Seca de Erling Haaland, falhas na defesa e meio-campo esburacado: Pep Guardiola vive seu maior desafio no Manchester City

Bernardo Silva deveria ter aproveitado o retorno à sua cidade natal, Lisboa, mas enquanto falava à TNT Sports após o Sporting ter destruído seu time no Estádio José Alvalade, não conseguiu esconder sua tristeza. "É difícil encontrar as razões do que está acontecendo conosco agora," disse o português. "Não me lembro de, em sete anos e meio, perder três seguidas. Estamos em um lugar escuro, tudo parece estar indo na direção errada."

De fato, não são apenas os resultados que estão preocupando. Algo não parece certo com o time de Guardiola. Como Neville mencionou em maio, o City geralmente é especialista em compostura. Eles conseguem transformar as atmosferas mais intimidadoras em silêncio ao manterem a posse de bola para sempre. Eles podem perder um jogador como Kevin De Bruyne por metade da temporada ou Erling Haaland por dois meses - e ainda assim vencer o campeonato.

Podem descartar uma contratação cara como Kalvin Phillips em questão de semanas e mal notar a diferença. Podem ser atingidos por 115 acusações da Premier League, ameaçando sua própria existência, mas ignorar tudo e ainda assim vencer a tríplice coroa. Mantenha a calma e continue vencendo, não importa a circunstância.

Mas aquele senso usual de serenidade foi substituído por um sentimento de pânico. Basta olhar para Haaland.

O norueguês orgulha-se de evitar o estresse tanto quanto pode, abraçando técnicas de meditação e sono. Agora, no entanto, ele parece tudo menos relaxado. Teve cinco tentativas de gol contra o Sporting e cada oportunidade desperdiçada contou uma história diferente. Poderia ser perdoado por não vencer Franco Israel no início do jogo, mas seu próximo esforço, quando agarrou uma bola quicando na área e depois chutou bem longe da trave próxima, mostrou sua atual falta de confiança.

Assim como seu próximo esforço, um cabeceio que careceu de força para cruzar a linha do gol antes de ser desviado por Viktor Gyokeres. O pior de tudo foi sua performance na marca do pênalti, quando ele chutou a bola com toda a força que pôde, acertando-a no travessão.

Como Guardiola nos advertiu na última temporada quando disse "Nunca critique seu artilheiro, ele vai calar sua boca", deve-se sempre ter cuidado ao descartar Haaland. Ele já havia marcado com um voleio incrível em sua última partida na Champions League e tem 11 gols no Campeonato Inglês. Mas, agora, está em uma fase irregular, para dizer o mínimo.

A máquina de fazer gols não funcionou em seis dos seus últimos 10 jogos pelo City. Na liga nacional, tem um gol nos últimos cinco. Contra o Wolves, não registrou nenhum chute a gol. Mas contra o Newcastle, assim como em Lisboa, teve cinco tentativas, todas sem sucesso. Contra o Southampton, foi ridiculamente displicente, marcando apenas uma vez em oito chutes.

Quando Guardiola disse que seu time não estava "emocionalmente estável" em Lisboa, parecia que ele estava se referindo a Haaland. Mas, na verdade, estava se referindo a Josko Gvardiol e Matheus Nunes pela maneira como cederam pênaltis no segundo tempo. Ambos os jogadores estenderam os braços para tentar parar seus adversários. Parecia um sinal de desespero.

Talvez não devesse surpreender que o City pareça desorganizado defensivamente. Contra o Sporting, eles estavam escalando uma defesa diferente pela quinta vez consecutiva, e Jahmai Simpson-Pusey fazia sua estreia no time principal. O jovem de 19 anos foi lançado às feras, mas Guardiola tinha poucas opções, já que sua defesa foi dizimada. Ruben Dias e John Stones estavam fora, enquanto Kyle Walker havia acabado de voltar de uma lesão e foi mantido no banco após seu desempenho abaixo contra o Bournemouth.

Rico Lewis desbancou Walker na escalação em muitas ocasiões nesta temporada, embora as lesões do jogador de 34 anos tenham sido um fator nesse aspecto. E essa foi uma noite em que os Citizens sentiram muita falta de seu lateral direito experiente e de seu intenso ritmo de recuperação.

E, claro, o City estava sem Rodri, o único jogador de quem não conseguiram não sentir falta nos últimos anos. Os campeões ingleses perderam todos os quatro jogos nos quais o volante esteve suspenso na primeira metade da última temporada e, depois de vencerem os primeiros seis jogos após ele se lesionar - algo que encerrou sua temporada - eles estão novamente mostrando o quanto dependem do vencedor da Bola de Ouro de 2024.

Mateo Kovacic trabalhou melhor na última temporada quando estava ao lado do espanhol no meio de campo. Sem ele, tem sido cada vez mais exposto. Ilkay Gundogan tem parecido muito menos vibrante do que quando saiu para o Barcelona. Talvez isso não deva ser surpresa para um jogador que completou 34 anos no mês passado, passou a temporada anterior em uma liga menos intensa e que se aposentou da Alemanha, pois precisava jogar menos futebol.

Dias e Stones provavelmente não estarão de volta para a viagem do City ao Amex Stadium para enfrentar um time do Brighton que deu um verdadeiro susto no Liverpool na semana passada e que já venceu Newcastle, Tottenham e Manchester United enquanto tirava pontos do Arsenal.

Quando a crise de lesões na defesa diminuir, no entanto, há toda chance de que o City se reorganize e redescubra seu verdadeiro "eu".

No entanto, há também um argumento de que essa recente série de resultados negativos já era esperada há muito tempo e não será tão fácil de corrigir.

O City se viu aliviado pelo apito final quando venceu o Brentford em setembro. Guardiola precisou de um gol de empate de Stones aos 97 minutos para evitar a derrota para o Arsenal, que jogava com um homem a menos, e um cabeceio do defensor aos 94 minutos para vencer o Wolves, que estava na última posição na tabela na época.

Essa mini-crise não surgiu do nada, mas o treinador catalão precisa de soluções e rápido, já que a lista de jogos do time fica muito mais difícil no próximo mês. Antes do Natal, eles têm que visitar Liverpool, Juventus e Aston Villa, enquanto receberão Tottenham, Manchester United - que até lá estará sob a orientação de Ruben Amorim - e a surpresa Nottingham Forest.

Felizmente para o City, este é um clube que vive para momentos como este.

"Sabíamos que seria uma temporada difícil no início, mas é o que é", disse Guardiola. "Eu gosto, eu amo, quero enfrentar isso e motivar meus jogadores e tentar. A vida é assim. Talvez as seis Premier Leagues em sete anos e quatro seguidas sejam uma exceção. É um momento difícil em termos de resultados, mas eu quero estar aqui, quero lutar. Não vou desistir, gosto deste desafio que tenho como treinador pela frente."

A posição do City na briga pelo título da liga parece precária, e o Liverpool, atual líder, estará observando suas dificuldades atuais com grande interesse. Os Reds já estiveram nesta posição antes, percebendo fraquezas entre seus rivais mas quebrando a cara depois. Assim como todos os outros, mesmo que seja fácil esquecer as dificuldades anteriores do time de Guardiola, dado quão dominantes eles foram na última década.

Na primeira temporada do treinador, sem troféus, sua equipe não conseguiu vencer por seis jogos e depois enfrentou sequências de quatro e três partidas sem vitórias. Eles responderam conquistando "apenas" 100 pontos na temporada seguinte da Premier League. E mesmo nessa campanha incrível, perderam três jogos seguidos e foram eliminados da Copa da Inglaterra pelo Wigan Athletic.

Na temporada 2020/21, venceram apenas cinco dos seus primeiros 13 jogos do Campeonato Inglês e houve sérias dúvidas - como há agora - sobre se o espanhol gostaria de continuar por muito mais tempo. O time de Manchester respondeu a essa queda vencendo seus próximos 15 jogos e recuperando o título do Liverpool, o que seria o primeiro de seus quatro títulos consecutivos.

Guardiola tem uma habilidade rara de iluminar a escuridão e usar seus momentos mais em baixa para planejar seus maiores sucessos. Prever sua queda é tão imprudente quanto descartar Haaland. Apesar de ele ter deixado seu contrato com o City se esgotar, há uma sensação de que ele vai renová-lo por pelo menos mais um ano. Este tropeço o motivará tanto quanto o enfurecerá.

De qualquer forma, é revigorante ser lembrado de que Gary Neville nem sempre está certo. O Manchester City realmente te oferece reviravoltas, afinal. E será fascinante ver como eles respondem a essa.