Seis coisas que o Manchester United precisa acertar antes da próxima temporada

Andre Onana já começou a pré-temporada sob pressão, com sua condição de titular sendo questionada após mais um ano pouco convincente no gol do Manchester United. E a situação ficou ainda pior: menos de uma semana após se apresentar, o goleiro sofreu uma lesão muscular na coxa durante um treinamento e deve desfalcar a equipe nos primeiros compromissos, ou até mesmo em toda a preparação.

A ausência de Onana representa um problemão para o clube. Apesar das críticas que recebe, suas alternativas na meta são ainda menos confiáveis. Altay Bayindir tem se destacado negativamente em praticamente todas as partidas que disputou e, segundo rumores, já deseja sair em busca de mais tempo em campo. A terceira opção, Tom Heaton, tem 39 anos e não atua por um time principal desde fevereiro de 2023.

Com isso, Rúben Amorim pode recorrer aos jovens Elyh Harrison (19 anos), Radek Vitek (21) ou Dermot Mee (22) durante os amistosos. Existe até a possibilidade de o clube voltar ao mercado em busca de um novo goleiro — algo que parecia fora de cogitação depois da contratação de Onana por £47 milhões (R$ 355 milhões) junto à Inter de Milão há apenas duas temporadas.

Matheus Cunha chegou como uma contratação de impacto e será um dos grandes centros das atenções nesta pré-temporada e ao longo da campanha. O CEO Omar Berrada chegou a compará-lo com Eric Cantona, e o brasileiro de 26 anos (que nasceu no dia seguinte ao título da tríplice coroa do United, em 1999) herdou a lendária camisa 10, que pertencia a Marcus Rashford, hoje de saída do clube.

Desde que o United pagou a multa rescisória de £62,5 milhões (R$ 472 milhões) para tirá-lo do Wolverhampton, Cunha tem feito tudo certo fora de campo: contou que assistia aos jogos do time na casa da avó, relembrou partidas com amigos vestindo o uniforme dos Red Devils e se mostrou empolgado com o novo desafio. Agora, precisa mostrar tudo isso dentro de campo.

Não é segredo que Cunha tem uma personalidade forte e um espírito competitivo que já lhe causaram problemas recentes. Por isso, será importante canalizar essa intensidade de forma positiva, conquistar o respeito dos companheiros e se encaixar rapidamente no ambiente. Ele também tem o perfil de liderança e protagonismo que o United tanto busca, o que deve tornar sua trajetória especialmente interessante de acompanhar.

A maioria dos treinadores que comandaram a pior temporada de um clube em mais de meio século começaria o ano seguinte sob forte pressão. Mas, curiosamente, Rúben Amorim ainda exerce enorme autoridade dentro do Manchester United, e isso desde o primeiro dia. Pouco após assumir o cargo, afastou Marcus Rashford, um dos principais nomes formados em casa, e mais recentemente informou a Alejandro Garnacho, uma das poucas promessas ofensivas do elenco, que ele também não faz parte dos planos.

Amorim também tem forte influência nas decisões do clube no mercado de transferências. As contratações visadas até aqui priorizam jogadores com experiência na Premier League e que já atuaram no esquema 3-4-2-1, seu sistema preferido. Resta saber como o elenco responderá à sua liderança e se outros choques de personalidade ocorrerão. Afinal, trata-se de um técnico que já quebrou uma televisão após perder para o Brighton e não hesitou em descrever seu time como "um dos piores da história do United".

A pré-temporada é uma oportunidade valiosa para Amorim, já que o grupo ainda está longe de assimilar completamente suas ideias. Ele também pretende elevar o nível físico da equipe, que, segundo constatou logo ao chegar, estava muito abaixo dos rivais da liga. O fato de o United enfrentar quatro times da Premier League nas próximas semanas pode ser benéfico para testar padrões táticos, mas também aumenta a pressão, pois uma sequência ruim de resultados pode gerar desconfiança antes mesmo do início da temporada oficial.

Rasmus Hojlund terminou a temporada passada visivelmente desgastado. Marcou apenas três gols em 34 partidas entre dezembro e maio, e em muitos momentos parecia apenas querer que o campeonato acabasse logo. A turnê pós-temporada pela Ásia só agravou a situação: ele passou em branco contra o ASEAN All Stars e o Hong Kong XI, e viu o jovem Chido Obi, de apenas 17 anos, brilhar ao substituí-lo e comandar a virada em um dos jogos.

Gary Neville chegou a dizer que Hojlund estava “acabado” durante sua seca de 21 partidas sem marcar. Sua confiança parecia abalada durante boa parte do ano, e certamente não foi ajudada pelos rumores de que o United busca outro centroavante, com nomes como Hugo Ekitike, Liam Delap, Moise Kean e Ollie Watkins sendo cogitados.

Seus últimos dois verões com o clube foram turbulentos. Em 2023, uma lesão nas costas o impediu de participar da pré-temporada pouco depois de sua chegada milionária do Atalanta. Já no ano passado, ele sofreu uma lesão muscular logo na estreia da excursão nos EUA, contra o Arsenal.

Uma pré-temporada promissora e sem lesões pode ser o ponto de virada para Hojlund finalmente mostrar o potencial que o levou a ser contratado por £72 milhões (R$ 544 milhões). Por outro lado, se ele voltar a decepcionar e passar por mais um período de baixo rendimento nos Estados Unidos, o clube — ou o próprio jogador — pode considerar encurtar sua passagem por Old Trafford.

É improvável que Marcus Rashford ou Alejandro Garnacho participem de algum jogo da pré-temporada. Ambos estão em busca de novos clubes — assim como Jadon Sancho e Antony, que também não fazem parte dos planos de Rúben Amorim. Mas quanto mais tempo esses jogadores permanecerem no elenco sem destino definido, maior será a dor de cabeça para o treinador.

Durante a turnê nos Estados Unidos, Amorim terá uma série de compromissos com a imprensa, e é inevitável que os jornalistas toquem justamente nos assuntos mais delicados, especialmente sobre Rashford e Garnacho, afastados diretamente por decisão do próprio técnico.

Mais urgente do que o desgaste midiático, porém, é a questão financeira. Amorim precisa que o clube negocie essees jogadores (além de Tyrell Malacia) para liberar espaço na folha salarial e reforçar o orçamento de transferências. Seu processo de reformulação ainda está longe do fim — quanto antes essas saídas forem concretizadas, melhor.

Mesmo tendo sido colocado à venda pelo valor certo desde dezembro, Kobbie Mainoo deve permanecer no Manchester United. Ao contrário de Garnacho, ele nunca causou incômodos ao técnico. No entanto, ainda não encontrou um papel claro dentro da equipe de Amorim, e talvez nunca tenha tido um.

Nos dois primeiros meses sob o comando do português, Mainoo foi testado em várias posições, inclusive como falso 9 contra o Crystal Palace, partida em que o experimento fracassou. Depois de passar oito semanas lesionado, perdeu ainda mais espaço.

O jovem meio-campista foi titular em apenas quatro dos últimos 12 jogos da temporada, e quase sempre quando Amorim poupava os principais nomes antes dos confrontos decisivos da Europa League. Na final contra o Tottenham, com tudo em jogo, só entrou aos 90 minutos.

Mainoo foi peça-chave da seleção inglesa na Euro 2024 e um dos pilares do time de Erik ten Hag, o que torna curioso o fato de Amorim não demonstrar grande confiança nele até agora. Por isso, esta pré-temporada será uma chance valiosa para que o treinador avalie onde o camisa 37 pode ser mais útil, e para que o próprio jogador mostre que merece mais espaço.