Rodri pode ser o Bola de Ouro: os sucessos de Manchester City e Espanha não aconteceriam sem o 'jogador-computador'

Rodri foi um sério candidato da Bola de Ouro de 2023, e seria bem merecido o prêmio após vencer a Tríplice Coroa com o City e marcar o único gol na final da Liga dos Campeões contra a Inter, a resposta perfeita por ter ficado no banco em Porto dois anos antes.

Mas sua contribuição foi um tanto ofuscada pelos 52 gols de Haaland em 53 jogos, o que significou que ele nem sequer foi o jogador mais bem classificado do City, ficando em quinto lugar enquanto o norueguês ficou em segundo.

Na época, Lionel Messi garantiu seu oitavo prêmio, já que ainda estava desfrutando de seu ano de celebração por ter vencido a Copa do Mundo com a Argentina. O domínio implacável de Messi sobre o prêmio deve, no entanto, finalmente terminar agora, mesmo com a Argentina vencendo a Copa América, e é hora de Rodri assumir seu lugar.

A contribuição de Rodri para a Tríplice Coroa não conta para a Bola de Ouro deste ano, que é julgado com base nos feitos da temporada 2023/24 e dos torneios de verão europeu. Mas isso pouco importa, já que ele estava em um desempenho ainda melhor na temporada passada.

Ele terminou a campanha da Premier League sem perder um único jogo, com as três derrotas do City ocorrendo enquanto ele estava suspenso. A última vez que ele perdeu uma partida de liga foi em fevereiro de 2023.

Rodri também não perdeu um jogo da Liga dos Campeões na temporada passada, com o City sendo eliminado pelo Real Madrid nas quartas de final em uma disputa de pênaltis após dois empates. O único jogo em que foi derrotado foi na final da Copa da Inglaterra, contra o Manchester United, encerrando uma sequência recorde de 74 jogos sem derrota em todas as competições e 475 dias.

Isso não estragou sua temporada, já que o City conquistou um incrível quarto título consecutivo da liga, o primeiro time a fazê-lo em 135 anos de futebol inglês. Haaland ainda era o artilheiro do City e Foden estava logo atrás, sendo nomeado Jogador da Temporada da Premier League, mas a contribuição de Rodri para essa conquista histórica foi igualmente importante.

O jogo de Rodri nunca foi sobre gols e assistências, mas ele marcou oito vezes na temporada da liga, incluindo no primeiro jogo da temporada do City contra o Burnley e na vitória que garantiu o título contra o West Ham. Ele também deu nove assistências.

Ele contribuiu para 17 gols na Premier League no total, dois a mais que Bernardo Silva e três a mais que Kevin De Bruyne, representando 17% da produção total do City. Isso o tornou o 21º maior contribuinte para gols na liga, e é importante frisar: ele é um volante.

O principal papel de Rodri era guiar o City durante os jogos, e ele fez isso com perfeição, comandando a equipe do primeiro ao último apito. Não foi por acaso que o City perdeu as três partidas que ele esteve fora entre setembro e outubro, após ser expulso contra o Nottingham Forest por colocar as mãos ao redor do pescoço de Morgan Gibbs-White.

Esse jogo levou a uma rara repreensão de Guardiola, que pediu ao jogador para aprender a "controlar a si mesmo e suas emoções". Rodri levou isso a sério, e se há uma palavra para descrever seu efeito no City nos últimos cinco anos, é 'controle'.

Veja o que o capitão do Luton Town, Tom Lockyer, disse após enfrentar Rodri. O jogo do Luton contra o City em dezembro passado acabou sendo o último de Lockyer antes de sofrer uma parada cardíaca em campo contra o Bournemouth apenas seis dias depois. Mesmo com o City virando o jogo e vencendo o Luton por 2 a 1, Lockyer elogiou muito o ex-jogador do Atlético de Madrid.

"Rodri... Honestamente, esse cara, é um prazer compartilhar o campo de futebol com ele. Você não diz isso sobre muitos jogadores, mas ele certamente era um daqueles com quem você sai de campo pensando 'uau'", disse Lockyer à BBC Radio 5 Live.

"Ele é literalmente um Rolls Royce, controlando o meio-campo, ditando tudo, tudo passava por ele. Quando você achava que o tinha pressionado e ia roubar a bola, ele estava apenas te provocando para que seu próximo passe tivesse mais tempo com a bola. Nos tipos de jogos que ele faz, é muito raro ele ser pego com a bola, ele dita tudo o que o Manchester City tenta fazer."

Lockyer não foi o único a se impressionar com o espanhol. Guardiola o chamou de "o melhor meio-campista do mundo, de longe" em março.

"Os destaques têm que pertencer a outras pessoas", acrescentou o catalão. "O volante tem que pensar pelo resto da equipe e não espera reconhecimento. Mas internamente? Todos os companheiros de equipe e funcionários sabem o quão importante e decisivo ele é. Extremamente importante para nós."

O técnico da seleção espanhola, Luis de la Fuente, descreveu Rodri como "um 'jogador-computador', que administra tudo, as emoções, todos os momentos de maneira magistral" durante a campanha da Espanha na Eurocopa.

E após a La Roja vencer a Inglaterra na final, apesar de Rodri, eleito o Melhor Jogador do Torneio, ter sido forçado a sair com uma lesão no intervalo, De La Fuente foi além de Guardiola, chamando o meio-campista de "o melhor jogador do mundo". Essa declaração foi seguida por um apelo: "Por favor, 'dê a ele a Bola de Ouro agora!".

O mundo do futebol deve prestar atenção e conceder o maior prêmio individual do esporte a um volante defensivo pela primeira vez desde Matthias Sammer em 1996. Por muito tempo, o futebol ignorou os pilares do meio-campo, os jogadores que fazem tudo funcionar, em favor dos artilheiros e dos jogadores de habilidade.

Mas se não fosse por jogadores como Rodri, os melhores atacantes do City e da Espanha não seriam capazes de prosperar como fazem. "Ele é quem permite que De Bruyne, Phil Foden e Bernardo Silva façam o que fazem porque ele é tão bom", disse o ex-jogador do City, Paul Dickov, na BBC Radio 5 Live.

Rodri também permite que Haaland circule na área em busca de gols, enquanto seu trabalho altruísta também forneceu uma base para que Nico Williams e Lamine Yamal brilhassem pela Espanha e levassem a La Roja ao seu primeiro grande troféu em 12 anos.

Rodri mesmo não se interessa por prêmios individuais. "Eu não jogo futebol por isso", disse ele, ao The Guardian, em julho. "Talvez as pessoas gostariam que eu fosse mais comercializável e [Álvaro Morata] às vezes diz: 'Amigo, você deveria fazer isso...', mas eu entendo o futebol de forma diferente. Eu sei como as coisas funcionam, então não fico frustrado se [sou ignorado]. Se um dia alguém quiser reconhecer o trabalho, isso é bem-vindo, mas não me incomoda nem um pouco."

A atitude de Rodri é refrescante no futebol moderno e condiz muito com sua personalidade. Afinal, este é um homem que ainda morava em dormitórios universitários quando fez sua estreia pelo Villarreal e continuou a dirigir um Opel Corsa usado muito depois de se tornar profissional.

Mas, além de sua própria humildade, é hora dos jurados da Bola de Ouro ouvirem De La Fuente e reconhecerem um jogador de sua magnitude. Eles também podem apoiar Guardiola e colocar um volante defensivo nas primeiras páginas dos jornais ao redor do mundo, segurando o prêmio individual mais prestigioso de todos.