vez na história. E ainda que os trabalhos de Jorge Jesus no Flamengo ou Abel Ferreira no Palmeiras sejam mais exceção do que regra, todo este interesse em treinadores estrangeiros é justificado ou apenas um fetiche?

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  • Jorge Jesus Flamengo 2019Miguel Schincariol/Getty

    Invasão pós-2019

    Antes de 2019, o argentino Carlos Volante era o único estrangeiro a ter comandado um time rumo ao título brasileiro. Mas já fazia tempo desde aquela Taça Brasil de 1959 pelo Bahia -- que chocou o país ao superar o lendário Santos de Pelé. Pelo Brasileirão de pontos corridos, segundo levantamento feito pelo UOL, entre 2003 e 2018 apenas 17 técnicos estrangeiros deram as caras na Série A. O número se multiplicou de 2019 até 2024.

    O catalizador de tudo isso foi Jorge Jesus e a sua espetacular temporada com o Flamengo, em 2019, ganhando Brasileirão e Libertadores com incrível protagonismo. E ainda que seja justo pontuar todo o investimento e poder financeiro dos rubro-negros, a grande verdade é que aquele time foi campeão encantando. Estava, como o atacante Bruno Henrique acabou cunhando, em outro patamar. JJ retornou para o Benfica em 2020, mas a porta ficou aberta como nunca antes.

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  • Abel Ferreira Palmeiras campeão Libertadores 31 01 2021Getty Images

    Todos querem um Abel Ferreira ou um Vojvoda

    O encanto pelo trabalho de um estrangeiro foi a níveis ainda mais intensos com a chegada de Abel Ferreira ao Palmeiras. Até então sem nenhum título em seu currículo, o português se colocou na história como técnico recordista em taças levantadas pelo clube paulista. Um feito e tanto, que impressiona ainda mais pela impressão de que o elenco alviverde só consegue render o que rende, com incrível mentalidade vencedora, por causa da presença de Abel na área técnica.

    O argentino Juan Pablo Vojvoda é outro cujo trabalho longevo no Fortaleza vem atraindo, ano após ano, grande admiração – basta um grande clube ter que buscar um treinador, que lá aparece Vojvoda tendo que reafirmar seu compromisso com o Leão do Pici. Mas nem todos terão a sorte de encontrar, a qualquer momento, um Abel ou um Vojvoda.

  • Vitor Pereira Flamengo Al Hilal Mundial de Clubes 07 02 2023Getty Images

    Melhores que os brasileiros?

    Quando o Botafogo resolveu demitir Tiago Nunes, no início da atual temporada, John Textor, o dono da SAF alvinegra, foi específico: queria, de preferência, um treinador estrangeiro – e acabou contratando o português Artur Jorge. A escolha denota uma preferência óbvia, ainda que sempre exista o argumento de que a busca será sempre pela qualidade independente da nacionalidade.

    Após a saída de Jorge Jesus, o Flamengo foi um dos times que mais buscou comandantes estrangeiros e, por isso mesmo, acaba sendo um bom exemplo na hora de fazermos o (sempre difícil) exercício de buscar dizer se, de fato, quem é Míster ou habla é melhor que os nossos professores. No pós-JJ, o Rubro-Negro teve quatro técnicos estrangeiros e outros quatro brasileiros. Segue, abaixo, o aproveitamento deles:

    • Domenec Torrent (espanhol): 64%
    • Rogério Ceni:62% (campeão brasileiro de 2020, Carioca 2021 e Supercopa do Brasil 2021)
    • Renato Gaúcho: 73%
    • Paulo Sousa (português): 67%
    • Dorival Júnior: 67% (campeão da Copa do Brasil e Libertadores em 2022)
    • Vitor Pereira (português):57%
    • Jorge Sampaoli (argentino): 60,7%
    • Tite: 70% (campeão carioca 2024)

    Seja no aproveitamento de Renato Gaúcho ou nos títulos conquistados especialmente por Dorival Júnior, os melhores resultados do Flamengo pós-Jorge Jesus foram com técnicos brasileiros. Ali, naquele ambiente, eles foram melhores – ou ao menos deram mais resultado, que no final das contas é o que importa dentro da forma como o futebol é vivido no Brasil.

    A demissão de Dorival, no final de 2021, motivada pela chegada de Vitor Pereira para 2022 não passou de um fetiche da direção rubro-negra por alguém que fala relvado e balneário, ao invés de gramado e vestiário.

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  • Jesualdo Ferreira Defensa y Justicia Santos Libertadores 03 03 2020Getty Images

    Nem tudo são flores

    Os casos de insucesso não se resumem apenas ao histórico mais recente do Flamengo. Em diferentes escalas, e geralmente naquelas estadias pequenas que só o futebol brasileiro proporciona, não sobreviveram por aqui, entre alguns nomes de destaque, a longa lista a seguir:

    Ricardo Sá Pinto (português, Vasco), Jesualdo Ferreira (português, Santos), Ariel Holan (argentino, Santos), Rafael Dudamel (venezuelano, Atlético-MG), Miguel Ángel Ramírez (espanhol, Inter), Diego Aguirre (uruguaio, Inter), Fabián Bustos (argentino, Santos), Pepa (português, Cruzeiro), Antonio Mohamed (argentino, Atlético-MG), Alexander Medina (uruguaio, Inter), Diego Aguirre (uruguaio, Santos), Eduardo Coudet (argentino, Atlético-MG), Renato Paiva (português, Bahia), Bruno Lage (português, Botafogo), Nicolás Larcamón (argentino, Cruzeiro) e diferentes versões de Jorge Sampaoli após sua saída do Santos.

  • Artur Jorge, Botafogo 2024Vitor Silva/Botafogo

    Fetiche ou técnico estrangeiro faz a diferença?

    No final das contas, um somatório de fatores vai contar histórias diferentes – com técnicos diferentes e em clubes diferentes. É impossível chegar a um diagnóstico absoluto sobre a qualidade de um comparado ao outro, mas não há dúvidas que mais treinadores estrangeiros fizeram trabalhos de destaque do que brasileiros.

    Uma contagem rápida nos traz nomes como Abel Ferreira, Jorge Jesus, Juan Pablo Vojvoda, a versão corintiana de Vitor Pereira, a versão santista de Jorge Sampaoli, a reconstrução do Botafogo na chegada de Luis Castro ou o Vasco sendo salvado de uma queda antes tida como certa, em 2023, pelo já demitido Ramón Díaz. Sete estrangeiros. Se pensarmos nos melhores treinadores brasileiros dos últimos anos, teremos Renato Gaúcho, Cuca, Dorival Júnior, Fernando Diniz e Tite.

    A contagem acima, superficial, lista apenas os times considerados gigantes. O treinador brasileiro obviamente é bom, mas os estrangeiros também estão conseguindo fazer muita diferença por aqui. Nada mais, nada menos do que um retrato da globalização do futebol. Tem dúvidas? É só ver, por exemplo, o número crescente de jogadores estrangeiros por aqui e pelo mundo, assim como outros atores do espetáculo da bola. Amplia-se o leque para buscar qualidade e, inevitavelmente, busca-se mais nos horizontes explorados. Normal.

    Perguntado sobre o tema em entrevista coletiva, Artur Jorge, um dos mais recentes portugueses a chegar no Brasil em 2024 para comandar o Botafogo, resumiu bem a questão: "O que falamos é de qualidade e isso independe de nacionalidade. Se não ganharmos, somos demitidos, não importa qual seja a nacionalidade".

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